Monday, December 31, 2007

Arre! 2008 a vista!

E chega o 31 de Dezembro de mais um ano... O vento segue levando, a lua gemendo, o tempo cantando e o sol trafegando os cosmos siderais em toda sua redundância. Parece poesia, mas é fatídico, o brincar e chacotar com as palavras que expressam o que os olhos percebem. Assim mesmo é que sinto como se todos - ou maioria - sentissem como eu, que 2007 não tenha lá sido dos melhores anos de nossas vidas.

Nos Estados Unidos a situação econômica realmente piorou. Na Flórida, por exemplo, enquanto a cidade ainda não se recuperou dos furacões de 2005, o fato de que o negócio imobiliário esteja completamente parado prejudicou tanta gente que mesmo havendo a necessidade do trabalho, há poucas verbas a investir na contratação de mão de obra ou compra de materiais. Não falo apenas do setor imobiliário, mas das pessoas todas essas que compraram casas e apartamentos com financiamento oscilante e acabaram oscilando para baixo. Muitos perderam seus imóveis em uma epidemia que lembra, paradoxalmente, a praga bubônica ancestral. Propietários mais seguros encontram sérias dificuldades para alugar suas casas pelo preço necessário para garantir a continuidade da segurança. Os poucos que se beneficiam, todos sabem quem são.

Fiz daqui minha pátria mais esse ano do que em qualquer outro, enquanto o ciclo começava e minha mãe perdia sua casa como tantas pessoas outras. Foi um tempo difícil, em que ela não encontrava emprego digno e sua saúde ainda se recuperava de uma queda abrupta antes do primeiro de janeiro passado. Seus esforços para salvar a casa foram tantos, que apenas em última instância soubemos do fracasso iminente, com dez dias nas mãos para usá-las a empacotar nossas bugigangas e encontrar outro lugar a morar. Encontramos.

Nos mudamos a um apartamento mais barato do que o esperado em princípio. O dono parecia e ainda parece uma pessoa honesta. Depois de alguns meses, descobrimos que ele também perderia o apartamento, assim como tantas pessoas outras. Ainda perdia a casa em que morava, e sua renda via-se cortada pela escassez de trabalhos. O sujeito é profissional encanador, marceneiro, eletricista, o verdadeiro handy-man vulgo conhecido por essas bandas americanas. Infelizmente, enquanto o negócio imobiliário continuar tão péssimo negócio, ninguém incomodar-se-á com uma ou duas luzes rotas ou goteiras meramente irritantes.

Em se tratando de meus estudos creio que pouco posso reclamar. Cursei nove classes, nas quais seis saí com a nota máxima e outras três com a segunda máxima. Nada mal para quem se manteve entre as crises e as economias, que, aliás, salvaram minha vida. Mesmo que não as tivesse quando mais as precisei, as tive parcimoniosamente ao longo do ano para segurar as barras em época de estudos em que trabalhei menos. Segurei.
Antes do fim do ano letivo, perdi meu carro. A perda não era esperada, porque era um bom carro. Tive um pequeno acidente com o chassis do Corsica menstruado de ’96 em Dezembro do ano passado, e no início desse Novembro encontraram empolgadamente a lataria do meu carro, o que com o calor deixou um rombo e do abraço o prejuízo então findado. Foi o que a mim acometeu, e à minha mãe que mantinha o segundo veículo da família, o único outro, ocorreu também a perda de seu carro com pouco mais esperança do que o meu. Foi-se o motor a meia estrada, e, acreditem, ela ainda gastou para jogá-lo fora.

Sem carro em Miami, a falta de locomoção levou a um certo desespero. Uma decaída severa de meu emocional, uma quebra desesperada. No entanto, compramos um carro em conjunto e nos criamos intra-dependência quase conjugal, eu, mamãe e Yaniv, meu irmão caçula. Sim, senhoras e senhores leitores, 2007 foi de dificuldades e muitos azares.

