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Friday, December 24, 2010

Retrospectiva 2010 - Parte 2

À frente da humanidade ainda atravessa a delicada e complexa missão de erradicar a violência institucionalizada de suas amostras e decisões de poder. O Presidente Barack Obama, nos Estados Unidos, exerceu seu papel positivista na política da hegemonia militar e escalou o número de tropas enviadas ao Afeganistão. A última conclusão do presidente segundo a Inteligência impecável que possui* aponta as conquistas “democráticas” obtidas contra o Talibã e os mais diversos grupos de mujahadin no Afeganistão, ainda frizando que são conquistas “frágeis”. Não há mais paz no Oriente Médio, é o que interessa. Este autor está cansado de discutir em defesa e contra todos os ângulos e lados desse conflito. Israel coleciona desastres públicos e humanitários com seu cerco à Faixa de Gaza, o que acarretou nos acontecimentos da flotilha pró-Palestina que tentava furá-lo, atacada, abatida e usada internacionalmente contra qualquer espécie de desculpa israelense. A Palestina ganha reconhecimento do Brasil e da Argentina, recentemente, como estado legítimo.Pela paz mundial, contudo, não há evolução. Rússia e República Tcheca ainda brigam como d’antes. A Coreia do Norte ressurge continuamente como o filho de Escarlate trancafiado no porão com seus planos maquiavélicos. Assusta a Coreia do Sul e a semi-onipotente China. Pelo passado militar sangrento, no entanto, a memória não falha. Brasil é acusado de crimes de guerra oficialmente pelas Nações Unidas pelos terríveis e abomináveis acontecimentos durante a Operação Araguaia. São guerras internas, civilizatórias, externas, globais, pessoais, étnicas, ideológicas e religiosas.

Confesso que perdi um pouco de minha “alma” nos seis anos de estadia nos Estados Unidos. Ainda milito pelo que acho certo, mas mais pragmaticamente. Esse pragmatismo, objetivismo quase morto de tão frio, não fazia parte de minha mente sonhadora. Não sei o motivo, nem tenho explicação. Eric Voegelin cunhou a expressão “salto em ser”, o que pode ser definido como uma atitude ou construção individual muito maior do que a pessoa que o fez ou construiu. Não sei se mestres como Albert Einstein, Sigmund Freud, William Shaekspeare, Martin Luther King, John Lenon etc pensavam nesse salto. Não sei se pensavam em ser mais, melhores, maiores mesmo que em seletas qualidades quando tornaram-se grandes. Pessoalmente, antes de 2010 tinha como objetivo ser, e não ter, do melhor. Em 2010 me preparei psicologicamente para criar uma familia, mas não foi somente esse lado materialista que me influenciou. Percebi que, depois dos 30, terminaram as colheres de chá e as pessoas esperam de mim simplesmente tudo o que não esperavam seriamente antes.


Foram guerras e mais guerras em 2010. Guerras contra meu inerente conformismo, por exemplo. Guerras anti-ideológica do princípio ao fim. Guerras com meu estar, guerras com o futuro, guerras com meus próprios ideais, o que enfim, agora em 2010, mais parecem favorecer a calmaria. Guerras contra outros, inclusive outros muito meus, amados e queridos. Guerras desnecessárias… Descobri em 2010 que meu maior desafio nessa vida, minha única chande de “saltar em ser”, é encontrar a tranquilidade, não na ausência de conflitos inevitáveis, mas na ausência de guerras, na ausência do conceito de itjihad muçulmano, na ausência da necessidade constante que tenho de brigar comigo e com todos. Acredito também que, justamente por perder a “alma”, ganhei “armas” psicológicas de reposição de ego. Se perdi a ideologia, ganhei na elasticidade mental. Continuo sabendo menos do que sei saber, sabendo saber menos do que gostaria ou penso que sei, é verdade, mas não consigo mais me prender a uma causa humanitária exclusivista, e considero isso uma grande vantagem. Na resolução, logo, de problemas de cunho emocional e intelectual preciso refinar a raiva, que é em si absolutista e exclusivista. É meu maior desafio aos anos que me restam nessa Terra. Quero, mais do que morrer tranquilo, viver representando uma pessoa tranquila, menos ciumenta e invejosa, mais concentrada e mais benevolente mesmo nas maiores adversidades.


O mundo vem rompendo com as antigas hegemonias. Quiçá em nenhuma outra área esta afirmação faz mais sentido do que no mundo esportivo. A Copa do Mundo realizou-se na África. Houve pequenos problemas (grandes, mas pequenos para quem está acostumado a conviver com maiores níveis de iniquidade social), como furtos e incidentes isolados, mas todo o temor do mundo “civilizado” não se confirmou. Não houve necessidade de colete à prova de balas, apesar do episódio trágico em Janeiro, quando radicais separatistas em Luanda, Angola, dispararam contra jogadores da Seleção Nacional do Togo deixando um morto (motorista) e nove feridos, incluindo dois jogadores. O evento mais assistido do planeta foi um sucesso relativo em termos de infra-estrutura, mas no contexto da exposição do Sul Global, da África nada menos, ao Norte Global, o sucesso é absoluto. Os Estados Unidos, já tendo perdido a hospedagem da Copa de 2014 para o Brasil, perdeu a oportunidade de realizar os jogos em 2018 e 2022 para Rússia e Qatar, respectivamente. No páreo também estavam Portugal e Espanha, antigas colonizadoras imperiais. A Espanha, aliás, que entrou para o clube seleto e elitista de vencedores de copas de mundo em 2010. O Brasil, grande hegemonia, já se despede da competição nas quartas de final há oito anos. No ramo dos clubes, o TP Mazembe, clube modesto do Congo, derrubou o Internacional de Porto Alegre para disputar a final contra o Internazzionale de Milão. Apesar de vice-campeão, entrou para história realizando algo anteriormente tido como impensável**.

