Monday, January 07, 2008

Não é Obama, é a Mudança

Parece-me, mas que também possa estar quadradamente enganado, que as eleições ao futuro presidente dos Estados Unidos menos se baseam na qualidade dos candidatos e mais em um novo movimento, um desejo comum da população da mega-potência mundial.

Barack Obama até o momento apenas ganhou com o “caucus” de Iowa. Seus números agora, em New Hampshire, dão a entender que, apesar da corrida estar realmente apertada, Obama pode chegar a vencer nesse estado também.

Com a explosão de sua vitória no pequeno estado de Iowa, que conta mais por vontade popular do que por votação oficial – como é o caso de New Hampshire, a primeira das preliminares que terminam apenas depois de que 50 estados determinem seus preferidos – Obama conta com o impulso e ganha mais espaço do que o originalmente esperado.

Lou Dobbs, comentarista e âncora da CNN com um programa de questionamentos mais ousados a todas as espécies de assuntos, lançou seu livro Independents’ Day, que visa incentivar a população a eleger candidatos independentes e a sair do esquema fechado de apenas dois partidos principais. A verdade é que Dobbs não está só. Muitos acreditam, como eu, que democratas e republicanos diferem na base de suas filosofias, mas que no fim do dia trabalham por quem os elege, quem os financia, e no caso de Obama não são poucos, tampouco no caso de Mitt Romney, ou de Clinton.

De modo similar ao que ocorreu no Brasil, a população atualmente pede mudança dos padrões elitistas que regeram os Estados Unidos por oito anos na era Bush. Pela vontade popular, que clama por mudanças, os candidatos que aí se encontram procuram jurar mudanças. Mas, quando discursam e falam sobre os assuntos que mais interessam à população, o grande apelo é sempre político ou politizado, de modo a distorcer realidades a favor de certos gestos inspiracionais, muito como ocorre com, digamos, a torcida do Corinthians.

Sorrisos e Penteados


A massa ainda reage ao sorriso de Huckabee, e como seus eleitores são, no geral, conservadores, não há motivo a preocupações, pois Huckabee é bastante conservador. Como isso reflete a vontade de mudança constatada na maioria das pesquisas? Não reflete, mas o truque é que Huckabee apenas faça com que aparente assim. No fundo, o que o pré-candidato pretende mudar são os valores que muitos lutaram para que, de fato, mudassem dos conceitos errôneos das décadas passadas. Conforme dizia um artigo opinativo do The New York Times, os candidatos republicanos, no geral, ainda querem imitar a Ronald Reagan e, no fim do dia, querem uma mudança, sim, mas para trás.

Já os candidatos democratas tampouco se diferenciam muito. A diferença é o que mais importa na hora do eleitor votar, mas novamente, não importa muito o que os candidatos digam, mas sim como dizem, e quando dizem o que dizem. Seus sorissos e penteados importam às vezes mais do que o conteúdo de suas campanhas. Diferem em detalhes, mas todos refletem as mesmas opiniões.

Se republicanos criticam a política externa de Bush, especialmente no Iraque, democratas fazem o mesmo, mas com o propósito final de pelo menos prometer à população o que quase todos querem: O retorno das tropas dos Estados Unidos no Iraque. Republicanos como McCain e Giuliani apenas proferem o aumento das tropas, ou não definem em quais pontos gastariam as mesmas verbas diferentemente, ou em quais modos negociariam melhor com outros países.

Ainda batem na mesma tecla cega de que a guerra teve sua importância, e de que os Estados Unidos não devem sentar em mesa alguma de igual para igual com nação nenhuma, por ser o país tamanha potência. Essa arrogância pode até cair bem a alguns dos eleitores republicanos, mas mesmo no próprio partido, muitos estão cansados do confronto, e muitos já se sentem enganados. Do lado dos eleitores democratas e de grande parte dos independentes, a palavra chave é “mudança”, preferenciavelmente para frente.

O Anseio e sua Função


Esse desejo por mudança é o que proporciona o verdadeiro acontecimento histórico dessas eleições, talvez de importância equiparável à era de Nixon e Kennedy. O anseio por mudanças faz com que a escolha do candidato seja mais interessante do que o próprio.

Pois, se Edwards, por clamar lutar pela classe média, ou se Clinton, a potencial primeira presidenta dos Estados Unidos, ou até mesmo se Obama, o primeiro negro de raízes árabes e africanas a eleger-se ao almejado posto, o candidato democrata eleito ao partido deve ter maior apoio populacional. Obama conquista jovens, e Edwards conta com o prestígio ganho quando aceitou ser vice de John Kerry. Clinton atrái a elite democrata. Edwards, se não conseguir provar seu valor, alguns especulam, pode ainda aceitar ser o vice de Obama.

Ainda não tenho candidato predileto, mas afirmo que o intuito dessas eleições apenas deve simbolizar o verdadeiro desejo do povo americano. Se republicanos souberem continuar jogando com o medo (em más épocas) e a euforia (em boas épocas), e se a população massiva continuar caindo nas artimanhas políticas, a mudança será para trás.

Se os democratas vencerem, contudo, vejo que a escolha será mesmo entre o melhor dos piores. Mas se Obama vencer... Se Obama vencer, o intuito do povo simboliza o extremo: Os Estados Unidos querem reforma. Obama é capaz de fazê-la? Não creio. Mas o significado de sua história, por hoje, seria o de maiores repercussões históricas.

Mais adiante, reflexões sobre os resultados das preliminares de amanhã.


De acordo com a maioria dos institutos de pesquisas e jornais, as projeções de amanhã são.


Republicanos

John McCain

Mitt Romney

Mike Huckabee

Rudy Giuliani

Democratas

Barack Obama

Hillary Clinton

John Edwards

RF

1 comment:

Jens said...

Roy:
Coxudas as reportagens e análises sobre a eleição americana. Muito boas mesmo. Nós, leitores e apreciadores do bom jornalismo, agradecemos penhoradamente. Dá-lhe, garoto!
(Dizem que o amor, além de fazer bem a pele, melhora a escrita e a capacidade de observação. O teu caso prova que isto é verdade. Hehehe...).
***
Ainda estou em Floripa. Sol, praia, petiscos, cerveja, paixão e Cialis. A vida é bela (e cara).
Um abraço.
Em 2008, arriba!