Friday, January 21, 2011

Suma Irracional - O Tratado da Blogoesfera

Jiló mandou avisar que o novo palácio de todos está pronto. Eu por eu postarei devagar, mas já tem gente do bem ocupando os espaços vazios.

Chegou o Suma Irracional – O Tratado Público da Blogoesfera Sentimental!

Podem chegar, divulgar e comentar, que tudo vai ficando claro e mais ajeitadinho aos poucos.

“Oba, oba total”, como diz Jiló.

Abrax, vejo vocês lá!

RF

Thursday, December 30, 2010

Retrospectiva 2010 - Final

Finalmente, o último texto da retrospectiva de 2010 e, de certo modo, também de uma década. Todos testemunhamos muitos fatos históricos onde quer estivessemos no ano que se vai, na década que se vai oficialmente. Concluí que seguir lembrando casos históricos (pensei nos mineiros de Chile, no segundo ano de Barack Obama e a eleição de Dilma Rousseff, entre outros) será sempre deixar de lado outros milhões de casos históricos dependendo do ponto de vista, algo aludido na homenagem a Howard Zinn, que reinterpretou a história estadunidense contemporânea.

O blogue aqui vai bye-bye. A primeira postagem do que então entitulava de Individualismo fala por si da evolução pensamental que tive desde 2007. Já vinha formulando as incertezas que substituíram as certezas de outros tempos, já vinha colecionando amigos e inimigos modernos, e já vinha me questionando sobre qualquer espécie de posicionamento ideológico. Diria para “não reparar” na escrita, mas eu mesmo me supreendo positivamente com a melhora. À medida que me expus, criei novos títulos, mas a linha, a forma de escrever e a intensidade do pensamento continuaram as mesmas. Talvez tenha refinado alguns achismos aqui e acolá. Nesse relacionamento blogue-leitores-outros bloguistas expus uma característica que hoje em dia me define parcialmente como pessoa: Inquietude. Assim certo companheiro de espaço virtual apontou-me entre balaios e gatos este ano.

Do Individualismo saltei à Escolha do Próximo Porteiro, a discorrer sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos, vencidas, pela primeira vez na história, por um negro, o que de certo modo contribui mais à causa racial do que a promoção individual de seu nome. Quando terminou a fanfarra eleitoral de Tio Sam, trilhei um caminho que explodia de minhas implosões ideológicas internas, e que gerou certas polêmicas. O Brasil então, terra reencontrada depois de quatro anos de ausência pela fobia que me impediu de voltar e ingressar em uma universidade brasileira, me serviu de ninho de novas ideias, com novas pessoas e novas cabeças e uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento do país. Eu, cucaracha onde quer esteja, sei o quanto é importante visitar a terra para saber dela, e não só ler os recortes de jornais. Um japonês quase semita me alertou sobre os perigos da super-exposição e, de até onde pude, diminuí inclusive minha defesa de certas causas ou argumentos em prol de mais paz na blogoesfera. Ganhei leitores, perdi leitores, mas ao menos sigo quem mais gosto e agradeço de coração a todos os que continuaram a ler o Não Leiam Este Blogue. Se alguém se interessar, deixo ainda os arquivos abertos. Contam quase melhor do que eu a historia do fim de minha década.

Já disse isso inúmeras vezes, mas em 2011 farei valer. Não me levo mais a sério, não tanto ao ponto de me martirizar ou exaltar desporporcionalmente. Gosto de escrever e seguirei escrevendo, se não com o ego, com o alter-ego. Como tive este endereço por muitos anos sob a marca d’Os Intensos original pesa-me um pouco ter que abandoná-lo, mas faz parte da “limpeza” de minha psique e imagem. Há muitas coisas que ainda sou de tudo o que ficou para trás, a maioria, mas há muito que já não sou, e quero criar a separação espacial das coisas. Somos seres de tempo, diria Heidegger. Pertencemos aos tempos que demarcamos, mas prefiro acreditar que também os construímos e que é esta a atitude que mais vale.

Sob a última badalada do ano aprendi talvez a maior lição de 2010. Apesar de ainda ter muito a correr, muitos planos a concretizar, muitos desafios e obstáculos a superar, e muitas lições a assimilar; apesar de que talvez o maior desses obstáculos seja conseguir me amar plenamente, aprendi que sei amar, muito bem, sou mestre nato nesta arte e mesmo que a auto-estima muitas vezes me diminúa perante quem amo, esse amor é bem reconhecido e apreciado. Nesse aprendizado me absolvo dos pecados que cometi.

