Thursday, October 02, 2008

Mais sobre a Crise

Quando escrevi no passado texto que estava ao lado dos republicanos na lei de resgate econômico ontem aprovada pelo Senado por 75-28 votos, referia-me especificamente aos motivos dados por 95 democratas contrários à lei no Congresso.

É preciso esclarecer a afirmação, já que jamais disse que republicanos não usavam de astúcia política em tempos eleitorais, bem como usam os democratas. Muito pelo contrário. Tendo depois analisado com maior cuidado, percebi que o partido conservador pode mesmo ter jogado, displiscentemente, com a decisão radical.

Pode muito bem ter sido apelação partidária. Parte dos congressistas republicanos explicaram que a lei não tinha transparência, atribuição de responsabilidade e segurança ao contribuinte mediano suficientes. Parte, grande parte, deu um discurso em frente ao Capitolólio Federal dizendo que Nancy Pelosi, porta-voz do Congresso, fora partidária demais em seu discurso.

Karl Rove, em entrevista à Fox News, disse que jamais testemunhara discurso tão partidário em sua vida. Poderia dizer que Papai Noel é seu verdadeiro padrasto, e soaria tão genuíno quanto.

O país encontra-se já de certo modo estagnado. A ausência do crédito, somada ao escalante preço da gasolina e a falência de empresas que empregavam milhares de pessoas, são partes da crise antes profundamente ressentida pela população comum.

Digamos que Henry Paulson, secretário do tesouro, realmente tenha apenas percebido a gravidade da crise ontem. Pois, sendo grave como é, e nossos representantes incunbidos de conhecerem melhor os detalhes da lei do que nós, os governados, o descaro de não aprová-la por desventura de um discurso partidário é mais grave do que a própria economia desmoronada.

Porém, seria ingênuo acreditar que republicanos desistiram de apoiar a lei pelo discurso de Pelosi. A nova lei, velha em essência, mas enfeitada de adoçantes, parece conter pedidos atraentes aos conservadores, como não deixar que a data de vencimento de certos cortes tributários expire, e renovar por mais um ano o corte a milhões de cidadãos da classe média forçados a pagar o chamado Imposto Mínimo Alternativo (criado em uma era que 250 mil dólares tornavam a pessoa milionária, em sentido figurado).

Esses adoçantes também são denominados “porco” pelo populista The New York Post. O programa Morning Joe, da MSNBC, apresentou uma pequena relação de setores poupados de impostos, e o quanto o governo perderá. Entre eles, impostos de pistas de corrida, pesquisas em lã, distribuidores de rum nas Ilhas Virgens e Puerto-Rico, alguns deixando de providenciar ao governo mais de 100 milhões de dólares anuais cada.

Ao mesmo tempo, esse “porco” particular é classicamente conservador. Os impostos são renovados anualmente para manter sempre náipes especiais entre as mangas de democratas quando precisam que seus adversários partidários e colegas congressistas/senadores assinem leis que lhes interessem. Pois, é muito provável que republicanos se opuseram à lei do resgate para conquistar esses adoçantes.

Tenho outra teoria, infundada nos jornais que li e assisti, portanto duvidem.

Quiçá, para elevar a candidatura de John McCain como “ás” político, quando se apresentou a “negociar” a situação convenceu seus colegas que precisava ao menos aparentar distância maior da política de George W. Bush. Podendo atribuir ainda mais culpa ao partido Democrata pelo discurso de Pelosi, McCain venceria alguma simpatia eleitoral, procurando demonstrar o quanto foi responsável – e, por tabela, o quanto Barack Obama foi irresponsável – quando o país mais precisou de sua presença.

Obama agora vence, segundo pesquisas conduzidas nessa semana, em Ohio (estado essencial para Bush em 2004), Flórida (estado essencial para Bush em 2000) e Pennsylvania (estado sempre essencial a uma vitória presidencial) por 7-12 pontos em cada. Ainda perde entre mulheres e homens brancos, e cidadãos com mais de 65 anos. Ganha massivamente entre negros, eleitores novos, e eleitores jovens, com 45 anos ou menos. Empata entre eleitores cristãos, segundo a maior parte das pesquisas.

Esse favorecimento deu-se, indubitavelmente, pela crise econômica testemunhada. O campo de McCain sofreu com a mesma, e pode sofrer ainda mais após o debate entre Sarah Palin e Joe Biden.

Caso alguém duvide da incompetência de Palin, ainda, mastiguem essa resposta. Quando Katie Couric perguntou quais jornais Palin lia, a governadora do Alaska respondeu: “Todos.”

Amanhã será um novo dia, novamente, na corrida presidencial. O único debate vice-presidencial começa hoje, às 9AM, horário de Nova York.

RF

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