Sorte no esporte, azar no amor? Entendo hoje que toda história só se define depois de completa e em 2010 minha história romântica de quatro anos terminou fazendo-se inteira. Todos os segmentos insólitos de minha personalidade adquiridos ou refinados no contexto do relacionamento hoje fazem sentido enquanto então padeciam do obscurecimento natural na iminência. Tenho a dizer sobre isto: É o que mais consome minha mente cotidiana. É o evento singular mais importante de minha história. É a maior transição de hegemonia egocêntrica que passo sempre que passo por essas fases.

Nunca conseguirei, acho, entender como é possível sentir e deixar de sentir, ter importância e deixar de ter importância na vida das pessoas que amamos. Se já é ultra-complexo quando se trata de nossa familia, infinitamente mais quando se trata de estranhos, e quando há sexo envolvido bota complexo nisso. Como a anedota que gosto de contar quando falo no assunto. Meu pai e tio foram ao Instituto Butantã de pesquisas biomédicas com meu irmão mais velho a mostrar-lhe cobras e outros répteis. Um dos profissionais ali presentes explicou ao grupo de homens do clã Frenkiel que estava prestes a realizar uma cirurgia “bipenal” em uma cobra. “Bipenal?” Perguntou meu tio, o médico psiquiatra. “Sim, as cobras tem dois pênis, é a operação de dissecar e examinar suas genitálias. Bi-penal, pois…” Abismado, meu pai disse a meu tio: “Nascer cobra nesse papo de carma budista eu to fora, guri.” Titio perguntou o motivo, ao que papai respondeu: “Se um pênis já dá todo esse trabalho, imagine dois!”


Espero que a associação sexual não ofusque o romantismo (para mim só contribui). É a coisa mais complexa do mundo relacionar-se com outros seres humanos, como diria o personagem “Dexter” da série estadunidense da Showtime. Só acrescentei que é especialmente complexa quando há sexo envolvido. Assim enlaço outro apelo a 2011, que a amargura que espeta meu peito enquanto ainda tento esquecer esse amor se dissipe e se torne doçura em minha busca ao crescimento.


Por hora, boas festas a todos e todas; paz, amor, carinho, muito carinho, companhia, amizade e dinheiro, sim, dinheiro que nunca é o problema, só a solução.

Forte abrax,

RF

*Só não previniu a tentativa do atentado do homem bomba-cueca nigeriano, no início do ano, apesar dos repetidos avisos do pai sobre a alinhação ideológica do filho; ou o ingresso penetra do casal Salahi no jantar presidencial icônico ao fim de 2009; e mais recentemente ajudou a não fazer nada contra a exposição ao ridículo imposta por Julian Assange, criador do Wikileaks, entre outras excelentes façanhas similares, isso contando apenas os últimos 14 meses.


**Há muitos outros eventos e modalidades a discorrer quando se trata de esporte, inclusive, para mim, modalidades antes tidas como chatas, como o Baseball. No entanto, nem é uma questão de espaço, mas de preferência pessoal da modalidade, e da importância política paralela que a Copa do Mundo representa nesse contexto.

Monday, March 29, 2010

Mortes Racionais

Já demorava algum tempo, surpreendentemente, desde que despertamos pela última vez a ouvir as notícias tenebrosas à televisão: Mais um atentado terrorista devasta uma cidade estrangeira. Conforme afirma o prefeito de Moscow, Yuri M. Luzhkov, há evidências imediatas que indiquem que as supostas irmãs gêmeas suicídas sejam do norte do Cáucaso, rebeldes chechenas, região problemática para a Rússia e que já gerou escandâlos internacionais e conflitos fronteiriços na era de Vladimir Putin. No dia 3 de Setembro de 2004, rebeldes chechenos invadiram uma escola em Beslan, na Ossétia do Norte, matando mais de 300 pessoas, majoritariamente crianças. Os ataques por grupos chechenos clamando independência total do julgo da Rússia e a desocupação de seus territórios pela tropas do país não são raros, e os motivos dos conflitos estão longe de uma resolução satisfatória para ambos lados.

