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Tuesday, June 17, 2008

Al Gore, Gallup e Respostas

Al Gore e Barack Obama

Al Gore endossou Barack Obama à presidência dos Estados Unidos na noite de ontem. O apoio, depois de uma intensa estação de primárias na disputa entre Hillary Clinton e o nomeado final do partido, não foi surpreendente, mas pode ser crucial para a vitória de Obama no estado da Flórida.

Gore disse: “Ouçam da minha boca, eleições importam,” referindo-se à sua disputa presidencial no ano 2000 contra George W. Bush. O quadragésimo-quinto vice-presidente da nação argumentou a favor do respeito ao candidato republicano John McCain, dizendo que o senador pelo Arizona merecia ser tratado com dignididade, mas que o país não pode continuar com a mesma filosofia administrativa que Bush usou para governar nos últimos oito anos.

“Quando o campo de McCain diz que Obama é apenas um jovem inexperiente, quem fez esses argumentos primeiro? Pois, esses argumentos foram usados contra um jovem chamado John Fitzgerald Kennedy” pela campanha de Dick Nixon nos anos sessenta, Gore defendeu.

Pode ser o endossamento mais importante para o nomeado democrata, especialmente pela posição traiçoeira do senador pelo Illinois na Flórida.


Gallup e a Economia

De acordo com pesquisas apuradas pela rede MSNBC, John McCain se arrasta bem atrás de Barack Obama na confiança de eleitores nos candidatos em quesitos econômicos. Obama lidera as pesquisas por 52-36%.


Gallup e McCain

O número mágico de 52% também classifica aqueles que não estão satisfeitos com o nomeado do partido republicano para as eleições gerais em Novembro. A pesquisa foi conduzida apenas entre afiliados ao partido conservador.



Judeus e a Flórida

De Marcelo F. Carvalho

Mas "eternizar" a guerra no Oriente não gera cada vez mais ódio ao Ocidente e, por tabela, Israel? Ou há mais benefícios que ônus por baixo desse tapete?

Pois é, Marcelo, mas aí já depende do ângulo que você encarar a história. Há teorias conspiratórias sobre a influência dos Estados Unidos no conflito entre judeus e palestinos, mas tendo vivido em Israel posso dizer que esse ódio é cultural e religioso, duas das bases mais firmes do comportamento humano, se não as mais firmes.

Oficialmente, os Estados Unidos é contra a instalação de novas casas em territórios ocupados ou desejados pelos palestinos, como parte de Jerusalém reservada como a futura capital do Estado Palestino. Oficialmente, nem mesmo o presidente de Israel, seja ele Ehud Olmert ou quem assumir ao futuro, pode admitir que favorece essa expansão.

O problema é tudo o que ocorre atrás das cortinas, e nem todo conhecimento histório e político garantem uma boa resposta. Portanto, não fingirei que posso melhor abordar sua questão. O que posso afirmar é que a intenção oficial dos Estados Unidos não é perpetuar o conflito. Para Barack Obama, a diplomacia serve como firmamento central de sua campanha. Para McCain, a experiência militar é o pilar que o defende e resguarda como excelente concorrente.

Perceba as pesquisas do Gallup: Enquanto a preocupação maior dos eleitores siga sendo a economia, Obama deve vencer. Caso mude para segurança nacional, o candidato democrata terá de suar muito para surrupiar o cargo dos sempre favoritos republicanos em tempos de guerra. Guerras, aliás, que geralmente republicanos começam, que se escreva de passagem.

Abrax, caro Marcelo.

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De Lilith, minha amada e idolatrada, salve-salve:

E como pensa essa desafiadora comunidade judaica da Flórida. Como pensa a comunidade judaica dos EUA? Quais são as principais virtudes e os principais defeitos dos candidatos sob o ponto de vista desses, cujo papel nesta eleição pode ser tão crucial. Fiquei curiosa e acho que, sobre isso, poucos podem responder como voce, né? Beijo, lindo!

Voltando-nos à demografia da Flórida, especialmente, Aventura (distrito local no condado de Dade) é a região que mais têm judeus por quilometro quadrado. New York tem mais judeus do que toda Israel moderna, praticamente. Esses judeus têm visões individuais da sociedade. Há muitos como eu, livres pensadores, não necessariamente atados a nenhuma ideologia e ao mesmo tempo apaixonados pela busca de qualquer verdade, portanto defensores das mais absurdas idéias, não só nos Estados Unidos, mas em Israel. Aqui, nova e especialmente na Flórida, não seria diferente.

