Friday, November 07, 2008

McCain teve a menor chance?

A resposta à pergunta-título da postagem de hoje é: Sim, John McCain teve a menor chance de vencer contra Barack Obama nas eleições do 4 de Novembro, mesmo tendo em conta o clima anti-republicano testemunhado nas urnas, e a baixíssima aprovação nacional do presidente.

Desde 2006, com as eleições congressionais, a nação já dava um recado ao partido ao eleger, por maioria, a nova lider, Nancy Pelosi, ao Congresso.

O partido Republicano enfrenta uma crise interna que partiu do distanciamento de seu segmento moderado e conservadores mais fiscais do que sociais de George W. Bush, e culminou expressadamente nas preliminares republicanas, quando a maioria da essência de sua base teria optado por qualquer candidato, menos McCain.

O candidato republicano venceu as preliminares, quiçá, por ser o menos protegido pelo partido. Suas qualificações históricas como herói de guerra, e seus anos no Senado, mesmo tendo sido um dos famigerados Keating 5 (escândalo envolvendo cinco senadores e um rico empresário), geraram um senso de segurança entre conservadores justamente moderados, e deram aos independentes bons motivos para flertarem com o veterano candidato em sua segunda empreitada presidencial. Flertaram, na realidade, durante as preliminares e nas primeiras semanas após as convenções partidárias.

Seus planos, mais detalhados e confiados em quesito de política externa do que economia, seduziram aqueles que se preocupam com a “guerra ao terror” da doutrina Bush. Seus planos econômicos encaixaram-se classicamente nos padrões republicanos.

Há oito anos atrás, quando concorreu contra George W. Bush, McCain era tido como um verdadeiro “ás”. Seu desgosto pelo atual presidente, como aqui mencionado há pouco, sempre foi evidente. Muitos democratas e republicanos que votaram em Barack Obama na passada Terça-Feira, teriam votado pelo John McCain de 2000. O fato é que, em 2000, Bush conseguiu ofuscar a decisão dos eleitores plantando sementes de dúvidas sobre o caráter do senador pelo Arizona, difamando-o de todos os modos possíveis e imagináveis, inclusive contra seus anos militares, o que contribuiu, apenas, à desconfiança do candidato republicano em 2008 ao então candidato à presidência em 2000.

Porém, algo aconteceu este ano. Além da má fama de Bush, o que realmente contribuiu mais para sua derrota foi a persistência em posicionar-se favorável ao presidente em temas consecutivos. Primeiro, favorecendo um “feriado” do imposto à gasolina, logo apoiando o presidente a retirar a moratória que proibia escavações petrolíferas nas costas marítimas do país, e mesmo tendo sido contrário aos cortes tributários da era Bush, posicionando-se favorável aos mesmos alguns meses depois. McCain era contra o retiro da moratória duas semanas antes de assumir a posição do presidente.

A campanha impecável de Obama salientou a desordem da campanha de McCain. Ao invés de assumir os temas mais importantes, o candidato republicano começou com os mesmos ataques que Hillary Clinton tentara nas preliminares, mas sem sucesso. Ataques à inexperiência do candidato democrata também cairam por água a baixo.

Acima de tudo, McCain errou gravemente, na opinião do bloguista que vos relata, ao convidar Sarah Palin à vice-presidência. Por mais que a governadora do Alaska tenha contribuido para a energização da base de extrema direita, e talvez, de início, para a união de todo o partido, em poucos dias suas gafes, a evidência de sua despreparação, a incapacidade de responder às questões mais simples pesaram contra a governadora e alienaram os conservadores fiscais e republicanos moderados.

Poucos dias antes do dia 4 de Novembro, Palin recebeu um trote de dois disk-jockeys canadenses, que a chamaram com sotaque francês fingindo tratar-se do presidente Nicolas Sarkozy. Palin atendeu, e conversou com a figura sem suspeitar, nem por um instante, que o presidente da França jamais ligaria pessoalmente a um candidato, quanto menos vice-presidencial. O campo de McCain sofreu admitidamente. Na noite da derrota de McCain, Palin queria discursar à nação, mas foi logo calada pelo diretor da campanha: “Vá perder suas próprias eleições.”

