Monday, March 24, 2008

Curta-Metragem-Cerebral

David Mamet, um dos mais famosos roteiristas norte-americanos renegou seu liberalismo dizendo não mais ser um “liberal de cérebro morto”.

Assim escreve Jonah Goldberg em um artigo de Opinião da manhã de hoje no The Miami Herald. Claramente conservador, Goldberg usa em Mamet o exemplo de como esquerdistas supostamente desvinculam intelecto a qualquer pessoa que decida pelo caminho do conservadorismo.

Pode estar certo, o colunista, como também pode estar certo Mamet em sua decisão. Similar à mesma, ou assim me ocorre, parece ser a de Lula quando disse a Antônio Ermírio: “Se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ele está com problema. Se conhecer uma pessoa muito nova de direita, também está com problema. Então, quando a gente tem 60 anos, Antônio Ermírio, é a idade do ponto de equilíbrio, em que a gente não é nem um nem outro, a gente se transforma no caminho do meio, aquele caminho que precisa ser seguido pela sociedade”, (dito extraído do blog Bahia de Fato).

Mamet disse que se informou antes da decisão. Leu Milton Friedman, Thomas Sowell, Paul Johnson e Shelby Steele, entre outros. O argumento que Goldberg escolhe apresentar pelo roteirista é simples: “Ele percebeu que o governo pode ser incompetente, corporações às vezes miópicas e o exército imperfeito,” mas isso não significa que o governo seja o mal personificado, corporações misógenas e o exército uma espécie de quartel general das maldades. Ambos podem estar certos.

Por ter mudado seu prisma político, já há quem o critique. A isso, o roteirista responde: “Quando os fatos mudam, eu mudo de opinião. E você, faz o quê?” Novamente, ele pode estar certo, e certamente criticá-lo ou dizer que sua mudança é voltar ao quadrado, à caixa lacrada do pensamento unilateral me parece menos nobre e inteligente do que o necessário para debater um escritor experiente.

A moral dessa “curta” é que Mamet pode estar certo, e Goldberg também, em muitos pontos. O pensamento “liberal” ou “conservador” pouco diz a respeito de indivíduos. Em contraste, as atitudes e filosofias em seus mais minuciosos detalhes são os únicos critérios de verdadeira avaliação individual.

Portanto, de nada adianta Goldberg utilizar-se das conclusões pessoais de Mamet para demonizar o outro lado, como segue em sua coluna: “Clooney (George, o ator) declarou há alguns meses: ‘Sim, eu sou um liberal, e estou cansado de que o termo seja considerado ruim, eu não sei de uma ocasião na história em que liberais estiveram no lado errado de temas sociais.’”

Goldberg apenas refuta o comentário de Clooney como conservadores clamam que liberais fazem, e vice-versa. “Ah, sim, aí vemos um excelente conhecimento histórico à mostra!” Não oferece um contra-argumento, não refuta a lógica do ator, e de fato, questionando-me, não me lembro, ao menos nos Estados Unidos, qual foi a última vez que liberais estiveram no lado oposto de mudanças sociais benéficas, desde o movimento civil ao feminismo, a outros direitos morais e sociais.

Em tempos pré-eleitorais e de retóricas campanhistas, o povo vê-se fadado a perseguir o próprio rabo se não compreender porque decide que X ou Y possa ser melhor do que seu rival quando chegar à Casa Branca. “Liberais” ou “esquerdistas”, “conservadores” ou “direitistas”, não refletem o que o eleitor comum e a eleitora bem-informada pretendem para a própria família, os próprios filhos, o próprio país. Isso vai além da literatura e do sofismo. Isso faz parte da consciência civil, da vida real, dos problemas concretos, do dia-a-dia alucinado que nos permite sair do quadrado, da caixa unilateral que rege a mentalidade de outros ditadores, que nunca são os nossos.

RF

(Breve PS: Barack Obama já se recuperou segundo as pesquisas do instituto Gallup, e lidera Hillary Clinton 48-45%.)

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