Thursday, July 24, 2008

Sobre o The New York Times rejeitar a publicação do editorial de John McCain pouco depois de publicar o editorial de Barack Obama

Podem me chamar de radical, irritadiço, ora irracional e regido pelos meus sentimentos (salve Daniel Goleman e a Inteligência Sentimental), de “do-contra”, mas não podem me chamar de inconsistente. Quando precisei defender minhas posições em relação ao papel da mídia estadunidense nessas eleições de 2008, sempre estive ao lado da liberdade de expressão, e aqui não seria diferente.

Li partes do editorial rejeitado de John McCain e o editorial de Barack Obama na íntegra, quando publicado no jornal. A maior diferença encontrada foi mais ou menos o que me atraiu em Obama nas preliminares: Enquanto McCain aproveita até momentos inoportunos para atacar seu rival, o partido Democrata e a filosofia liberal, Obama basicamente delinea – não sem clássicas retóricas políticas – o que planeja fazer quando assumir a presidência.

A principal justificativa à objeção do respeitado periódico baseia-se no argumento do candidato republicano: “Meu rival prefere vencer as eleições e perder a guerra do que perder as eleições e vencer a guerra.” O problema é que mencionando seu “genuíno interesse em vencer a guerra”, McCain jamais esclareceu o que, para ele, constituiria uma vitória.

Argumento legítimo, certamente. Porém, como seria argumentado caso não soubessemos o que escreveu McCain originalmente?

Nenhum jornal é obrigado a veicular palavras perfidiosas de nenhum dos candidatos, nem qualquer outra pessoa, por nenhum motivo particular. A obrigação, a priori, realmente restringiria a liberdade da imprensa de manter suas objeções na linha editorial. No caso do candidato ter feito referências enganosas, com ou sem a intenção de enganar leitores, é claro que o jornal tem o direito de pedir o avesso.

Porém, o próprio The New York Times como qualquer outro impresso de grande porte nos Estados Unidos, mantém uma série imensa de colunas opinativas, os “web-logs” postados na rede virtual, e os impressos na cópia física. Neles, colunistas como Paul Krugman, David Brooks, Nicholas Kristof e muitos outros escrevem o que pensam, baseando-se nos dados que provém em suas colunas, mas pelo próprio espaço conciso, seria impossível pedir que cada um deles pintasse toda a imagem para a apreciação e melhor juízo dos leitores.

Estou cansado de ler opiniões das quais discordo, com meu pouco conhecimento e experiência, claro, mas que não me parecem retratar a realidade, ora nem parcialmente. Portanto, quando o periódico assume a responsabilidade de publicar colunas opinativas, deve salientar ao público que essas são apenas as opiniões dos colunistas, e não necessariamente de toda a publicação.

Imagino que Krugman, liberal declarado, poderia encontrar a perfeita pauta se decidisse mostrar, ao seu ver, as diferenças entre os editoriais de McCain e Obama. E de onde ele tiraria a matéria?

Mesmo se McCain estivesse mentindo explicita e descaradamente, a publicação de seu editorial não seria lida como se trouxesse fatos, mas sim, bem como qualquer leitor deve considerar a fonte dos editoriais (até mesmo das informações), deveria considerar a fonte republicana. Ao mesmo tempo, mais do que uma coluna qualquer, o editorial de McCain seria literalmente uma notícia em si.

“Extra! Extra! McCain refuta Obama em editorial do Times!”

Não diria, portanto, que o jornal errou por pedir que McCain esclarecesse o que significaria “vitória” ao seu ver, mas errou gravemente em rejeitar a publicação do editorial. O erro parte não da função de editores de barrar ou permitir aquilo que mais faz jus ao periódico, mas do fato de terem publicado o editorial de Obama tão recentemente.

Enquanto muitos pró-Obama e pró-Democratas no mundo todo justificaram em sã consciência a atitude do The New York Times, particularmente não consigo justificar uma ocorrência que viabiliza argumentos legítimos aos conservadores de que a mídia liberal controla as notícias veiculadas.

Acredito que a parcialidade não exista, mas os noticiários locais, especialmente na era da “blogoesfera” atual, providenciam a leitores uma excelente coletênea de dados potencialmente beneficiários à informação de quem os acompanha, mesmo seletivamente. O mesmo ocorre com a mídia impressa. Portanto, quando um periódico como o NYT resolve publicar as palavras do candidato liberal e rejeitar as palavras do republicano, a gafe é inevitável.