Há duas perspectivas vigentes quando o assunto é terrorismo. A primeira, por Robert A. Pape, busca comprovar em base de dados colhidos a partir de 1980 que a maioria dos terroristas não são extremistas religiosamente; não são jovens ignorantes cuja mente pode ser “lavada” facilmente por figuras influentes em suas respectivas comunidades; não foram diagnosticados, e não apresentam sinais de transtornos mentais; foram geralmente educados a nível superior ou técnico antes de aderirem a grupos terroristas; e que a intenção principal (ou, segundo Pape, o valor estratégico) dos atentados suicídas é muito mais cultural, sócio-econômica e geo-política do que religiosa. Marc Sageman não discorda das características e personalidades acima citadas (em níveis na casa dos 50-60% dos pesquisados), mas conclui que a religião tem sim um papel essencial e providencia uma base transcendental à justificativa e ao valor pessoal percebido em ataques suicídas.

Segundo Pape*, analista de relações externas norte-americano baseando-se em uma pesquisa estimulada pelos acontecimentos inesquecíveis do 11 de Setembro de 2001 em Nova York, o crescimento do terrorismo pode ser atribuído ao fato de que “atentados moderados produzem concessões moderadas”. Para Pape a atividade desses grupos tem um objetivo comum: Combater a ocupação imperial (na maior parte dos casos física, como no caso de tropas russas ocupando a Chechênia ou tropas israelenses ocupando a Faixa de Gaza ou a Cisjordânia), e retomar o senso nacionalista que unifica povos através de uma identidade cultural e étnica comum em fronteiras delineadas.

Assim, Pape traça alguns exemplos históricos de concessões que, segundo evidências um tanto quanto obscuras (e Pape admite isso, de certo modo), parecem coincidir com uma série de atentados terroristas. Hamas, por exemplo, pressionou Israel a desocupar a Faixa de Gaza enquanto já havia assinado o Acordo de Oslo com a Organização para Libertação da Palestina de Yasser Arafat. A intenção, segundo oficiais do Hamas, era levar a cabo cinco ataques terroristas no cerne israelense, mas apenas dois foram necessários. Apesar do acordo, Israel havia ignorado os dois prazos úteis para a desocupação e, Pape conclui, após os dois ataques, a retirada militar ocorreu. Para Pape, o aumento não só do número de atentados, mas de sua natureza violenta advém de pequenos, mas significantes sucessos das causas dos variados e ultra segmentados grupos terroristas. A maior falha estratégica desses ataques passa pelo excesso de choque. Pape diz que “atentados extremos não parecem findar em concessões.”

Sageman procura comprovar que a maioria das concessões citadas não foram nem duradouras nem atribuíveis aos ataques mencionados. Israel ainda voltou a ocupar a Faixa de Gaza na segunda intifada, fato que Sageman usa para fomentar sua conclusão de que ataques suicídas não são necessariamente baseados em um senso estratégico concreto, nem baseados em concessões que para o psiquiatra criminal simplesmente não ocorrem.

O limite que Pape delinea serve para aumentar a necessidade de encontrar qualquer motivo para justificar, empiricamente, o motivo de grupos que atuam em violência extrema - que de todos os modos não surte o efeito esperado. A religião, alinhada a um senso histórico, étnico e cultural providenciam os ingredientes prediletos para quem recruta seus soldados terroristas. A religião em si, explica Sageman, não garante nem justifica a violência e a ética por trás da necessidade da mesma em cada situação, mas alinhada a um senso de violência cultural e histórica, encaixa-se como uma luva na equação, somando legitimidade aos atos mais calamitosos. O budismo, por exemplo, não tendo em sua história uma saga de reação budista violenta como os hindus e os Sikhs ou muçulmanos e judeus (o primeiro grupo terrorista estudado por Pape foi judaico), não vê atos de extrema violência feitos em seu nome.

Rebeldes chechenos também encontram alguma identidade (sunitas muçulmanos) que os separe essencialmente dos vizinhos russos (cristãos ou totalmente seculares), mas a causa, como a causa Palestina, a causa de Sikhs contra Hindus e dos judeus terroristas que formavam um grupo clandestino opondo-se à ocupação de Jerusalém pelo Império Romano, parece realmente ser muto mais pragmática do que meramente religiosa. No entanto, ignorar a religião não como a causa principal de ataques suicídas, mas como um fator importante na fomentação de atitudes violentas minoritárias seria um “grande pecado”. Apesar da dificuldade de encontrarmos causa mesmo encontrando muitas relações entre fatores históricos e análises políticas, é óbvio que a religião contribui para a legitimação do terrorismo islâmico, mas é mais óbvio (só não tão falado) que a maior parte dos seguidores desta religião não são terroristas.

Ainda assim, conforme disse Scott Atran, especialista no Oriente Médio a uma classe de estudantes universitários, talvez seja “olhando para o Leste” que o Oeste começará a vencer o terrorismo. Talvez meramente enxergar seus pedidos, seus dilemas e suas causas já seja o suficiente para amenizar a violência. A diminuição da violência, em outras palavras, geraria paz. Paz gerando paz, e não o oposto. Infelizmente, por enquanto só nos resta ouvir as quarenta badaladas das vítimas russas na manhã de Março.

RF

* A Lógica Estratégica dos Ataques Suicídas

** Entrevista de Marc Sageman para a New American Foundation

Friday, February 26, 2010

Purim – Mais uma história contemporânea

Para os judeus, o festival de Purim é um dos mais importantes do ano. Certamente é o mais alegre, e nele, a recomendação é embebedar-se até o não reconhecimento entre as forças do bem e do mal, ou em palavras mais simples, a confusão embriagada entre Mordechai, o Judeu, e Haman, o Hagaguita.

