Tuesday, September 30, 2008

Essa Maldita Crise

O que tomou o ambiente politico nesta Segunda-Feira pode (deve) ser a prova mais contundente da incompetência da administração de George W. Bush em oito anos de governo. Porém, além de danificar ainda mais a credibilidade do atual presidente, a batalha no Congresso sinaliza um Washington partidário e dividido. Nessa divisão cáem de cada lado os candidatos presidenciais John McCain e Barack Obama.

John McCain havia suspenso sua camapanha a partir da Quinta-Feira passada. Ligara a Obama para pedir que seu adversário fizesse o mesmo, mas antes de dar-lhe o tempo necessário à decisão, anunciou que sequer participaria do debate antes de uma resolução concreta do resgate washingtoniano a Wall Street.

Não houve muitos analistas ingênuos ou cínicos o suficiente dizendo que McCain realizava mais do que uma jogada campanhista, mas o resultado do voto do Congresso ontem à tarde deixou claro que o senador pelo Arizona não foi dos mais beneficientes. Tampouco, contudo, acredito que tenha sido o responsável (único) do desmoronamento.

No Domingo, Nancy Pelosi e o lider da minoria, John Boehner, ao lado do candidato presidencial pelo partido Republicano, prometeram os votos necessários para a passagem da lei que autorizaria o uso federal de 700 bilhões de dólares, sem grandes restrições, sem cláusulas que possibilitariam apelos judiciais caso o uso fosse menos do que correto, sem fundos de garantia e sem uma cláusula preventiva em caso de falência.

A lei, segundo Pelosi, tinha o objetivo de viabilizar lucros potenciais a contribuintes quando/se o mercado voltar a se estabilizar. Um dos principais motivos da recessão atual é justamente o que já discutimos aqui desde o início do ano, a incapacidade de repagar dívidas de cartões de crédito, compras de carros, casas e outros bens essenciais, o que basicamente cria um rombo nos bancos, que não possúem mais o capital emprestado, e não podem mais seguir emprestando. O governo então procurava comprar essas dívidas, e em troca, ao invés de mais ações, a exigência política incluía comprar terrenos impagados pela metade do preço ou menos, a fins de que em alguns anos possam vendê-los pelo dobro do que pagaram ou mais.

Entretanto, antes de apresentar a lei ao voto dos representantes, Pelosi deu um discurso envenenado, partidário, acusando Bush e sua administração e atribuindo aos mesmos a responsabilidade da atual situação. Quando a lei caiu, feriu-se e logo morreu por 228 a 205 votos, Pelosi surpreendeu-se, mas não devia.

Henry Paulson, secretário do tesouro, ajoelhou-se em um só pé à semana passada diante de Pelosi, que lhe disse em alto e bom tom: “Não sabia que você era cristão, mas não sou eu fazendo isso, e sim seus colegas.”

Há alguns pequenos fatos incontestáveis quando se trata dessa lei. Em primeiro lugar, tanto Obama quanto McCain encontraram seus piores momentos no debate quando tentaram, sem o menor sucesso, responder essa questão, a primeira de Jim Lehrer. Logo, McCain se comprometeu a contribuir para uma resolução rápida, mas não teve sucesso. Também prometeu a Pelosi que sua casa tinha os votos necessários para a passagem, o que não ocorreu, e jamais foi claro quanto sua posição exata no tema. Obama questionou e investigou, mas nada mais, e sua posição, apesar de mais transparente, jamais foi explícita. O fato mais importante é que o discurso de Pelosi foi usado como excelente desculpa pelos republicanos, e não devia, sinceramente.

Não sei se choco leitores quando escrevo que, nesse caso, estou com republicanos. Essa lei que outorgaria à administração de Bush a mesma força entregue em 2003, que viabilizou a guerra no Iraque, me parecia e ainda soa muito suspeita. Por isso sinto-me mal em não conseguir, não importa o quanto leia, entender a situação na íntegra. Parece-me muito perigoso viver na ignorância econômica nos dias atuais.

Para mim, republicanos pediam ainda mais supervisão, menos dinheiro outorgado, mais garantia popular, mais segurança, e não estiveram sós em seus cálculos. 95 democratas votaram contra a lei pelos mesmos motivos, o que legitima a perspectiva de que a crise, esta sim, foi bipartidária. Jamais o congresso e o senado trabalharam tão bem em suas contra-partes do que na criação do abismo que a nação agora se encontra.

