Monday, October 18, 2010

SOS Sanidade Internacional

Conforme comentei hoje em um dos poucos e bons blogues que acompanho por aqui, meu professor de política externa dos Estados Unidos, Dr, Lawrence Abrahams, da Nigeria, já tinha dado o palpite de que todos os governos que conhece, apesar de declararem publicamente seu estado laico, julgam e preconizam leis baseadas em fés pessoais. Criticar o Brasil, portanto, pelo excesso de cultura religiosa enrustida e embutida às abertas nas campanhas eleitorais seria um exercício fútil. A mesma crítica cabe a países social e economicamente mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde a guerra santa ocorre em grande intensidade.

Entretanto, tudo tem limites. Se a sociedade ainda contraria massivamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a prática do aborto, é compreensível que os movimentos religiosos ganhem espaço político no estado. No entanto, mesmo que algumas leis que deveriam ser de cunho estritamente laico não o sejam, ainda há o limite da sanidade que dita respeitar as diversidades culturais, étnicas e religiosas dos demais observantes de seletas ortodoxias. Quando o governante do país assume uma postura de caçador/a de bruxas de outras culturas, etnias e religiões, a democracia deixa de existir, a demagogia e o autoritarianismo morais prevalecem e um holocausto como o ocorrido sob o comando Nazista periga ressurgir na história da humanidade.

Sem o menor exagero, é isso que a Chanceler alemã Angela Merkel está promovendo quando discursou nesse final de semana que a tentativa de construir uma sociedade multi-cultural falhou no país. “Multikulti”, como os alemães conhecem o conceito da convivência harmoniosa entre membros de diferentes etnias, diz Merkel, não tem mais lugar em sua sociedade. A afirmação nasce com um pedido tenebroso: De agora em diante imigrantes na Alemanha precisam não só aprender o idioma e assimilar-se aos costumes, mas também adotar valores cristãos, caso contrário não são mais oficialmente bem vindos.

Diz Merkel que a Alemanha tem o direito de exigir isso de seus imigrantes, não apenas apoiar sua integração. Uma exigência claramente destinada ao “outro” de nossa geração mais do que aos judeus, perseguidos por Adolph Hitler de 1935 a 1945 na mesma Alemanha sob as leis de Nurenberg.

Certamente podemos traçar a construção dessa perigosa mentalidade à paranóia mundial que explodiu depois do 11 de Setembro de 2001 (New York, EUA), do 11 de Março de 2004 (Madrid, Espanha), do tenebroso dia de Novembro de 2008 quando ocorreram os ataques em Mumbai, na Índia, e desde a empreitada megalomaníaca de George W. Bush apoiado pelo Primeiro Ministro da Inglaterra, Tony Blair. A partir do extremo medo gerado à mente das massas começou o preconceito e discriminação generalizados a árabes e muçulmanos em todo o mundo. O cálculo moderno permite associar o “inimigo” ao “estrangeiro” sem a necessidade do encobrimento moral, algo que sem um “outro” generalizado seria difícil de acontecer justamente pós-Hitler no mesmo país.

O perigo dessa afirmação é iminente. Jamais antes em minha vida percebi sinais tão cabulosos de tempos incertos como nesse discurso de Angela Merkel. É de um absurdo imprescindível no Ocidente livre desde ao menos trinta anos antes de meu nascimento.

Antes da Segunda Guerra Mundial as mudanças que afetaram as minorias vigentes, especialmente judeus, foram paulatinas e pegaram a maioria da população de surpresa. Foi essa quebra de espirito politico antes de tudo (primeiro tiram a cidadania da pessoa, depois tentam tirar sua humanidade) que possibilitou a violência nazista contra praticamente indefesos judeus. Quem resistiu o fez faminto, sem identidade civil e privado de direitos humanos. O primeiro passo, ironicamente, foi expulsar uma massa de indesejados do país e proibir a entrada de novos imigrantes.

A Chanceler Angela Merkel deu o primeiro passo a viabilizar uma nova guerra santa ou ideológica como a declarada pelo ditador alemão do século 20. Suas palavras não só são extremamente vergonhosas para uma líder de seu porte, mas extremamente perigosas. É necessário que a comunidade internacional se una antes da tragédia. Imploro a todos que entrem em total estado de alerta.