À época de Rei Xerxes da Pérsia, com a expansão territorial da grande civilização persa foram incluídos no domínio diversos e variados povos. Entre eles os Hagaguitas e os judeus, que viviam lado a lado na capital de Susa, em grande parte convivendo em harmonia. Essa era justamente a época principal não só da convivência pacífica, mas da superação de comunidades com costumes e culturas ora adversas em um mesmo território geo-político.

No psicológico judaico, a existência do Estado de Israel é essencial à garantia de sobrevivência entre os povos não-judeus. Purim, de certo modo, reforça essa mentalidade na psique tradicional do povo do livro. Com tanta perseguição histórica, não é de se estranhar, convenhamos, que grande parte das datas festivas comemorem a obtenção da liberdade, a redenção ou a possibilitação da mera continuidade de um povo. A festa das luzes, Hanuká, comemora a vitória do exército Macabeu contra as tropas de Antiochus; a festa de Pessach, próxima à Páscoa Cristã, comemora a abolição da escravidão judaica no Egito e, enfim, Sukot comemora a fuga dos judeus do Egito em cabanas provisórias.

Purim, no entanto, tem um significado especial para a tradição judaica. Não se trata da defesa do próprio território independente e soberano, nem da fuga dos primeiros integrantes da primeira religião monoteísta do jugo de seus primeiros inimigos étnicos, mas sim da sobrevivência “miraculosa” conquistada pelos judeus apesar da esmagadora minoria em terras estrangeiras. Haman o Hagaguita (outro povo que convivia em minoria entre os persas), conselheiro de Rei Xérxes, irritou-se com as diferenças culturais entre os judeus, que não faziam negócio nem casavam com os demais, enfezou-se com a falta de humildade de Mordechai, que não se prostrava a ninguém que não fosse seu deus, e animou-se com a possibilidade de erguer-se entre a monarquia endeusada da Pérsia antiga. Logo, convenceu Xérxes a permitir a aniquilação do povo judeu em todo seu domínio com um decreto que instigava a população a fazer com judeus e suas propriedades o que bem entendessem, e proibindo que as forças judaicas intervissem no assunto.

Para quem não se recorda dos textos passados, foi Esther, a bela Rainha escolhida por Xérxes em uma espécie de concurso de debutantes que convenceu seu rei em artimanhas a não executar o decreto real. Mesmo para os judeus em suas múltiplas interpretações das santas escrituras judaicas, Esther era persa. Originalmente, trata-se da “prima” de Mordechai ou de sua “sobrinha” segundo distintas interpretações da palavra, mas muitos concordam que prima ou sobrinha, ela era também a esposa de Mordechai, e era cem por cento persa. Sua nacionalidade é importante para entender como convenceu Xérxes a salvar seu povo, chamando-o a um jantar privado, inicialmente, logo a um jantar a três entre a própria, o rei e seu conselheiro Haman, e logo através de místicos e enrolados pedidos indiretos, até a sedução final e sua manha feminina vitoriosa na decisão do rei não de anular seu decreto, mas de permitir que as forças judaicas defendessem a população de eventuais agressores, e de executar Haman e seus dez filhos.

No texto passado transcrevi a lógica de William O. Beeman sobre o sistema comunicativo iraniano. Pois, é nesse mesmo sistema, originalmente persa, que Esther obteve o sucesso necessário: discrição, falsa-humildade e indiretas excessivamente polidas.

Ironicamente, a antiga Pérsia, o Irã, é um dos principais inimigos de Israel atualmente. Na mesma ironia, é um dos poucos países que não expulsou judeus após a vitória Sionista na guerra de 1947-48, quando da criação de seu estado. Em troca da abnegação da legitimidade de Israel, líderes iranianos concordaram em permitir que os complascentes permanecessem em sua casas, com suas posses, e que convivessem pacificamente com o resto de sua população. O relacionamento vigente de amor e ódio entre iranianos (persas majoritariamente shiitas) e os judeus é ainda dos mais contundentes e intensos até hoje.

É difícil, no entanto e ao menos para mim, definir se é certa ou totalmente equivocada a perpetuação do sentimento de defesa-própria bélica na psique judaica. A maioria dos judeus no mundo apoiam a existência de Israel, e não teriam motivos para não apoiá-la. É óbvio (também ao menos para mim) que esse sentimento nacionalista exista em um contexto muito mais profundo do existente na América, por exemplo, pelos dois extremos de seu hemisfério. Trata-se de um verdadeiro “Millet”, ou “nação-religiosa”, o que no caso se expande ao significado de “nação-etnia”, algo muito mais intrínseco do que o nacionalismo sentido por um estado “orgânico”.

