(Frase do escritor Stephen Zweig) - Publicado no BR TV Online (http://www.brtvonline.com/)
Os tempos mudam, sempre, renovando-se e repetindo-se, é verdade, mas também avançando. Não só a tecnologia nos refaz humanos, menos animais do que nossos antepassados, mas principalmente as novas descobertas, os novos estudos, a evolução do pensamento. Tampouco mudam radicalmente. É sempre paulatina, mas real e imediata, a transformação e transmutação de nossa espécie.
Por um lado, Zweig estava certo. O futuro que o Brasil tem e o que quer representar é tão vagaroso que, às vezes, passa desapercebido. A seriedade do povo brasileiro não transparece a todos os olhares, e para quem vem de fora, há algo de selvagem no comportamento tupiniquim. Só que, como em tudo, os maiores defeitos encarceram-se nos olhos de quem enxerga, e não na visão em si.
Vivendo um mês em Belo Horizonte, descobri que a genialidade brasileira é ímpar, tanto quanto a necessidade das galhofas, da vida social e da cerveja de botequim. Os maiores poetas eram e ainda são boemios, mas não só falo de poetas, escritores, intelectuais ou, pios, pseudo-intelectuais mascarados por trás de seus anos acadêmicos. O que vi nesse mês me demonstra o quanto podem, como povo, como raça, como nação, revirar as disparidades sociais e mazelas mentais que o Brasil, como muitos países mundo afora, ainda carrega em fardo às costas.
O homenageado há duas semanas, Dr. Frenkiel, tem uma frase que acredito mais do que apropriada para expressar o que quero: “Quando dão de comer a um brasileiro, ninguém segura.” Acrescento, “quando dão o que ler também”, e quando escrevo “o que ler”, refiro-me não só à Bíblia, mas livros literários, ficção científica e didáticos, especialmente.
Por quatro semanas, a cada uma delas conhecia alguém que se formara ou se formava. O porteiro do prédio do psiquiatra que se formara em agronomia. A clínica geral que se formara no interior de Minas Gerais. A senhora que estudou metalurgia, e acabou desenvolvendo métodos de redução do rejeito em energia nuclear em 95 por cento. O senhor que fez-se advogado. O editor de jornalões que sabe mais sobre o holocausto do que eu ou qualquer um de meus parentes judeus, sendo ele tudo, menos judeu. A maestra pianista, reconhecida nacionalmente. A repórter que virou editora geral em alguns poucos anos. O pequeno gênio que sabe muito tanto de informática quanto de música e mal chegou à puberdade. O quase cirurgião, amante de Sylvester Stalone. Nenhuma dessas formações pode ser ajeitada. Ou você aprende, ou não é, e acabou.
Não faltou genialidade. Não me pareceu que o Brasil precisasse de nós, imigrantes formados em terras estrangeiras, para tocar o próprio país adiante. Claro que também observei corrupção e violência, desigualdade e burocracias desnecessárias, mas o movimento do Brasil é, mais do que nunca, para frente. E o Brasil tem uma vantagem única: Mete-se em tudo, é temperado por tudo, fala sobre tudo, é a terra, de fato, de todos os santos e demônios, de todas as santas e putas, de todos os curandeiros e feiticeiros, reais ou imaginários. Pegam o jazz e fazem a bossa-nova. Fazem caipirinha da vodka e limonada.
Confesso estar encantado, mas a partir destas últimas férias, aposto no Brasil. Se eu fosse você, apostaria também. Chega de “sempre será”.
RF
ERRATA:
C. de Mendonça:
"A frase do Stephen Zweig é somente "o Brasil é o país do futuro". A frase "O Brasil é o país do futuro, e sempre será", foi popularizada pelo arrogante de Gaulle quand o Brasil se negou a formar com a França um terceiro bloco durante a guerra fria, mas tem origem bem anterior, na década de vinte.
A frase original popularizada por Stephan Zweig surgiu como uma variante do bordão ufanista "Brasil, gigante adormecido": este gigante acordaria no futuro, quando então seu potencial seria realizado.
