Apesar de não serem estas as primeiras eleições presidenciais que acompanhei em minha curta vida, sem dúvidas as espero como jamais.
Sexta-Feira, no programa do comediante Bill Maher, o documentarista polêmico, Michael Moore, apresentou-se a uma entrevista ao lado de dois fantoches, o Sr. Zumbi e o Conde Drácula, em uma cidade no interior de Michigan.
“Ah, esses?” Respondeu Moore ao sarcasmo de Maher. “São os últimos dois eleitores de John McCain em Michigan.” Brincou.
Antes das iniciativas à guerra no Iraque, confesso, não tinha nada a favor, nem contra, George W. Bush. Através de sua campanha surreal, excitou, oriçou e tentou a nação a comprar a guerra que seu pai começou e não conseguiu terminar. O desconserto de suas ações, as férias prolongadas antes do 11 de Setembro equiparadas à pausa prolongada que tomou antes de agir quando avisado do atentado às Torres Gêmeas, o Pentágono e, supostamente, a Casa Branca; a estapafúrdia extrema que se deu no governo dos Estados Unidos justamente quando o resto do mundo ocidental procurava virar a página do século XX; a somatória de restrições constitucionais como o Ato Patriota, que permite prender, enjaular, e torturar “suspeitos” estrangeiros sem nenhuma acusação oficial, sem direitos a defesa, e sem provas específicas; que se estende ao segmento privado da população local em grampos telefônicos e uma Suprema Corte estritamente republicana providenciando a proibição de processos civis a companhias telefônicas; o atraso social a favor da religião, esta sim elitista, em casos morais como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o direito de escolha feminino, contra pesquisas em células-tronco embrionárias (o que apenas comprova que o moralismo dogmático prevalece sobre o compromisso científico); todo o caos, as mentiras explícitas, a ausência de armas de destruição em massa no Iraque, as torturas legitimadas, o juíz Alberto Gonzales da Suprema Corte, acusado e considerado culpado de contratar e demitir juízes por afiliações e tendências partidárias conservadoras; Dick Cheney e sua companhia paga para bombardear e, logo, reconstruir o Iraque, a família texana e petrolífera de Bush, a indecência do ex Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, o desgaste mental que todos - mesmo quem não queira perceber, ou não percebe - sofremos nesses últimos oito anos me convenceram:
George Bush e seu partido Republicano, descaracterizado ou não, atrasaram os Estados Unidos, alienaram o país e incitaram ódio estrangeiro à sua população.
John McCain, surpreendentemente, não representa o mesmo módulo bushista de governo. Seu desgosto explícito pelo caráter de Bush é mais do que conhecido por quem queira acompanhar a política local. Jogou politicamente em sua campanha, e ninguém pode acusá-lo de ter sido mais desleal do que permite o jogo político.
A grande vantagem de Barack Obama, vencendo ou não quando os votos forem contados na noite de Terça-Feira, é que o democrata jogou à frente, vencendo, quase sempre, nas pesquisas. Tomou o caminho mais alto, atacando os planos de McCain, mas jamais questionando seu caráter. Levou ao ar um programa de 30 minutos de propaganda eleitoral exclusiva em sete canais, e não mencionou o nome de seu rival - rivais - uma vez sequer.
McCain não era tido suficientemente republicano, logo escolheu Sarah Palin, governadora do Alaska, para energizar sua base. A governadora cumpriu seu papel, mas acabou, novamente, determinando a essência da corrida em 2008 como uma guerra social entre “elitistas”, pessoas estudadas, bem informadas e mais intelectualizadas, e o “Joe Sixpack”, o cidadão comum, de classe média, sem escolaridade superior, encanadores e padeiros.
Não é a verdadeira guerra. Existe uma richa ancestral entre o “comum” e o “intelectual”, como se boa educação e competência fossem sinais de indiferença e alienação. No entanto, grande parte dos “Joe Sixpack” vivem revoltados contra a indiferença do governo de Bush, que claramente favoreceu o crescimento de 1% da população, deixando 9% em bons lençóis e 90% caindo anualmente com a iminente recessão econômica nacional. 98% da população negra, ainda desavantajada socialmente e ainda vítima da negligência republicana, como quando, em 2004, o furacão Katrina destruiu New Orleans e uma série de menores cidades dos estados de Louisianna e Mississippi, vota massivamente por Barack Obama.
Estados vermelhos, levados por Bush em 2000 e 2004, como a Virginia, Colorado, New México, Michigan, Missouri, e até mesmo o estado de John McCain, o Arizona, estão claramente em jogo amanhã. A vantagem de Obama, nacionalmente, voltou à casa dos 9-13%, mas sua vantagem nos estados cruciais, como Ohio, Pennsylvania e Flórida, claramente desapareceu (no caso de Ohio), ou diminuiu. Ainda assim, Obama segue concorrendo à presidência adiante de McCain.
