Há determinados assuntos sobre os quais pouco me interessa o que você pense. O que você – ou eu – pensarmos, não melhorará a lógica ditada contra o ponto de vista de, por exemplo, manter os direitos humanos de pessoas pobres, ou manter os direitos humanos de imigrantes, sejam negros, judeus, italianos ou irlandeses. Nenhuma de suas palavras servirá para enriquecer meu raciocínio quando tratarmos desses temas.
Nos Estados Unidos, como já mencionado por aqui, alguns estados tiveram no bilhete eletivo a escolha de descaracterizar a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo, sendo que a Califórnia, um dos primeiros estados a legalizar a união, aprovou o decreto popular. Na Flórida a mesma proposição foi encontrada pelos eleitores, a diferença apenas na construção da verborragia confusa da emenda, e no número da proposição, sendo a 8 na Califórnia, e a 2 na Flórida. Ambos estados aprovaram a descaracterização de matrimônios entre pessoas do mesmo sexo.
Agora, ativistas homossexuais invadem as ruas da Califórnia para revirar o processo supostamente democrático. E, na suposição de que a votação tenha sido democrática é que transcorre o mais profundo argumento.
Um dos pilares da democracia, ou uma de suas imposições, é que jamais sejam postos em voto os direitos sociais de segmentos da população. Aos incautos, um alerta: Caso os direitos sociais tivessem sido postos ao teste popular nos anos sessenta, a segregação racial existiria até hoje. Caso a África do Sul tivesse criado um referendo perguntando aos habitantes do país se queriam que o Appartheid terminasse, pois, poderia jamais ter terminado. Término, aliás, já tardio na história contemporânea.
Esta expressão da liberdade humana inclui uma série de leis e emendas constitucionais às quais a nação regrediu sob o governo de George W. Bush. Entre elas está a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo.
Há o principal argumento que o estado e a igreja, sinagoga, mesquita, culto, devem ser separados acima de tudo. A constituição quase sagrada dos Estados Unidos, apesar de não dizer isto explicitamente, dá a entender que acima do “Deus” e de “Jesus” mencionados no documento, as leis do estado e as leis de Deus são diferentes justamente pela diversidade de deuses e leis, e a existência de um só estado pretendido. Portanto, forjar qualquer espécie de decreto baseado em leis doutrinárias seria o primeiro erro empírico de muitos que acreditam que o casamento entre homossexuais seja, de modo ou outro, aberração social.
Além desse argumento, no entanto, há o iniciado com este texto.
Há lugar e espaço para se debater tudo, sem exceções, desde futebol a religião e política, e até mesmo a gosto. Sim, senhoras e senhores, o gosto se discute, sempre se discutiu, desde a estética à arquitetura ao refinamento do paladar. E, sim, Bertrand Russel, filósofo britânico contemporâneo, estava certo quando disse que “opiniões são como o cu, todo mundo tem um.”
Mesmo assim, há determinados assuntos cujas verdades, apesar de debatíveis, jamais podem ser tocadas pela lógica, pelo frio raciocínio, ou pela maioria das “opiniões”. Entre eles está indisputavelmente a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo, que bem como quaisquer outras, merecem exatamente os mesmos direitos civis e sociais.
Existe a chance de que uma revirada na lei ocorra na Califórnia, mesmo que demore. Em Massachussets, homossexuais realizaram seus primeiros casórios recentemente, já que o estado votou pela legalização do casamento, o que o tornaria o primeiro oficialmente aberto às uniões civis, e o segundo no total, não fosse a votação realizada na costa-oeste.
Logo, perdão se os ofendo, não é minha intenção. Se você não entende, não gosta e não aceita homossexuais, tanto faz quanto fez para mim e para eles/elas. Se você não concorda com a união e tem uma perfeita opinião tecida sobre isso, é bom preparar argumentos favorecendo o Appartheid ou a segregação racial, porque sua opinião a respeito deste tema a mesma diferença faz. Há o certo e o errado. Nesse caso, indubitavelmente, o certo está do lado oposto da maioria.