A origem está contida no próprio Hino Nacional ("Gigante [...] deitado [...] em berço esplêndido"). Durante a década de vinte, quando a letra do Hino Nacional foi comprada por Epitácio Pessoa, os brasileiros que eram contra a letra salientaram que a letra diz na verdade "Gigante [...] deitado ETERNAMENTE em berço esplêndido". Nas ruas o povo comentava que o "Brasil é um gigante adormecido - e sempre será". Os diplomatas norte-americanos, sem entender a autocrítica típica dos brasileiros, quando informados do porque de tanta discussão contra a letra do hino, trouxeram algo que era privativo da discussão interna nacional para o ambiente diplomático. Desde então tem havido nos meios diplomáticos este dizer de mau gosto afirmando que "o Brazil é o país do futuro - e sempre será". Fiz esta pesquisa em 1999, quando o preconceituoso Geoffrey Colvin afirmou "'Brazil is the country of the future and always will be'--that line is at least 80 years old, which just shows how true it is." (link). Desde então estou esperando a oportunidade de jogar isso na cara dele."
Os tempos mudam, sempre, renovando-se e repetindo-se, é verdade, mas também avançando. Não só a tecnologia nos refaz humanos, menos animais do que nossos antepassados, mas principalmente as novas descobertas, os novos estudos, a evolução do pensamento. Tampouco mudam radicalmente. É sempre paulatina, mas real e imediata, a transformação e transmutação de nossa espécie.
Por um lado, Zweig estava certo. O futuro que o Brasil tem e o que quer representar é tão vagaroso que, às vezes, passa desapercebido. A seriedade do povo brasileiro não transparece a todos os olhares, e para quem vem de fora, há algo de selvagem no comportamento tupiniquim. Só que, como em tudo, os maiores defeitos encarceram-se nos olhos de quem enxerga, e não na visão em si.
Vivendo um mês em Belo Horizonte, descobri que a genialidade brasileira é ímpar, tanto quanto a necessidade das galhofas, da vida social e da cerveja de botequim. Os maiores poetas eram e ainda são boemios, mas não só falo de poetas, escritores, intelectuais ou, pios, pseudo-intelectuais mascarados por trás de seus anos acadêmicos. O que vi nesse mês me demonstra o quanto podem, como povo, como raça, como nação, revirar as disparidades sociais e mazelas mentais que o Brasil, como muitos países mundo afora, ainda carrega em fardo às costas.
O homenageado há duas semanas, Dr. Frenkiel, tem uma frase que acredito mais do que apropriada para expressar o que quero: “Quando dão de comer a um brasileiro, ninguém segura.” Acrescento, “quando dão o que ler também”, e quando escrevo “o que ler”, refiro-me não só à Bíblia, mas livros literários, ficção científica e didáticos, especialmente.
Por quatro semanas, a cada uma delas conhecia alguém que se formara ou se formava. O porteiro do prédio do psiquiatra que se formara em agronomia. A clínica geral que se formara no interior de Minas Gerais. A senhora que estudou metalurgia, e acabou desenvolvendo métodos de redução do rejeito em energia nuclear em 95 por cento. O senhor que fez-se advogado. O editor de jornalões que sabe mais sobre o holocausto do que eu ou qualquer um de meus parentes judeus, sendo ele tudo, menos judeu. A maestra pianista, reconhecida nacionalmente. A repórter que virou editora geral em alguns poucos anos. O pequeno gênio que sabe muito tanto de informática quanto de música e mal chegou à puberdade. O quase cirurgião, amante de Sylvester Stalone. Nenhuma dessas formações pode ser ajeitada. Ou você aprende, ou não é, e acabou.
Não faltou genialidade. Não me pareceu que o Brasil precisasse de nós, imigrantes formados em terras estrangeiras, para tocar o próprio país adiante. Claro que também observei corrupção e violência, desigualdade e burocracias desnecessárias, mas o movimento do Brasil é, mais do que nunca, para frente. E o Brasil tem uma vantagem única: Mete-se em tudo, é temperado por tudo, fala sobre tudo, é a terra, de fato, de todos os santos e demônios, de todas as santas e putas, de todos os curandeiros e feiticeiros, reais ou imaginários. Pegam o jazz e fazem a bossa-nova. Fazem caipirinha da vodka e limonada.
