Wednesday, September 23, 2009

Hegemonias - Final

David Brooks

Para finalizar, por hora, esse tema de hegemonias e a situação global contemporânea, trago a posição geral do colunista conservador do The New York Times. Cito seu conservadorismo para traçar a diferença iminente que existe entre o realismo (ou neo-realismo) e o conservadorismo, inclusive respondendo à pergunta de Halém Souza nos comentários do primeiro texto da série.

Brooks, que não é realista, traz a única posição idealista entre as outras duas postadas aqui anteriormente. Conforme seu entendimento, os Estados Unidos jamais deixarão a hegemonia global, mesmo que tenham de se adaptar a mudanças concretas no ambiente hegemônico. O colunista, em coluna ao seu jornal nova-iorquino, em 2007, escreveu que nenhum abalo ao país, depois da Segunda Guerra Mundial, foi suficiente para retirá-lo do trono, nem a Grande Depressão do fim da década de ’20, nem a Guerra Fria com todos os trâmites duvidosos conduzidos pelas duas super-potências até o início da década de ’90, nem o 11 de Setembro de 2001.

Para ele, o fato de que o mundo é inter-dependente como nunca e de que a crise econômica deixa de ser apenas regional para tornar-se global, e até mesmo o crescimento da China como um estado socialista de mercado externo capitalista, não o assustam nem ameaçam o poder definitivo que tem o gigante capitalista. A hegemonia cresceu e se desenvolveu tanto que nenhuma outra super-potência pode realmente desmontar a liderança do estado norte-americano. Bem como a Rússia, que continua atuando como super-potência mesmo tendo deixado esse posto à época de Gorbachev e Reagan, os Estados Unidos podem até dar indícios de enfraquecimento, mas jamais desabarão. Sendo assim, resumidamente, sempre clamarão, novamente, a função hegemônica.

Escrevi acima que Brooks é o único a idealizar sua análise entre as três trazidas nesta série justamente porque o colunista conservador não admite a hipótese de que a hegemonia estadunidense se desfaça, o que seria uma ocorrência (ou não ocorrência) inédita. Segundo realistas, essa hipótese não existe simplesmente porque nunca existiu. Nunca antes uma hegemonia permaneceu intacta por muito tempo. Nunca antes uma única hegemonia permaneceu hegemonia para o resto de sua história. O prognóstico realista é, no geral, pessimista. Salvo Doran, que ainda admite a possibilidade de acomodação hegemônica da nova super-potência para evitar a guerra, outros clássicos realistas (Hans Morgenthau, E.H. Carr) e neo-realistas (Kenneth Waltz, John Mearsheimer) prescrevem a guerra como uma casualidade inevitável do comportamento humano. Até mesmo para Doran a mera possibilidade de que uma hegemonia permaneça hegemonia para sempre é inexistente.

Concluindo a série, trouxe o exemplo do neo-realista, Charles Doran, para traçar um parâmetro que especifique os pontos centrais do neo-realismo sem ilegitimar a possibilidade de mudanças no sistema global necessariamente seguidas ou atravessadas por guerras. Trouxe o exemplo de Fareed Zakaria para exemplificar as divergências teóricas que giram em torno da quantidade e qualidade hegemônicas de um sistema global. Sendo o sistema unipolar, o que ocorre quando a hegemonia desaba? Trouxe o exemplo de David Brooks para ilustrar a principal diferença entre o conservadorismo (ou neo-conservadorismo) político e o paradigma realista. Nesse sentido, aprendemos, o conservadorismo pode ser idealista.

Na próxima postagem, trarei exemplos de neo-liberalismo institucional.

RF

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