Mas a sorte também existe, e não falo apenas das notas máximas e do ingresso que finalmente tive de meu intuito jornalístico. Falo de Liliane, minha amada, que me visitou desde o início até o fim do ano em três vezes alucinantes de muita paixão, carinho e amor. Falo de sua existência em minha vida, e da existência de bons amigos, mesmo que poucos, todos a somar um calor verdadeiro originado do amor que recebo e posso expressar. Certo, com dificuldades quando se trata dos amigos, e para isso existiu a Liliane, que me apóia e apoiou com toda sua crença, que me estimula, que me faz ter vontade de crescer e vencer, que me suporta, que me é leal e que tem de mim toda uma lealdade que nunca pensei que pudesse ser tão fácil retribuir. Essa é minha Lilith, dos altos papos e da aprofundação mental e espiritual, mesmo ao ateu que não crê em espíritos, mas que adora a imaginação. Essa é quem a mim deu a oportunidade de encarar a previsão do futuro ao lado de alguém e seu filho Rafael.

Não sei o futuro. Não sei o que me espera em 2008. Sei que acordei hoje e muitas outras manhãs com vontade de seguir crescendo, apesar das dificuldades. Afinal, sei que não sou delas o único a ouvir diariamente, e sei que tenho delas sempre momentos de paz em suas ausências. Sei que quero seguir cultivando o amor, o intelecto, a compaixão e a capacidade de sonhar e esperar pelo positivo. Quero reescrever O Segredo de Minha Irmã e Surrealidade. Quero escrever Quixão e os Porcos. Quero publicar uma coletânea de crônicas miúdas. Quero publicar uma coletânea de poesias.
Também quero aprender com as matérias que me derem no jornal. Quero continuar sendo amado e amando quem me ama.

Quero que meus irmãos e amigos também cresçam. Quero que meu tio consiga se manter com a dignidade que sua experiência e seu trabalho merecem ser ressarcidos. Quero que meus irmãos mais velhos finalmente se encontrem e nos encontrem bem.

Quero especialmente que minha mãe encontre mais paz e equilíbrio em sua vida, pois ela merece mais do que todos os calhordas gordos que vejo pisoteando por aí. Prosperidade, sim, ou a proximidade à prosperidade que tanto queremos. Quero começar 2008 melhor do que comecei 2007, e terminá-lo melhor do que terminei esse ciclo maluco, sem pé nem piedade.

Acima de tudo, tudo mesmo, gostaria que descobríssemos - como algum dia descobriram a roda - a verdade entre tantas mentiras, e que lidássemos com ela como lida quem procura não a solução de uma charada abstrata, mas a revolução de um conhecimento concreto, a solução de nossos problemas mais contundentes. Gostaria que descobríssemos não a fórmula, mas a essência do remédio. Gostaria que realmente começássemos a procurar a cura da fome, da opressão, da tanática fantasia, da desilusão e solidão fictícia que copiosamente nos assola de gerações em gerações em gerações...

Mais uma folha no calendário, e aproxima-se 2008, ano de eleições nos Estados Unidos e no Paquistão, ano em que as guerras infinitas querem terminar, mas ninguém tem coragem de aniquilá-las. Esperemos, então, e façamos para que a espera não seja estúpida e em vão, que as “coisas sejam outras em 2008.”

A todos, desejo uma passagem tranquila, pacífica, divertida, agradável e saudável. A todos, desejo um ano de boas companhias, bons negócios, cancelamento de dívidas, boas providências, bons aprendizados, fartas descobertas, boa alimentação, muito carinho, amor e lealdade, e, apenas de preferência, honestidade. E meu clichê ao término da longa cerimônia de encerramento: Felicidades. Que seja o ano que vem melhor do que esse, e pior do que o próximo a seguir.

Pessoais, até 2008!

Abraxão,

Roy Frenkiel

1 comment:

Jens said...

Saúde, paz, prosperidade e amor, meu camarada. Um abraço.