Wednesday, January 09, 2008

New Hampshire Decide: Hillary Clinton e John McCain

Porque eu gosto do sistema eleitoral nos Estados Unidos

Argumentos contra o sistema eleitoral (e pré-eleitoral) dos Estados Unidos, todos estamos cansados de saber. Aqui apresentarei alguns argumentos a seu favor.

Aliás, se alguém não sabe, simplifico abaixo um traço similar ao que deve ocorrer no país pelos próximos meses de 2008:

Preliminares e “Caucuses”

Até a “Super Terça-Feira”, nome dado ao cinco de Fevereiro, quando os últimos estados votam em massa, o nome do candidato oficial de cada partido será escolhido. O primeiro “caucus”, referendo não oficial dedicado a menores estados, ocorreu em Iowa, e a primeira das preliminares ocorreu ontem, em New Hampshire.

Em Iowa, Mike Huckabee venceu para o lado republicano, seguido de Mitt Romney e uma disputa acirrada para o terceiro e quarto lugares entre John McCain e Fred Thompson.

Para os democratas, a vitória em Iowa foi do jovem Barack Obama, seguido de John Edwards quase empatado com Hillary Clinton. Outro acontecimento foi o que ainda deve aumentar daqui em diante, o abandono de dois candidatos democratas da corrida presidencial, Joe Biden e Chris Dodd.

Em New Hampshire, Hillary Clinton vence Barack Obama apesar da insanidade da mídia em procurar eleger seu rival afro-americano, especulando sua vitória por mais de 10 pontos percentuais. John Edwards consolida sua base em terceiro posto com apenas 17% dos votos, mas a disputa, realmente, ainda é grande.

O mesmo pode se dizer de John McCain, vitorioso em New Hampshire pela segunda vez em sua carreira como pré-candidato, seguido de Mitt Romney, novamente, que perdeu em Iowa, mas coleciona uma vitória simbólica no estado de Wyoming, onde ocorreu o segundo “caucus”, apenas republicano.

Cada Estado Conta

Nas preliminares e “caucuses”, todos os candidatos sérios fazem campanhas pessoais em todos os estados do país. Esse é o primeiro ponto que outorgo ao sistema eleitoral. Por menor o estado, ainda conta para candidatos que procuram centenas e milhares de eleitores para fazerem a diferença entre os milhões dos maiores estados.

Outra vantagem desse sistema é que cada estado possuiu populações diferentes, de interesses diferentes. Se a maioria dos habitantes de um estado conservador elege determinado candidato, as grandes chances é de que o motivo da escolha esteja enraizado no conservadorismo do mesmo. Claro que isso muda de acordo com o humor das massas, e quanto mais similares as opções, mais isso pode refletir a união de um país que funciona como se cada estado fosse um governo semi-independente.

O detalhe da independência relativa de cada estado na legislação e transposição de verbas e subsídios também conta para o sistema. Muitas vezes, eleitores querem que o resto do país se assemelhe ao próprio estado, almejando mudanças constituicionais até mesmo parecidas com as que Bush fez para dificultar a legalização do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.

Eleições Presidenciais


Depois começam as campanhas para um primeiro turno, onde o país decide, até Agosto, quem será o próximo presidente entre os candidatos escolhidos. Ainda há, por fim, o segundo e último turno, cujas vitórias dependem ambas não de uma maioria de eleitores de todo o país, mas de uma maioria de colégios eleitorais, ou seja, um estimado número de representantes oficiais ao governo do país, baseado no número de governantes oficiais de cada prefeitura, condado e entidades estaduais. De acordo com a demografia de cada estado, o número aumenta. Estados maiores, como a Flórida e Nova York, possúem 27 e 29 colégios eleitorais respectivamente.

De modo similar ao que ocorre no processo anterior, cada candidato precisa vencer no maior número de estados possível. Cada estado conta, como foi o caso da Flórida quando Bush e Al Gore viram-se tecnicamente empatados, e as eleições terminaram na corte federal. Al Gore não renunciou, mas a decisão final favoreceu o atual presidente dos Estados Unidos.

Sentimento Atual


Por apenas três pontos percentuais (39% a 36%, com 3% de margem de erro), Hillary Rodham Clinton venceu Barack Obama na primeira das preliminares, ansiosa para repetir o mesmo em South Carolina, e manter-se na liderança antes melhor esperada, agora mais disputada.

No entanto, Obama conquista o eleitorado jovem, de pessoas abaixo dos 30, de eleitores que votam por primeira vez e, acima de tudo, parece influenciar um movimento social depois de um ano de maiores movimentos sociais no país.

