Wednesday, September 17, 2008

Os Fundamentos de Nossa Economia

O candidato republicano à presidência, John McCain, desde o início de 2008 tem dito copiosamente que “os fundamentos de nossa economia são ainda fortes”.

Nos primeiros meses do ano, quando os preços da gasolina já ameaçavam chegar onde estão hoje, e no ápice do déficit acumulado pela empreitada no Iraque, incluindo problemas que já sinalizavam a crise do crédito vista hoje em dia, problema central na crise imobiliária crescente, McCain insistia que não entraríamos em uma recessão, propriamente dita.

Depois dos acontecimentos desta Segunda-Feira, no entanto, quando três companhias deixaram de existir como antes conhecidas, Merrill Lynch, comprada pelo Bank of America, e a Lehman Brothers, recentemente comprada pela companhia européia Barclay, ; depois da queda de mais de 500 pontos no DOW, a maior queda desde o dia 17 de Setembro de 2001; com um déficit de mais de 350 bilhões de dólares (o orçamento fechado pelo gabinete de Bill Clinton mostrava o saldo positivo de mais de 250 bilhões de dólares) e o aumento do desemprego de 4.1% da era Clinton a mais de 6% hoje em dia, McCain ainda insiste em dizer que “os fundamentos de nossa economia estão fortes”.

Apesar de concordar com o analista político da MSNBC, Chuck Todd, ignorarei a inutilidade de divulgar as pesquisas diárias do Gallup e menciono que Obama amanheceu com um ponto a menos na diferença aberta por McCain à semana passada, 47-46%.

De acordo com o instituto Zogby de pesquisas, Barack Obama lidera pelo resultado que perdia ontem, pela Gallup, 47-45%. Mesmo tendo perdido a enorme vantagem nas pesquisas na maioria dos estados, de acordo com a matemática atual, venceria ou empataria com seu rival em número de colégios eleitorais. 270 são necessários para a eleição final, e Obama teria 274 no melhor dos cenários, e 269 no pior deles, o mesmo número atribuído a McCain.

No auge de Setembro, depois das convenções e da explosão de popularidade adquirida pela vice-presidente Sarah Palin, as pesquisas voltam ao eixo do diário. Quando a crise econômica é finalmente admitida pelos mesmos sujeitos que a negavam piamente há uma semana, a atenção volta-se novamente a Obama.

Porém, talvez a reação pública fosse diferente caso não houvesse ocorrido o descrito a seguir:


A desconfiança por Sarah Palin

Primeiro foi a entrevista dada a Charles Gibson, da ABC, na qual a vice-presidente de McCain não soube o que a “doutrina Bush” significava (vocês, leitores brasileiros, estão isentos dessa obrigação, logo esclareço: A doutrina Bush é o nome dado à atuação preventiva do exército estadunidense, antes caracterizado como exército defensor, e com a era Bush reformado a atacar e previnir ataques iminentes), que repetiu ter experiência em relações externas porque vê vilas russas de sua casa, no Alaska, e ainda disse que confrontaria a Rússia se a ex potência soviética não deixasse a Geórgia em paz, mesmo sabendo que o exército vê-se desgastado no Iraque, Afeganistão, ainda comportando operações no Paquistão.

Caso apenas a “mídia liberal” tivesse se manifestado contra a reação não só inexperiente, mas imatura de Palin diante de Gibson, poucos poderiam dizer que sua falha fez-se clara aos olhos do eleitorado. No entanto, apesar de que alguns oficiais da campanha republicana (incluindo uma colunista do The New York Times supostamente não afiliada) terem criticado o repórter como arrogante e presunçoso, lentamente, a opinião de outros clássicos conservadores começou a saltar das páginas dos jornais.

David Brooks, colunista conservador já mencionado aqui em discórdia, dedicou sua coluna de Terça-Feira para criticar a inexperiência de Palin, dizendo que ela podia até trazer charme e popularidade a uma campanha desmilinguida, mas que não trazia experiência e sagacidade política. Outros colunistas e analistas políticos disseram o mesmo, especialmente à luz da crise econômica que, finalmente, passa a perceber-se mesmo pelos mais ferrenhos conservadores.


Com amigos assim, quem precisa de inimigos?

Uma das campanhistas mais ativas por John McCain, a empresária da companhia Hewlett Packard, Carly Fiorina, anunciou ao lado dos demais empresários que a companhia cortará 7.1% de sua força trabalhista, ou 24,600 empregos.

Ao fazê-lo, disse que seu candidato, McCain, não está apto a lidar com uma companhia como a sua, nem sua vice-presidente, Sarah Palin. Somente depois disso acrescentou que os candidatos democratas tampouco estavam aptos a lidar com sua companhia.

À noite, Fiorina foi chamada de “idiota” por alguns, “incompetente” por outros, e houve até quem quisesse “jogá-la embaixo de um ônibus”.

Algo similar ocorrera há pouco, quando o ex senador Phil Gramm, ícone econômico da campanha de McCain, disse que tudo estava bem economicamente, e que o país tornou-se “uma nação de bebês-chorões”. Agora, aposto que Gramm se arrepende, amargamente, de tê-lo feito.


Será que os Fundamentos de Nossa Economia estão mesmo indo bem, obrigado?

Todos se perguntam o que o senador pelo Arizona quer dizer com “os fundamentos de nossa economia”. A questão já foi feita a ele inúmeras vezes desde Segunda-Feira, e seus assessores dizem a mesma coisa: “Quando McCain fala em fundamentos, refere-se ao trabalhador e seu espírito progressista.”

No entanto, essa não é a definição pragmática de “fundamentos econômicos”, mas sim os índices sociais ligados à economia. O desemprego aumentando, o déficit aumentando, a dívida externa aumentando, companhias crediárias falindo, casas perdidas no mercado, e o preço incontrolável da gasolina, são todos índices que compõem o fundamento de qualquer economia. Pois, esses estão cada vez mais bambos, e McCain não discorda, logo deu sua própria definição.

Ninguém mais mencionou o que aqui menciono, mas essa definição de McCain me assusta mais do que seus “cem anos no Iraque”. Afinal, o que o senador parece fazer é conceituar abstratamente o que mais temos de concreto. Além de comprometer-se a “montar uma comissão que procure soluções aos nossos problemas econômicos”, algo abstrato e efetivamente destruído com a comissão montada para investigar os acontecimentos do 11 de Setembro, ainda traz as palavras “espírito”, “força”, “resistência”, como fossem concretas e reais, tanto quanto a soma de todas as crises.

Fatidicamente, não o é. Resta saber até que ponto o eleitorado norte-americano está disposto a seguir se enganando.

RF

1 comment:

Anonymous said...

Roy, ainda bem que eu não tô poraí: eu sempre custo a achar o meio termo entre a experiência e a inexperiência! :-S Aliás, morro de medo das duas... rs. Bjo, queridão.