Um excelente fim de ano e início de ano a todos e todas. Os planos ao futuro do blogue serão anunciados aqui em Janeiro, que é quando a maioria de vocês volta a ler até mesmo esse texto aqui, seus vagabundos, todos de férias.

Um super abraço, tudo de bom, saúde, felicidade, sucesso, dinheiro, amigos e amor. Siga a dica da própria Lilith, musa inconsciente do texto passado: “Beije-se. Vale a pena.”

RF

Friday, December 24, 2010

Retrospectiva 2010 - Parte 2

À frente da humanidade ainda atravessa a delicada e complexa missão de erradicar a violência institucionalizada de suas amostras e decisões de poder. O Presidente Barack Obama, nos Estados Unidos, exerceu seu papel positivista na política da hegemonia militar e escalou o número de tropas enviadas ao Afeganistão. A última conclusão do presidente segundo a Inteligência impecável que possui* aponta as conquistas “democráticas” obtidas contra o Talibã e os mais diversos grupos de mujahadin no Afeganistão, ainda frizando que são conquistas “frágeis”. Não há mais paz no Oriente Médio, é o que interessa. Este autor está cansado de discutir em defesa e contra todos os ângulos e lados desse conflito. Israel coleciona desastres públicos e humanitários com seu cerco à Faixa de Gaza, o que acarretou nos acontecimentos da flotilha pró-Palestina que tentava furá-lo, atacada, abatida e usada internacionalmente contra qualquer espécie de desculpa israelense. A Palestina ganha reconhecimento do Brasil e da Argentina, recentemente, como estado legítimo.Pela paz mundial, contudo, não há evolução. Rússia e República Tcheca ainda brigam como d’antes. A Coreia do Norte ressurge continuamente como o filho de Escarlate trancafiado no porão com seus planos maquiavélicos. Assusta a Coreia do Sul e a semi-onipotente China. Pelo passado militar sangrento, no entanto, a memória não falha. Brasil é acusado de crimes de guerra oficialmente pelas Nações Unidas pelos terríveis e abomináveis acontecimentos durante a Operação Araguaia. São guerras internas, civilizatórias, externas, globais, pessoais, étnicas, ideológicas e religiosas.

Confesso que perdi um pouco de minha “alma” nos seis anos de estadia nos Estados Unidos. Ainda milito pelo que acho certo, mas mais pragmaticamente. Esse pragmatismo, objetivismo quase morto de tão frio, não fazia parte de minha mente sonhadora. Não sei o motivo, nem tenho explicação. Eric Voegelin cunhou a expressão “salto em ser”, o que pode ser definido como uma atitude ou construção individual muito maior do que a pessoa que o fez ou construiu. Não sei se mestres como Albert Einstein, Sigmund Freud, William Shaekspeare, Martin Luther King, John Lenon etc pensavam nesse salto. Não sei se pensavam em ser mais, melhores, maiores mesmo que em seletas qualidades quando tornaram-se grandes. Pessoalmente, antes de 2010 tinha como objetivo ser, e não ter, do melhor. Em 2010 me preparei psicologicamente para criar uma familia, mas não foi somente esse lado materialista que me influenciou. Percebi que, depois dos 30, terminaram as colheres de chá e as pessoas esperam de mim simplesmente tudo o que não esperavam seriamente antes.


Foram guerras e mais guerras em 2010. Guerras contra meu inerente conformismo, por exemplo. Guerras anti-ideológica do princípio ao fim. Guerras com meu estar, guerras com o futuro, guerras com meus próprios ideais, o que enfim, agora em 2010, mais parecem favorecer a calmaria. Guerras contra outros, inclusive outros muito meus, amados e queridos. Guerras desnecessárias… Descobri em 2010 que meu maior desafio nessa vida, minha única chande de “saltar em ser”, é encontrar a tranquilidade, não na ausência de conflitos inevitáveis, mas na ausência de guerras, na ausência do conceito de itjihad muçulmano, na ausência da necessidade constante que tenho de brigar comigo e com todos. Acredito também que, justamente por perder a “alma”, ganhei “armas” psicológicas de reposição de ego. Se perdi a ideologia, ganhei na elasticidade mental. Continuo sabendo menos do que sei saber, sabendo saber menos do que gostaria ou penso que sei, é verdade, mas não consigo mais me prender a uma causa humanitária exclusivista, e considero isso uma grande vantagem. Na resolução, logo, de problemas de cunho emocional e intelectual preciso refinar a raiva, que é em si absolutista e exclusivista. É meu maior desafio aos anos que me restam nessa Terra. Quero, mais do que morrer tranquilo, viver representando uma pessoa tranquila, menos ciumenta e invejosa, mais concentrada e mais benevolente mesmo nas maiores adversidades.