Como judeu jurei toda minha vida, e repito o juramento agora estendendo as mãos a integrantes de um povo primo, mas politicamente rival dos judeus: “Holocausto nunca mais!” Por favor, espalhem essa consciência. Não podemos permitir que isso ocorra novamente em pleno século 21.

RF

13 comments:

José Leite said...

Admiro a lição dos judeus e admiro ainda mais a sua luta contra um desporismo "iluminado" por um ditador que se tinha na conta de «puro».
Surgem no horizonte sinais de «purismos» doentios e fanatizantes que podem conduzir a um pan-arabismo de contornos teocráticos e belicizantes.Ver aqui:
http://comunidade.sol.pt/blogs/ramodebarro/default.aspx

Veja aqui uma antevisão de um cenário que não augura nada de bom.

Sou o autor deste blogue: ramodebarro.

Cumprimentos e saudações democráticas.

J. Leite de Sá

(Vila do conde- Portugal)

José Leite said...

Roy Frenkl:

Compreendo o seu princípio de abertura e anti-xenofobias.
Mas ser tolerante com certos intolerantes que gritam: «morra a liberdade», «não aos direitos humanos», «liberdade de expressão é crime!», é por-se a jeito, é dar parte de fraco, é acocorar-se perante os «invasores»...
Nós tivemos Aristides Sousa Mendes ao lado dos fracos, dos judeus perseguidos, dos humilhados contra os opressores nazis...mas bem sabemos que por detrás de CERTA cultura teocrática, de certo fundamentalismo, há a ânsia do conquistador, do colonizador, que não aceita nem se deixa submeter aos costumes e às práticas dos hospedeiros...
Angela Merkel está certa, ao SUGERIR que falar a língua alemã seja um dos requisitos básicos para permanência em solo germânico.
Não obriga a conversões, a mudança de idiossincrasias, apenas PROPÕE, como a mais elementar forma de convivência, a aprendizagem da língua indígena...

Todos os democratas e espiritos tolerantes devem estar com ela nesta campanha de aglutinação e de osmose psicossocial.

Que Deus o ilumine. Que Alá seja respeitado sim, mas não seja usado como bandeira de noecolonizadores...

Roy Frenkiel said...

Querido, (ultimo, porque o anterior parece outra pessoa), quao similar seu discurso e ao discurso de Hitler contra os judeus...

Abraxao :-)

RF

Roy Frenkiel said...

Perdao, os queridos dos dois comentarios, entendi que sois o mesmo rsss.

José Leite said...

Meu caro:

Comparar este texto a uma postura hitleriana é de uma falta de senso que brada aos céus!Aristides Sousa Mendes , o consul português libertador de Judeus, face ao jugo nazi, coraria de vergonha...

Sugerir que alguém, para melhor se inserir na sociedade onde trabalha, conheça a língua, é sensato.

Foi isso que fizeram e fazem todos os portugueses espalhados pelo mundo inteiro!

Roy Frenkiel said...

Em primeiro lugar, querido Rouxinol, quem se coraria de vergonha ou teria rubras quaisquer ancas de seu corpo flácido ou seco ao léu dos tempos, pouco me importa. Se cônsul, guerrilheiro ou filósofo, sou sem deus e exerço essa identidade justamente por não conseguir idolatrar ninguém, portanto perdão se seu tabefe não causou o devido efeito. Dou-lhe chance a tentar novamente quando bem entender, contudo, pois sei que um tabefe sem efeito apenas causa futuras mágoas irresolutas. Recomendo meus glúteos, que apesar de magros, contém a maior quantidade de carne em meu corpo.

Em segundo lugar, convenientemente aprender o idioma não é a ênfase comparável a Hitler (e à convenção de Santo Agostinho sobre a “exclusividade” do cristianismo, ou a convenção radical islâmica sobre Dhar-el-Arb e Dar-el-Islam, ou a qualquer espécie de despotismo governamental e hierárquico), mas sim a “recomendação” (no diálogo da lider-mor alemã não entendi a menor recomendação, e a vergonha que a Europa deve começar a sentir o mais rápido possível antes da mais iminente terceira guerra mundial é gravíssima, é a vergonha de Oscar Wilde em seu “Retrato de Dorian Gray”, à qual “não se pode conversar a respeito durante o jantar”) da assimilação a valores cristãos. O respeito à diversidade também taxado como falido é de alardear qualquer pessoa sã viva pós-Segunda Guerra Mundial, e na era da informação que permite o testemunho de genocídios mesmo nos mais remotos cantos do planeta.