Confesso estar encantado, mas a partir destas últimas férias, aposto no Brasil. Se eu fosse você, apostaria também. Chega de “sempre será”.
RF
ERRATA:
C. de Mendonça:
"A frase do Stephen Zweig é somente "o Brasil é o país do futuro". A frase "O Brasil é o país do futuro, e sempre será", foi popularizada pelo arrogante de Gaulle quand o Brasil se negou a formar com a França um terceiro bloco durante a guerra fria, mas tem origem bem anterior, na década de vinte.
A frase original popularizada por Stephan Zweig surgiu como uma variante do bordão ufanista "Brasil, gigante adormecido": este gigante acordaria no futuro, quando então seu potencial seria realizado.
A origem está contida no próprio Hino Nacional ("Gigante [...] deitado [...] em berço esplêndido"). Durante a década de vinte, quando a letra do Hino Nacional foi comprada por Epitácio Pessoa, os brasileiros que eram contra a letra salientaram que a letra diz na verdade "Gigante [...] deitado ETERNAMENTE em berço esplêndido". Nas ruas o povo comentava que o "Brasil é um gigante adormecido - e sempre será". Os diplomatas norte-americanos, sem entender a autocrítica típica dos brasileiros, quando informados do porque de tanta discussão contra a letra do hino, trouxeram algo que era privativo da discussão interna nacional para o ambiente diplomático. Desde então tem havido nos meios diplomáticos este dizer de mau gosto afirmando que "o Brazil é o país do futuro - e sempre será". Fiz esta pesquisa em 1999, quando o preconceituoso Geoffrey Colvin afirmou "'Brazil is the country of the future and always will be'--that line is at least 80 years old, which just shows how true it is." (link). Desde então estou esperando a oportunidade de jogar isso na cara dele."
13 comments:
Amei este post!!! Very uplifting! Otimista de verdade, sem ser ufanista. Como você, também aposto todas as minhas fichas na pátria amada e rezo para que o futuro chegue bem rápido.
Adorei. O texto e o astral do autor do texto.
Beijão.
Roy, tendo vivido em diferentes países, sem dúvida sua avalição do país é mais adequada, pelo menos, do que a de muita gente por aí que só sabe esculhambar o Brasil (eu, por exemplo).
Mas não sei se esse movimento pra frente que você diagnosticou em sua visita é suficiente para sustentar uma perspectiva otimista. Como disse uma vez o personagem Calvin, do cartunista Bill Watterson:"O problema com o futuro é que ele continua se transformando no presente".
Um abraço e fico feliz em saber que teve boa passagem pela cidade de Belo Horizonte.
Bom ve-lo por aqui, Halem, muito bom mesmo. Acho que do ponto de vista do negativismo, nao ha lugar no mundo salvo da ignorancia e estupidez humanas, nem a Suecia, nem a Noruega, nem a Dinamarca, nem o Canada. O interessante, Halem, eh que vejo hoje algo que nao via antes no Brasil, ou talvez isso seja peculiar de Belo Horizonte. As pessoas estao se educando. O movimento de uma melhora, qualquer melhora, eh demorado mesmo, e isso se aplica ata aos Estados Unidos, que ainda mantem determinadas posturas arcaicas mesmo depois de conquistas sociais importantissimas, como a propria vitoria de Barack Obama a presidencia. O ponto central do meu texto, alem do encanto que tive no mes que vivi em BH, eh que os brasileiros imirantes (isso foi originalmente publicado em um site de brasileiros imigrantes) metem muito pau na patria amada, mas acho que esse ressentimento faz mal a sociedade, a nacao, a pessoa, como faz na vida pessoal de cada qual. Entao, Halem, eu que vou de tempos em tempos ao Brasil, vejo sim uma melhora, vejo que ha pessoas qualificadas o suficiente para levar o pais adiante, e vejo que ha um movimento de pessoas que comecam a importar-se mesmo com a educacao. Espero estar certo. Abraxao!
RF
Descrição muito eclética do Brasil e de todas as suas potencialidades transformtivas.
Qualquer dia pegam na crise e dão de comer ao mundo inteiro... a puta da crise que se cuide... no Brasil tudo é reciclável!!!