RF
PS: Texto em homenagem ao dia da Consciência Negra. Sabe-se que grande parte dos eleitores que favoreceram a perpetuação do preconceito via descaracterização da união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo foram negros e latinos. A consciência não pode ser só negra, apesar de todos os pesares.
Nos Estados Unidos, como já mencionado por aqui, alguns estados tiveram no bilhete eletivo a escolha de descaracterizar a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo, sendo que a Califórnia, um dos primeiros estados a legalizar a união, aprovou o decreto popular. Na Flórida a mesma proposição foi encontrada pelos eleitores, a diferença apenas na construção da verborragia confusa da emenda, e no número da proposição, sendo a 8 na Califórnia, e a 2 na Flórida. Ambos estados aprovaram a descaracterização de matrimônios entre pessoas do mesmo sexo.
Agora, ativistas homossexuais invadem as ruas da Califórnia para revirar o processo supostamente democrático. E, na suposição de que a votação tenha sido democrática é que transcorre o mais profundo argumento.
Um dos pilares da democracia, ou uma de suas imposições, é que jamais sejam postos em voto os direitos sociais de segmentos da população. Aos incautos, um alerta: Caso os direitos sociais tivessem sido postos ao teste popular nos anos sessenta, a segregação racial existiria até hoje. Caso a África do Sul tivesse criado um referendo perguntando aos habitantes do país se queriam que o Appartheid terminasse, pois, poderia jamais ter terminado. Término, aliás, já tardio na história contemporânea.
Esta expressão da liberdade humana inclui uma série de leis e emendas constitucionais às quais a nação regrediu sob o governo de George W. Bush. Entre elas está a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo.
Há o principal argumento que o estado e a igreja, sinagoga, mesquita, culto, devem ser separados acima de tudo. A constituição quase sagrada dos Estados Unidos, apesar de não dizer isto explicitamente, dá a entender que acima do “Deus” e de “Jesus” mencionados no documento, as leis do estado e as leis de Deus são diferentes justamente pela diversidade de deuses e leis, e a existência de um só estado pretendido. Portanto, forjar qualquer espécie de decreto baseado em leis doutrinárias seria o primeiro erro empírico de muitos que acreditam que o casamento entre homossexuais seja, de modo ou outro, aberração social.
Além desse argumento, no entanto, há o iniciado com este texto.
Há lugar e espaço para se debater tudo, sem exceções, desde futebol a religião e política, e até mesmo a gosto. Sim, senhoras e senhores, o gosto se discute, sempre se discutiu, desde a estética à arquitetura ao refinamento do paladar. E, sim, Bertrand Russel, filósofo britânico contemporâneo, estava certo quando disse que “opiniões são como o cu, todo mundo tem um.”
Mesmo assim, há determinados assuntos cujas verdades, apesar de debatíveis, jamais podem ser tocadas pela lógica, pelo frio raciocínio, ou pela maioria das “opiniões”. Entre eles está indisputavelmente a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo, que bem como quaisquer outras, merecem exatamente os mesmos direitos civis e sociais.
Existe a chance de que uma revirada na lei ocorra na Califórnia, mesmo que demore. Em Massachussets, homossexuais realizaram seus primeiros casórios recentemente, já que o estado votou pela legalização do casamento, o que o tornaria o primeiro oficialmente aberto às uniões civis, e o segundo no total, não fosse a votação realizada na costa-oeste.
Logo, perdão se os ofendo, não é minha intenção. Se você não entende, não gosta e não aceita homossexuais, tanto faz quanto fez para mim e para eles/elas. Se você não concorda com a união e tem uma perfeita opinião tecida sobre isso, é bom preparar argumentos favorecendo o Appartheid ou a segregação racial, porque sua opinião a respeito deste tema a mesma diferença faz. Há o certo e o errado. Nesse caso, indubitavelmente, o certo está do lado oposto da maioria.
RF
PS: Texto em homenagem ao dia da Consciência Negra. Sabe-se que grande parte dos eleitores que favoreceram a perpetuação do preconceito via descaracterização da união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo foram negros e latinos. A consciência não pode ser só negra, apesar de todos os pesares.