O mundo, de fato, mudou. As pessoas, de fato, estão cada vez mais presentes em cada vez mais lugares do planeta, incluindo sem presença física, mas apenas “virtual”. Porém, Senhor Rouxinol, a diversidade na Europa nunca foi celebrada. Em toda sua sabedoria ancestral, em sua colonização de povos julgados já d’antes inferiores, nórdicos, ibéricos ou anglo-saxônicos ainda não aprenderam a respeitar-se nem entre si, quanto menos aos demais povos do planeta.

Não seria por falta de exemplo recente… Quais eram os pontos de Hitler quando justificou o extermínio de dois milhões de infantes judeus, além de sua chacina inumana a outros povos e outras “minorias”? O judeu não se assimilava bem à sociedade, não por não estar profundamente integrado em sua fábrica econômica, e sim pelo contrário, porque integrava-se, mas casava apenas entre si, mantinha costumes que não eram nem católicos, nem germânicos, nem remotamente protestantes, e conseguia ascender em sociedade. O medo era que o judeu queria dominar o mundo, um medo ainda infundado por anti-semitas em qualquer lugar do planeta. Esse mesmo medo que o senhor expõe contra os muçulmanos segundo o senhor e suas fontes escassas, muito escassas, e conhecimento ainda aparentemente minimalista propositalmente sobre a natureza do povo muçulmano em qualquer região, é um medo infundado também.

É o medo que nosso camarada e comediante Michael Moore descreveu em seu livro “Stupid White Man”, o medo que justificou não só a escravidão de “minorias” crescentes como os africanos adaptados à cultura estadunidense, mas também sua segregação racial e muitas das inflamações populares contemporâneas do partido-do-chá no país. É a mesma angústia que, por angústia, torna homens inteligentes em pessoas covardes e cruéis, desejando ao inimigo o que o próprio “inimigo” concebido supostamente deseja causar.

E o primeiro passo não é uma lei, um mandato, uma ordem, e sim uma sugestãozinha leve, “apenas” uma ideia.

Por favor, não me defendas e nem a meu povo. Já eu sugiro que leia Richard Bulliet e seu argumento em prol de uma civilização “cristã-muçulmana”. Quem sabe algumas das similaridades lhe sejam mais surpreendentes do que pensas?

Forte abrax,

RF

Marcelo F. Carvalho said...

"associar o “inimigo” ao “estrangeiro” sem a necessidade do encobrimento moral(...)"
Roy, esta afirmação cabe para a religião. Satã não era sinônimo de estrangeiro? Mais tarde sinônimo de Inimigo? Mais tarde sinônimo de diabo?
Pois é... satanizar o estrangeiro (o inimigo) não é só perigoso sobre todas as formas, mas pode criar um diabo milenar e impossível, depois, de extinguir.
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Aqui, em nossa Terra Brasilis, o candidato à Presidência, Serra, compromete-se com religiosos cristãos para, se eleito, vetar a lei contra a homofilia...
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Abraço forte!

Jens said...

Hi, Roy.
Porra fiquei de cara com D. Angela. E pensar que, num momento tresloucado (tava tri atrasado)considerei a possibilidade de encaçapar aquela bola. Agora, não mais.

Um abraço.

Marcelo F. Carvalho said...

Ops, homofobia.

Priscila said...

Nossa, que atraso esse da Dona Angela como diz o jens...
A gente pensa que a humanidade tá evoluindo e dá de cara com esses reacionários e loucos no poder...
que medo....

Não ao holocausto, hoje e sempre.

Jens said...

Tudo bem por aí, camarada?

Roy Frenkiel said...

Tudo e muita coisa rsrs

Caminhando e andando, cabron.

Obrigado pela preocupacao,

Abrax

RF

Vais said...

Ei Roy,
ó mandei um som lá na caxanga e cê tá incluido.
beijo