O mundo vem rompendo com as antigas hegemonias. Quiçá em nenhuma outra área esta afirmação faz mais sentido do que no mundo esportivo. A Copa do Mundo realizou-se na África. Houve pequenos problemas (grandes, mas pequenos para quem está acostumado a conviver com maiores níveis de iniquidade social), como furtos e incidentes isolados, mas todo o temor do mundo “civilizado” não se confirmou. Não houve necessidade de colete à prova de balas, apesar do episódio trágico em Janeiro, quando radicais separatistas em Luanda, Angola, dispararam contra jogadores da Seleção Nacional do Togo deixando um morto (motorista) e nove feridos, incluindo dois jogadores. O evento mais assistido do planeta foi um sucesso relativo em termos de infra-estrutura, mas no contexto da exposição do Sul Global, da África nada menos, ao Norte Global, o sucesso é absoluto. Os Estados Unidos, já tendo perdido a hospedagem da Copa de 2014 para o Brasil, perdeu a oportunidade de realizar os jogos em 2018 e 2022 para Rússia e Qatar, respectivamente. No páreo também estavam Portugal e Espanha, antigas colonizadoras imperiais. A Espanha, aliás, que entrou para o clube seleto e elitista de vencedores de copas de mundo em 2010. O Brasil, grande hegemonia, já se despede da competição nas quartas de final há oito anos. No ramo dos clubes, o TP Mazembe, clube modesto do Congo, derrubou o Internacional de Porto Alegre para disputar a final contra o Internazzionale de Milão. Apesar de vice-campeão, entrou para história realizando algo anteriormente tido como impensável**.

Sorte no esporte, azar no amor? Entendo hoje que toda história só se define depois de completa e em 2010 minha história romântica de quatro anos terminou fazendo-se inteira. Todos os segmentos insólitos de minha personalidade adquiridos ou refinados no contexto do relacionamento hoje fazem sentido enquanto então padeciam do obscurecimento natural na iminência. Tenho a dizer sobre isto: É o que mais consome minha mente cotidiana. É o evento singular mais importante de minha história. É a maior transição de hegemonia egocêntrica que passo sempre que passo por essas fases.

Nunca conseguirei, acho, entender como é possível sentir e deixar de sentir, ter importância e deixar de ter importância na vida das pessoas que amamos. Se já é ultra-complexo quando se trata de nossa familia, infinitamente mais quando se trata de estranhos, e quando há sexo envolvido bota complexo nisso. Como a anedota que gosto de contar quando falo no assunto. Meu pai e tio foram ao Instituto Butantã de pesquisas biomédicas com meu irmão mais velho a mostrar-lhe cobras e outros répteis. Um dos profissionais ali presentes explicou ao grupo de homens do clã Frenkiel que estava prestes a realizar uma cirurgia “bipenal” em uma cobra. “Bipenal?” Perguntou meu tio, o médico psiquiatra. “Sim, as cobras tem dois pênis, é a operação de dissecar e examinar suas genitálias. Bi-penal, pois…” Abismado, meu pai disse a meu tio: “Nascer cobra nesse papo de carma budista eu to fora, guri.” Titio perguntou o motivo, ao que papai respondeu: “Se um pênis já dá todo esse trabalho, imagine dois!”


Espero que a associação sexual não ofusque o romantismo (para mim só contribui). É a coisa mais complexa do mundo relacionar-se com outros seres humanos, como diria o personagem “Dexter” da série estadunidense da Showtime. Só acrescentei que é especialmente complexa quando há sexo envolvido. Assim enlaço outro apelo a 2011, que a amargura que espeta meu peito enquanto ainda tento esquecer esse amor se dissipe e se torne doçura em minha busca ao crescimento.


Por hora, boas festas a todos e todas; paz, amor, carinho, muito carinho, companhia, amizade e dinheiro, sim, dinheiro que nunca é o problema, só a solução.