Afeta a existência e a legitimação do próprio povo, que caso expulso dos territórios conquistados com o esforço do Yishuv (organização judaica que foi o principal agente da estruturação do povo judeu na Palestina) e suas forças armadas (Haganá e, fatalmente, o Irgun Tzvaí Leumi, que tornou-se o exército chamado Força de Defesa Israelense), ficaria à mercê de uma massa majoritária que não os quer por lá, ou à mercê da comunidade internacional que já virou as costas para ambos os povos da região em mais de uma ocasião calabrosa (como a rejeição do navio de refugiados da Alemanha Nazista por parte da Grã-Bretanha, ou a inaceitação dos Estados Unidos de imigrantes judeus-europeus pós Segunda Guerra Mundial).

Se até o ano passado Purim era meu festival favorito, hoje entendo que os mesmos problemas que forçaram o extermínio de povos no passado ainda persistem. E, ao contrário do que pinta o Rolo de Esther (que não tem o nome de deus escrito em uma única passagem, elás), não há um lado certo, nem um errado. Nesse mundo, mesmo que nem sempre conscientes do fato, estamos todos embrigados ao ponto do não-reconhecimento entre as dicomotômicas forças do bem e do mal. Somos todos judeus entre persas, persas entre judeus e Hagaguitas magoados. Mesmo assim, melhor festejar do que chorar.

RF

Wednesday, March 19, 2008

A raça de Obama

Para Barack Obama, a semana começou com o pé esquerdo. Depois dos comentários incendiários de Geraldine Ferraro e seu afastamento como campanhista de Hillary Clinton, a geração YouTube conseguiu expôr o elo do senador de Illinois com o Reverendo Jeremiah Wright da Igreja Trinity United, à qual Obama pertencera e jamais renunciou.

Wright, por sua vez, criou fama por seus discursos anti-Estados Unidos, como o mais citado por Joe Scarborough do programa Morning Joe da MSNBC, cinco dias após o Onze de Setembro, quando disse que o país merecia o que lhe ocorrera. Outros de seus jargões conhecidos são chamar a nação de KKK da América (uma alusão antipática ao grupo supremacista Ku Klux Klan), dizer “Deus amaldiçoe a América” ao invés de “Deus abençoe a América", e por fim sua infame acusação de que o governo estadunidense teria propositalmente propagado o vírus HIV entre negros.

O pastor mostra-se claramente enraivecido pelos conflitos segregadores das gerações passadas de negros que sofreram a escravidão e a exclusão não só social, mas genética, por demasiados anos, e a ligação afetuosa que tem com Obama lhe criou a maior das controvérsias de sua campanha: Seria Barack Obama racista? Serão suas aspirações anti-patrióticas?


Dias Passados


Jovem e sem passado político a lhe assombrar, rivais fanáticos da direita conservadora procuraram em vão, por muito tempo, e apenas agora encontraram um grande cabelo no mingau de Barack Hussein Obama. Além de fazerem o que agora fiz por pura ilustração, ou seja, citar “Hussein” como instigador de polêmicas, também tentaram revela-lo anti-patriótico quando comprovaram que Obama não leva a mão direita ao peito esquerdo quando ouve o hino dos Estados Unidos. Há uma bela imagem que mostra o contraste dos demais candidatos e o senador de Illinois, enquanto os demais levavam a famigerada mão direita ao peito esquerdo, e ele apenas as deixava entrelaçadas abaixo de sua cintura.

Porém, obviamente isso não foi o suficiente. Logo puderam encontrar nesse pastor a desculpa que sempre quiseram dar para não eleger um negro à Casa Branca. Rush Limbaugh, que continua discursando em sua estação como radialista radical conservador, chama seus ouvintes a votarem por Hillary Clinton “apenas para ver o partido se degladiar e se acabar até Novembro,” mas não desmente sua opinião de que Barack Obama é simplesmente inelegível.

Tive a chance de conversar e ler a opinião não só de bloguistas conservadores, mas de pessoas conservadoras envolvidas com o partido ou com suas ramificações supostamente independentes. Para eles, Obama tampouco é elegível. Por ser filho de estrangeiros, por ter nome árabe e por ser negro, talvez. Porque, em se tratando de seu escasso envolvimento na descomunal história do senado estadunidense, suas atitudes não foram piores do que as de seus rivais partidários, e até melhores em instâncias específicas. Não há um único motivo melhor para não suportar a idéia de tê-lo como presidente.


O Grande Discurso


A única verdadeira história na notícia que unia Obama e seu ex pastor Wright, foi o histórico discurso que o senador deu ontem a centenas, logo milhares, logo milhões de cidadãos e cidadãs norte-americanos. Precisando fazê-lo, seus estrategistas não deixaram dúvidas de que a maior intenção seria criar um espetáculo que expressasse o quanto Obama pode ser presidencial.

Quatro bandeiras à sua esquerda e quatro à direita diante de uma cortina azul semi-celeste-semi-marinho, e o pré-candidato ao pódio, sem as mãos cruzadas ou a coluna torcida, com um olhar sereno, sério, conciso, de palavreado sensato. Poderia ser o “State of the Union Address”, discurso anual do presidente da nação, mas foi basicamente um argumento clássico, que ainda terá repercussões mais sérias do que as que flutúam pelo país.

