Friday, August 01, 2008
Campanhas Negativas
Devo ter ouvido essa frase pelo menos cem vezes desde o início da semana: “Campanhas negativas são um porre, mas funcionam.”
John McCain fechou a semana passada atacando Barack Obama pelos altos preços de gasolina, dizendo que “há certas pessoas, em Washington, que ainda se opõem a escavar por petróleo nas costas marítimas do país”.
O que o candidato republicano quis dizer com isso é que escavar nas costas estadunidenses diminuiria o custo da gasolina em um ano, o que é falso em todos os sentidos, fazendo valer o fato de que as escavações não surtirão efeito antes de 2017, e mesmo quando surtirem, não causarão impacto significativo no preço da gasolina.
Conforme também repetido aqui em casa, McCain e seu campo aproveitam até motivos inexistentes para atacar Obama. Até o fim da semana passada, por exemplo, o campo republicano atacou o senador pelo Illinois por ter viajado ao Oriente Médio e Europa como se fosse uma celebridade.
Isto, depois de McCain ter praticamente exigido que seu adversário viajasse ao Iraque e Afeganistão para ter melhor idéia da situação local. Obama não “admitiu” que a escalada de tropas no ano passado funcionou (apesar de poder circular pela região com maior segurança do que McCain pôde no ano passado), e por isso foi ainda mais atacado.
Na Quarta-Feira Barack Obama disse em um discurso que seu rival apelava à antiga política da difamação, mas talvez tenha exagerado em alguns pontos. Acrescentou que, como seu rival não tinha substância e não podia realmente oferecer um melhor plano para a economia e a política externa dos Estados Unidos, resumia-se a atacar o candidato democrata. “Eles dizem, ‘ah, esse cara não é patriota o suficiente, ele não anda com o broche da bandeira americana no peito,’ ‘ah, ele é diferente dos outros presidentes estampados nos dólares’, ‘ah, seu nome é engraçado”.
Assim que ouviu as palavras, Rick Davis, assessor da campanha de John McCain, entrevistado por Gloria Mitchell, da MSNBC, acusou Barack Obama de apelar para a raça de um modo vil e baixo.
O campo democrata quedou chocado. Afinal de contas, o discurso do jovem senador não teve uma conotação agressiva, mas humorística. Sua expressão corporal era de quem gozava do inimigo caçoando de sua própria imagem. Mas Davis – e McCain concordou – não deixou as frases de Obama passarem batido. Muito pelo contrário, seu ataque pode ser o mais prático de todos os testemunhados nesta já passada semana.
A propaganda política republicana ainda tentou associar a imagem do candidato adversário à imagem de Britney Spears e Paris Hilton. Querendo equiparar a fama pela fama de Spears e Hilton com a fama do senador pelo Illinois, a propaganda apela à desconfiança popular. Jay Lenno brincou, em seu programa noturno: “Eu sei que os republicanos queriam dizer que Obama é todo palavras e pouca ação, mas então não deveriam ter mostrado a Hilton. Vocês viram seu vídeo? Nele, ela é toda ação e nenhuma palavra!”
Talvez por essa propaganda, Obama tenha tentado desmistificar os recém criados mitos. Mesmo assim, seu tiro saiu pela culatra.
Jennifer Rubin, da Commentary Magazine diz que é tempo de Obama mudar sua campanha. Claramente conservadora, Rubin aponta as mudanças idealistas do candidato democrata, e diz que ele deve se cuidar, já que o campo de McCain jamais usou sua raça como pretexto explícito, e liberais ganham a fama de “bebês chorões” com muita facilidade. O último ataque de Rick Davis ilustra a fragilidade da campanha.
Mas mais frágil do que o próprio comentário ou propagandas políticas é a repercussão desses míseros e insignificantes detalhes pela mídia. É incrível como conseguem fazer de um pequeno pedaço de nada, um tesouro exorbitante. Nenhum desses ataques teria maior efeito caso não fossem tão interpretados e re-interpretados. A masturbação verbal de jornais impressos e noticiários televisionados ultrapassa o limita da lógica e bom senso às vésperas das eleições.
Se você confia em mim e quer saber o que vi de todas as propagandas políticas e ataques verbais até agora, diria que McCain gasta a maior parte de seu dinheiro e tempo atacando a integridade de Obama, e Obama, tentando limpar sua própria imagem. Os temas concretos são discutidos, mas apenas politicamente.
Oferecem propostas como a escavação petrolífera marítima, a retirada das tropas do Iraque e uma possível escalada ao Afeganistão (o que alguns analistas criticam como outra guerra potencialmente absurda, já que o Paquistão parece hospedar o maior perigo), e uma série de outras propostas especificamente fabricadas para agradar os ouvidos da população.
Ao lado, acrescentei a explicação sobre o que são os debates em Townhalls. Leiam a coluna “O que é, o que é?” aí ao lado. Apenas em townhalls, acredito, candidatos serão realmente confrontados. Espero que Obama aceite o convite de McCain.
Por enquanto, muito vapor quente, e pouca substância.
RF
Essas Palavras Vos Trazem
Barack Obama,
Commentary Magazine,
Gloria Mitchell,
Jennifer Rubin,
John McCain,
MSNBC,
Rick Davis,
Roy Frenkiel
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2 comments:
Royzito...
O tchau foi de longe e apressado, mas gostei mesmo assim.
Sabia que não leio sobre a política americana em outro lugar?
Agora, comentar já é demais. Não tenho pernas .
Beijo, lindo. Parabéns.
ahahahaha.. eu ia dizer o que a mocinha aí de cima disse: tô lendo sobre as eleições americanas aqui. Apesar de ainda não entender muita coisa, gosto só de vir aqui ver esse serzinho chapado de óculos ali da caricatura.
beijo, meu bem! :)
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