A querida autora do blog Contemporary Cinderella escreve que McCain “voltou” em seu discurso derrotado. Concordo. McCain viu-se tendo de defender Obama pela segunda vez, depois do episódio com uma senhora em uma assembléia em Minnesota, quando teve de explicar aos seus constituintes que Obama não era árabe. A platéia que o recebeu na noite de sua derrota vaiava o candidato democrata, mas McCain soube ser gracioso e comprovar que a democracia pode e deve funcionar.

Caso McCain tivesse sido mais original, sincero, e caso continuasse usando o cajado de “ás”, demonstrando evidente desgosto pelo presidente, e, especialmente, caso tivesse escolhido outro candidato à vice-presidência, como Mike Huckabbe ou Mitt Romney, até mesmo o vira-casacas democrata Joe Lieberman, certamente a corrida presidencial seria mais apertada do que o testemunhado na noite de Terça-Feira.

Para McCain, foi o fim. Para a base, o início do desespero, agora assumindo a mesma posição que democratas assumiram durante oito anos com a eleição de Bush. A diferença é que ninguém duvida que Obama tenha sido eleito democraticamente. Outra grande diferença é que em 2008, 64% da população em idade eleitoral, votaram.

Ao meu ver ainda novato e amador no cenário político estadunidense, McCain poderia ter clamado o voto geral, posicionando-se como verdadeiro “ás”, já que a tradição republicana é de impedir que eleitores exerçam esse direito. McCain deveria, estritamente, ter se oposto ao plano de resgate econômico traçado por Henry Paulson e Ben Bernanke, apoiado por Bush, conforme o faria sua base não fosse ano eleitoral. McCain deveria assumir uma posição mais moderna em relação à reforma energética, especialmente em tempos cruciais como os que vivemos, já que alguém reformará a energia mundial, o Brasil já deu sua largada particular, e se os Estados Unidos seguir na persistência de que a solução desse problema é “escavar, baby, escavar”, o atraso será inevitável.

McCain não terá terceira chance. Já Obama, a partir de ontem, passa a ser testado aos olhos do país, e do mundo.

RF

6 comments:

Beti Timm said...

Moço,

vim aqui deixar um beijo e te parabenizar pela vitória do Obama. Agora é só esperar o desenrolar dessa caminhada e torcer, para tudo correr bem!

Beijos

Anonymous said...

É.. o primeiro passo está dado! Resta-nos acompanhar a trajetória de Obama e torcer para que ele responda, o máximo possível, às expectativas do mundo!
Qto a vc, gostei de ver que continuará! A mudança do título já mostra o caminho!
Beijoconas

José Leite said...

Parabéns, pois modestamente que fosse, também contribuiu para a vitória do Obama!

God Bless America!

Jens said...

Hi, Roy.
Fiquei contente. É certo que os negros ainda não tem autorização para flertar com a filha do patrão, mas pelo menos não mais serão enforcados na beira das estradas. Eu diria que agora, inclusive por causa da crise, é ingressamos de fato no século 21. O mundo está mudando e os gringos sinalizam o caminho - quem disse que o império não se recicla? Os próximos anos vão ser estimulantes. Ainda bem que você está aí, no coração da selva, para nos contar tudinho.
Parabéns pela excelente cobertura da campanha, onde fostes uma testemunha ocular a auditiva da história. O prazer foi teu e o privilégio foi (e continuará sendo) nosso em trilhar esta estrada em tua companhia.
Um abraço.

Anonymous said...

24 horas depois de ser eleito Obama já sofria pressões. Segundo o New York Times e o Le Monde é Obama quem está com pressa de constituir uma nova equipe. Definitivamente o modo como se escreve uma notícia não é neutro. Boa semana! Beijus

Anonymous said...

Ah, para você se divertir um pouco
http://www.youtube.com/watch?v=f4kEf3qokG4