A largada ao ano político de 2008 já foi dada com o "caucus" do estado de Iowa, o primeiro nos Estados Unidos a escolher o predileto candidato de cada partido.
Em princípio, Barack Obama vence com 37% dos votos democratas, até mesmo em distritos mais abastados, ou em regiões de etnia branca predominante. John Edwards chegou em um segundo lugar apertado contra Hillary Clinton, com apenas um por cento a apartá-lo de sua rival, dona do apoio do estabelecimento.
No lado dos republicanos, a linha de corrida claramente se alargou. Mike Huckabee vence de lavada, com 35% dos votos contados a seu favor. Vence de um distante segundo lugar, o "mormon" - linha religiosa que acredita que Jesus apareceu para os nativos americanos - Mitt Romney, retendo 25% da escolha pública, e de um aperto maior ao terceiro e quarto lugares entre Fred Thompson, que mal campanha, e o experiente John McCain, ambos sem muitos contribuintes.
A notícia da noite foi o retiro do ex-esperançoso democrata Chris Dodd, que se ausenta depois de um sétimo lugar distante, com apenas um representante potencial ao congresso vencido. Mesmo tendo se mudado ao estado com sua família para aproveitar o embalo de sua campanha, não conquistou o apoio necessário. Mas, Dodd não tem a mesma importância que têm Obama, Edwards ou Clinton. Joe Biden, que terminou em penúltimo lugar, também anunciou o retiro da candidatura. No lado democrata, a briga começa a esquentar.
Nos discursos imediatos após estabelecido o resultado aos 97% dos votos contados, todos os candidatos pronunciaram palavras positivas. Criticaram apenas o governo atual, ou salientaram os problemas que procuram resolver, mas não trouxeram viáveis soluções à tona, nem mesmo combateram o posicionamento de outros candidatos.
O resultado democrata demonstra que Iowa pode terminar sendo como foi para outros candidatos potenciais no passado, inclusive Bush Senior, quando perdeu para Clinton, os meros quinze minutos de fama. Até o 29 de Janeiro, dia em que o estado da Flórida deve eleger seu candidato em ambos partidos, muito pode acontecer. O próximo estado, New Hampshire, já professa Edwards como vencedor. Estados maiores tendem a escolher Clinton que, francamente, passa a perder alguma força.
O motivo não só se reflete no resultado dos debates de 2007, mas também na forma e no estilo da própria campanha. Os noticiários mostram uma Clinton engajada em influenciar eleitores com um certo ar elitista, e seu engajamento, segundo comentaristas políticos de canais como a CNN e o NBC, ou jornais como o New York Times, nem se compara ao engajamento de seu marido na época de sua primeira candidatura.
Além do técnico, da própria reflexão na trajetória do conflito no Iraque ou, cada vez mais enfatizada, da preocupação crescente pela economia que aparenta decair, há no ar uma divergência de ideais e morais que parece intencionada a chegar em um denominador comum a utopias diferentes. No fim, todos querem o restabelecimento dos valores ditos americanos - historicamente ignorados, mas também historicamente almejados - que se perderam nas últimas decadas.
Tanto Huckabee, conservador e ex pastor batista de altos conceitos religiosos e uma conexão espantosa com o NRA (Associação Nacional de Rifles), quanto Obama, candidato que propõe mudanças radicais aos conceitos políticos atuais, querem viver em uma nação distante da qual a maioria observa com total desdém. Ou a palavra certa seria medo?
POVP (Ponto de Vista Pessoal)
Sei que há muitos que se preocupam com o radicalismo da esquerda. O alarde pelas malícias supostas de Chavez enquanto há outros políticos cometendo diferentes, mas terríveis, atrocidades e não recebem a mesma crítica, é prova de que o mundo ainda compra idéias mastigadas pela mídia. Não importa que os regimes totalitários mais opressores dos tempos tenham sido de direita, como o nazismo, o fachismo, o totalitarismo latino-americano e o militarismo espanhol, em comparação a algumas poucas nações esquerdistas que adotaram o sistema por anos sem fim, e às menores ainda em quantidade, que prevalecem até os dias de hoje. Não importa que os maiores conflitos do mundo não se resumam a esquerda ou direita, porque na África e no Oriente Médio não se pode enxergar o conflito nesses termos. O que importa é espalhar o medo pela esquerda, e o medo da recessão, e a exaltação da crise doméstica.
