Monday, September 21, 2009

Hegemonias - Parte 3

Fareed Zakaria

Em artigo à revista Newsweek International, o jornalista, que também corresponde à CNN, escreve sobre a possibilidade do fim do “Pax Americana”, ou o fim do império estadunidense, a hegemonia máxima do globo ainda atualmente. Para Zakaria, a capacidade dos Estados Unidos de liderar pode ser aproveitada, ainda, sem a necessidade de que a hegemonia dite valores ao resto do mundo. A própria função de exemplo bastaria caso o país não estivesse tão intrinsecamente envolvido na maioria das regiões do planeta. Mesmo estando assim envolvido, Zakaria ainda acredita que o gigante capitalista ainda possa liderar, mas sua relevância tem diminuído e, aparentemente, o trajeto é irreversível.

Na Conferência dos G-8 na ONU, em 2007, Zakaria diz que o clima parece ter mudado. Se ao esplendor da administração de George W. Bush havia críticas gerais direcionadas ao gigante capitalista, e se os próprios representantes dos Estados Unidos tinham o costume de ignorar sanções ou recomendações da ONU e ainda ditavam o que os demais países deveriam fazer ou deixar de fazer, nesta convenção, um ano antes da retirada do presidente republicano da Casa Branca, não houve grande reclamações nem exigências, nem da parte dos Estados Unidos, muito menos da parte de terceiros. É como se o mundo já não levasse mais a sério, intensamente, quanto levava antes o gigante capitalista.

Ao nosso redor, argumenta Zakaria, a Ásia cresce e torna-se mais relavante a cada dia que passa. A dívida externa dos EUA é aproximadamente 30% devida aos chineses. O mercado americano depende da China para a fabricação de muitos de seus produtos, e o gigante socialista é um dos principais clientes internacionais de seu adversário capitalista. Mesmo sendo aliados em cenário de mercado livre, no cenário hegemônico os Estados Unidos começam a perder força em rivalidade.

Para o jornalista, contudo, o grande problema é o vácuo que pode permanecer no lugar da potência estadunidense. Isto, porque a China ainda não é forte o suficiente para assumir o papel de hegemonia global. Logo, em um cenário unipolar onde apenas um estado assume esse papel, a ausência de uma hegemonia pode desestabilizar o mundo ainda mais. Em tempos nucleares e de crises econômicas inter-dependente, a segurança é ainda mais comprometida caso não exista nenhum policial ou juíz global, e a ONU depende muito dos Estados Unidos para por em prática muitas de suas sanções. Agora, não poderão na mesma medida confiar na China para esse serviço.

Mesmo que a China fosse forte o suficiente, Zakaria avisa que o resto do mundo não estaria necessariamente mais seguro. Novamente, em um mundo unipolar, em que apenas um estado assume o papel hegemônico, o mundo pode acabar dançando um baile indesejado. Por um lado, o sistema chinês socialista seria certamente o dominante (mesmo que o sistema-mundial permaneça capitalista até que ocorra a mudança geral, em outra teoria realista que dita que o globo se movimenta de acordo com o sistema econômico vigente no planeta ou na maioria do mesmo) e, por outro, os valores e a cultura chinesa são irreconhecidos pela maioria do globo, o que acarretaria em algumas mudanças quase inevitáveis em face à já estabelecida insegurança mundial.

Para Zakaria, no entanto, seria ainda pior a etapa global em que não houvesse uma hegemonia delineada, sem sequer uma hierarquia estabelecida entre as super-potências restantes. Esse período, conta o jornalista, definiria o cenário mundial para o restante do século 21, e provavelmente não de modo pacífico.

Zakaria é apenas idealista (neo-liberal, em termos) por acreditar que o modelo dos Estados Unidos pode ser o mais livre e justo ao resto do mundo, e por acreditar que os Estados Unidos podem evitar a queda hegemônica. No entanto, é realista no sentido prático do paradigma, notando que o movimento global parece impedir o movimento solitário e a resistência até mesmo de estados super-poderosos como os Estados Unidos.

Outro ponto que vale notar gira em torno justamente da unipolaridade do globo:

À época da Guerra Fria o mundo era bipolar e, segundo alguns teoricistas, mais estável do que hoje. Para outros, a bipolaridade é mais perigosa do que a unipolaridade, e menos do perigosa do que a multi-polaridade, ou seja, para estes, quanto mais super-potências, mais balanceamento de poder e mais conflitos ocorrem no cenário global. Já para Doran a noção de unipolaridade é irreal, já que jamais houve apenas um estado que dominasse o resto dos estados do planeta. Portanto, apesar de sempre haver uma potência maior do que as demais, a tarefa hegemônica é sempre, de certo modo, multi-polar. Para tanto, Doran cunhou o termo unipolar de multi-polar, referindo-se à potência dos Estados Unidos como a maior, mas reforçada através de outros pólos em determinadas regiões do globo. O Brasil, por exemplo, exerce essa função na América Latina.

RF

1 comment:

Jens said...

Oi Roy.
Na minha opinião, quanto mais super-potências, melhor. Lobo não come lobo.

Um abraço.