Depois dos discursos recentes do Rev. Jeremiah Wright, Barack Obama finalmente se distanciou da controversa figura. Penso disso que Obama finalmente compreendeu que não podia encarar o tema com a maturidade que encarara antes. Mais do que isso, descobriu que suas amizades antagônicas, mesmo que a antagonia não seja ilógica de todo, mesmo que represente parte do sentimento da população e muito dos sentimentos estrangeiros, prejudicam sua imagem, e que isso é inevitável mesmo que ele desejasse o contrário. Discordo da forma e conteúdo do acontecido, mas nada a fazer, apenas me resta esperar que o tema não lhe seja mais inimigo, mas atualmente duvido mais de suas capacidades, e passo a igualar o eloquente senador a todo e qualquer outro político. Talvez quem esteja “crescendo” seja eu. Talvez seja eu o “infantil”, mas sigamos à próxima.
Hoje é dia do Holocausto em Israel, semana antecedente ao dia dos Finados (soldados israelenses mortos em combate) e o dia da Independência. Abaixo, Rachel, uma das israelenses que trabalha comigo e com quem sempre encontro bons atritos até desistir de discutir com ela por respeito próprio ao meu ouvido, que não é penico, contava das entrevistas aos jovens israelenses que visitam a Polônia, a Alemanha e a Hungria a ver os campos de concentração da história moderna do povo judeu.
Foram seis milhões de judeus mortos, entre esses, dois milhões de crianças. Por qualquer desventura sarcástica desta nossa vida-morta, a lógica e a conclusão nazista de eliminar a raça judia (e todas as demais raças “inferiores”) jamais seria a mesma de assassinar dois milhões de crianças. Essa quiçá seja a prova mais contundente da aberração daquele regime, que como outros tantos, procurou o genocídio como forma de resolução de seus problemas.
Atualmente Israel luta por seu direito de existir, mas existe há 60 anos, mais poderosa do que qualquer outra nação do Oriente Médio, com melhores amigos (USA), com melhor infra-estrutura, educação e economia do que seus vizinhos. Isso em si exemplifica o sucesso dos sobreviventes europeus do holocausto alemão, que não só saíram dos campos de concentração pesando plumas, mas sobreviveram outros 60 anos de prosperidade e construção. Não sem conflitos, é verdade, mas considerando o trauma da Segunda Guerra Mundial, até que não se saíram tão mal. Similar a esse movimento vejo apenas no Japão, sobrevivente de duas bombas atômicas e hoje uma das maiores potências econômicas e sociais do planeta.
Rachel conta que os entrevistados criaram um paralelo entre o que ocorreu então, com a demora de Eisenhower a agir e dos russos a reagir em coalisão contra Hitler, e o que ocorre corriqueiramente com os mísseis disparados da Faixa de Gaza a Israel. Dizem que, do mesmo modo, o mundo ignora o problema e permite o abuso palestino ao Estado de Israel.
Quando nessas é que mais discordo de minha terra pátria. Infelizmente, a auto-vitimação vinda de uma traumática experiência há mais de 60 anos atrás apenas gera a vitimação do próximo. Nesse caso, contando o número de vítimas de ambos impérios rivais, os clandestinos palestinos e os oficias israelenses, os palestinos perdem (ou ganham, dependendo do ângulo) em grande escala. Ao mesmo tempo, a Inglaterra há alguns meses já havia anunciado que o número de casualidades da guerra contra o terrorismo no Iraque e Afeganistão já havia levado a vida de mais de um milhão de civis.
O mesmo ocorre em Darfur, Somália, um holocausto, genocídio cruel que vem ocorrendo há alguns anos sem intervenções diretas dos Estados Unidos, Inglaterra, e até mesmo Israel. Pois, se fosse para intervenir, antes deviam fazê-lo na África, tão carente da atenção mundial.
A evolução humana consiste em quebrar circulos viciosos e construir novos ciclos, novas eras, novos ideais. Pelo que entendi do funcionalismo do planetinha que me abriga, a persistência nos mesmos erros arcaicos de sempre é eterna. As mesmas idéias que ainda regiam o pensamento humano há milênios, regem hoje como nunca. O mesmo orgulho ainda impede que o humano rompa suas próprias barreiras criadas pelos traumas estampados pelo tempo.
Relembrando grande parte de minha família assassinada covardemente pelos nazistas há 60 anos, e trazendo à tona a memória honrosa daqueles que morreram simplesmente por serem quem eram, das crianças que morreram sem a menor consciência do motivo, das pessoas que ajudaram os judeus a sobreviver em solo europeu, das que os abrigaram depois em solo estrangeiro, peço a todos que não orem, não acendam velas, não chorem pelas águas passadas. A hora é passada a combater as atrocidades da humanidade. Juntemo-nos a relembrar nossos leitores de que há holocaustos e genocídios que ainda ocorrem diariamente, debaixo de nossos narizes. E lutemos por um mundo melhor no amanhã de nossos filhos.
RF
3 comments:
Vim aqui por indicação da Luma e vejo que há muito o que se discutir.
Vou ler com mais cuidado este espaço.
Abraços!
Estive aqui ontem! E você me lembrou do dia! (rs*) O Márcio me denunciou! E de tudo o que mais pesa, morrer por saber quem é, não é simples. Beijus
com o (quase) silêncio que o respeito à memória recomenda, Shalom.
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