É negro, e isso conta tanto a seu favor quanto contra, apesar da existência de Condoleeza Rice ou Collin Powel (que apenas seguia ordens), e assim por diante. Conta porque atrái, de certo modo, um eleitorado que se identifique com suas raízes. Essa atração não faz necessariamente tanto sentido nobre, como apenas faz pelo jogo que a própria mídia joga na apresentação de pré-candidatos.

Ontem, por exemplo, Hillary Clinton chorou quando uma simpatizante lhe perguntou como ela se sentia, e por mais incrível pareça, ganhou votos por causa de sua demonstração humana. Seria coincidência o fato de que o grande vencedor Bill Clinton, o “comeback kid” - o menino da virada - também gostava de chorar e demonstrar humanidade?

As idéias de Obama quase não se diferem das idéias de Clinton. Ao contrário de Edwards, não estava no senado quando Clinton votou a favor da resolução que eventualmente deu a Bush a luz verde para invadir o Iraque (Edwards votou contra a resolução), e desde que participa do senado, há pouco tempo, tem votado de modo quase idêntico à sua rival principal.
Mas Obama, melhor do que ninguém, carrega a palavra temporária de 2008, “Mudança”, na ponta da lingua. Gesticula como um “rock star”, e até chegou a causar um desmaio em New Hampshire, ocasião em que gentilmente ofereceu sua água à pobre desfalecida, que passa bem, de acordo com reportagens mais recentes.


Do lado Republicano


A vitória de John McCain, e não de Romney, Huckabee ou outros republicanos mais distantes, incluindo Giuliani, representa mais uma vitória ao liberalismo dos Estados Unidos.

Mesmo sendo republicano, McCain perde eleitores mais radicais por favorecer a anistia de imigrantes ilegais, não só maiores restrições nas fronteiras e nas leis imigratórias. Por sua experiência, seu discurso não fala necessariamente de mudanças como o de Huckabee ou Romney, mas sim de experiência, algo que jura ter. Pela falta de financiamento de sua campanha, ainda lucra em fama como uma espécie de “zebra” americana.

O resultado em New Hampshire nada significa - virtualmente nada - a McCain, porque especialmente do lado do GOP (Partido Republicano), a competição é apertada. No entanto, sua escolha reflete a escolha de eleitores mais moderados, e republicanos por filosofia, mas de conceitos mais liberais.

O republicano verdadeiro, afinal de contas, preocupa-se com a economia da república como a base e a solução de todos os seus problemas. São contra impostos à população, supostamente, apesar de que Bush pouco se importou se os impostos escorressem às classes média e baixa do país. Todos os republicanos vencem mais votos se cortarem mais impostos.

Independentes


Eleitores independentes deram a Obama 7% de sua confiança, e ajudaram a eleger McCain. Há muito não testemunhamos a importância de eleitores independentes como ocorre nessa geração.

Entre eleitores oficiais de cada partido, muitas vezes a escolha é baseada em detalhes sórdidos, como a simpatia ou o tipo de sorriso do pré-candidato. Lembra-me a eleição de Fernando Collor, que era um verdadeiro “playboy” que lutava caratê e tinha todo um charme e simpatia especiais. Já sabemos porque eleger um presidente pelas qualidades acima citadas não seria uma boa idéia.

Já os independentes, geralmente o são porque baseam seus votos no cansaço e na desilusão, e prestam maior atenção ao que os candidatos dizem, não em como se vestem ou sorriem. Mesmo assim, podem ser persuadidos por movimentos populares, mas com maior dificuldade de cair no “mainstream” e mais chances de aderir a uma causa. Ao meu ver, e somente ao meu ver, independentes querem Obama pelo mesmo motivo que eu tendo a querer o mesmo: Pela raíz da razão de sua escolha, e não por si, necessariamente.

Isso, porque acredito que nenhum dos candidatos democratas pode ser mais incompetente do que George W. Bush. Até do lado republicano, a maioria, se não todos, faria um serviço melhor.

As preliminares seguem às Carolinas, o "caucus" que segue, segue em Nevada, e semana que vem continuarei com as análises do ano eleitoral de 2008 nos Estados Unidos.

RF

3 comments:

Esther said...

Oi, Roy...

Retornando das férias com muita garra para continuar. Que teu Ano seja realmente novo , com tudo o que isso significa.
No mais, sem condições de sequer opinar quanto ao texto , é muito conhecimento político para minha cabeça .
Grande beijo e sucesso.

Jens said...

Porra, a mulher chorou e ganhou. Como são politizados os gringos.
No mais, valeu a aula sobre o sistema eleitoral dos EUA.
Um abraço. Arriba!

Anonymous said...

Acompanhando com atenção suas análises da eleição norte-americana. Um abraço.