Não disse que “tinha um sonho”, mas explicou aos incautos, aos inocentes, aos maliciosos e aos ignorantes que existe um ressentimento profundo pelos brancos entre as passadas gerações negras que se propaga nos “barbeiros, nos salões de beleza, ao redor da pia da cozinha e, ocasionalmente, encontram espaço nas igrejas” das gerações mais jovens. Um ódio pelo racismo, pela lei de Jim Crow que segregou colégios públicos no sul do país, pelos espancamentos e pelos linchamentos e pelo terrorismo que negros sofreram desde que, sem escolha, foram trazidos como escravos ao continente.

Disse que esse ressentimento, o qual não sente por ter uma história pessoal distinta, é real, não deve nem pode ser ignorado. Declarou que tinha sido inocente em pensar que a raça não seria um fator importante em sua campanha. A campanha, seguiu Obama, pode resumir-se a conflitos dessa natureza, a suspeitas de que ele simpatize com as ofensivas palavras, jargões e acusações de Wright, mas também pode ser encarada de modo diferente.

“Dessa vez,” declarou Obama, “queremos falar sobre as escolas que se desmoronam e roubam o futuro de crianças negras e crianças brancas e crianças asiáticas e crianças hispanas e crianças nativo-americanas. Dessa vez queremos rejeitar o cinismo que nos diz que essas crianças não podem aprender; que essas crianças que não se parecem conosco são problema de outrem. As crianças da América não são essas crianças, elas são nossas crianças, e nós não as permitiremos decair na economia do século 21. Não dessa vez.”

Para Obama, a grandeza dos Estados Unidos é que o país pode mudar, o que não se pode dizer, francamente, de todos os demais. Concordo com ele, mesmo que estejamos tão distantes do ideal.


Enquanto isso, em Israel


John McCain foi calorosamente recebido em uma viagem que seguiu do Iraque e tende a continuar pelo continente europeu. Sem visitar comunidades palestinas, McCain esteve presente em uma simbólica cerimônia no Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. Quase chorando, disse que estava “profundamente movido. Nunca mais,” clamou.

O “nunca mais” e o encontro diplomático entre isralenses e representantes alemães simboliza o paralelo internacional do que ocorre nos Estados Unidos. As divisões raciais, étnicas e sociais estão sempre presentes em nossas vidas, estejamos onde estivermos. Talvez na ausência de negros ou brancos em uma determinada região não exista o racismo, mas logo existe o machismo, o feminismo, o judaísmo, e as centenas de divisões religiosas que infelizmente contribúem na levedura do conflito.

McCain não ganha muito com sua viagem. Seu posicionamento em questões médio-orientais é explícito, e quiçá o menos imprevisível de todos os candidatos. Se há quem questione sua lealdade ao lado “certo” do conflito, há quem apóie acordos unilaterais com Israel. Pois, há de tudo nesse mundo.

Chorou por um “nunca mais” enquanto em seu próprio país o mesmo ódio que motivou Hitler contra judeus ainda se perpetua em conflitos raciais agora expostos e extra-expostos por Barack Obama. O ódio que leva a simpatizantes de seu partido que, segundo estudos psicológicos tende a atrair separatistas sulistas, a rejeitarem a menor opção de que um presidente negro os represente. O ódio comunitário que levou Rudy Giuliani a admitir sua inabilidade de atrair negros e sua postura aberta de sequer fazer campanhas em suas comunidades.


Finalizando com Mike Huckabee,


Que apareceu no programa Morning Joe e declarou que “nós precisamos dar um desconto a pessoas que vem do sul ou filhos de gerações passadas do sul do país,” pois seu ódio é real e ainda vivo em suas memórias. Afinal, esses são os filhos dos ex vizinhos de Rosa Parks. São aqueles que choraram a morte de Martin Luther King quando acompanharam seu caixão no sombrio dia de seu funeral. Esses são os segregados, os separados e os excluídos de todas as formas e maneiras que possam vocês imaginar.

Barack Obama me convenceu com seu discurso. Pretende ainda dar mais dois sobre o Iraque, política externa e a economia, hoje e amanhã. Vence em praticamente todos os ângulos nesta corrida à nomeação. O cronômetro a Pennsylvania corre solto, e a Novembro, paulatino. A raça de Obama vem se comprovando dia-a-dia.

RF

Tuesday, January 15, 2008

Efeito Michigan e Florida

Que de Comum

O que o estado da Flórida e o estado de Michigan têm em comum? Essa é uma pergunta à qual todos os que acompanham o movimento político atual têm a resposta.

Hoje, Michigan vota a escolher, por sua vez, qual candidato melhor representa cada partido. Disse “cada” partido? Pois é justamente aí que está enterrado o cão. Michigan geralmente não vota tão cedo, e a preliminar da Flórida é comumente realizada em Março. O partido Democrata resolveu então punir ambos estados por antecipar o processo, retirando potenciais representantes governamentais, o que basicamente torna ambas preliminares “café-com-leite” para candidatos democratas.

De modo parecido ao que ocorre nas próprias eleições presidenciais adiante neste ano, o candidato vitorioso é o que, ao ganhar mais votos em distritos, prefeituras e condados, vence um número específico de potenciais representantes, que aumenta de acordo com a demografia da região e eventualmente torna o candidato mais influente. Sem os chamados “delegates”, o partido Democrata não acresce nem perde absolutamente nada em Michigan, nem na Flórida nessas eleições.