Há os religiosos mais fanáticos de todas as facções, geralmente conservadores, o que não difere da maioria das outras religiões. Conservadores tanto em questões morais quanto políticas, e especialmente traumatizados pelo comunismo stalinista, voltam-se contra os liberais, aqui ainda associados com a esquerda, ex-comunistas ou sócio-democratas (o Holocausto foi surreal e desprovido da idéia moderna do que a direita representa, portanto não há ressentimento algum na comunidade judaica contra o mercado livre, a privatização, etc – o nazismo era baseado no nacionalismo irracional, bem como a maiora das religiões).

Há também os sionistas, aqueles que mantém a tradição judaica mais pelas raízes geográficas, principalmente desde o nascimento do estado moderno de Israel. Nesse caso, o próprio nome Barack Hussein Obama é suficiente para alimentar fantasias variadas, como a de que Obama seja muçulmano, educado em uma “madrassa”, e ao mesmo tempo frequentava a igreja de um anti-semita, Jeremiah Wright, por 20 anos, aliado de outro pastor anti-semita, Farrakhan. Fantasias como a de que Obama procura uma aliança com o Irã, e deixando as fantasias de lado, há a noção perfeitamente racional de que ele talvez não esteja sintonizado com os perigos que israelenses – e judeus geralmente têm sempre ligações com Israel – vivem, e israelenses sabem bem do que o “terrorismo” é capaz.

Há também aqueles que sentem ressentimento por experiências racistas em outros estados, como New York e New Jersey, algo ilógico considerando que muitos soldados negros ajudaram esses mesmos judeus e seus descendentes contra os nazistas nos variados territórios ocupados pelos tiranos. Esse ódio, no entanto, é causado pela forte ligação de muitos negros ao islamismo, cristianismo ou protestantismo racial, ou seja, ligado a opressões racistas ocorridas nos Estados Unidos há centenas de anos, refúgios de comunidades que apenas podiam falar entre si na inaceitação supremista dos brancos de épocas.

Barack Obama revelou um pouco do que ocorre nas igrejas negras nos Estados Unidos em seu discurso em resposta a discursos de Wright. Pastores como John Hagee (que endossou John McCain mas foi rejeitado pelo candidato republicano) revelam o ódio racial e social das congregações protestantes brancas, dizendo que New Orleans merecia a destruição que trouxe o furacão Katrina porque era a cidade dos pecados, sendo a cidade do Jazz e Blues (nem preciso dizer mais, né?), e do carnaval caribenho-americano Mardi Gras.

Pois, a comunidade judaica também tem seus demônios e problemas a resolver. Isto não significa que muitos judeus não votarão em Barack Obama, ou que não deixarão de votar por bons motivos. Nós, querida Lilith, somos um povo conhecido pelo nosso intelecto, doa a quem doer, e geralmente gostamos da liderança. Piadinhas a parte, a influência judaica nos Estados Unidos é histórica.

A influência judaica na Flórida não é maior, todavia, do que a dos cubanos ou negros. É apenas uma parte da equação, talvez a parte que Obama tenha maior dificuldade. Vencendo os outros setores, vencerá o estado, mas com cubanos Obama não está em melhores lençóis. Por quê?

Posso até responder, mas precisarei perguntar aos cubanos. Aposto que eles também têm seus demônios, e excelentes argumentos lógicos a favor do adversário.

Beijos, Lilith,

RF

Thursday, June 12, 2008

“Cheap Shots” – O Circo Começou

(Nota: Pesquisas de Novembro do ano passado indicavam, de acordo com o Gallup, que a guerra no Iraque era mais importante aos eleitores do que a economia à época. Contudo, o fator mais importante aos eleitores atualmente, segundo pesquisas apuradas pela MSNBC, é a economia, aproximada da guerra, segurança nacional e política externa dos Estados Unidos.)

