Wednesday, July 02, 2008

Barack Obama, mais um político

Já vos contei que me afiliei à campanha de Barack Obama? Também doei 15 dólares de meu suado salário à sua campanha, já que meu voto é proibido, sendo eu apenas residente, e ainda não cidadão, dos Estados Unidos.

Por que vos conto? Dois motivos:

1 – Geralmente, quem aqui me visita é brasileiro e vive no Brasil, o que automaticamente significa das duas, uma: Ou você não se importa com a política local, logo quem eu favorecer fará pouca diferenca; ou você se importa com a política, no geral, e gostaria de ler uma análise objetiva da situação. Como acredito que a total imparcialidade seja produto da imaginação popular, avisando de minha parcialidade evito maiores confusões.

2 – Para o texto que agora decorre, me é pessoalmente importante não ser confundido com um hipócrita.

Quando das eleições de 2005 no Brasil, alinhei-me atrás de ninguém, e era o único, jovem ou velho, profissional ou amador, que escrevia contra Lula e, ao mesmo tempo, apoiava sua reeleição. O teor principal de meus textos, à época, era “o Brasil não pode apoiar-se na escolha do menos pior”. Ainda penso assim, e agora devo admitir que penso assim também sobre Barack Obama.

Algumas de suas atitudes me encantaram, como a forma menos hostil de atacar seus rivais, a maior honestidade nas respostas, e sua predisposição jovial, algo que Collor também demonstrou, se muito não me engano. Algumas de suas promessas fizeram sentido em Dezembro de 2007, mas hoje já significam resultados eleitorais distintos.

Obama pedia a retirada gradual das tropas estadunidenses do Iraque em 16 meses, algo hoje em dia controverso, já que a situação no país demonstra melhoras devido à escalada de tropas de George Bush ao ano passado. Era a favor de uma reforma no método de arrecadação de fundos a campanhas, prometendo realizá-la durante esta disputa, mas logo tirou o corpo fora quando melhor lhe coube. Além disso, ainda dá sinais de inconsistência quanto a sua política externa (a favor de Israel e radicalmente contra o Irã enquanto fala com judeus, mas mais diplomático quando fala para o público; contra o NAFTA de Bill Clinton, mas assegurando o Canadá que o “contra” é apenas política e retórica; entre outros casos).

Conforme escreveu Arianna Huffington, do The Huffington Post, Obama está trilhando o natural caminho político de centralizar-se. Estrategicamente falando, isso é necessário em diferentes níveis para conquistar fragmentos das bases adversárias. Lula, que era de esquerda, o fez durante 8 anos de governo, não apenas em sua campanha. McCain também construiu uma história desviada ao centro quando o tema é meio-ambiente, reforma imigratória, e procedimentos interrogatórios considerados torturosos, realizados em prisões como a de Guantánamo Bay.

O problema, segundo Huffington, é que os vitoriosos, geralmente, são os candidatos com ideologias salientadas e firmes posições. Obama parece estar se movimentando erroneamente à direita, para cair de costas no centro, ambas posições descartáveis estrategicamente.

Procurando aumentar sua base de eleitores evangélicos, Obama declarou ontem que nomeará um comitê para delinear “Iniciativas Baseadas na Fé” à nação. Para um candidato liberal, esse talvez seja o maior e mais bizarro dos erros. Liberais-Democratas são famosos por persistir, em todos os dilemas sócio-morais, na separação entre o estado e a religião. Assim, que diabos seriam “Iniciativas Baseadas na Fé”, ou carinhosamente apelidadas “F.B.I.”?

Adiante, McCain explorou uma das importantes decisões judiciais da semana passada para atacar Obama. À semana passada, a Suprema Corte decidiu que o estupro de crianças não poderia acarretar a pena de morte. Obama, que se disse contrário à pena máxima salvo em raros casos, diz-se contrário a essa decisão. McCain diz que Obama critica a corte conservadora de Bush, mas que, nesse caso, quando a corte delibera uma decisão democrata, o senador pelo Illinois repentinamente discorda da mesma, relembrando ao populacho que o candidato democrata apenas diz o que melhor seria visto pela maioria dos eleitores.

A conclusão é o título desse texto: Barack Obama é apenas mais um político, e John Fitzgerald Kennedy o era também, como Bill Clinton ou Jimmy Carter, dos piores aos melhores. Porém, base a base, comparemos Obama a McCain e deixemos claro porque meu voto iria para o democrata:

1 – Oriente Médio: McCain não duvida, nossos inimigos estão no Oriente Médio e são os mesmos inimigos de Israel. Obama foi visto como anti-sionista, e a campanha de Clinton conseguiu ligá-lo a dois pastores anti-semitas da comunidade afro-americana. Enquanto o som do baile foi indicado pelo republicano, o democrata fez só dançar, e acabou posicionando-se, perante a comunidade judaica, como um bom “americano”, tentando acalmar a insegurança de uma base essencial ao estado da Flórida e New York. Errado, acredito que seja. Necessário, talvez, mas será mesmo que estamos tão carentes de mentira e hipocrisia que precisamos mais dela para confiar em algum candidato?