A verdadeira batalha, como sempre vimos em se tratando dos Estados Unidos, é como competir melhor no mercado, como crescer individualmente a ponto de refletir o crescimento no resto da sociedade, como prevalecer moralmente justos mesmo diante das maiores injustiças, e isso requer pensamento e tempo. Sarah Palin, a estrela do partido Republicano, não considera o pensamento e o tempo virtudes necessárias. A estrela do partido Democrata, Barack Obama, passou seus cinco meses de campanha atraindo “Joe Sixpacks” com a promessa de que uma boa educação, diplomacia e temperamento intelectual moveriam a nação ao futuro esperado. Palin honrou a estupidez, a falta de educação, o assassinato do conhecimento, tudo isto temperada de pensamentos psicóticos de grandeza.
Um governo de John McCain garantiria mais juízes republicanos na Suprema Corte, já que ao menos dois democratas terão seus mandatos vencidos em 2009. Significará que o orçamento poderá ser reservado à “defesa nacional”, enquanto o orçamento a programas pacíficos internacionais e auxílios governamentais a organizações que providenciam alimento, medicamento e outros serviços básicos a populações atingidas pelas guerras e pela fome muitas vezes mal promovidas pelos Estados Unidos, será virtualmente dilacerado.
Um governo de John McCain perpetuaria o corte de impostos de Bush a grandes empresas, e não beneficiaria os menos abastados simplesmente porque, atualmente, não beneficia os menos abastadados enquanto os cortes vingam firmemente desde 2003, ano em que John McCain era contrário aos mesmos.
Promoveria a noção de que “escavar, baby, escavar” é a solução correta ao século XXI, fadado a criar a nação lider na revolução energética inevitável. Enquanto Obama promove o incentivo a novas invenções de cientistas e matemáticos, McCain segue promovendo o passado glorioso, usinas nucleares e escavações nas costas marítimas, ao que também mantinha oposição antes das campanhas às eleições gerais.
Resumindo, o governo de McCain não será o mesmo de George Bush. Será mais republicano, no sentido verdadeiro da palavra, mais conservador em seus gastos, mais organizado em sua estrutura militar, e certamente mais capitalista e menos corporativista. Além disso, promoverá a noção de que o encanador Joe, personagem semi-fictício da campanha republicana, deve ser o exemplo da nação, sem educação superior e sem profundidade intelectual.
O senado também encontra-se em momento crucial, sendo que os democratas podem compor a maioria com 60 postos, o que daria ao partido a possibilidade de bloquear vetos presidenciais, e faria a vida de democratas mais fácil, ou a vida dos republicanos mais difícil. Em tempos como estes, depois de oito anos arquitetados por um ditador do mundo livre, talvez não seria uma má idéia ter um Senado que pode agir e não ter suas empreitadas constantemente bloqueadas pelo partido adversário.
Finalmente, Paul Krugman, colunista do The New York Times, já explicou que o que os Estados Unidos precisa agora é investir em sua infra-estrutura. O aumento do desemprego é insólito, mensalmente, e milhares de pessoas honestas e trabalhadoras estão prestes a perderem seus empregos de dez, quinze, vinte anos, e nenhum corte tributário virá ao seu auxílio.
Sinceramente, as pesquisas estaduais me preocupam. Gostaria de acreditar que, independente do resultado, o país se desvinculará dos agouros dos últimos oito anos. Sou daqueles que não confiam em políticos, e clamam a responsabilidade da população, mas desta vez vejo-me obrigado a ter a total e mais absoluta certeza de que o país precisa de Obama.
Agora sim, leitores e leitoras, amanhecerá e veremos. No texto de conclusão d’A Escolha do Próximo Porteiro, avisarei do futuro rumo deste humilde albergue pensamental.
E boa sorte a todos.
RF
Monday, November 03, 2008
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4 comments:
Vida longa ao novo porteito, que espero seja aquele deus de ébano.
Boa sorte, Roy!
Vou ficar no aguardo dos novos rumos do blog.
Kisses
Legal a reflexão, Roy. Vamos ver o resultado da eleição de amanhã. Aliás as o pessoal aqui de Maryland vai decidir ou não se o estado permite a presença de caça-níqueis para competir com os vizinhos West Virginia, Pensylvannia e New Jersey. Escolha dura já que o estado de Maryland está falido e as slot-machines atacam os bolsos dos mais pobres... Detesto política. Aliás, detesto políticos. Quase todos.
Mas aprecio quem sabe discutir o tema de forma inteligente e racional, como você.
Que Obama suba ao podium são os votos sinceros de todos aqueles que desejam uma nova ordem, uma nova moral, uma nova economia para o mundo inteiro!
God Bless America!
God Save The «King» Obama!
Roy:
Que dia!!!!
Que noite!!!!
Que tempos!!!
Fiquei acordada até as quatro da manhã. Acompanhei a eleição, a apuração e o discurso do Obama.
Queria te dar um abraço pelo trabalho que realizaste em toda esta trajetória e dizer muito obrigada.
Agora vamos todos colaborar para que os sonhos se realizem. Uma América mais igualitária já desponta no horizonte.
Abração!
Re
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