Quando John McCain sobe ao palanque, como vem fazendo pelo sul do país, fala de seus planos presidenciais e procura melhorar o discurso, adaptá-lo ao popular, ao mesmo tempo em que dispara, à menor oportunidade, comentários sobre o pastor de Barack Obama, sobre os comentários que fez quando as primárias em Virginia se aproximavam, dizendo que trabalhadores “amargurados” votavam contra os próprios interesses econômicos porque se “apegavam a armas e à religião”; aproveitando para atirar em seu rival democrata logo nos primeiros dias de uma longa jornada até Novembro.

Quando Obama sobe ao palanque, ou outro de seus campanhistas assíduos, ataca McCain por comentários como o que fez em uma assembléia popular (similar à que deseja usar a dez debates para o cargo presidencial) dizendo que o exército dos Estados Unidos permaneceria “100 anos” no Iraque caso necessário; ou refere-se à confusão entre sunitas e xiitas que McCain fez há alguns meses em mais de uma ocasião como ponto fraco em seu impermeável escudo militar.

O candidato republicano não se ajuda, tendo respondido ontem no famigerado Today Show da rede NBC à pergunta do âncora-galã Matt Lauer sobre sua perspectiva de quanto tempo ainda levará ao retorno das tropas do Iraque: “Isso não importa, o que importa é que não haja ‘casualidades’, temos tropas” em outros países, um ponto relevante, mas não há dúvidas que sua oração foi irregular, e o verbo “importa” antecipado da negação absoluta não lhe cairá nada bem.

Não há dúvidas que editarão suas palavras e salientarão que o republicano está pouco se danando com as tropas no Iraque e, ao mesmo tempo, se não Obama seus assistentes não perdem a menor chance de golpear McCain em seu ponto fraco, a idade: “O gagá está confuso,” diriam se pudessem, apenas sugerindo como fazem os melhores/piores políticos.

Ao mesmo tempo, Obama tenta afirmar sua posição como candidato genuíno, e sabe que, caso sua for a gafe, ele pode tirar o time de campo o quanto antes porque não vencerá as eleições. Tem duas bases centrais a conquistar - mulheres suburbanas e trabalhadores brancos - e como não serviu no exército, e até mesmo se tivesse servido, depara-se contra o símbolo militar mor da grande nação. Esse é seu maior desafio, e pode até insinuar que McCain está gagá, mas todos sabem que essa não seria a verdade.

McCain precisa e procura demonstrar que Obama apenas fala, mas não tem nada de concreto a propôr à nação. Seu maior desafio é rebuscar território que nenhum outro candidato conseguiu conquistar como Obama desde John F. Kennedy, ou desde a possibilidade do postulante Bob Kennedy.

Tenta demonstrar que o juízo de Obama é defeituoso, desde o caso do pastor Jeremiah Wright e sua igreja (o senador por Illinois rejeitou sua igreja depois de novos comentários polêmicos professados há algumas semanas atrás, dessa vez por um pastor branco) até Toni Rezko (empresário acusado e convicto de dezenas de crimes do colarinho branco) ou William Ayers (membro de uma facção extremista estadunidense, Weather Underground), ou a mais recente matéria do The New York Times sobre o aliado James A. Johnson, acusado de lucrar sobre hipotecas financiadas pela Countrywide Financial Corportation, um dos centros do escândalo imobiliário do país, e outros crimes de colarinho branco, o que a Obama não deveria caber, nem pela proposta, nem pela realidade que os Estados Unidos se encontra.

O engraçado é perceber que a mídia que favorecia Barack Obama agora divulga a hipotética vantagem de Hillary Clinton na maioria das bases disputáveis entre republicanos e democratas, e a senadora por New York venceria contra John McCain com um pé nas costas. Ironias do destino.

RF

Wednesday, April 30, 2008

Dia do Holocausto

Depois dos discursos recentes do Rev. Jeremiah Wright, Barack Obama finalmente se distanciou da controversa figura. Penso disso que Obama finalmente compreendeu que não podia encarar o tema com a maturidade que encarara antes. Mais do que isso, descobriu que suas amizades antagônicas, mesmo que a antagonia não seja ilógica de todo, mesmo que represente parte do sentimento da população e muito dos sentimentos estrangeiros, prejudicam sua imagem, e que isso é inevitável mesmo que ele desejasse o contrário. Discordo da forma e conteúdo do acontecido, mas nada a fazer, apenas me resta esperar que o tema não lhe seja mais inimigo, mas atualmente duvido mais de suas capacidades, e passo a igualar o eloquente senador a todo e qualquer outro político. Talvez quem esteja “crescendo” seja eu. Talvez seja eu o “infantil”, mas sigamos à próxima.

