Wednesday, February 13, 2008

"É o eleitorado, estúpido"

Obama vence em grande escala nas primárias Chesapeake – McCain consolida sua nomeação

Não foram primárias simbólicas, e se Hillary Clinton já estava preocupada depois das vitórias de seu rival no final de semana, agora pode estar se arrependendo de não ter feito melhores campanhas nos estados de Virginia, D.C. e Maryland. Barack Obama venceu as três primárias por vinte pontos percentuais no mínimo em cada. Já era vitorioso em Maryland antes das urnas fecharem. De acordo com qualquer veículo, Obama vence por aproximadamente 100 delegados (sem contar super-delegados) a mais do que Clinton.

Outra vantagem ganha por Obama foi comprovar que pode conquistar todas as classes do eleitorado. Nos últimos sete estados, especialmente os três que elegeram ontem o nomeado democrata, o senador por Illinois venceu entre negros, brancos, acadêmicos e ativistas, além de ter vencido entre as mulheres em Virginia, uma das bases mais fortes de Clinton. Também consta nas pesquisas eleitorais de ontem que um número considerável de independentes e até republicanos votaram por Obama.

Michigan & Florida - Delegados Perdidos?

Al Sharpton, reverendo e ativista político pela causa dos negros nos Estados Unidos, declarou-se neutro, mas disse ontem na MSNBC que permanece neutro para questionar o processo eleitoral sem vínculos. Pode até ser tarde para mudar as regras do jogo no que diz respeito aos super-delegados, mas Sharpton disse que não admitiria ver as regras mudadas no que se refere à Flórida e a Michigan.

O grupo de Clinton deseja que ambos estados tenham seus delegados contados a seu favor, mesmo depois do compromisso democrata de não posicionar seus delegados na Flórida ou em Michigan, e mesmo depois de assumido o compromisso entre os candidatos de não realizar suas campanhas nos dois grandes estados. Além disso, em Michigan apenas o nome de Hillary Clinton constava no bilhete. Não havia chance alguma de que os demais candidatos vencessem. E, se há alguma lógica nessa punição eleitoral, era justamente pelo fato dos dois estados serem grandes e importantes demais para tão pouco tempo de campanha democrata.

Minha escolha

Sinceramente, decidi que votaria em Obama, caso tivesse essa oportunidade, a partir do momento que Clinton gargalhou em júbilo por sua vitória na Flórida. De acordo com as pesquisas, uma das maiores influências no estado foram os votos antecipados, onde muitas pessoas aproveitaram a oportunidade de enviar o nome escolhido às urnas antes da data planejada, o chamado “voto dos ausentes”. Isso significa que Obama poderia ter vencido ou diminuído a margem de Clinton, assim vencendo maior número de delegados, caso tivesse investido em campanhas locais. Clinton tentou puxar a si um mérito que não tinha, uma jogada explicitamente política, sem o menor cunho social, e sua exigência pela contagem desses delegados me parece um truque sujo, incabível a alguém que pretende a liderança da nação.

Apenas escrevo esses últimos dois parágrafos para ilustrar o nó em minha cabeça quando chega o momento da decisão. Quem seria o melhor presidente? Pois, no momento, Barack Obama pode não ser a melhor opção, mas é a opção do povo. Outro motivo de minha escolha é baseada além da Supertuesday, após suas últimas vitórias expressivas, depois de perceber que a população realmente pode eleger um candidato menos convencional, menos politizado, menos polarizado.

Conquistando a confiança de eleitores independentes e até mesmo confortando republicanos que não vêem em McCain uma opção lógica à nomeação de seu partido, Obama também demonstra que pode trabalhar melhor com os republicanos, algo que Clinton jamais fez e nem poderia, por ser talvez a figura mais odiada do partido na última década.

A espera de um milagre

Pelos republicanos, Mike Huckabee poderia ter vencido em Virginia e levado os 63 delegados (60 delegados e 3 super-delegados) que o estado outorga exclusivamente ao vencedor. Mas não venceu, e John McCain acabou tirando as últimas esperanças de Huckabee, que apesar de tudo ainda não percebeu-se completamente derrotado. E alguém poderia me explicar o que Ron Paul ainda faz na corrida eleitoral? O que esse processo esconde? Há algo bizarro nisso tudo, pelo menos para o bloguista que vos relata de Miami.

Os verbos do profeta

O fato é que Barack Obama, em seu discurso em El Paso, Texas, causou ao âncora Chris Mathews da MSNBC um sentimento que “sobe pelas pernas”, de acordo com as palavras ditas pelo próprio. Não senti o mesmo que Mathews, infelizmente, mas percebi que o jovem pré-candidato procura transcender das primárias e já começa a atacar a política de McCain, respeitosamente. Outra percepção pessoal é a de que os discursos democratas, especialmente os de Obama, visam consolidar uma base populista, e baseiam-se estritamente em conflitos e injustiças sociais. Os candidatos do partido republicano falam em dinheiro, em trabalho, e em produção, além dos valores morais que querem empurrar goela abaixo da nada indefesa população.

Woman is the nigger of the world

Há um certo fator na opção por Obama que me incomoda. Se John Lennon estava certo e “a mulher é a negra do mundo”, seu protesto pode até fazer sentido. Há mais pessoas concordando eleger um negro do que uma mulher? A grande realidade é que não creio que alguém tenha essa resposta, mas seria algo triste.

Clinton is a Clinton is a Clinton

Mas Clinton ainda é uma Clinton, e sua campanha ainda me parece extremamente “Washingtoniana”. Isso apenas me fez concluir que, se a população está disposta a candidatar Obama mesmo que esse corra o perigo de se perder entre os ataques sujos dos republicanos que ainda virão às vésperas das eleições gerais, é porque realmente está disposta a ver algo novo na Casa Branca.

Não é Obama... É o eleitorado, estúpido.

RF

1 comment:

Jens said...

Yeah! O Cavaleiro Negro atravessou o Potomac.
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Mudar as regras no meio do jogo? Madame Hillary quer ganhar no tapetão. As elites brancas são todas iguais.
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Hillary é mulher? Estranho, não parece.
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Um abraço.
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Pro alto e avante!