Monday, November 17, 2008

Obama e a Crise

A recessão econômica nos Estados Unidos afeta o dia a dia de pessoas comuns mais do que se imagina. Se por um lado o preço da gasolina abaixou dramaticamente nos últimos três meses, por outro, de desempregados em número recorde coletaram seguro-desemprego no mesmo trimestre.

Os desafios do século XXI são diversos, e sempre foram, em qualquer século. Talvez o incrível seja a repetição de erros humanos que, ao ocorrerem não eram estranhos ao comportamento de nossa espécie, mas ao se repetirem levantam enormes questões sobre nossa capacidade evolutiva. A natureza certamente tem seu tempo para corrigir suas próprias aberrações, criando outras no percurso, mas sempre lidando com seu ciclo em harmonia paradoxa ao ritmo da evolução do pensamento humano. Este, por sua vez, não tem ordem específica, e seu ritmo nem sempre leva ao rumo certo.

Há pouco tempo, vivíamos em um país que passou a aterrorizar segmentos de sua população mais do que qualquer ameaça terrorista concreta nos últimos sete anos. Hoje em dia nos concentramos nesse remoimento interno de inseguranças futuras às quais quase todos estamos vulneráveis. Enquanto as “guerras ao terror”, “ao sexo”, “às drogas” e “ao imigrante” apenas expandiram o foco, a construção de melhores valores deixou de ser prioridade.

A crise econômica pode levar as três grandes companhias automobilísticas estadunidenses à falência. Tratam-se da General Motors, Chrysler e Ford, que trarão seu caso ao governo ainda hoje de que parte dos $700 bilhões de dólares dedicatos ao resgate financeiro nacional seja a elas dedicada.

O presidente-eleito, Barack Obama, já pediu ao presidente George W. Bush que trabalhasse com seu poder executivo para forçar um pacto que as ajudasse. As três companhias terão de cortar sua força trabalhista a partir de 2009, e a questão não transcende de quantos serão cortados. Existe a possibilidade de que todos, enfim, sejam demitidos, e uma, duas ou as três grandes companhias automobilísticas nacionais escorram pelo ralo da semi-depressão.

Por outro lado, opositores do resgate dizem que a linha deve ser riscada, e os limites ao resgate de companhias privadas deve ser delineado. Isto, depois da semana em que o secretário do tesouro, Henry Paulson, mudou o plano original do resgate anunciando que não mais comprará propriedades condenadas, mas que injetará quantias maiores ao benefício de investidores. Também, após semanas intensas de discussões em torno de outro resgate parcial a proprietários às márgens de perder imóveis com melhores chances de pagá-los na íntegra caso o resgate venha a tempo.

Parte da polêmica envolve a qualidade dos produtos fabricados pelas companhias estadunidenses. São, no geral, carros com pouca milhagem pelo galão de gasolina, de qualidade e teconologia inferiores a carros importados do Japão ou Alemanha. Obama pretende atar qualquer resgate à demanda da fabricação de produtos mais tecno-ecológicos e duradouros, seguindo a filosofia de que “não se pode deixar uma crise sem aproveitar as oportunidades que esta traz”.

Faltando 63 dias para a troca de gabinete presidencial, as especulações do campo de Obama em relação a futuros planos de sua administração têm se tornado quase uma demonstração de falta de coordenação política, algo não visto na campanha do presidente-eleito. À semana passada, uma série de notícias veiculadas por supostos íntimos do time de transição presidencial ofuscaram a tranquilidade antes vista no horizonte do futuro homem mais poderoso dos Estados Unidos.

Porém, Obama, que hoje renunciou seu cargo como senador pelo estado de Illinois, terá de lidar com um momento crucial, com perdão pelo clichê, na história de uma das peças mais ativas do quebra-cabeças internacional. Resgatar ou não a indústria auto-mobilística tornar-se-á o primeiro teste do futuro presidente. Mais dinheiro público investido em mais resgates astronômicos para previnir a extinção de centenas de milhares de empregos parece, novamente, ser a única solução, mas a insegurança - especialmente com a mudança nos planos de Paulson, que agora preside autoritariamente sobre os $700 bilhões aprovados pelo Congresso, Senado e Presidente - prevalece.

E, novamente, nem contamos as feridas que a guerra no Iraque e Afeganistão causaram ao Oriente Médio e o papel dos Estados Unidos na resolução destas múltiplas crises. Hoje, a nação rói unhas e passa noites em branco sem saber quais ventos traz o amanhã.

Portanto, no momento não nos importa saber se Hillary Clinton ou o governador do estado de New México, Bill Richardson, serão secretários de estado da administração de Obama à não ser que a notícia seja definitiva. O que Obama pretende fazer tem de ser esclarecido, concretamente, o mais rápido possível, e se devagar, cautelosamente, que traga ousadia e firmeza quando venha. A nação não quer saber se o presidente fechará o presídio de Guantánamo Bay à não ser que seja este seu plano definitivo.

E, enquanto todos os receios acima mencionados nos assombram, a população gay protesta a injusta e, para mim, desumana decisão popular de banir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, tornando um direito garantido pela constituição, ilegal segundo a mesma.

Do futuro presidente, seja justo ou o oposto, se espera mais habilidade, engenhosidade e seriedade do que se espera do atual. Infelizmente, a Crise e Obama caminham lado a lado a partir do dia 20 de Janeiro. Obama precisará estar fresco no cargo presidencial como foi à pele de candidato. O caos, afinal de contas, não está nada fresco.

RF

5 comments:

Jens said...

Nuvens plúmbeas no horizonte, camarada Roy. Onde está lord Keynes nesta hora aziaga para o capitalismo? Que suas luzes iluminem Barack.
Um abraço.

Roy Frenkiel said...

Ai esta, e ai esta, vivo como se nunca tivesse mudado de opiniao.

abraxao

RF

Anonymous said...

Eu deveria ter vindo aqui antes de fazer meu texto! Com certeza o seu me daria muitas ideias interessantes!!!
Agora o tempo é de expectativa. E de torcida. O mundo deseja que Obama tenha ombros fortes pra segurar o peso da crise. Tomara que assim seja!
Beijo!

Lola said...

Vamos esperar para ver no que vai dar... Como não sou a favor do capitalismo, acredito que havendo mudanças, ainda pode dar certo!

Estou de volta...
Beijo.

Anonymous said...

Trabalho é que não vai faltar!! Beijus