Forte abrax,

RF

*Só não previniu a tentativa do atentado do homem bomba-cueca nigeriano, no início do ano, apesar dos repetidos avisos do pai sobre a alinhação ideológica do filho; ou o ingresso penetra do casal Salahi no jantar presidencial icônico ao fim de 2009; e mais recentemente ajudou a não fazer nada contra a exposição ao ridículo imposta por Julian Assange, criador do Wikileaks, entre outras excelentes façanhas similares, isso contando apenas os últimos 14 meses.


**Há muitos outros eventos e modalidades a discorrer quando se trata de esporte, inclusive, para mim, modalidades antes tidas como chatas, como o Baseball. No entanto, nem é uma questão de espaço, mas de preferência pessoal da modalidade, e da importância política paralela que a Copa do Mundo representa nesse contexto.

Saturday, December 18, 2010

Eu pergunto e tu respondes!

No filme “American Beauty”, de um de meus diretores favoritos, Sam Mendes, o veterano de guerra e pai do introvertido e complexo namorado da protagonista esconde sua homossexualidade às últimas consequências. Se nascesse depois de hoje, Sam Mendes teria um personagem a menos em sua trama brilhante que, como poucas narrativas hollywoodianas, expõe a esquizofrenia estadunidense.

Sim, pois hoje no Senado duas batalhas foram travadas pelas minorias do país. Uma, perdida, a do Dream Act, tentava legitimar a cidadania de estudantes trazidos ilegalmente pelos pais enquanto ainda menores e que não recebem seus diplomas oficiais pelo status imigratório ainda ilegal. 55 a 41 votos ainda separaram os estudantes ora brilhantes, que procuram apenas obter o produto de seus árduos trabalhos, de seu sonho ainda inatingido. Estudantes como o ativista Felipe Matos, a quem tenho o privilégio de chamar de amigo pessoal e antigo, desde os 22 anos de idade, e à quem a revista Carta Capital homenageia em artigo que pode ser acompanhado aqui.

A segunda venceu-se, no entando, e isto apesar da advocacia opositora ferrenha de John McCain. Aquele que podia ser nosso presidente primeiro exigiu uma pesquisa sobre a opinião dos soldados das forças armadas do país. Quando obtida a pesquisa favorável à proposta massivamente popular, fez-se o insatisfeito e pediu uma pesquisa científica sobre os efeitos da lei anti-constitucional, mas institucionalizada nas forças armadas. Quando obtida a pesquisa, ainda positiva e condizente ao que agora chamamos de realidade, ainda insatisfeito, pediu mais pesquisas e nenhuma delas, nenhuma opinião provava-lhe o ululante, nem mesmo quando oficiais de todos os setores das forças armadas demonstraram quão banal, quão vil e quão estúpido era privar seus companheiros de guerra e de serviço militar da honestidade quanto a suas respectivas sexualidades.

A proibição, que não lei, pois leis devem ser justas, humanas e iguais, infame de “Não pergunte que não respondo” finalmente caiu no Senado por 65 a 31 votos.


Mesmo sendo contra a guerra, negar beneficios, forçar o retiro de oficiais honrosos, que serviram por uma causa que acreditaram ou por outros motivos, não dando menos de si por uma ideia que os antecede, é a antítese de qualquer pais que ainda quer dizer-se democrático. Aconteceu na era de Barack Obama, mas não por Obama, acreditem, contudo muitos menos por John McCain ou Sarah Palin, esta mais preocupada em estourar os miolos de animais alaskanos indefesos. O que importa é que aconteceu.

Felipe Matos, homossexual orgulhoso, apoia a vitória de seus irmãos e irmãs. Torçamos por sua vitória em 2011.

RF

Friday, December 17, 2010

Retrospectiva 2010 (em partes)

Agora sim, a década se completa. Perdoem aqueles que acompanham este autor meio confuso com os números se no ano passado já a declarava feita. Nunca entendi esse negócio da década ou século terminar um ano depois de seu zero. 2010, de 2000, contamos dez anos ou não? Aí explicam: “Não existiu o ano zero.” Ah, tá, entendi, mas esperneio, baixinho, teimoso taurino que sou: “Mas de Janeiro de 2000 a Dezembro de 2010 são dez anos”, e tal, tudo em vão. Década é década, né? Fazer o que, não posso só contar os meus dez anos, tenho de aderir à convenção humana temporal.