Independente da veracidade nas palavras de ambos, se o NYT publica as de um, deve publicar as de outro irrefutavelmente. Ao menos, assim pensa o bloguista que vos escreve.


A Mídia e John McCain

Sim, McCain resmunga: “E eu, gente? Esqueceram de mim?”

O candidato reclama que a atenção a Obama é desproporcional à que o republicano recebe. A maioria dos analistas políticos de ambos campos concorda: “O problema é a estratégia de McCain versus a do candidato democrata.”

Enquanto Obama viajou pelo Oriente Médio e discutiu com representantes dos países centrais aos conflitos atuais, incluindo Mahmoud Abas, Ehud Olmert e muitos outros; e enquanto agora viaja pela Europa conversando com os mais importantes representantes do continente, McCain aparece em duas instâncias, uma mais ridícula do que a outra, nos anais midiáticos.

Há dois dias, viu-se saindo de um carrinho de golf com o ex presidente George HW Bush, que mal podia caminhar como se competisse com McCain pelo título de “mais idoso”. Hoje, imagens de McCain em um supermercado foram as únicas destacadas nesses dias em que o republicano atacou (e ainda ataca) Obama pelos motivos menos qualificados, pondo sua própria campanha em grande risco de cair no ridículo.

Então, pergunto aos meus leitores e leitoras: O que a mídia reportará? Obama e Abas, ou McCain e o suco de tomate dietético? Obama e Olmert, ou McCain apostando corrida em cadeira de rodas com o ex presidente Pai? Você decide.

RF

PS: Pesquisas da Gallup de 23 de Julho mostram Obama à frente de McCain por 46-42%.

3 comments:

Tânia said...

MacCain precisa se despir do Bushismo e dar forma e jeito próprio ao invés de reclamar de seu espaço na mídia.

Obama esta agindo como identidade própria efuturo governante da maior potência deste nosso redondo globo.

beijo roy

Ps.: sobre liberdade de expressão, concordo com vc podemos até iscordar mas o espaço deve ser para todos.

Jens said...

Hi, Roy.
Camarada, você vai testemunhar algo impensável até 10 anos atrás: um negro vai ser presidente dos EUA. Não sei o que isto vai representar, concretamente, para o resto mundo. Provavelmente a merda vai continuar como está. Para os estadunidenses, porém, algo vai mudar (assim como Lula mudou aqui. Nada de revolução, mas nada será como antes). Acabei de ver Barack na tevê, fazendo seu périplo europeu. Porra, o cara tem 40 e poucos anos. Um negro de 40 e poucos anos vai chagar lá. Putz, pena que o Mailer morreu, imagino o que escreveria sobre isto. O Gore Vidal (que mora na Itália) escreveu algo? Que não seja o nhenhenhém de tudo continua como está. Porra, é um negro lá. Quem é que vai explicar que porra tá aconteceu na América? Tá, fica tudo igual, mas nem tão igual assim: Roy: UM NEGRO NA PRESIDÊNCIA DOS EUA. O QUE HOUVE COM O IMPÉRIO? O MONSTRO SE MEXE. (Espero que sua trajetória não seja interrompida pelo gesto tresloucado de algum sulista ressentido. Bobagem? Ora, estamos na américa, onde todo cidadão tem o direito de ter uma AK 47 (russa) para proteger seu sacrossanto lar e fuzilar seus dsafetos).
***
Quanto ao NYTimes, apoia McCain, mas se negou a dar espaço para a demagogia. Mas o Times é o Times. O negócio dos caras é jornalismo, então...

Roy Frenkiel said...

Concordo com tudo que voce disse, Jen, tudo mesmo, tambem vejo a coisa como voce. So nao sei se temo tanto assim por uma AK47 perdida por ai. O que sim devo dizer em relacao ao Times eh que os leitores somos nos. O jornalismo, bem como qualquer outra area profissional ou artistica, esta sujeito a constante julgamento por parte do publico. Em tempos de "neti", o editorial de McCain eh vazado pela blogoesfera instituida ou nao, e acaba sendo comentado nos anais publicos. Logo, o NYT que antes poderia negar qualquer outro editorial, acaba "gafeando" um pouco ao rejeitar o editorial de McCain ano uma, mas duas vezes. Ha parcialidade no NYT? Claro que ha! E eh majoritariamente Democrata, as vezes nem tao para o bem, voce mesmo concordaria. Assim que, nao querer demagogia eh uma coisa. Negar que a demagogia de McCain seja exposta me parece mais uma forma de esconder do publico a verdade sobre o carater de ambos candidatos a Casa Branca.

abraxao

RF