Tuesday, March 11, 2008

Mississipi em Chamas

Não é dos textos mais concisos que já escrevi, mas passa uma idéia básica sobre o relacionamento entre a corrupção e o governo dos Estados Unidos. A resposta ao pedido antigo de Jens está no BRTV Online. Clique aqui para ler sobre o "Governo e seus Pecados Capitais".

Hoje as eleições pré-presidenciais para o partido democrata ocorrem no estado do Mississipi. Apesar da vitória de Barack Obama ser praticamente inevitável, Hillary Clinton aproveita de suas exaltadas vitórias nas primárias do Texas e de Ohio, vitais para seu permanecimento como candidata à nomeação.

No entanto, a história só é bem contada quando dizemos que Obama venceu mais delegados em Texas por ter surrupiado o “caucus” do estado. É isso mesmo: Texas tem um sistema diferente de qualquer outro estado americano, o infame “two-step”, ou “dois-passos”, carinhosamente apelidada pela dança ocidental conhecida na região. As primárias ocorrem antes do “caucus”, e assim que terminam dão espaço ao início do segundo.

A principal diferença entre “caucuses” e primárias, é que nos “caucuses”, nos quais Obama teve maior índice de sucesso, o voto é aberto, eleitores fazem fila para anotar seu nome – uma vez, obviamente, apenas – em uma espécie de abaixo-assinado público, elegendo o candidato sem privacidade alguma. Em Texas, pois, Obama venceu e assim levou a soma maior de delegados para casa.

Antes das primárias de Ohio, Texas, Vermont e Rhode Island, os ataques de Clinton começaram a atingir Obama mais certeiramente. A propaganda mais efetiva, segundo analistas dos jornalões televisionados, foi a da campanha da senadora de New York, mostrando uma casa escurecida pelo anoitecer profundo, despertada pelo toque inusitado do telefone às três horas da manhã. O eleitor é praticamente ameaçado: “Quem você quer atendendo o telefone da Casa Branca às três horas da manhã?”

O senador de Illinois sentiu o efeito, e passa a contra-atacar com maior agressividade. Clinton também ganhou popularidade quando apareceu ao lado de Amy Poehler, do cômico programa Saturday Night Live. Mas o mesmo programa usou da propaganda efetiva de sua campanha para criar outra cena, dessa vez nada simpática à ex-primeira dama. A imagem dos candidatos varia diariamente, e reflete-se ora perversa, ora confusamente vitimida.

Obama, por exemplo, pode ser o inexperiente senador de Illinois por apenas dois anos, que mal possui conquistas públicas de verdadeiro peso se comparado a todos os candidatos à nomeação pelo partido democrata, incluindo John Edwards. Em matéria de política externa, há quem argumente que jamais poderia argumentar contra John McCain, herói combatente da guerra do Vietnã. Por outro lado, o fato de ser novo no senado e inspirar uma grande massa de eleitores jovens ao interesse político através de gritos por justiça social, fazem com que muitos prefiram Obama do que alguém mais contaminado pelo ambiente washingtoniano.

Mississipi não importa tanto quanto importa Pennsylvania para nenhum dos candidatos. Com apenas 33 delegados a vencer, divididos proporcionalmente entre os dois candidatos, o estado sulista não apresenta a mesma significância que apresenta o grande estado disputado apenas no dia 22 de Abril.

Mesmo assim, a campanha esquenta quando, iniciando a semana sob a luz do escândalo sexual envolvendo uma “prostituta política” do governador democrata de New York, Eliot Spitzer, Bill Clinton aplica um golpe que pode até tornar-se popular, mas também é uma faca de dois gumes. Disse que o rival de sua esposa daria “um excelente vice-presidente”, o que muitos analistas consideram o bilhete dos sonhos do partido democrata.

A resposta de Obama, ao meu ver, foi certeira, apesar de que Pat Buchanan acredita não ser esta a imagem que os eleitores mais gostam do senador de Illinois, e sim sua capacidade de falar sobre os assuntos que o mais interessam, mesmo que seus discursos usem de muita retórica e pouca praticidade. Disse que Clinton argumentara, em um passado breve, que seu rival seria inexperiente, mas depois o convida à vice-presidência. Disse que seria apenas usava de boas retóricas e discursos nem sempre originais, mas o convida à vice-presidência.

O que Clinton se esquece, ou finge que não se lembra, é que Obama por enquanto vence em número de delegados e encosta, a cada “caucus” e primária vencida, no número de super-delegados. Ainda assim, a convenção Democrata de Denver pode ser irritante para muitos eleitores caso a situação assim permaneça. Afinal, Obama não vence sozinho. Apesar do maior número de votos e estados a seu favor, Clinton venceu em estados maiores e mais inclinados a votar por um presidente democrata nas eleições gerais.

A decisão não será fácil. A novela Clinton v. Obama continua.

RF

3 comments:

Jens said...

Roy, é engraçado, parece que a eleição está sendo decidida agora entre Obama X Hillary. Acredito que, encerradas as prévias democratas, McCain terá que fazer um puta esforço para provar que a eleição pra valer ainda não aconteceu. Estranhos, esses gringos...
Um abraço.

Regina Ramão said...

Oi, guri!

Gostaria que repercutisses os estragos ou não na campanha da Hillary com o escândalo envolvendo o governador de Nova Iorque que a poiava abertamente.

Beijo
Saudades
Obrigada pela visita lá no Neurótika
=)

Roy Frenkiel said...

Jenzinho, querido, o negocio eh mais ou menos o seguinte: McCain ganha e perde. Primeiro, porque a atencao maior esta na campanha dos dois pre-candidatos democratas, ele perde. Segundo, porque ele ja pode trabalhar em sua estrategia as eleicoes gerais, mesmo que tenha que dar tiros duplos, ele ganha.

Mas obviamente ha quem diga que o partido democrara sofre muito com essa indecisao, especialmente pela natureza da "guerra" travada entre os dois rivais democratas.

Obrigado pela visita inusitada, Re! Resposta acima. Abraxao, Jens!