Tuesday, October 07, 2008

Sujeira no Ar

Desde o início das campanhas às eleições gerais, o candidato democrata, Barack Obama, viu-se derrotado de acordo com o Gallup em apenas duas ocasiões. A primeira, em uma pesquisa realizada um pouco antes das convenções partidárias em Agosto e Setembro, e a segunda, depois da convenção republicana, esta por uma semana consecutiva. Empatados estiveram, ao menos tecnicamente, em maior parte das pesquisas desde Julho, mas a margem de vitória por dois, três ou quatro pontos percentuais pertencia a Obama.

Há dez dias consecutivos Obama vence seu rival republicano, John McCain, por uma margem de sete a nove pontos percentuais. A crise econômica é, em parte, o que mais impulsionou a campanha democrata nas últimas duas semanas.

É por isso que o campo de McCain em múltiplas vozes decidiu que continuar falando sobre a economia seria péssimo negócio ao candidato conservador. A estratégia, agora, voltou-se a fazer o que Hillary Clinton tentou, sem sucesso, nas preliminares: difamar Obama por associações.

“Quem é o verdadeiro Barack Obama?” Perguntou McCain, ontem, enquanto realizava uma de suas rallies populares. Da platéia, um eleitor inconformado respondeu: “Um terrorista!”

“Eu li no The New York Times, já que a mídia liberal demonstrou interesse em minhas fontes, que Obama é camarada do terrorista doméstico, William Ayers.” Reforçou Sarah Palin, candidata à vice-presidência de McCain a um grupo distinto, na Flórida.

A nova propaganda política desenha a mesma imagem, a incerteza da lealdade de Obama ao seu país, suas conexões com o pastor Jeremiah Wright, e sua amizade (Obama serviu em um evento caritativo ao lado do reformado Ayers, que já planejou bombardear a Casa Branca, mas que passa sua vida agora como um membro semi-funcional da sociedade) com William Ayers.

O fantasma de Clinton volta a atacar. Afinal, foi ela que abriu as portas com os primeiros ataques, originando o desvínculo de Obama com a igreja de Wright, e forçando-o a explicar, em público, que tinha oito anos de idade quando Ayers realizava atos terroristas, e que serviu com o mesmo por alguns dias em um navio muitos anos depois, sem sequer tê-lo reconhecido em princípio.

Novamente, o rumo é de campanhas negativas. Não surpreende, nem um pouco. Faltando 28 dias para as eleições gerais, McCain encontra-se em um buraco escorregadio, perdendo em estados cruciais como Ohio, Michigan, Minnesotta, Flórida e Pennsylvania por margens crescentes. Mesmo tendo ele explicitamente prometido não recorrer a campanhas negativas há cinco meses atrás, nenhum político são é de ferro.

Obama provavelmente faria o mesmo, recorrendo a aspectos negativos da famosa “estratégia” (não tática, estratégia!) de McCain em relação ao futuro do país. Mas, será mesmo que Obama atacaria, por exemplo, os anos de serviço militar do senador pelo Arizona, questionaria sua sanidade devido à idade, ou suas amizades com pessoas controversas, como o pastor John Hagee? Duvido. Se o quisesse fazer, já o teria feito.

O fato é que o senador democrata, assim que soube das intenções do campo rival, lançou seu contra-ataque. McCain agora é lembrado pelo incidente envolvendo Charles Keating Jr., um credor que, segundo artigo do The LA Times, “enchia os cofres de cinco senadores” nos anos 80, incluindo John McCain. Quando o governo começou a questionar a legitimidade dos empréstimos de Keating, o mesmo recorreu aos cinco senadores para que o ajudassem.

O caso dos famigerados Keating-Cinco foi, segundo McCain, o pior de sua vida, incluindo o tempo passado como prisioneiro na guerra do Vietnã. “Os vietnamitas,” disse no mesmo artigo, “não questionaram minha honra.” Keating foi preso, mas logo solto por detalhes técnicos, e os cinco senadores viveram anos intensos de investigações éticas. Tanto John McCain quanto sua esposa, Cindy McCain, receberam benefícios equivalentes a milhares de dólares de Keating, e Cindy chegou até a investir em um centro comercial que pertencia ao empresário. Nenhum centavo desse dinheiro foi ressarcido, e Keating custou ao governo por suas práticas ilegítimas 2.6 bilhões de dólares. McCain foi convicto pelo comitê ético do senado, e seu juízo comprometido, o que o arrasou, pessoalmente, por muitos anos.