Hoje é dia do Holocausto em Israel, semana antecedente ao dia dos Finados (soldados israelenses mortos em combate) e o dia da Independência. Abaixo, Rachel, uma das israelenses que trabalha comigo e com quem sempre encontro bons atritos até desistir de discutir com ela por respeito próprio ao meu ouvido, que não é penico, contava das entrevistas aos jovens israelenses que visitam a Polônia, a Alemanha e a Hungria a ver os campos de concentração da história moderna do povo judeu.

Foram seis milhões de judeus mortos, entre esses, dois milhões de crianças. Por qualquer desventura sarcástica desta nossa vida-morta, a lógica e a conclusão nazista de eliminar a raça judia (e todas as demais raças “inferiores”) jamais seria a mesma de assassinar dois milhões de crianças. Essa quiçá seja a prova mais contundente da aberração daquele regime, que como outros tantos, procurou o genocídio como forma de resolução de seus problemas.

Atualmente Israel luta por seu direito de existir, mas existe há 60 anos, mais poderosa do que qualquer outra nação do Oriente Médio, com melhores amigos (USA), com melhor infra-estrutura, educação e economia do que seus vizinhos. Isso em si exemplifica o sucesso dos sobreviventes europeus do holocausto alemão, que não só saíram dos campos de concentração pesando plumas, mas sobreviveram outros 60 anos de prosperidade e construção. Não sem conflitos, é verdade, mas considerando o trauma da Segunda Guerra Mundial, até que não se saíram tão mal. Similar a esse movimento vejo apenas no Japão, sobrevivente de duas bombas atômicas e hoje uma das maiores potências econômicas e sociais do planeta.

Rachel conta que os entrevistados criaram um paralelo entre o que ocorreu então, com a demora de Eisenhower a agir e dos russos a reagir em coalisão contra Hitler, e o que ocorre corriqueiramente com os mísseis disparados da Faixa de Gaza a Israel. Dizem que, do mesmo modo, o mundo ignora o problema e permite o abuso palestino ao Estado de Israel.

Quando nessas é que mais discordo de minha terra pátria. Infelizmente, a auto-vitimação vinda de uma traumática experiência há mais de 60 anos atrás apenas gera a vitimação do próximo. Nesse caso, contando o número de vítimas de ambos impérios rivais, os clandestinos palestinos e os oficias israelenses, os palestinos perdem (ou ganham, dependendo do ângulo) em grande escala. Ao mesmo tempo, a Inglaterra há alguns meses já havia anunciado que o número de casualidades da guerra contra o terrorismo no Iraque e Afeganistão já havia levado a vida de mais de um milhão de civis.

O mesmo ocorre em Darfur, Somália, um holocausto, genocídio cruel que vem ocorrendo há alguns anos sem intervenções diretas dos Estados Unidos, Inglaterra, e até mesmo Israel. Pois, se fosse para intervenir, antes deviam fazê-lo na África, tão carente da atenção mundial.

A evolução humana consiste em quebrar circulos viciosos e construir novos ciclos, novas eras, novos ideais. Pelo que entendi do funcionalismo do planetinha que me abriga, a persistência nos mesmos erros arcaicos de sempre é eterna. As mesmas idéias que ainda regiam o pensamento humano há milênios, regem hoje como nunca. O mesmo orgulho ainda impede que o humano rompa suas próprias barreiras criadas pelos traumas estampados pelo tempo.

Relembrando grande parte de minha família assassinada covardemente pelos nazistas há 60 anos, e trazendo à tona a memória honrosa daqueles que morreram simplesmente por serem quem eram, das crianças que morreram sem a menor consciência do motivo, das pessoas que ajudaram os judeus a sobreviver em solo europeu, das que os abrigaram depois em solo estrangeiro, peço a todos que não orem, não acendam velas, não chorem pelas águas passadas. A hora é passada a combater as atrocidades da humanidade. Juntemo-nos a relembrar nossos leitores de que há holocaustos e genocídios que ainda ocorrem diariamente, debaixo de nossos narizes. E lutemos por um mundo melhor no amanhã de nossos filhos.

