O que tomou o ambiente politico nesta Segunda-Feira pode (deve) ser a prova mais contundente da incompetência da administração de George W. Bush em oito anos de governo. Porém, além de danificar ainda mais a credibilidade do atual presidente, a batalha no Congresso sinaliza um Washington partidário e dividido. Nessa divisão cáem de cada lado os candidatos presidenciais John McCain e Barack Obama.
John McCain havia suspenso sua camapanha a partir da Quinta-Feira passada. Ligara a Obama para pedir que seu adversário fizesse o mesmo, mas antes de dar-lhe o tempo necessário à decisão, anunciou que sequer participaria do debate antes de uma resolução concreta do resgate washingtoniano a Wall Street.
Não houve muitos analistas ingênuos ou cínicos o suficiente dizendo que McCain realizava mais do que uma jogada campanhista, mas o resultado do voto do Congresso ontem à tarde deixou claro que o senador pelo Arizona não foi dos mais beneficientes. Tampouco, contudo, acredito que tenha sido o responsável (único) do desmoronamento.
No Domingo, Nancy Pelosi e o lider da minoria, John Boehner, ao lado do candidato presidencial pelo partido Republicano, prometeram os votos necessários para a passagem da lei que autorizaria o uso federal de 700 bilhões de dólares, sem grandes restrições, sem cláusulas que possibilitariam apelos judiciais caso o uso fosse menos do que correto, sem fundos de garantia e sem uma cláusula preventiva em caso de falência.
A lei, segundo Pelosi, tinha o objetivo de viabilizar lucros potenciais a contribuintes quando/se o mercado voltar a se estabilizar. Um dos principais motivos da recessão atual é justamente o que já discutimos aqui desde o início do ano, a incapacidade de repagar dívidas de cartões de crédito, compras de carros, casas e outros bens essenciais, o que basicamente cria um rombo nos bancos, que não possúem mais o capital emprestado, e não podem mais seguir emprestando. O governo então procurava comprar essas dívidas, e em troca, ao invés de mais ações, a exigência política incluía comprar terrenos impagados pela metade do preço ou menos, a fins de que em alguns anos possam vendê-los pelo dobro do que pagaram ou mais.
Entretanto, antes de apresentar a lei ao voto dos representantes, Pelosi deu um discurso envenenado, partidário, acusando Bush e sua administração e atribuindo aos mesmos a responsabilidade da atual situação. Quando a lei caiu, feriu-se e logo morreu por 228 a 205 votos, Pelosi surpreendeu-se, mas não devia.
Henry Paulson, secretário do tesouro, ajoelhou-se em um só pé à semana passada diante de Pelosi, que lhe disse em alto e bom tom: “Não sabia que você era cristão, mas não sou eu fazendo isso, e sim seus colegas.”
Há alguns pequenos fatos incontestáveis quando se trata dessa lei. Em primeiro lugar, tanto Obama quanto McCain encontraram seus piores momentos no debate quando tentaram, sem o menor sucesso, responder essa questão, a primeira de Jim Lehrer. Logo, McCain se comprometeu a contribuir para uma resolução rápida, mas não teve sucesso. Também prometeu a Pelosi que sua casa tinha os votos necessários para a passagem, o que não ocorreu, e jamais foi claro quanto sua posição exata no tema. Obama questionou e investigou, mas nada mais, e sua posição, apesar de mais transparente, jamais foi explícita. O fato mais importante é que o discurso de Pelosi foi usado como excelente desculpa pelos republicanos, e não devia, sinceramente.
Não sei se choco leitores quando escrevo que, nesse caso, estou com republicanos. Essa lei que outorgaria à administração de Bush a mesma força entregue em 2003, que viabilizou a guerra no Iraque, me parecia e ainda soa muito suspeita. Por isso sinto-me mal em não conseguir, não importa o quanto leia, entender a situação na íntegra. Parece-me muito perigoso viver na ignorância econômica nos dias atuais.
Para mim, republicanos pediam ainda mais supervisão, menos dinheiro outorgado, mais garantia popular, mais segurança, e não estiveram sós em seus cálculos. 95 democratas votaram contra a lei pelos mesmos motivos, o que legitima a perspectiva de que a crise, esta sim, foi bipartidária. Jamais o congresso e o senado trabalharam tão bem em suas contra-partes do que na criação do abismo que a nação agora se encontra.