2 – Enquanto McCain virtualmente não se importa com os recursos usados pelos EUA para “estabilizar” o Iraque, Obama ao menos pertence à base que o pressionará a fazer o melhor possível guiando uma retirada paulatina dentro do contexto atual. Enquanto McCain parte da base acusada de entrar no Iraque pelo petróleo (algo que se concretiza ainda mais com a possibilidade do retorno das companhias petrolíferas do país ao Iraque), Obama parte da base que deseja satisfazer a opinião pública mundial e acabar com o conflito o quanto antes.

3 – Economicamente falando, ambos partidos protegem seus interesses, e se alguém o faz mais, esse alguém é provavelmente republicano, racicínio de democrata, olhem lá. A esperança é que, seja quem for, assuma reformar o NAFTA para prejudicar menos o mundo e ajudar mais a própria população estadunidense.

4 – Quanto às famigeradas “F.B.I.”, traço um paralelo ao comentário de Carlson Tucker da MSNBC: “Se o assunto for segurança nacional, McCain vence só pela natureza do argumento.”

Se o assunto for iniciativas baseadas em morais religiosas, os republicanos sempre perderão. McCain é contra o aborto, contra o casamento entre homossexuais e não me espantaria que seu vice fosse alguém como Mike Huckabee, que procura reformar a constituição para adaptá-la ao Novo Testamento protestante. Ponto final.

Esse gigantesco texto já faz o resumo da semana. O Gallup de hoje mostra Obama com 47-42% de McCain.

Até a next,

RF

10 comments:

Anonymous said...

Embora eu não siga com frequencia, acho que devo me importar com o que acontece com os senhores do bem e do mal (sorry, eu não consigo mudar meu olhar sobre os EEUU) e torcer muito para que Obama seja o novo presidente.
Vc poderá se perguntar: então pq ela lê este blog? Te responderei: pq eu gosto da sua argumentação e se tenho que me informar que seja através de alguém de quem gosto né? rs...
Beijo!!!

Anonymous said...

Não tinha contado não. Nem pra mim... :(
Rs

José Leite said...

Meu caro Roy:

Já há muito que cá não vinha. Ao lê-lo posso afiançar que na generalidade também concordo em quase tudo, excepto em pequenos detalhes que não conseguem desmoronar o edifício de verosimilhança que construíu à volta de Obama.

Estou fazendo um romance numa ilha deserta em que duas personagens são confrontadas com situações pouco habituais.

Agora, falam dos USA. Hoje - 4 de Julho - há um post elucidativa.

Se quiser acompanhar-me neste «aventura» faça o favor!...

Os comentários estão cortados por motivos vários... daí certo recato.

Um abraço e continue com essa capacidade analítica plena de fulgor e de bom senso.

rouxinol de bernardim

Anonymous said...

Manozinho, gostei muito da tua argumentação, eu, se estivesse poraí, tbm votaria no Osama! Agora num sei não se não é uma heresia vc, aqui e ali, comparar o pobre com o digníssimo ainda nosso presidente Lula da Silva. Tomara que o negão num te leia, né? rs. Bjo, querido!

Anonymous said...

pelascaridades: é Obama, OBAMAAAAAA kkkkkkkkkkkk :-|

Luma Rosa said...

Eu me interesso pela política "local" dos EUA, porque ao final influencia todo o resto, no entanto, essas eliminatórias são tão cansativas para para nós que não somos americanos, que deixo para eles decidirem. O que valerá a minha opinião? Mas a tenho e reservo para discussões entre amigos. No mais, estou sim, prestando bastante atenção no comportamento, tomada de atitudes e principalmente das decisões eleitoreiras. Neste ultimo caso, normal que Barack esteja se "moldando" à política central da casa, assim como fez Lullinha, não é mesmo?
Bom fim de semana! Beijus

Tânia said...

Como falo mal do Lula até hoje...Só posso dizer que através das suas ponderações digo que Obama tem meu voto (de confiança é claro).

Regina Ramão said...

Este é o velho Roy que conheço. Realista.
Na verdade o que toda a humanidade deseja é que exista um super-homem para dirigir o seu destino. Ou quem sabe vários, trabalhando em equipe, sendo ao menos um por continente. E, quando a situação apertasse, bastava passar um torpedo pedindo que um deles resolvesse o problema. Mas isto é ficção hollywoodiana. Os homens são apenas isso, homens, coms seus vícios e virtudes, e sua gana pelo poder. Que vença o menos pior. Que, assim como você, acredito ser Obama.

Bjo

Re

Roy Frenkiel said...

A frasesinha que me ocorre e esta, Re: "Quem nao vota e nao faz nada, nao faz nada. Quem vota e nao faz nada, contribui ao nada que ai esta. Quem vota e faz alguma coisa, alguma coisa faz. Quanto faz, depende do que faz. Nao votar nao e uma opcao, por respeito a nossa historia."

Bjx

RF

Roy Frenkiel said...
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