Friday, April 13, 2007

O Segredo de Minha Irmã

Nona Parte

O “mano velho e amigo meu” João dos Rosários e dos Sete Mortos, devia a sete famílias e dezenas de “manos velhos e amigos dos Sete Mortos” muito mais do que um pedido de desculpas. Ao invés de contentar-se em infernizar a vida dos cidadãos, mandou para o inferno sete marginais oficiais. Boiól contribuía ao sistema de péssima educação fornecendo maconha à meninada já desligada da tomada desde a placenta das mães que mal sabiam o que fazer com seus fetos, mas foram obrigadas a fazê-los gente mansa, até encontrarem outras drogas e criarem a futura geração marginal, mas esse conto ao futuro pertence, e bem distante dali.

Paulão me surpreendeu, e abriu a boca primeiro:

“Cala a boca, Caçá! Vai tomá no cu!”

“Óquei…?” Perguntei e questionei.

“Você tem vergonha na cara, muleque?” Bravejou Boiól, aproximando-se do meu cangote. “Aqui só tem filho da puta.”

“Peraê!”
“Calmalá!”
“Que o quê?”
“Porra!”
“Apelão!”
“A mãe de quem?”

Gritaram todos.

“Ah, cacete, vocês entenderam. Aqui só tem gente de sangue ruim, gente que machuca outra gente, que não tá nem aí pras consequências, e nem todos aqui fazem ou fizeram por motivo especial, ou tiveram passe de entidade superior, nem religiosa nem daqui da Terra. Tu tá viajando, muleque? Tu acha que aqui tem gente que se interessa em se meter em mais problemas do que já temos?”

“Por isso mesmo,” me empolguei e animei a explicar o plano, “por isso mesmo que eu quero propôr algo diferente, algo que ajudasse a vocês e a mim, algo que satisfaça ambas partes. Proponho que comecemos a…”

“Esquece, Caçá, na boa, eu te respeito e tudo mais, mas não vou começar a meter fogo em casa de rico, faz favor.” Reclamou Agnaldo.

“Tu, meter fogo?” Me ajudou João. “Tu já meteu fogo em alguma coisa?”

“Foi força de expressão, pô, vê se não encana comigo nessas horas.”

“É nessas horas que tem que encanar. O cidadão não terminou de falar, deixa ele dizer qual é a proposta.” Discutiram entre si.

Enquanto tentava produzir alguma fórmula comunicável do que eu queria dizer, João já havia retirado do cinturão a .38 e polia seu cano, animando a moçada a se calar. Nem todos tinham medo, mas acredito que concordaram na completa estupidez de armar uma guerra marginal, enquanto as margens procuravam espaço ao leito.

“Esqueçam isso de meter fogo ou forças de expressão. Esqueçam os fazendeiros, a justiça ou a lei. Eu falo da gente como a gente, que precisa de ajuda sempre, e ninguém oferece.”

1 comment:

Anonymous said...

Adensa-se a trama.
Os meliantes se reúnem com intenções vingativas. O que virá por aí?
E ainda tem o segredo da mana.
Folhetim dos bons na web.