Monday, September 15, 2008
Fora da Ordem
Se o partido Republicano está acostumado a dominar a política nos Estados Unidos até hoje, algo sinistro aconteceu quando duas de suas mais importantes figuras não hesitaram ao criticar conceitos estritamente republicanos.
À semana passada, entrevistado, o general das tropas armadas David Petraeus disse que a guerra no Iraque não pode ser definida como qualquer combate comum, em vitória ou derrota, já que o termo “vitória” era muito vago, e a situação no país médio-oriental, muito complexa.
Em princípio, John McCain tem usado o termo “vitória” desde o início das campanhas à eleição geral, no dia 4 de Novembro. “Precisamos terminar a guerra, sim, mas com a vitória e a honra para os Estados Unidos.”
Como Barack Obama e a definição de “mudança” (que também pode ser traduzida como “trocados” ao Português, “change”), McCain vê-se obrigado a definir melhor o que caracteriza por vitória, mesmo se a população geral ainda estiver alienada ao tema, já que a mídia não desistirá de levantar a questão.
O que significa vitória? O que significa honra?
Em um artigo publicado na National Journal Magazine, Paul Starobin escreve sobre a honra de McCain e a empatia de Obama, dizendo que essas são suas principais qualidades humanas, e sobre elas a decisão popular se baseia. O artigo me chamou a atenção especialmente por sua neutralidade, algo extremamente raro na reconstrução histórica que compõe o jornalismo. É neutro, mas não necessariamente pela imparcialidade partidária, e sim porque ao descrever o significado de honra de McCain, e a empatia de Obama, traz no corpo do texto as vantagens e desvantagens de ambos, e cada palavra faz sentido dentro de seu contexto.
Pois bem, segundo Starobin, quando McCain fala de “honra” refere-se a dois conceitos representantivos dos valores estadunidenses. O primeiro é o bélico, já que McCain faz parte de uma família de soldados, provavelmente traçável aos patriarcas da nação. O segundo é o tradicional, familiar, para mim (apenas para mim) de cunho similar ao grupo TFP (Tradição, Família e Propriedade). Conforme Starobin diz, o respeito que a família conquistou tem base nas propriedades que mantinham, no número de escravos que retinham, e nas guerras que participaram.
Para Obama, a empatia pode ser estritamente pessoal, a qualidade de uma celebridade, e se o candidato democrata não conseguir delinear seus planos consistentemente, acabará perdido como tantos candidatos a American Idol.
Porém, o fato de que Gen. Petraeus menciona a guerra como “complexa” e a palavra “vitória” como vaga, derruba a credibilidade de que McCain difere-se muito de Obama em sua campanha, e a retórica é comprovada dos dois lados. Para o bloguista que vos escreve, a diferença é uma só: Enquanto Obama fala sobre “mudança”, McCain fala sobre “vitória” militar. As duas são retóricas, mas a republicana não é nova. Pelo uso desse termo, Bush elegeu-se ao segundo termo de seu mandato.
No final de semana, outro representante clássico dos valores republicanos desandou. Karl Rove, a quem atribúo grande parte das sujeiras em qualquer campanha republicana, disse que, dessa vez, McCain estava pegando pesado em suas propagandas. Talvez como golpe para se isentar da responsabilidade atribuída não só por mim, mas por analistas políticos de ambos partidos, esteja agora dizendo que o campo do senador pelo Arizona tem exagerado em seus ataques acéfalos a Barack Obama (leiam o texto anterior para acompanhar de quais ataques Rove fala).
Quando o político mais sujo do partido diz que o partido anda jogando muito sujo, algo há de errado no país vermelho. Quando o general das forças armadas avisa que a palavra “vitória” em si, nada significa, algo há fora da ordem no país militar.
John McCain amanheceu vencendo Barack Obama de acordo com o Gallup por 47-45%, ou seja, empate técnico com a margem de erro de 3%.
RF
Essas Palavras Vos Trazem
Barack Obama,
David Petraeus,
John McCain,
Karl Rove,
National Journal Magazine,
Paul Starobin
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3 comments:
Hi, Roy.
E a economia, meu camarada, não vai dar caras no debate? As finanças do império estão desabando. E nada fala mais ao coração ianque do que o bolso, presumo. Conte como a déblâce econômica está influindo no ânimo dos gringos da pátria-mãe do capitalismo.
Um abraço.
Arriba!
Isso! A economia! E mais: eu queria saber se existe algum levantamento sobre quem vota mais voluntariamente e quem vota mais sobre pressão. Isso porque, como o voto é facultativo aí, me pergunto a quem favorece chegar empatado às urnas, entende? Se no dia das eleições prevalecer uma contagem como essa, que tipo de eleitor corre pra votar (mesmo que não pretendesse fazê-lo), o democrata ou o republicano? Existe uma tendência?
Beijo, amor!
Complicadas as perguntas. Sobre a economia nao dou as caras porque entendo muito pouco. Sei que a bolsa de valores passa alguns de seus piores dias desde o 11 de Setembro, a porcentagem de desempregados aumentou quase 2% em 2008, e so pela Lehman, mais de 30 mil pessoas perderam empregos ontem.
Mas agora, acredito que as coisas estejam mudando em termos de campanha. McCain conseguiu nao so encostar em Obama, mas tornar-se muito mais competitivo do que o esperado. Por hora, de acordo com as pesquisas, dois cenarios seriam os mais provaveis. No primeio, Obama vence por um estado, pelo numero de colegios eleitorais (274-265). No segundo, ambos ficam empatados com um colegio eleitoral a menos do que o necessario para vencer, 269-269.
Com a crise economica, suponhamos que Obama consiga alertar a populacao de que quem trouxe o pais para onde esta foi Bush, e o partido Republicano em mais da metade de seu termo no congresso e no senado. Mesmo assim, por motivos ultra misteriosos para mim, McCain vence nas pesquisas nacionais.
Entao, Jens, sim, a economia esta caquetica, mas preciso de uns dias para saber como essa noticia afetara a escolha do proximo porteiro.
Lilith, meu amor... Bom, a pergunta eh excelente.
Para mim, por hora, se um republicano vencer significa que houve pressao, sim, mas para NAO votar. Aqui nao existe muito isso de comprar o voto presidencial, apesar de que aposto que existam certos grupos que pressionem de outros modos. Caso forem pegos, serao degolados pela justica, em sentido obviamente figurado.
Mas existe uma pressoa institucional para proibir determinados segmentos de pessoas de votarem, e infelizmente isso favorece republicanos, como em 2000 e 2004.
Beijos e abraxos
Roy
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