Friday, September 18, 2009

Hegemonias - Parte 2

Charles F. Doran

Professor da universidade de Washington, Doran teceu uma teoria interessante – mas pouco divulgada – sobre o sistema global e a relação entre estados (países). Trata-se da “Teoria de Ciclo de Poderes”, que, resumidamente, dita o seguinte:

1 – O cenário global é anárquico, na falta de qualquer organização internacional que possa efetivamente reforçar mandatos das Nações Unidas (apesar de que possa ser hierárquico, tecnicamente, mas isso não afetaria o fato de que o sistema em si muda em princípios, mas não deixa de ser um sistema). Sendo anárquico, o mundo ao redor dos estados é caótico e desordenado. É virtualmente impossível saber se um outro estado está prestes a atacar o nosso. E, em termos econômicos, como todos tratamos de vencer, e cada qual por si (auto-ajuda, powerpolitik), jamais sabemos quando o estado ao lado nos passará a perna. Do mesmo modo, o vice-versa: Ninguém sabe exatamente quais são as nossas intenções (vejam que, quando falo “nossas”, falo exclusivamente de líderes desses estados, e não da população geral).

2 – Nesse cenário, há duas possibilidades de ações e reações de cada estado. Quando um país torna-se mais forte do que os demais e lentamente passa a assumir, consciente ou não, o papel de hegemonia, pode haver balanceamento de poder da parte de estados que se sentem ameaçados (China, por exemplo, em comparação aos Estados Unidos). Esse balanceamento de poder significa que qualquer país que possa começar a pensar a entrar no “clube do Bolinha” tentará imitar os líderes, agir como os mesmos, procurar o mesmo nível de poder etc. Outra possibilidade, em determinado ponto de sua parábola de quatro pontos (detalhada a seguir), é a de que as super-potências acomodem, abram espaço e releguem direitos e beneficios à super-potência emergente, assim evitando uma guerra. Doran avisa, no entanto, que caso haja balanceamento quando a acomodação melhor servir, ou vice-versa, as chances de guerra aumentam drasticamente.

3 – Há países que não se sentem ameaçados pelo crescimento da hegemonia, e tampouco tem muito a ganhar caso queiram imitar as condições da super-potência. Logo, essa terceira crosta de países cria aliancas políticas com a hegemonia em agrupamentos. Falamos do Japão, Inglaterra, Alemanha, Coreia do Sul etc.

4 – Segundo os ciclos observados da história da humanidade, toda hegemonia passa por uma parábola que confere quatro estados básicos de desenvolvimento. No geral, toda hegemonia ascende, chega ao seu ápice, e começa o processo de descenço. Enquanto decai em poder, o próximo estado (ou estados) que encontrarem-se próximos o suficiente da hegemonia vigente passa(m) a ameaçar o poder dessa hegemonia.

A parábola, segundo Doran, é composta das seguintes 4 etapas:

A) Ponto inferior de ascenção - A hegemonia entra no sistema de super-potências. Seu desenvolvimento como super-potência é intenso e agudo.

B) Primeiro Ponto de Desaceleração de Desenvolvimento – A hegemonia ainda cresce, mas agora desaceleradamente em comparação ao crescimento dos demais estados (incluindo potenciais futuras hegemonias).

C) Ápice – Quando o desenvolvimento hegemônico pára de crescer porque a hegemonia já chegou ao ápice de sua capacidade como super-potência.

D) Segundo Ponto de Desaceleração de Desenvolvimento – em que a super-potência começa a abandonar o sistema de super-potências e já apenas descende em desenvolvimento.

Segundo Doran, as super-potências que já existiam devem acomodar a chegada da nova super-potência, mas só podem fazê-lo até que esta chegue ao seu ápice. Chegando ao ápice, acomodar já não beneficiará o cenário global. Um exemplo de acomodação mal calculada é o de Neville Chamberlain e a Alemanha nazista, que já havia chegado ao seu ápice quando o primeiro ministro ainda a acomodava, com esperanças de que Adolf Hitler se sentisse reconhecido e não atacasse nenhum país europeu. O resultado é que Hitler não sentiu a menor necessidade de ser prestigiado por terceiros, pois a Alemanha já poderia dominar este sistema, tecnicamente. Passado deste ponto (ápice), o certo é contra-balancear. No caso, a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a Rússia fizeram melhor em se contra-balancear contra o movimento oligopólico da Alemanha nazista. Isto ocorreu com a liderança de Wiston Churchill, e os aliados venceram, mas tarde demais para milhões de pessoas inocentes.

Segundo Doran (resposta do dia 15 de Setembro de 2009 ao professor Shlomi Dinar da Universidade Internacional da Flórida), os seguintes países se encontram nos seguintes pontos de sua parábola:

China – Entre o ponto inferior de ascenção e o primeiro ponto de desaceleração do desenvolvimento.
Estados Unidos – Passados do ápice e em direção ao segundo ponto de desaceleração do desenvolvimento.
Rússia – No momento, ainda adentrando o ponto inferior de ascenção da parábola dos poderes.

Concluindo, para Charles F. Doran o momento é crítico. A China finalmente passa a ameaçar o status quo dos Estados Unidos, mas pior do que isso, assim que perceber que seu desenvolvimento começa a desacelerar em comparação a décadas passadas, começará a exigir prestígio, ou seja, acomodação. Em um sistema capitalista de mercados (semi) livres, as chances são de que a acomodação exista, e segundo Doran isso será o suficiente para evitar uma guerra mundial. Contudo, caso os Estados Unidos não acomodem por quaisquer motivos, as chances de uma guerra, avisam outros realistas ao lado do próprio Doran, são de quase 100%.

1 comment:

Jens said...

PQP, Roy!
O perigo amarelo é real. Mais grave é que os EUA não são um tigre de papel, como zombava o camarada Mao. Torço para que os gringos se acomodem, para o bem do planeta. Torço, nas não levo muita fé, pois não creio que eles abram mão do posto que conquistaram sem espernear.

Um abraço.