11 comments:
Claro que a consciência não pode ser só negra , Roy, também penso assim.É mais um dia para o lazer (esse sim, consciente ).
Beijão .
Af... Não consigo entender por que o "Dia da Consciência Negra". Quando falaram que negros e brancos são iguais, isso para mim não mudou nada, nunca vi diferença entre um e outro. vejo diferença de personalidades, de coisas que caracterizam as atitudes das pessoas.Fico pensando se fazer um feriado para conscientizar isso não seria instigar a diferença... não seria racismo?
Não deveria existir dia do branco, do negro, do amarelo, etc... Somos todos iguais, só muda a direção que cada um escolhe na vida. A prova disso está aí, nos EUA, um negro como Presidente.
Só espero que ele consiga resolver a bomba que pegou, isso sim vai ser difícil...
Quando a discriminação, sei que existe, só não acho que seja chamando a atenção para diferenças que não dizem nada, que irão acabar com ela.
Beijo.
Concordocontigo, manozinho: mó leseira baré esse lance de "consciência negra", tem que ser consciência global, como diria uma cliente minha, "como um toldo"! Todo mundo é cerumano, tem mais é que enxergar no outro a si mesmo, pt, saudações!. Bjo!
Disseste tudo, Roy. Uma das partes mais intrigantes do preconceito é justamente quando quem o sofre de uma maneira não perceber quando o pratica. Em outras palavras, pimenta nos olhos dos outros é colírio. Continuo tendo fé na humanidade que um dia todos serão iguais, respeitadas as suas diferenças, e que elas sejam motivos de enriquecimento e soma e nunca mais de divisão e exclusão. Excelente texto. Parabéns!
PS: Sorry, deletei o comentário anterior, não o havia revisado. :)
Hi, Roy.
Não é porque o camarada é negro que ele não pode ser reacionário. Não é porque o camarada é judeu que não possa defender o extermínio dos árabes. O preconceito não tem fronteiras. A intolerância não está à disposição de todos os bárbaros, independente da cor da pele.
De minha parte, eu sou neguinha, eu sou negão. E a minha consciência é cor de rosa com bolinhas azuis.
Abração.
OPS, revisão: a intolerência ESTÁ a disposição de todos...
Confundiram no Brasil "consciência negra" com dia do negro, no final, aqui tudo vira folclore. No mundo todo, intolerância e ignorância andam de mãos dadas. Beijus
"Consciência negra", "Dia do negro", no final, não acha que tudo gera diferenças e preconceitos?
Beijo.
Roy, gostaria de dissertar sobre tudo isso, mas, no final, cabe-me apenas esta frase: a intolerância é uma merda.
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Abraço forte!
Eu achei um absurdo ter sido colocado em votação um direito já adquirido! Puro desrespeito!
Qto ao dia da consciencia negra, como eu disse no meu texto, não gosto de dia disso ou daquilo. E acho que a consciência deve ser universal. E dia de consciência é todo dia. Entretanto, a segregação racial aqui ou em qq outro lugar ainda é fortissima, ainda é dolorosissima, ainda precisa ser combatida de todas as formas. Eu sei que o preconceito existe tb em relação ao judeu e que a dor é igual, mas convenhamos, a questão sócio-econômico-cultural faz uma grande diferença entre estas duas raças, né?
E, enfim, repetindo o que já foi dito, a intolêrância não tem cor, raça ou nacionalidade. E deve ser combatida seja onde e como se apresentar!
Beijoconas
Aqui no Arizona houve proposta igual, votada e aprovada pela população do estado. Aliás, ontem mesmo um grupo de gays, lésbicas e simpatizantes fazia vigília em frente a um templo Mórmon (um dos maiores patrocinadores da campanha contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo). Concordo com você, mas pergunto onde estavam os grupos ativistas antes das propostas serem votadas. O barulho todo devia ter sido feito antes, para evitar a aprovação.
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