Porém, o que mais me espanta não é McCain, ou sua esposa Cindy, culpada, no passado, de ter roubado medicamentos de uma caridade que ela mesma fundou em benefício de crianças africanas. O que mais me espanta é que Palin, uma fanática religiosa que disse, há pouco, que “ainda verei a Jesus em minha vida nesta Terra”, praticou exorcismos contra bruxaria, e chegou até a atribuir os crimes e a imoralidade de sua cidade enquanto prefeita a uma cidadã estrangeira à qual chamava de Bruxa, que é apoiada (e apoiou) [por] um grupo separatista do Alaska criado por um personagem que diz “odiar a América” com todas as forças, consiga não explodir em pleno palco quando fala das associações de Obama.

Pois, caros amigos e amigas, o país se vê em grande crise. Há alguns dias, o banco que preparava a retomada da casa de uma senhora de 90 anos de idade perdoou sua dívida porque a senhora, quando soube da expulsão, tentou se suicidar disparando-se um tiro. Sobreviveu e agora se recupera em sua própria casa. McCain decide falar sobre terrorismo. Sim, porque é muito comum que um senador seja amigo de terroristas, obviamente. Muito mais comum que amigos de terroristas não sejam vetados para a candidatura presidencial.

Oxalá o processo de escolha do vice-presidente fosse o mesmo. Caso assim fosse, Palin jamais seria considerada, à não ser por, voilá, terroristas. De todos os modos, menos tenho contra McCain do que por seu juízo completamente comprometido quando a escolheu ao bilhete. Ela tornou-se o Bush depois de Bush, a pior das escolhas possíveis e imagináveis já vistas nesta Terra. Seria menos insólito que Aécio Neves vencesse a presidência com Fernando Collor no bilhete, do que o que vimos no processo presidencial aqui, nos Estados Unidos. Nada me enerva mais, e a nada repudio mais do que a existência de Palin no bilhete republicano.

Quanto aos ataques negativos… Falta pouco. Amanhecerá…

RF

6 comments:

Anonymous said...

Deve ser necessário a uma campanha pegar todos os lados negativos do oponente. Deve, já que esta é uma prática comum e considerada normal.
E deve tb render mais votos que se falar em programa de governo, né?
Seja como for, por estas e outras é que campanhas políticas me deixam enjoada!
Que venham logo as eleições!!!
Beijo queridão! E desculpe as minhas demoras. Ando sem pé e sem cabeça! rs

ZEPOVO said...

A democracia americana é linda, um verdadeiro show como só eles sabem fazer e querem que o mundo veja!
Os americanos são estranhos, crucificaram Clinton, um cara bacana e competente não porque ele conspurcou a Casa Branca transando legal com a estagiária fofinha ( posso garantir que são as melhores...) mas porque ele mentiu, negando a verdade!!!???
Obama deve ter meia dúzia de mentirinhas em seu currículum, digo sem base e chutando, mas sem medo de errar; E isto pode acabar com ele, tirando a oportunidade dos americanos variar um pouco na vidinha chata e previsível deles...

Anonymous said...

Meu camarada, quando se fala no conservadorismo extremo e na ignorância da candidata a vice pela chapa republicana aqui no Brasil, eu não pensei que chegasse a esse ponto ridículo (se não fosse também preocupante que você descreveu), de atribuir problemas a ação de bruxaria!

E isso na nação mais poderosa do mundo e com bons índices educacionais...

Um abraço.

Anonymous said...

O pior é que nem é tão difícil esse tipo de "estratégia" funcionar, né? Daqui que se "prove" (se isso fosse possível, claro, pq onde há fumaça, há pelo menos uma faíscazinha) que o cachorro não comeu a própria mãe... rs. Ela, a Palin, é a prova de que pra ser doido não precisa ser feio! Pqp, essas minhas metáforas um dia vão me acabar co ma vida! rs. Bjo, querido!

Jens said...

Hi, Roy.
He, he, he, que fumaceira. Do pescoço pra baixo é tudo canela. Pau puro.
Aqui nos trópicos a direita raivosa é igual (ou pior). Basta relembrar o Collor colocando a ex-mulher do Lula na tevê. Depois, foi aquilo que se viu: tornou-se dos maiores ladrões de todos os tempos da história do Brasil (o que não é mole), metendo a mão no dinheiro de todo o mundo. Os gringos que se cuidem. Se o cara tem jeito, age e se parece como um canalha certamente o é.
***
PS: então a Palin diz nucular? Hummm... interessante.
***
Aguardo a cobertura do debate de hoje. Um abraço.

Anonymous said...

Vai dar OBAMA!!!! rs
Beijo fofinho!