Portanto, pelo que conheço atualmente, também teria me oposto. A consequência não da oposição, mas da incompetência dos congressistas em concordar com uma lei pouco mais complexa do que a de três páginas e meia apresentada por George Bush, decretou a maior queda no DOW constatada na historia da bolsa de valores, 777 pontos. A Bovespa caiu mais de 13% e antes da meia noite de ontem, a moeda japonesa caía mais de 5%. A consequência de não aprovar qualquer lei em uma ou duas semanas pode, sem dúvida alguma, trazer o país ao freio não completo, mas parcial, e uma vagarosidade inédita em tempos modernos, desde a última Grande Depressão nos anos 30.
Alguma lei será aprovada, não duvidem, mas acredito que será melhor e mais adequada do que a vista ontem. Acredito também que o partido republicano não está unido, como clamam seus congressistas e senadores, mas pelo menos ainda encontra alguma base ideológica no conservadorismo fiscal. Democratas continuam levianos demais para o meu gosto liberal, mas bravo, de cidadão do mundo.
Pergunto-me: Os empresários que predam e precisam do resgate para que seus bancos sigam emprestando, e pequenos e grandes negócios sigam crescendo, ganharam e ainda ganham dezenas e centenas de milhões de dólares anuais em abonos.
Em vez do socialismo federal, onde o dinheiro que o coletivo deu ao governo em impostos é usado pelo estado para “resgatar” bancos que, atualmente, ganham lucros menos absurdos, grotescos e obscenos pela incompetência constatada no crédito doado a qualquer pessoa eternamente; em vez de exigir que até mesmo o operário e a faxineira doem seus cinquenta centavos para garantir que os lucros absurdos, grotescos e obscenos permaneçam assim, por que esses empresários, banqueiros, milionários desproporcionais da nação tão beneficiados da administração bushista não dão de seu próprio dinheiro e comprometem-se a ganhar menos lucros para ajudar ao menos suas próprias comunidades a florecer o necessário para evitar maiores depressões?
Não seria isto o capitalismo de Ronald Reagan, onde o dinheiro excessivo que certos gananciosos iludidos reservam para o fundo imaginário de seus cofres reais escorrega aos bicos dos mais pobres, o capitalismo que pede a independência popular, a anarquia de Bakunin, objetivo do socialismo de Karl Marx?
Definitivamente, capitalistas ferrenhos são tão utópicos e inocentes quanto socialistas ferrenhos. A mesma natureza humana que não consegue desviar-se da corrupção socialista, tampouco consegue livrar-se da corrupção capitalista. Ambos, em realidade, viram a casaca temporariamente quando a casa cái.
Sim, existe a direita e existe a esquerda, Sandra Camurça. Mas em nossa humanidade, ambas são extremamente descoordenadas.
RF
Tuesday, September 30, 2008
Essa Maldita Crise
Essas Palavras Vos Trazem
Barack Obama,
Henry Paulson,
Jim Lehrer,
John Boehner,
John McCain,
Nancy Pelosi
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4 comments:
Assisti ao debate e achei que teve empate técnico. Mas certamente qualquer um dos dois é melhor que Bush.
Os americanos estão amargando o preço da última decisão eleitoral e se pensarem nos erros passados, tornarão a não fazê-los?
Nao ha povo nesse mundo tao inteligente a nao eleger um politico corrupto e incompetente, nem tampouco espertos a deixar de elege-lo tres vezes.
bjx
Roy
Pois é, Roy, como dizem aqui no extremo sul do Brasil: preteou o olho da gateada.
Tem a ver com a realidade a informação de que os republicanos recuaram por pressão das "bases" temerosos de não conseguir a reeleição?
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Interessante ler no blog do Paulo Henrique Amorim uma série de frases ditas nos últimos anos pelos defensores do "estado mínimo". Nada como um dia depois do outro, diria a vizinha gorda e patusca do Nélson Rodrigues.
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Será que ninguém vai preso?
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Um abraço.
Roy, mas esta crise, se não me engano, não começou a se fortalecer há um ano? Por que nada se fez (ou só agora se faz)? Bush é tão malígno e irresponsável assim (porque retardado todos já sabem)?
Acho que, nesse ponto, você está certíssimo: tanto republicanos quanto democratas são falácias do mesmo sistema quando o assunto é ver quem cai primeiro.
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Abraço forte!
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