Contudo, a corrida apertada, sem folga alguma, entre dois candidatos democratas e ao menos três republicanos, faz com que cada estado conte. Talvez Rudy Giuliani, ex-prefeito de New York, não pense assim e faz sua campanha apenas na Flórida - estilo similar ao que fez em sua cidade, não procurando votos da comunidade negra dizendo que sabia não ter a menor chance com os mesmos – ignorando os menores estados. Não consigo enxergar essa estratégia sem escrever que Giuliani considera menores estados “menos importantes.” Mas, isso já é uma equação que justamente por sua escolha, ainda jaz irrelevante.

Na Flórida, os nomes de todos os candidatos democratas estarão nas urnas, e eleitores democratas já sinalizam o intuito de eleger, valendo ou não, o candidato predileto. Em Michigan, apenas o nome de Clinton se encontra nas urnas, o que diz pouco, se é que diz alguma coisa, seja qual for o resultado.

Portanto, apenas republicanos têm a arriscar nas preliminares de hoje. De acordo com o último resultado do “Poll of Polls”, ou “pesquisa das pesquisas”, divulgado ontem na CNN, John McCain vence como já venceu, concretamente, em Michigan. Mike Huckabee e Mitt Romney parecem desempatados a favor de Huckabee. E o que isso quer dizer a quem, como eu, apenas espia de longe?

Dinheiro, pra que dinheiro?

Romney foi a pessoa que mais investiu em suas campanhas. Michigan é seu estado natal, mas conforme argumenta McCain, seu adversário saiu daquela terra “praticamente quando nasceu.”

McCain traz uma campanha que admite que os empregos da indústria automobilística de Michigan jamais voltarão (globalização + multinacionais = empresas que se mudam para onde melhor convém, e levam os impostos que traziam e os empregos que geravam consigo) ao estado, mas que novos investimentos devem trazer melhor prosperidade à região de grande massa trabalhadora. Romney diz que se preocupa pessoalmente por Michigan, e que não admite o pessimismo de seu rival. Realismo contra pessimismo... Entendem porque aqui também é “show-business”?

Mas Romney perdeu em Iowa, e perdeu em New Hampshire, e se venceu no quase insignificante “caucus” em Wyoming, a vitória significa justamente isso, insignificante. Isso põe a situação de Romney, segundo analistas políticos da mídia “mainstream”, em delicados lençóis. Caso perca em Michigan, o “primeiro grande estado” das preliminares, perde o incentivo do momento, a popularidade que a mídia oferece a quem é dissecado por suas luzes. E se perde tamanho incentivo, alguém que já não era conhecido e que não poupou esforços econômicos para sê-lo, chega à Flórida com muito dinheiro gasto e poucos resultados a mostrar.

Aqui vemos outro ponto em comum entre a republicana preliminar de Michigan e a republicana preliminar da Flórida. Para os republicanos, representantes governamentais estão em jogo. Para os democratas, o mesmo incentivo que Romney não pode perder em Michigan se quiser vencer a Flórida, pode elevar o nome dos candidatos a concorrer em 22 estados (24 para republicanos) no dia 5 de Fevereiro, a “Super Terça-Feira.”

Next comes Next

Neste final de semana(South Carolina escolherá seus representantes republicanos. Concomitante, o "caucus" de Nevada deve escolher o preferido de cada partido, e logo chegará a Flórida no dia 29 desse mês. Democratas concorrem em South Carolina no final de semana seguinte.

RF

Monday, January 14, 2008

Motivos pessoais

Hoje escrevo um desabafo pessoal em relação ao que ocorre atualmente nos Estados Unidos. Em primeiro lugar, essas eleições são especiais porque são as primeiras presidenciais que vivo em minha pele no país. Ironicamente, mesmo tendo morado aqui desde 1996, jamais participei desse período estadunidense, ou melhor, talvez tenha lá estado em algumas preliminares, mas as eleições de fato não estive aqui nem em 2000, nem em 2004.

Além de estar mais engajado politicamente, meu conhecimento econômico aumentou ao ponto de que sei de alguns singelos detalhes a mais, o suficiente para tentar navegar na escuridão causada pelo caos informativo de nossos tempos modernos. O mesmo caos inexistente, que causava a escuridão dos tempos passados, mais uma ironia constatada nesse texto para vocês.

Entretanto, por ser apenas residente e não cidadão dos Estados Unidos, não tenho o direito ao voto. O que eu opine ou deixe de opinar não importa para a massa, não conta efetivamente, porque meu voto é obrigatoriamente nulo. E mesmo assim persisto em tentar escrever analiticamente sobre um sistema novo para mim, a cada dia conhecendo detalhes novos, alguns que tinha compreendido erroneamente, e tentando adaptar minhas análises de acordo com minhas mutações cognitivas.

