Wednesday, August 25, 2010

Tempo Corrupto

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer
(Dona Cila – Maria Gadú)

1

O comum, incomum, perturba
A alma d’antes calma e satisfeita
É que o tempo quando bem feito
Vive enfeitando suas desfeitas,
Vem-se, foi-se, vái-se
Convencendo-me a desejar:
“Eu queria ser o tempo
Ter essa liberdade,
Despir-me da necessidade
De estúpidas vaidades.”

Não há então lembranças,
Nem histórias nem estórias
Mal contadas.
Não há, pois, ilusões,
Nem trilhas desviadas.
Há uma maré furiosa de sentimentos
Atentos à aforria
De uma escravidão que me libertou.

Ora a hora é ainda turbulenta,
Quem dera eu reacender a chama,
Voltar a acreditar nos planos,
Feitos rarefeitos por nós dois,
Ora a hora é de distância,
Quem dera eu fazer brilhar a vela
Voltar a esquentar meu peito
Agora tão vazio quanto o seu.

Vá que eu fico e vou,
Queria ser o tempo,
Mas não sou.
Se voltar aos abraços, abraços
Só não se descuide,
Aviso a miúde:
Se seus lábios se renderem ao vão
Que preenche o universo
Separando-os dos meus,
Sentirá minha saliva fresca
Invadindo sua boca
Mais uma vez.

RF

2

De que adianta, meu “eu” pergunta,
Dizer que eu quero, dizer que eu sinto,
Se do outro lado do mundo
Ela está em outra?
Pareço irrequieto, tentando esperar
O momento certo de me declarar,
Mas já passou o tento, já passou o momento
E eu, com meu “eu”, respondo,
Já sei…

Ainda, porém, a amo demais,
Amo tudo que veio dela
Tudo que sua memória me traz
Até os vendavais

De que adianta chorar o ontem
Se hoje já chegou a passar?
E do outro lado do universo
Ela se põe a chorar
E eu a tagarelar
Implorar por mais um dia
Mais um mês, uma semana
E eu me contesto, no contexto,
Já sei…

Ainda porém, a quero demais,
Quero tudo que escorre dela,
Tudo que sua presença me faz,
Até os temporais,

Então, de que adianta pedir ao tempo
Que se apure em passar,
Se meu peito é quem manda
Minha dor, paixão e ar?

RF

4 comments:

Mariáh Voltaire said...

fiquei muito feliz com o seu comentário...

é muito legal quando podemos partilhar do mesmo sentimento com pessoas que nem conhecemos, e pelo simples fato de partilharmos algo em comum, parece que já nos conhecemos...

não vejo a hora de reencontar meu amor...

valeu pela visita

Gabriela Galvão said...

Nossa, mto lindos, seus escritos! Ñ sei como os meus te apetecem1, mas q bom.

Abração

Vais said...

Lindo mesmo, Roy
um abraço

josue mendonca said...

não conhecia essa lado literário, poético. muito bom!

não sei o que seria da vida sem poesia


grande abraço