Penso desnecessário continuar explicando o motivo de meu suposto voto democrata em 2008. Mesmo assim, para providenciar aos leitores o contexto do que segue, gostaria de esclarecer alguns pontos sobre o bloguista e sua perspectiva.
O ponto principal é que, apesar de gostar do tema por tendências que desde sempre me perseguiram, não sou um perito em política ou filosofia ética, muito menos em economia, assunto central à campanha presidencial nos Estados Unidos.
O que sei fazer é ler, assistir e analisar a linguagem dos jornais, sejam eles televisionados ou impressos. Aprendi a fazê-lo no Brasil, e esse aprendizado muito tem a ver com teorias conspiratórias, da esquerda, da direita e do centro, de religiosos e ateus, de banqueiros e clientes bancários.
Em um documentário que recomendei a Sandra Camurça chamado “Meu filho poderia pintar aquilo” (tradução livre, ou, “Até meu filho poderia pintar aquilo”) sobre uma menina de quatro anos, supostamente precoce e talentosa em suas pinturas abstratas, e toda a polêmica ao redor de sua história, um dos entrevistados disse algo que creio fundamental para qualquer leitor/a e telespectador/a:
“Todo o trabalho da mídia, seja ele o de um repórter ou o de um documentarista, como você, é uma mentira. Você escolhe e monta de acordo com sua habilidade o que quer mostrar.”
A primeira lição ensinada a um estudante de jornalismo, ou a primeira lição que eu, pelo menos, tive na faculdade, foi a responsabilidade decisiva de um repórter ao transmitir uma notícia em ordem piramidal, desde o fato mais importante no cabeçalho, aos detalhes menos relevantes na base do artigo. Essa importância é, obviamente, subjetiva, como vocês podem bem imaginar.
Pois, apesar de já ter reconhecido menores e maiores absurdos nas redações lidas nos últimos cinco ou seis anos de minha vida, jamais li um único artigo imparcial. Assistir uma reportagem imparcial, então, é mais difícil do que conversar com Papai Noel e os Sete Anões em entrevista coletiva.
Porém, há artigos mais e menos refinados, tanto quanto há os mais e menos mentirosos. A mentira número um (bem como há em qualquer decisão, segundo a estatística, dois tipos de erros) é quando o colunista sabe a verdade e decide publicar o oposto. A segunda mentira é mais branda. O colunista não conhece toda a verdade, mas decide publicar a parte da verdade que melhor se encaixa em sua própria opinião preconceituada.
Nesse sentido, meu blog provavelmente se encaixa na segunda mentira. Raramente sei toda a verdade sobre assuntos públicos, mas escolho transmitir os dados que melhor se encaixam em meu padrão pensamental. Talvez consiga me isentar da culpa enquanto bato na mesma tecla sempre: Eu sou parcial a Barack Obama.
Novamente, em um artigo da National Journal Magazine, li uma narrativa que, mesmo tendo sua parcialidade, soa mais objetiva do que a norma. Stuart Taylor escreve justamente sobre a crescente parcialidade liberal da mídia. Lendo-o na íntegra não há como discordar que ela exista.
O problema específico da parcialidade liberal de todos os canais que não a Fox News e suas filiais, ou de todos os jornais que ainda não foram comprados por Rupert Murdoch, é que são maiores não só em número, mais em viabilidade pública.
Os dois principais canais a cabo, a CNN e a MSNBC, têm a mesma fama de liberais. The New York Times, talvez o jornalão mais popular dos Estados Unidos, leva a mesma fama.
Esses são apenas dois exemplos, mas se precisasse decidir em qual padrão a parcialidade do The Miami Herald e do Sun Sentinnel se encaixa, ambos jornais floridianos de grande influência no sul do estado, diria que são liberais. Como The Miami Herald recebe muitos artigos do The New York Times, o Sun Sentinnel tem colaboração integral com o Chicago Post. Pior, todos os grandes jornais recebem bites e bits do The Associated Press, o que infelizmente significa que existe, sim, contestável, mas fatidicamente, uma generalização da parcialidade liberal construída e crescente nas últimas décadas.
Caso não duvidasse constantemente de meus pensamentos, diria que isso é sinal de que ser liberal é melhor, e que jornalistas, profissionais supostamente atentos a “mudar o mundo” antes mesmo de iniciar ofício, chegaram à melhor das conclusões em massa.
Duvido, e esse é o grande problema.
Carlson Tucker, analista político da MSNBC, está praticamente fora do canal, e quiçá seja o mais afiado dos conservadores, mais até do que Joe Scarborough, ex congressita republicano. Desde que a corrida presidencial tornou-se ainda mais frenética, seu programa sumiu, e o ex âncora de seu próprio programa agora limita-se a aparições escassas no canal.
Tucker é, obviamente, parcial. No entanto, se os demais também o são, e o são em massa, sua presença me parece essencial para a transmissão de uma imagem melhor de tudo o que se vê e lê pela mídia estadunidense.
Resumindo: Concordo com a visão de Stuart, que comprova como o campo de McCain e o campo de Obama se cancelam nos ataques negativos, e como a mídia se esquece de mostrar os dois lados da moeda quando assim convém.
Só não dou o braço a torcer em um pequeno detalhe. Republicanos são mais conhecidos pela exploração de certos medos e inseguranças públicas, enquanto democratas levam a fama de “pouco agressivos”, “preguiçosos” e “covardes”. Nessa equação, sabemos que a sujeira na política existe nos dois campos, nos dois partidos, e em todos os que vierem depois, libertários, ambientalistas, revolucionários…
Como também comentei com Camurça, não acredito mais em revoluções, mas sim em guerra, miséria e sofrimento. A violência é muito mais acessível à natureza humana do que uma suposta mudança de rumo conjunta, algo que pouco aconteceu e geralmente não terminou favorecendo as verdadeiras vítimas na história mundial.
Acrescento, todavia, que não acredito e jamais cheguei a acreditar, nem por cinco minutos, na honestidade íntegra de nenhum político, de nenhum dos países que habitei. Mostre-me um político cem por cento honesto e eu lhe mostrarei uma pedra líquida. E tenho dito.
RF
Friday, September 19, 2008
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3 comments:
Ah!gora entendi a frase postada na sidebar "O real vem sem copo, mas igualmente sempre chapado" :-) Bom fim de semana! Beijus
Criticar o próprio lado é exercício difícil. Infelizmente, parece que o fenômeno é global e, cada vez mais, deparamo-nos com colunistas descerebrados.
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Aliás, quando você faz uma crítica da sua própria convicção, mais você se revela grande.
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Abraço forte!
Hi Roy.
Não acredito na imparcialidade jornalística, especialmente em torno de um assunto como a atual eleição presidencial dos EUA, extremamente polarizada. No entanto, creio ser possível exigir honestidade na cobertura da imprensa. A parcialidade não exclui a honestidade. Este é o objetivo a ser perseguido. Neste aspecto, você está no bom caminho.
Um abraço.
(Ah sim, demolidora a reportagem sobre os "Fundamentos da nossa economia".
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