RF

Wednesday, March 19, 2008

A raça de Obama

Para Barack Obama, a semana começou com o pé esquerdo. Depois dos comentários incendiários de Geraldine Ferraro e seu afastamento como campanhista de Hillary Clinton, a geração YouTube conseguiu expôr o elo do senador de Illinois com o Reverendo Jeremiah Wright da Igreja Trinity United, à qual Obama pertencera e jamais renunciou.

Wright, por sua vez, criou fama por seus discursos anti-Estados Unidos, como o mais citado por Joe Scarborough do programa Morning Joe da MSNBC, cinco dias após o Onze de Setembro, quando disse que o país merecia o que lhe ocorrera. Outros de seus jargões conhecidos são chamar a nação de KKK da América (uma alusão antipática ao grupo supremacista Ku Klux Klan), dizer “Deus amaldiçoe a América” ao invés de “Deus abençoe a América", e por fim sua infame acusação de que o governo estadunidense teria propositalmente propagado o vírus HIV entre negros.

O pastor mostra-se claramente enraivecido pelos conflitos segregadores das gerações passadas de negros que sofreram a escravidão e a exclusão não só social, mas genética, por demasiados anos, e a ligação afetuosa que tem com Obama lhe criou a maior das controvérsias de sua campanha: Seria Barack Obama racista? Serão suas aspirações anti-patrióticas?


Dias Passados


Jovem e sem passado político a lhe assombrar, rivais fanáticos da direita conservadora procuraram em vão, por muito tempo, e apenas agora encontraram um grande cabelo no mingau de Barack Hussein Obama. Além de fazerem o que agora fiz por pura ilustração, ou seja, citar “Hussein” como instigador de polêmicas, também tentaram revela-lo anti-patriótico quando comprovaram que Obama não leva a mão direita ao peito esquerdo quando ouve o hino dos Estados Unidos. Há uma bela imagem que mostra o contraste dos demais candidatos e o senador de Illinois, enquanto os demais levavam a famigerada mão direita ao peito esquerdo, e ele apenas as deixava entrelaçadas abaixo de sua cintura.

Porém, obviamente isso não foi o suficiente. Logo puderam encontrar nesse pastor a desculpa que sempre quiseram dar para não eleger um negro à Casa Branca. Rush Limbaugh, que continua discursando em sua estação como radialista radical conservador, chama seus ouvintes a votarem por Hillary Clinton “apenas para ver o partido se degladiar e se acabar até Novembro,” mas não desmente sua opinião de que Barack Obama é simplesmente inelegível.

Tive a chance de conversar e ler a opinião não só de bloguistas conservadores, mas de pessoas conservadoras envolvidas com o partido ou com suas ramificações supostamente independentes. Para eles, Obama tampouco é elegível. Por ser filho de estrangeiros, por ter nome árabe e por ser negro, talvez. Porque, em se tratando de seu escasso envolvimento na descomunal história do senado estadunidense, suas atitudes não foram piores do que as de seus rivais partidários, e até melhores em instâncias específicas. Não há um único motivo melhor para não suportar a idéia de tê-lo como presidente.


O Grande Discurso


A única verdadeira história na notícia que unia Obama e seu ex pastor Wright, foi o histórico discurso que o senador deu ontem a centenas, logo milhares, logo milhões de cidadãos e cidadãs norte-americanos. Precisando fazê-lo, seus estrategistas não deixaram dúvidas de que a maior intenção seria criar um espetáculo que expressasse o quanto Obama pode ser presidencial.

Quatro bandeiras à sua esquerda e quatro à direita diante de uma cortina azul semi-celeste-semi-marinho, e o pré-candidato ao pódio, sem as mãos cruzadas ou a coluna torcida, com um olhar sereno, sério, conciso, de palavreado sensato. Poderia ser o “State of the Union Address”, discurso anual do presidente da nação, mas foi basicamente um argumento clássico, que ainda terá repercussões mais sérias do que as que flutúam pelo país.