Contudo, não há verdadeiro radicalismo do lado de Barack Obama, que recebe apoio financeiro ainda maior do que Clinton, ou no mínimo equiparável. O radicalismo de Huckabee parece o mesmo do que o radicalismo de Bush, ou qualquer outro candidato republicano. Não existe um modo de solverem-se das mãos de seus contribuintes. Como fariam para romper promessas a quem mais ganha com o trabalho alheio?
Sim, há uma crise, e essa é a pior constatação. A crise existe enquanto soldados americanos morrem no Afeganistão e no Iraque, enquanto bombas e tiros e arames farpados farpam, matam e ferem cidadãos e cidadãs desses povoados complexos. Existe enquanto, como formigas de formigueiro pisoteado, vêem-se nas ruas com a iminente situação imobiliária, pessoas trabalhadoras e de um bem que deveria ser melhor considerado, sem destratar a dignidade humana de pagadores de impostos. O mesmo segue enquanto o preço da energia mais básica ainda contradiz os possíveis ganhos da classe média baixa, e das mais pobres classes sociais.
O problema é que nenhum dos candidatos realmente mudará a face do governo, à não ser que o princípio de sua escolha seja a mudança. Comentaristas políticos dizem que em tempos de crise, a mudança raramente é uma opção. O conservadorismo ganha espaço quando não ressurgem miraculosas soluções para intermináveis dilemas sociais e internacionais.
Contudo, Bush conseguiu mudar - para pior, segundo a maioria – o sistema dos Estados Unidos a um ponto quase irreconhecível da era de Clinton. O país enfrenta severa disparidade educacional, e ainda existe nele um diferencial separatista entre as etnias.
Um dos maiores enigmas é como resolver o estado dos imigrantes ilegais, que atráem-se às novas fronteiras e acabam, muitas vezes, contribuindo ao crescimento econômico do país tanto quanto todos os imigrantes locais já contribuíram. E entre irlandeses, italianos, judeus, e os originais ingleses anglicanos, os únicos verdadeiramente nativos nunca se integraram à cultura do país: seus índios.
Seria Obama capaz de causar o mesmo impacto positivo que Bush causou negativamente? Seria Edwards capaz de cumprir com suas promessas? E Clinton, teria governo diferente do que já conhecemos da parte de seu esposo, ex-presidente?
Um dos fatos interessantes para ambos partidos foi o papel do financiamento de campanhas para os segundos, terceiros e quartos lugares. Thompson praticamente não recebeu contribuições, se equiparado a Romney ou Huckabee, mas chegou em terceiro lugar. Romney gastou seis vezes mais do que Huckabee, e chegou em um distante segundo lugar. Edwards, na mesma proporção de seis contra um, recebeu muito menos dinheiro do que Clinton, mas chegou a sua frente. Estariam os interesses capitalistas mudando? Alteram-se?
Preferiria que apenas democratas concorressem, sinceramente. Os republicanos simplesmente não oferecem às classes mais prejudicadas, o auxílio necessário para um imediato crescimento. Se não se trata de um conservadorismo religioso, trata-se de um conservadorismo bélico. Se não for bélico, é econômico. Mas o conservadorismo há muito apenas aumenta a magnitude do problema. Não foi desenhado para isso, mas é o que ocorre.
Entre os Republicanos, McCain é, de fato, o mais experiente. Discorda de Bush em sua política externa, mas não concorda com uma grande parte da população que pede o fim do conflito. A mensagem é sempre de terror, terror e mais terror, mas o lado dos terroristas, ou a diferença das violências nunca são discutidos ou explicados.
Entre os Democratas, as opções apenas sinalizam algo que todos temíamos e sempre tememos: Temos mais uma disputa adiante entre o melhor dos piores. Aqui, uma espectadora da CNN concorda comigo. Disse que adoraria poder eleger entre os melhores dos melhores. A realidade, contudo, é outra.
Com a largada, Janeiro será um mês de intensas disputas. Se Obama realmente tem o pulso necessário, que mais parece a pertencer a Edwards no momento, e concorrer contra um candidato mais popular do lado republicano, seria o país capaz de elegê-lo?
Iowa foi apenas o começo. Ainda há muito a ver.
Por Roy Frenkiel
Friday, January 04, 2008
Obama vence em Iowa, mas Huckabee também
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