Tuesday, July 22, 2008

“Horizonte Temporal”

John McCain encontra-se em grave dilema, pois pode ter encontrado, finalmente, algo que o separe de Bush em todos os sentidos, e, ao mesmo tempo, ainda deseja e precisa da simpatia da base que aprova o trabalho do presidente.

Duas clássicas opiniões democratas parecem fazer parte oficial da agenda da Casa Branca, partindo da administração de Bush, e não de representantes e senadores democratas.

Primeiro, os Estados Unidos negociam com o Irã. Claro que isso não quer dizer que Bush senta-se à mesa com Ahmadinejad, mas sim que, diplomaticamente, conforme feito com a Coréia do Norte, para o bem ou mal, o governo estadunidense negocia com o governo iraniano. Barack Obama foi atacado desde o princípio, inclusive por Hillary Clinton, porque dizia estar aberto a negociações diplomáticas com a Cuba e o Irã.

Respondia à pergunta específica: “Você se sentaria com os líderes de nossos inimigos e negociaria sem condições prévias?” Dizia que sim.

Se a interpretação de sentar-se à mesa com Ahmadinejad for válida, claro está que o candidato democrata daria um passo adiante. Mas na retórica política, claro também está que “sentar-se à mesa” pode significar cada qual na mesa do seu próprio país, uma negociação através de intermediários, como faz a administração republicana atual.

A segunda mudança aparente na conduta de Bush é que agora, de acordo com exigencias de Nuri Al-Maliki, PM do Iraque, e de acordo com o que Obama vinha dizendo desde o início da guerra, o presidente está disposto a manter um “horizonte temporal”, um prognóstico de quando as tropas estadunidenses devem sair do país.

Lembremos que republicanos sempre repudiaram a idéia de que houvesse qualquer espécie de compromisso prévio à retirada, criticando o Congresso e Senado democratas, clamando que qualquer prognóstico viabilizaria o planejamento do inimigo a ataques mais intensos depois do retiro. Mitt Romney apanhou de John McCain nas preliminares, acusado de ter insinuado, mesmo levianamente, que favorecia tal prognóstico.

Para McCain, o compromisso aberto, sem prévias condições à retirada, ainda é essencial à "vitória" dos Estados Unidos. Além disso, negociar com o Irã, segundo sua campanha, apenas seria possível se o Irã concordasse em suspender o programa de enriquecimento de urânio.

Para evitar a lógica conclusão de que McCain vem se isolando de seu partido, e para evitar os argumentos que apontam sérias contradições nas atitudes da Casa Branca e na campanha do candidato republicano, os nomes são "atenudados".

Se o que Obama sempre pediu (ao lado de democratas) foi um prognóstico claro, agora o “horizonte temporal”, como o nomeou a administração de Bush, significa algo diferente. Não é um prognóstico, é um estimado, enorme diferença.

Se Obama quis negociar com líderes inimigos, Bush apenas negocia através de diplomatas, e jamais se encontraria com o presidente pessoalmente, enorme diferença (mesmo sendo, de fato, diferente, o mero fato de negociar contradiz a posição original do presidente, que inventou o tal “Eixo do Mal”).

O torto, então, na verdade é reto, e um McCain enigmático e incompreensível, insólito e inconsistente, cada vez mais expõe seus defeitos para deleite dos liberais.


Propaganda Política


Mais adiante, McCain aproveita mais oportunidades do que tem para atacar Obama, e acaba caindo no ridículo.

Há pouco, o senador pelo Arizona atacou Obama por ter opinado contra a escalada de tropas do ano passado, cujos resultados variam segundo a fonte, dificultando o julgamento objetivo da parte de leitores e espectadores, por mais informados. Disse que o senador democrata não podia criticar a escalada se não visitou o Iraque em três anos.

Pois, Obama esperou para que sua atitude não fosse vista como uma reação aos ditos de McCain, e viajou ao Iraque, com seu tour pelo Oriente Médio.

Automaticamente, McCain o criticou por ter sido contrário à escalada, dizendo que Obama apenas se beneficia de um plano ao qual se opôs em princípio, podendo vagar pelo Iraque com menos risco. Mas o que a visita do candidato democrata tem a ver com sua oposição à escalada? Isso seria algo que Obama deve relatar e decidir, não McCain, previamente, antes do término da visita.

Agora, o candidato republicano lançou uma propaganda que atribui a Obama a culpa pelos altos preços de gasolina, já que o democrata se opõe a escavações nas costas maritimas do país, ou ao corte dos impostos a consumidores de gasolina, no verão.

Todos sabem contudo, que as escavações nada farão para apaziguar os preços do combustível em menos de 7-10 anos. O senador pelo Illinois avisou que as companhias petrolíferas apenas ajustariam o preço do galão e o consumidor pagaria o mesmo, exceto pelo fato de que os fundos dedicados a consertar estradas e pontes como a que desabou em Minnesota no ano passado ficariam lesados. Pesquisas recentes comprovam que os fundos já estão altamente comprometidos pela economia de consumidores. Sem os impostos, ficariam inutilizados.

E, tudo isto, quando McCain não só se opôs a escavações nas costas marítimas do país no passado recente, mas também opôs-se ao uso do produto extraído, caso fossem permitidas, exclusivo aos Estados Unidos, o que jamais beneficiaria os custos da gasolina nacional.

Conforme dizem campanhistas democratas, espero que McCain continue assim. Sua retórica e contradição sempre expostas por sua própria incompetência.

RF

4 comments:

Jens said...

Hi Roy (expressão tirada dos livros que ensinam inglês por aqui).
É o seguinte, meu camarada: excelente matéria. Clara e objetiva, apresentando os com competência os dois lados da questão. Bom jornalismo é assim: simples.
Parabéns.
Um abraço.

Tânia said...

*risos*

Roy ótimo ter vc aí para poder informar sem máscara de mídia compradinha por idiotas...
Vamos lá, MCcain esta assustado com o fenômeno Obama, e nem adianta dizer que ele não é um fenômeno, é sim!!! E não sem meritos, aliás todo mérito dele.
Sabiamos que a campanha iria e irá se nivelar por acusações infundadas.
Bush e seu partido estão assinando um belo atestado de burrice, o que lamento pois muitos Republicanos fizeram por merecer esta na história deste país.

Daqui a pouco será culpa de Obama se Daniel Dantas sair ileso...

Jens said...

Hi, Roy.
Interessante o artigo Um breve contra o lero-lero, do Luiz Weis no OI.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3

Roy Frenkiel said...

Pois eh, Jens, concordo com ele parcialmente. Afinal, encontrariamos retoricas parecidas no discurso de Obama, e o que NYT fez acabou dando lenha a ataques "legitimos" de conservadores, que acusam a midia de ser abertamente liberal nos Estados Unidos. Tema que poderia ser debatido a nivel geral, etica jornalistica.

abraxao

RF