Onde estávamos no dia 11 de Setembro?
Todos os anos, a mesma pergunta. Onde você estava quando as Torres Gêmeas do World Trade Center caíram no dia 11 de Setembro de 2001?
Para mim, passados oito anos, a pergunta verdadeira é: E o que importa onde cacetetes eu estava no dia 11, ou o que eu fazia, ou o que eu pensava, ou como percebi a mudança mundial à minha volta?
Entendo que queiramos remontar da memória e reconstruir a passos ligeiros uma compreensão (interpretada através de nossas experiências, logo interpretada subjetivamente) do que nos lembramos dessa data. Mas oito anos passados e, em termos mais técnicos, nada mudou.
Há um artigo publicado no The New York Times de hoje contando como os novaiorquinos estavam errados quando pensaram que sua cidade nunca mais seria a mesma. Algumas indicações simbolizam que, hoje, Nova York é mais Nova York do que antes do marco histórico de 2001. A sociedade americana não é mais solidária por causa disto. O governo não se tornou melhor, e sim pior, e hoje em dia com um presidente democrata já controverso, apenas procuramos nos afastar em parcelas dos erros mais graves do passado recente.
As relações internacionais continuam as mesmas. Até mesmo segundo realistas clássicos (como Hans Morgenthau) ou neo-realistas ferrenhos (como Kenneth Waltz), que afirmam a guerra como parte da natureza humana intrínseca, sequer fazia sentido contra-atacar como fez George W. Bush. Menos sentido ainda fazia invadir o Iraque, e a guerra no Afeganistão, o novo xodó de Barack Obama, tampouco findou eliminando grandes necessidades. Os mesmos erros feitos antes do dia 11 foram repetidos imediatamente depois. O mundo não vive tempos mais seguros, mas tampouco menos.
O terrorismo existia antes de 2001. Em Israel, duas a três vezes em anos pacatos um ataque terrorista toma conta das notícias populares. Na Europa, grupos como o IRA e o ETA são quase tão antigos, ou mais, do que alguns estados novos. Na África, enquanto isso, mais um genocídio estava prestes a ocorrer e, novamente, a comunidade internacional deu as costas até tarde demais. Centenas de milhares de pessoas morreram nas mãos de facções que, como terroristas, lutam pela auto-afirmação de identidades étnicas exclusivistas. Barfur, Sudão. Nova Rwanda... Novo Appartheid... E ninguém prestou atenção.
Aqui, preocupavam-se com cores laranjas, verdes, vermelhas e liláses. “Alertas X, Y e Z”, diziam os âncoras. Lentamente, as chamas dos escombros no Ground Zero na baixa Manhattan deram lugar a pedras, poeira, e suor de operários e voluntários a reconstruir a fortaleza. Hoje, Manhattan é tão Manhattan quanto sempre foi.
Enquanto temiam ataques terroristas, a economia explodiu. Enquanto temiam imigrantes ilegais, foi o mercado imobiliário que estourou. Enquanto relutavam contra um governo liberal, temendo a negligência de nossos líderes, os preços do petróleo escancararam. A paranoia não contribuiu à liberdade. A insegurança, mesmo contradita, desviou-se de hipóteses fantasiosas sangrentas para a realidade dolorosa.
E nada mudou. Nada. É claro que muito foi teoricamente construído com base nos acontecimentos da terrível data. Mas são as mesmas construções humanas e subjetivas que criaram o nacionalismo radical em suas formas mais pervesas, ou as mesmas construções humanas que permitem a existência de seres improváveis, como um deus, ou as mesmas construções que compõem, na essência, todos os “ismos” em suas retóricas implausíveis. São apenas construções abstratas para compensar o que foi concretamente destruído.
O mundo não mudou depois do 11 de Setembro. Nem nós mudamos. Nem os novaiorquinos mudaram. Nem os integrantes do Taliban. Nada mudou, tudo ficou no lugar depois da queda das Torres Gêmeas.
Mas nós, por nós, para nós, fingimos que mudou... E tentamos sempre nos lembrar onde estávamos quando mudou. “Como éramos quando tudo mudou?” “Como era o mundo ao nosso redor antes de tudo mudar?” Nos perguntamos e respondemos. Mas nunca sabemos realmente diferenciar-nos do que éramos antes dessa data, porque éramos os mesmos. E seguimos sendo. E seguiremos sendo para todo o nosso sempre.
RF
Friday, September 11, 2009
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5 comments:
Então, acharam que o apocalípse havia chegado! Se é para nos importar com 11 de Setembro, importa mais para os latinos americanos, o golpe no Chile, em mesma data. Beijus
Trouxe um link pra você
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2009/09/13/a+industria+da+antidemocracia+8414942.html
Boa semana!!
Oi Roy.
Como observou Ortega y Gasset, o homem é um animal que se acostuma a tudo, até mesmo às grandes tragédias.
***
Em 11/09 eu estava na minha sala na FADERS - uma autarquia destinada a prestar serviços para pessoas portadoras de defiência, onde era assessor de imprensa. Quem avisou o que ocorria foi um taxista de um ponto do outro lado da rua. Liguei a TV de 49 polegadas e acompanhei tudo atônito. Quando a segunda torre foi atingida houve quem comemorasse. Eu não, mas também não fiquei condoído. Senti apenas desconforto e mais confusão.
Um abraço.
Roy, este texto é, em todo o sentido humano, o mais definitivo, não sobre o 11 de setembro, mas o "a volta de" que tanto queremos acreditar, definitivo.
Vou roubá-lo, nem adianta!
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Abraço forte!
Luma, acredito que, caso realmente houvesse um movimento mais agressivo da parte dos EUA em, digamos, conquistar o Oriente Medio ou reestruturar definitamente a conduta americana em relacao ao Oriente Medio, a mudanca seria, para o mundo, muito mais importante do que o golpe no Chile. Ou seja, se a hegemonia quisesse realmente mudar a face do Oriente Medio, assim investindo em uma guerra muito mais pesada e intensa, acredito que em poucos anos ou os EUA estariam pedindo arrego (e a China chegando a ameacar ainda mais, se nao completamente, a hegemonia), ou estariam firmados ainda mais como hegemonia, afastando nao so a China, mas a Venezuela, a Cuba, a Bolivia, o Iran, a Coreia do Norte e a Russia de suas capacidades como hegemonia.
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