Não disse que “tinha um sonho”, mas explicou aos incautos, aos inocentes, aos maliciosos e aos ignorantes que existe um ressentimento profundo pelos brancos entre as passadas gerações negras que se propaga nos “barbeiros, nos salões de beleza, ao redor da pia da cozinha e, ocasionalmente, encontram espaço nas igrejas” das gerações mais jovens. Um ódio pelo racismo, pela lei de Jim Crow que segregou colégios públicos no sul do país, pelos espancamentos e pelos linchamentos e pelo terrorismo que negros sofreram desde que, sem escolha, foram trazidos como escravos ao continente.

Disse que esse ressentimento, o qual não sente por ter uma história pessoal distinta, é real, não deve nem pode ser ignorado. Declarou que tinha sido inocente em pensar que a raça não seria um fator importante em sua campanha. A campanha, seguiu Obama, pode resumir-se a conflitos dessa natureza, a suspeitas de que ele simpatize com as ofensivas palavras, jargões e acusações de Wright, mas também pode ser encarada de modo diferente.

“Dessa vez,” declarou Obama, “queremos falar sobre as escolas que se desmoronam e roubam o futuro de crianças negras e crianças brancas e crianças asiáticas e crianças hispanas e crianças nativo-americanas. Dessa vez queremos rejeitar o cinismo que nos diz que essas crianças não podem aprender; que essas crianças que não se parecem conosco são problema de outrem. As crianças da América não são essas crianças, elas são nossas crianças, e nós não as permitiremos decair na economia do século 21. Não dessa vez.”

Para Obama, a grandeza dos Estados Unidos é que o país pode mudar, o que não se pode dizer, francamente, de todos os demais. Concordo com ele, mesmo que estejamos tão distantes do ideal.


Enquanto isso, em Israel


John McCain foi calorosamente recebido em uma viagem que seguiu do Iraque e tende a continuar pelo continente europeu. Sem visitar comunidades palestinas, McCain esteve presente em uma simbólica cerimônia no Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. Quase chorando, disse que estava “profundamente movido. Nunca mais,” clamou.

O “nunca mais” e o encontro diplomático entre isralenses e representantes alemães simboliza o paralelo internacional do que ocorre nos Estados Unidos. As divisões raciais, étnicas e sociais estão sempre presentes em nossas vidas, estejamos onde estivermos. Talvez na ausência de negros ou brancos em uma determinada região não exista o racismo, mas logo existe o machismo, o feminismo, o judaísmo, e as centenas de divisões religiosas que infelizmente contribúem na levedura do conflito.

McCain não ganha muito com sua viagem. Seu posicionamento em questões médio-orientais é explícito, e quiçá o menos imprevisível de todos os candidatos. Se há quem questione sua lealdade ao lado “certo” do conflito, há quem apóie acordos unilaterais com Israel. Pois, há de tudo nesse mundo.

Chorou por um “nunca mais” enquanto em seu próprio país o mesmo ódio que motivou Hitler contra judeus ainda se perpetua em conflitos raciais agora expostos e extra-expostos por Barack Obama. O ódio que leva a simpatizantes de seu partido que, segundo estudos psicológicos tende a atrair separatistas sulistas, a rejeitarem a menor opção de que um presidente negro os represente. O ódio comunitário que levou Rudy Giuliani a admitir sua inabilidade de atrair negros e sua postura aberta de sequer fazer campanhas em suas comunidades.


Finalizando com Mike Huckabee,


Que apareceu no programa Morning Joe e declarou que “nós precisamos dar um desconto a pessoas que vem do sul ou filhos de gerações passadas do sul do país,” pois seu ódio é real e ainda vivo em suas memórias. Afinal, esses são os filhos dos ex vizinhos de Rosa Parks. São aqueles que choraram a morte de Martin Luther King quando acompanharam seu caixão no sombrio dia de seu funeral. Esses são os segregados, os separados e os excluídos de todas as formas e maneiras que possam vocês imaginar.

Barack Obama me convenceu com seu discurso. Pretende ainda dar mais dois sobre o Iraque, política externa e a economia, hoje e amanhã. Vence em praticamente todos os ângulos nesta corrida à nomeação. O cronômetro a Pennsylvania corre solto, e a Novembro, paulatino. A raça de Obama vem se comprovando dia-a-dia.

RF