Neste passado Sábado me juntei à plateia de imigrantes brasileiros no Sul da Flórida no Colony Theater, localizado no coração da movimentada Lincoln Road no centro de Miami, para prestigiar o encerramento do décimo-quarto Festival de Cinema Brasileiro na Flórida e a apresentação da impecável Maria Gadu. Foi paixão à primeira vista, bem como foi, no melhor dos sentidos, a apresentação de Lenine encerrando o mesmo evento há quatro anos atrás. Na ocasião, meu texto sobre o espetáculo me rendeu a oportunidade de ter meus textos publicados periodicamente no maior jornal para imigrantes da região, o Achei USA. Pudera, a presença de Lenine me inspirara e transcendi a inspiração ao texto. Não conhecia o artista antes disso, mesmo vivendo no Brasil nos anos antecedentes.
Maria Gadu, nascida Mayra Aygadoux, me causou a mesma excelente impressão. Perguntando aos amigos e amigas ainda morando no Brasil descobri que a intérprete de 23 anos é relativamente conhecida no país. Nascida em São Paulo, no entanto, em 2007 foi convidada pelo amigo e percussionista de sua banda, Doga, à Europa, onde verdadeiramente iniciou sua carreira. Gadu já cantava suas composições e interpretava canções internacionais ou regionais desde a infância. Foi no início de sua adolescência que compôs um de seus maiores sucessos, “Shimbalaiê”, enquanto contemplava um por-do-sol. Apesar de sua raíz brasileira forte, apenas voltando da Europa e juntando-se a amigos de infância ligados a Jayme Monjardim Matarazzo e fazendo-se ouvir pelo diretor, produtor e cineasta “herdeiro” de Maysa, a diva brasileira, é que sua carreira decolou.
Foi convidada por Monjardim para interpretar a canção “Ne Me Quittes Pas” de Jacques Brel (1959), também cantada por Maysa, na minissérie da Rede Globo, além de fazer uma ponta como atriz na mesma obra. Primeiro conquistou e aprendeu a Europa, e só depois fez o mesmo no Brasil. Lenine tem um conto parecido. Apesar de ter arrebentado entre brasileiros e estrangeiros especialmente na Europa, só fez sucesso no país natal algum tempo depois.
Enquanto a fama de artistas dos mais originais da terra da “Independência ou Morte” borbulha fora da pátria, a pátria às vezes demora a pescar as bolhas.
Assisti ao bloco do CQC em que Rafael Cortez entrevistava Lenine e em tom sarcástico acusava a “auto-venda” do compositor às novelas que mal assiste. Não fossem as novelas, contudo, Lenine jamais seria famoso. E aqui não há intenção de degradar nenhum estilo musical, apenas elevar alguns que por qualquer motivo acabam rendendo mais fora do Brasil do que dentro mesmo representando o melhor que há nele. No caso dos estilos MPB, Bossa Nova, Jazz e Blues, a arte parece primeiro romper a barreira do exterior para respingar de volta ao interior da nação.
De certo modo, isso me remete ao futebol e aos acontecimentos esportivos no Brasil nos próximos seis anos. Desde que o santista Neymar recusou ofertas do exterior a polêmica sobre a exportação de talentos esportivos ao invés de seu maior rendimento dentro do país aumentou, e esquentou ainda mais com a declaração de Felipe Scolari, técnico do Palmeiras: “Se fosse meu time, eu vendia.”
No futebol existe a questão da valorização tanto física quanto financeira do atleta quando joga em equipes de prestígio na Espanha, Inglaterra, Alemanha ou Itália, especialmente. No entanto, como a próxima Copa do Mundo e as futuras Olimpíadas serão hospedadas pelo Brasil existe também a questão da identidade do atleta e sua valorização regional. Mesmo assim, parece ocorrer algo similar a outros campos, como o artístico: A valorização precisa vir de fora para que haja o reconhecimento interno, como o reconhecimento da FIFA e do COI.
Porém, o outro lado da navalha contribui ao reino das ideias no liberalismo institucional e construtivismo. Segundo o primeiro paradigma, a arte brasileira (ou seu futebol) são instituições que incrementam as relações internacionais e contribuem a uma certa organização através da comunicação e assimilação de ideias novas em um ambiente global caótico. Já para construtivistas não há como “mudar” o mundo sem que ideias novas sejam suficientemente difundidas, e no caso da arte brasileira descoberta fora do Brasil é exatamente o que ocorre, a difusão de novas ideias através de novas vozes, nomes, escritos e atletas. Nesse reino “abstrato” de relações humanas o Brasil não de hoje consegue vender-se em estilo ao exterior, projetando assim uma imagem cada vez mais clara da hegemonia Sul-Americana.
Nós, que por hora ou para sempre vivemos no exterior agradecemos a globalização nesse sentido. É um enorme privilégio apreciar Maria Gadu mesmo não a tendo apreciado desde seu lançamento real em 2008, mesmo tendo visitado o Brasil duas vezes e acumulando mais de dois meses nesse período. Posso falar de Gadu para brasileiros que vivem nas capitais do país e que jamais souberam de sua existência, mesmo que conheçam, nem sabem exatamente de onde, sua interpretação de “Ne Me Quittes Pas” através da minissérie Maysa.
A inspiração, ao menos, nada tem de abstrata. Tenho o coração, a mente e o corpo mais leves e mais apaixonados depois de ouvi-la. Sei que é essa a reação causada quando todos veem o que melhor tem a oferecer os brasileiros em qualquer lugar do planeta.
RF
Monday, August 23, 2010
Famosos no Exterior, Famosos na Terra Natal
Essas Palavras Vos Trazem
14th Brazilian Film Festival,
Copa do Mundo 2014,
Felipe Scolari,
Inffinito Foundation,
Lenine,
Maria Gadu,
Neymar,
Olimpiadas 2016 Rio de Janeiro,
Roy Frenkiel
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