Portanto, pelo que conheço atualmente, também teria me oposto. A consequência não da oposição, mas da incompetência dos congressistas em concordar com uma lei pouco mais complexa do que a de três páginas e meia apresentada por George Bush, decretou a maior queda no DOW constatada na historia da bolsa de valores, 777 pontos. A Bovespa caiu mais de 13% e antes da meia noite de ontem, a moeda japonesa caía mais de 5%. A consequência de não aprovar qualquer lei em uma ou duas semanas pode, sem dúvida alguma, trazer o país ao freio não completo, mas parcial, e uma vagarosidade inédita em tempos modernos, desde a última Grande Depressão nos anos 30.

Alguma lei será aprovada, não duvidem, mas acredito que será melhor e mais adequada do que a vista ontem. Acredito também que o partido republicano não está unido, como clamam seus congressistas e senadores, mas pelo menos ainda encontra alguma base ideológica no conservadorismo fiscal. Democratas continuam levianos demais para o meu gosto liberal, mas bravo, de cidadão do mundo.

Pergunto-me: Os empresários que predam e precisam do resgate para que seus bancos sigam emprestando, e pequenos e grandes negócios sigam crescendo, ganharam e ainda ganham dezenas e centenas de milhões de dólares anuais em abonos.

Em vez do socialismo federal, onde o dinheiro que o coletivo deu ao governo em impostos é usado pelo estado para “resgatar” bancos que, atualmente, ganham lucros menos absurdos, grotescos e obscenos pela incompetência constatada no crédito doado a qualquer pessoa eternamente; em vez de exigir que até mesmo o operário e a faxineira doem seus cinquenta centavos para garantir que os lucros absurdos, grotescos e obscenos permaneçam assim, por que esses empresários, banqueiros, milionários desproporcionais da nação tão beneficiados da administração bushista não dão de seu próprio dinheiro e comprometem-se a ganhar menos lucros para ajudar ao menos suas próprias comunidades a florecer o necessário para evitar maiores depressões?

Não seria isto o capitalismo de Ronald Reagan, onde o dinheiro excessivo que certos gananciosos iludidos reservam para o fundo imaginário de seus cofres reais escorrega aos bicos dos mais pobres, o capitalismo que pede a independência popular, a anarquia de Bakunin, objetivo do socialismo de Karl Marx?

Definitivamente, capitalistas ferrenhos são tão utópicos e inocentes quanto socialistas ferrenhos. A mesma natureza humana que não consegue desviar-se da corrupção socialista, tampouco consegue livrar-se da corrupção capitalista. Ambos, em realidade, viram a casaca temporariamente quando a casa cái.

Sim, existe a direita e existe a esquerda, Sandra Camurça. Mas em nossa humanidade, ambas são extremamente descoordenadas.

RF

4 comments:

Luma Rosa said...

Assisti ao debate e achei que teve empate técnico. Mas certamente qualquer um dos dois é melhor que Bush.
Os americanos estão amargando o preço da última decisão eleitoral e se pensarem nos erros passados, tornarão a não fazê-los?

Roy Frenkiel said...

Nao ha povo nesse mundo tao inteligente a nao eleger um politico corrupto e incompetente, nem tampouco espertos a deixar de elege-lo tres vezes.

bjx

Roy

Jens said...

Pois é, Roy, como dizem aqui no extremo sul do Brasil: preteou o olho da gateada.
Tem a ver com a realidade a informação de que os republicanos recuaram por pressão das "bases" temerosos de não conseguir a reeleição?
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Interessante ler no blog do Paulo Henrique Amorim uma série de frases ditas nos últimos anos pelos defensores do "estado mínimo". Nada como um dia depois do outro, diria a vizinha gorda e patusca do Nélson Rodrigues.
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Será que ninguém vai preso?
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Um abraço.

Marcelo F. Carvalho said...

Roy, mas esta crise, se não me engano, não começou a se fortalecer há um ano? Por que nada se fez (ou só agora se faz)? Bush é tão malígno e irresponsável assim (porque retardado todos já sabem)?
Acho que, nesse ponto, você está certíssimo: tanto republicanos quanto democratas são falácias do mesmo sistema quando o assunto é ver quem cai primeiro.
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Abraço forte!