Wednesday, May 07, 2008

Sem knock-out, Obama ainda merece a coroa

No dia 22 de Abril, quando Pennsylvania contava suas urnas na primária mais importante desde a Super Terça-Feira, escrevi que não faria nenhum “spin” à vitória bem atribuida a Hillary Clinton por 10% dos votos, 55 a 45. Não escrevi que Clinton já era a favorita a esse concurso, e que suas margens diminuiram drasticamente mesmo com a controvérsia do Rev. Jeremiah Wright, e mesmo com os comentários de Barack Obama sobre a amargura de interiorinos e sua tendência de apelar à religião e às armas ao invés de votar de acordo com interesses econômicos.

Foi esse “spin” que a senadora de New York decidiu dar à sua base quando perdeu ontem no grandioso estado de North Carolina por 14 pontos percentuais, 56-42%. Seu oponente, dizia ela, era favorito no estado e sua vitória dificilmente lhe valeria no plano geral. Quando conseguiu uma raquítica vitória em Indiana pela margem de erro de 3% (51-49%), disse em seu discurso:

“Há um tempo atrás meu oponente disse que eu venceria a Pennsylvania, ele venceria a North Carolina, e Indiana seria o critério de desempate. Pois bem, desempatamos ao meu favor, e agora é velocidade máxima à Casa Branca!”

Aqui, faço meu trabalho de caudilho presenteado por Jens e honrosamente aceito pelo bloguista que vos relata do sonho americano, e digo o que até hoje não podia dizer, e que tampouco pensava cabível:

Hillary Clinton precisa, urgentemente, tomar um chá de se-mancol e cair fora dessa corrida presidencial antes que o partido Democrata seja realmente prejudicado.

Justamente pela volta do Rev. Wright e por seus comentários em Pennsylvania, Barack Obama encontrava-se em uma situação mais desfavorável do que Clinton, mas apenas no que dizia respeito ao futuro, às próximas primárias incluindo as que ocorreram ontem, porque na contagem do voto popular e dos delegados declarados, Obama vence com praticamente nenhuma chance à rival, e pela maioria dos cenários, mesmo contando os votos de Michigan e Flórida.

Indiana e North Carolina tinham juntos mais delegados disponíveis do que a soma de todos os delegados ainda disputáveis com as próximas primárias. Faltando apenas 217 desses em jogo, Barack Obama tem uma sólida vantagem de 1,836 a 1681 (CNN) de Hillary Clinton, ou seja, 155 delegados os separam.

Caso Clinton vença todos os concursos por margens decentes, ela pode até se aproximar, mas jamais passará Obama nesse número, e com a vitória astronômica que o senador de Illinois teve em North Carolina, Clinton não tem chances de recuperar a vantagem de seu rival no voto popular.

Enquanto isso, John McCain quase não ganha espaço na mídia, mas trabalha pelas eleições de Novembro com espaço e tempo em suas mãos para tecer a estratégia. Em seu discurso, Obama o atacou e passou por cima de Clinton, apelando aos super-delegados discretamente a terminar o conflito interno e ajudar o partido a se preparar para Novembro.

Nos dias que antecederam as primárias de ontem, a mídia se apoiava no momento de Clinton e procurava mudar a imagem já pintada a uma mais emocionante e disputada. Chegaram até a prever que a senadora pudesse vencer dignamente em Indiana e disputar North Carolina ponto a ponto com Obama. O que se viu, e o que de certo modo até se sabia, foi muito diferente.

O fato é que o país com o governo de George W. Bush se distanciou muito do trajeto evolutivo que teve com os oito anos da presidência de Bill Clinton, que não foi o mais justo dos presidentes, mas que tinha uma filosofia mais próxima ao que chamaria de um governo real. Encarar a possibilidade de mais quatro anos da mesma filosofia seria o cúmulo dos absurdos. Penso seriamente em me deslocar daqui sendo esse o caso, apesar de ser um pouco cedo para ameaçar o “ame-o ou deixe-o”.

Precisamos de um candidato viável, e ninguém melhor do que Obama para mostrar o contraste do que temos em nossas vidas atuais, e o que queremos ao futuro. Se algum super-delegado ler meu blogue, por favor, peçam a Clinton para parar de tomar suas bolinhas e começar a fazer campanha por Obama.

West Virginia vem aí na semana que vem, estado que pesa ao lado de Clinton. Mas isso nada muda perante seu fracasso já consumado. Se ela for a nomeada, não será pela escolha da população, aparentemente.

RF

6 comments:

Anonymous said...

Roy, queridão, acho muito legal vir ler suas crônicas a respeito da eleição presidencial americana. Apesar de me considerar uma anta a respeito do assunto, leio cada palavrinha tentando extrair meu melhor entendimento disso tudo.

Será que a loirinha leva pau mesmo?

(que expressão ridícula! afe! rs)

beijãozão, mocinho! ;)

Anonymous said...

Embora eu não goste nem um pouco de ter que me preocupar com o qu acontece nos EEUU, não dá pra ser um avestruz. O resultado destas eleições interessa e muito ao mundo e a nós, brasileiros.
Concordo que Clinton deveria abandonar urgentemente esta corrida, mas político nao larga o osso enquanto puder segurá-lo, né? rs...
E continuemos torcendo para que a escolha da população continue sendo pro Obama e que ele possa começar logo sua campanha!
Beijo
ah... gratissima pelo link, mocinho!

Luma Rosa said...

Você viu o texto do Idelber Avelar?

http://tinyurl.com/5bazfd

Beijus

Roy Frenkiel said...

Adorei a recomendacao, Luma, e agora sei como melhor traduzir "caucuses" (assembleias) :-)

Obrigadaxo,

RF

Anonymous said...

Que pena que ela vai ficar fora.

Luma Rosa said...

:) Beijus