Aqui escolho dar o motivo principal da importância dessas eleições para mim, a estrangeiros que, algum dia, já quiseram poder eleger o presidente dos Estados Unidos. Assim diriam pessoas como Fausto Wolff (corrijam-me se estiver enganado), Fritz Utzeri, e outros bons intelectuais brasileiros, que por pensar pensam parados, e são mais facilmente capturados pelos canibais cerebrais, ou assim diria Raul (brincadeirinha).

Pois, vim aos EUA em 1996, chegando primeiro a Miami e logo transferindo-me a New York, uma experiência elucidante e ao mesmo tempo solitária. Sem falar o idioma, apenas me dava com os israelenses, que eram quase ou mais de dez anos mais velhos do que eu. Vivi New York com olhos tristes, e odiei a cidade em minha primeira estadia de sete meses. Apaixonei-me futuramente, para sempre.

Período de folga no Brasil, e voltei a viver em Miami, com minha família. Depois do falecimento de meu pai, fiquei dois anos procurando trabalhar e encontrar algum caminho na Florida. Voltei a Israel, minha terra natal, e fiquei por lá por dois anos. Retornei a Miami, e depois de mais perdições me mudei a New York com dois amigos, ainda próximos, um dos quais hoje em dia é meu cunhado. De New York me mudei a Los Angeles, e de Los Angeles me mudei por um mês a trabalho em uma cidadezinha interiorina da Califórnia, Bakersfield, a verdadeira terra dos “gringos” de “pescoço-vermelho” e dos nativos-americanos. O resto, resto queda.

De New York a Miami e a Los Angeles, meus problemas particulares foram sempre os mesmos. Economicamente, talvez sejamos mimados. Temos facilidades que eu sei serem menos comuns no Brasil e na América-Latina como em grande parte do mundo em geral. Predominantemente, somos consumistas para vivermos em paz com nós mesmos. Todos em minha faixa financeira, contudo, parecem ter os mesmos problemas mais graves, e cito os principais abaixo:

- Falta ou enorme dificuldade a pagar e manter um seguro de saúde.

- Falta ou enorme dificuldade de se usar o transporte público (obrigatoriedade de se ter um carro, despesas relacionadas a gastos de gasolina – energia – e gastos de seguro de carro, obrigatório nos Estados Unidos no que diz respeito a danos a terceiros.).

- Muito trabalho, pouco dinheiro? Sim, de certo modo. Nos Estados Unidos não se vive, geralmente, uma vida de muitos amigos, mas sempre se trabalha muito. Imigrantes, é claro, melhor cabem a essa categoria, talvez pela falta de total integração aos costumes de uma terra estrangeira, mas certamente também pela dificuldade de uma classe média baixa, cada vez mais rara, e as classes de capacidades econômicas inferiores, de se manterem dignamente sem amontoar em tanto stress.

- Os impostos que pagamos atualmente, depois de um governo republicano de oito anos, são maiores, proporcionalmente, aos impostos que pessoas – leia-se também empresas – mais abastadas pagam. Os serviços ainda escassos, e com o perigo de uma iminente recessão nos Estados Unidos, especialmente no estado da Flórida (que será atingido com mais certeza do que o resto do país), o corte ainda maior é garantido. Arnold Schwarzenegger, por exemplo, vendo seu estado californiano rumando pelo mesma estrada, já fechou mais de uma dezena de parques nacionais, e numerosos serviços sociais. O primeiro que o governo republicano parece querer cortar é o que uma quantidade cada vez maior de pessoas precisa: assistência social.

Portanto, as eleições de 2008 me tocam como tocam a uma crescente massa de pessoas, o que para mim é a única verdadeira diferença dessas eleições às passadas, e nem a todas. Afinal, já houve épocas mais revolucionárias no país, que permitiram vermos o que vemos atualmente:

- Uma candidata e um candidato negro concorrendo para o mesmo partido, mais idenficável pela esquerda do país.

- Uma pessoa de uma religião tida como sinistra nos Estados Unidos, e um experiente político de, todavia, 71 anos de idade concorrendo em outro partido, mais idenficável pela direita do país.

Mesmo assim, preparem-se para os próximos textos. Infelizmente, a situação econômica do país empurra o interesse público à economia mais do que à guerra no Iraque. Em poucas palavras, para quem sabe o que ocorreu entre Israel e Líbano, preparem-se para pelo menos mais uma década de conflito, e conformem-se com essa triste realidade.

Aqui, a primordial preocupação e atenção civil é transformar a economia. Do lado democrata, aumentar impostos para pessoas que recebem mais de US$ 250 mil ao ano e diminuir impostos a pequenos negócios e pessoas físicas menos abastadas, é uma das idéias emergentes. Aos republicanos, o corte de impostos como vem sendo – quanto mais se recebe, mais chances se tem de descontarem impostos – e um maior corte prometido a "todos", são as principais idéias da maioria dos candidatos.

E mesmo assim, não se enganem. Amanhã explico melhor o que ainda há de ocorrer, mas a política aqui, como em qualquer lugar, ainda é um circo. Se mais ou menos profissional do que circos latino-americanos ou europeus, a opinião torna-se verdade absoluta, mas pessoal. Ao menos a democracia permite que pensemos. O que nos proíbe, às vezes, é a própria democracia, a predileta de Churchill, essa mesma.

RF