Escrever a retrospectiva de uma década, porém, já foi desastroso ano passado. Foi aquela coisa de lembrar os clichés e recontá-los a todos os que já conhecem e se cansam de clichés. Este ano quero fazer diferente. Quero falar de alguns aprendizados de minha vida enquanto envelheci dos vinte aos trinta anos de idade. Quero traçar um paralelo cronológico de 2010 apenas com os flashbacks necessários. Mas o que mais importa é o presente, e assim aprendi em 2010.


Foi um ano complexo e completo. Teve, não como a maioria, início, meio e fim. Ao contrário do retorno de Saturno tão famoso nos ciclos dos entendidos nas invenções da astrologia, meu “retorno” durou aproximadamente três anos. Aos 29, justamente, as certezas que um dia tive já haviam se desfeito e não era mais confusão o que sentia, e sim não-saber. E não é que esse não-saber não se desajustou, apenas se recauchutou? No começo era aflição não saber. Não saber exatamente o que serei baseando-me naquilo que via, não saber o que o dia de amanhã traria, não saber se meu coração ancorava-se no correto correspondente, não saber se seria o que queria ser, se era o que queria ser, se podia chegar a fazer o que tinha de fazer para sê-lo, e, sinceramente, ainda não sei a maioria dessas respostas. A diferença é que hoje, já ao fim dessa trajetória anual, menos me importa saber e mais me importa fazer. Espero que isso se traduza, em 2011, em maior conhecimento não só de causa, mas de consequência.

*Logo em Janeiro faleceu uma grande figura para a história contemporânea. Howard Zinn, historiador e ativista social desde os tiros dos anos setenta, escrevera entre roteiros teatrais e outros muitos e bons livros a famosa “Uma História dos Estados Unidos”, que reconta os caminhos dos antepassados oprimidos, e não opressores, dos governados, e não governantes, e dos trabalhadores, e não empregadores da grande hegemonia. Zinn contribuiu à história da humanidade uma sincera retrospectiva do ponto de vista do constante Outro da civilização humana, focando no gigante da civilização Ocidental. Zinn foi essencial em minha vida de pré-estudante universitário, quando descobri pela primeira vez que muito do que tinha aprendido no passado ressoava misticamente estúpido.*

Foi um ano de reviravoltas pessoais. Quando li em um blogue “pelaí” (parafraseando meu amigo Pirata) dizendo da faxina interna da autora me irritei, mas hoje entendo o contexto. Foi mesmo assim, faxina interna, revirar e desmontar e desarmar e remontar e rearmar sem quebrar uma só peça da louça. Comecei inteiro pela metade, e terminei pela metade inteiro. Irônico isso, claro, mas faz parte, e só entendi que faz parte depois de passado o passado. São as forças da natureza fazendo-se sempre presentes dentro e fora de nós.

*Do Brasil aprendemos que a fúria da natureza não perdoa classes econômicas. Pelas tórridas chuvas de Dezembro, o desabamento da pousada luxuosa da Sankay de Ilha Grande, Angra dos Reis, deixou quinze vítimas confirmadas. Miami, cidade que geralmente convida turistas das regiões mais frias, os chamados “snowbirds” (pássaros de neve, alusão à migração aviária do hemisfério sul), teve o clima mais frio desde antes de meu nascimento. Experimentamos tanto frio que não estávamos preparados, e este Dezembro não segue diferente. Também conhecemos a importância da infra-estrutura, e porque tê-la ainda representa melhor proteção até mesmo contra a fúria da natureza. Porto-Príncipe, capital do Haiti, jamais será a mesma depois do terremoto de 7 graus de magnitude que a destruiu no dia 7 de Janeiro. Um terremoto de escala similar também tremeu no Chile em Fevereiro, e o contraste da infra-estrutura comprovou-se verdadeiro. Apesar da mesma magnitude, os pontos mais atingidos do país não demonstram nem remotamente o mesmo nível de destruição. No Tibete, novamente, o terremoto que atingiu a região em Abril também demonstrou-se trágico em maiores proporções. O vulcão islandês Eyjafjallajökull (nem me peçam para falar esse nome, foi “copy-paste” mesmo) entrou em erupção em Abril escurecendo os céus europeus. Os donos do mundo, nós, seres voadores, tivemos o vôo restrito pela fúria da própria terra.*

(Segue na próxima postagem)