Por sermos um país "farofa" aprendermos a adaptar as coisas e dizer que é nosso.OS estrangeiros acabam aceitando o fato que mesmo com problemas eles aina são nossos.E de fato nossos intelectuais são os de boteco, que levam uma vida boêmia e pragmática aos nosso problemas.
Roy, eu sou otimista por natureza e sempre botei fé no Brasil. Até mesmo para me preservar, se é que me entende. Não adianta aprender 'votar certo'. O problema não está nos brasileiros e sim no sistema, numa máquina administrativa que só gera corruptores.
O governo não faz nada contra instituições que lesam o cidadão e por conta disso, surgem as reclamações que basicamente são as mesmas. Então, eu faço parte do time dos mineirinhos que senta no boteco pra falar mal do governo ou de qualquer outra coisa. Assim que sentamos, já perguntamos: "De quem vamos falar mal hoje?" e salva quem estiver presente!! Beijus
é cara,concordo com voce
e acho que o problema do Brasil, do brasileiro é psicológico: baixa auto estima. O brasileiro precisa amar mais a sua terra e perceber (como o percebem os estrangeiros) que aqui é o país do futuro.
parabéns pelo blog e obrigado pelo link
abraços
Roy!!!!
Que lindo esse texto, até chorei...
É bom sentir o Brasil por uma ótica externa, aqui a gente sempre acha q tá tudo meio parado, e quando as pessoas elogiam, ficamos feito mães bobas rindo do filhote.
É isso aí: Pra frente Brasil!!!!
É isso aí Roy!
E comeu um queijo?
Rs. Rs
Com carinho
RF
A frase do Stephen Zweig é somente "o Brasil é o país do futuro". A frase "O Brasil é o país do futuro, e sempre será", foi popularizada pelo arrogante de Gaulle quand o Brasil se negou a formar com a França um terceiro bloco durante a guerra fria, mas tem origem bem anterior, na década de vinte.
A frase original popularizada por Stephan Zweig surgiu como uma variante do bordão ufanista "Brasil, gigante adormecido": este gigante acordaria no futuro, quando então seu potencial seria realizado.
A origem está contida no próprio Hino Nacional ("Gigante [...] deitado [...] em berço esplêndido"). Durante a década de vinte, quando a letra do Hino Nacional foi comprada por Epitácio Pessoa, os brasileiros que eram contra a letra salientaram que a letra diz na verdade "Gigante [...] deitado ETERNAMENTE em berço esplêndido". Nas ruas o povo comentava que o "Brasil é um gigante adormecido - e sempre será". Os diplomatas norte-americanos, sem entender a autocrítica típica dos brasileiros, quando informados do porque de tanta discussão contra a letra do hino, trouxeram algo que era privativo da discussão interna nacional para o ambiente diplomático. Desde então tem havido nos meios diplomáticos este dizer de mau gosto afirmando que "o Brazil é o país do futuro - e sempre será". Fiz esta pesquisa em 1999, quando o preconceituoso Geoffrey Colvin afirmou "'Brazil is the country of the future and always will be'--that line is at least 80 years old, which just shows how true it is." (http://money.cnn.com/magazines/fortune/fortune_archive/1999/08/16/264318/index.htm). Desde então estou esperando a oportunidade de jogar isso na cara dele.
Por falar nisso, sou mineiro morando em Austin, Texas.
C (imagino que seu nome seja Carlos?), muito agradecido mesmo pela correcao. Nao sei de onde tirei a associacao imediata, sendo que as impressoes eram diferentes (Zweig nao ironizou sua frase, de Gaulle sim). Muito mesmo, nao vou fazer a errata aqui, mas e mais um aprendizado pra vida das pesquisas, e se nao fosse por voce, eu nunca saberia do erro por pura preguica.
abrax
RF
Oi Roy,
Você é bem vindo. Não considero isso um erro pessoal, porque na verdade a mídia brasileira é a que não faz pesquisa, e tem repetido como fatalismo algo que surgiu como piada na década de vinte. Seu post foi muito oportuno pelo otimismo que transpira de suas palavras.
P.S.: "C" é de "C l e m e n t i n o".
[]s
C de M
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