Friday, September 05, 2008

Respondendo aos comentários alheios

Santa, do blog sócio-político-cultural, um dos mais descolados e populares do Eixo do Bem, reproduziu a coluna de Reinaldo Azevedo comentando o discurso da vice-presidente de John McCain, Sarah Palin.

Frequentemente discordo de algumas posições comuns no blog da Santa, mas jamais deixo de visitá-lo porque conheço a inteligência e a capacidade (muito, mas muito maior do que a minha, isso não é falsa humildade, mas honestidade intelectual) de formular opiniões tanto da autora, quanto de muitos de seus comentaristas. Discordar dessa vez, contudo, me parece obrigatório, e relevante à Escolha do Próximo Porteiro são os argumentos tanto de Azevedo quanto dos comentaristas do blog. Usando-me do domínio público da rede virtual, postarei os comentários mais relevantes em negrito e minha posição. Espero esclarecer, se não o tema discutido, minha perspectiva a seu respeito.


Duda disse...

Observem que Palin criticou e muito bem criticado Obama como homem público e a mídia obamista porque a criticam pela vida privada. Dá-lhe, Sarah Palin!!!

Sim, Duda, por um lado, a mídia “obamista” realmente criticou Palin por sua inexperiência. Por outro, Barack Obama também foi criticado há exatamente oito dias pelos mesmos motivos pelo campo de McCain.

Veja bem, argumentaria como democrata que Obama foi eleito pelo povo, por uma maioria surpreendente de eleitores frescos, novos no cenário político, e outros mais experientes, não só negros, mas de todas as raízes imagináveis, incluindo conservadores.

Palin foi eleita em processo privado e secreto pela campanha de McCain, e foi exatamente, entre todos os candidatos, a mais inexperiente do grupo. Não significa que ela seja caipira, ou que não tenha até mais experiência do que Obama, mas sim que o democrata foi eleito democraticamente, e Palin, vice do presidente mais velho que o país já teve em seu primeiro mandato, pode assumir a nação sem ter sido escolhida democraticamente.

Mesmo assim, conforme especificado no primeiro parágrafo, Obama foi tão ou mais criticado do que Palin, e na mídia que eu assisto e leio, essas críticas têm enorme - e copiosa - repercussão.


Dayse disse...
Goste ou não, o discurso de Sarah Palin foi brilhante, profundo e verdadeiro. E ponto.

Sabe, Dayse, eu sou democrata, então mesmo como estudante de jornalismo, deixar de carregar minha própria opinião (conceito, e não pré-conceito) seria impraticável. Mesmo assim, ao assistir o discurso, que realmente foi o melhor da convenção, perguntei-me o mesmo que questionou Joe Biden no dia seguinte:

Palin não falou dos desafios da nação, apenas de modo geral e abstrato, jogatina republicana claramente exercida por George Bush em oito anos de poder.

Menciounou várias plataformas utópicas como “bondade”, “paz”, “segurança”, “valores”, “coragem”, “determinação”, mas nenhum dos convidados da noite falou sobre seguro de saúde, o escândalo da péssima inteligência e pressão da Casa Branca na ocupação da guerra no Iraque, sobre a crise imobiliária, e quando falou sobre o petróleo sua única sugestão é escavar e escavar e escavar.

Para que tenhas idéia, não sou contra escavações nas costas marítimas ou nas reservas ecológicas do Alaska. Não sou contra nem a favor, porque sei pouco sobre o tema e eu não sou ambientalista. Essa é uma das muitas bandeiras que não carrego. Mas aqui nos Estados Unidos há um camarada chamado T. Boone Pickens, republicano, que oferece um plano aparentemente brilhante para a reforma energética, baseando-se em gás natural, vento, energia solar, e, é claro, aumentar e liberar as reservas nacionais. McCain já delineou planos concretos para a reforma energética, mas Bush também o fez em 2000.

Até agora, as promessas energéticas são menos detalhadas do que o plano independente de Pickens, mas ambos candidatos as fazem.

Resumindo, o discurso pode ter sido bem feito, mas discordo de que tenha sido profundo. Foi um bom discurso, mas ainda assim, pela essência conservadora e por valores diferentes dos meus, penso-o razo e ainda corre o risco, àqueles que não simpatizam automaticamente com a governadora, de soar mesquinha e desprezível contra a celebridade de Obama, porque grande parte de seu discurso foi atacá-lo com sacadas espertas. Muita poesia, pouca consistência.


Lenice disse...

Parece que os grandes pecados de Sarah Palin, além de ser considerada conservadora, são: 1). Ser mãe que assumiu com amor um o bebê com síndrome de Down, 2). Ser mãe de uma filha que engravidou aos 17 anos; e 3). Ser uma mulher bonita, corajosa... É isso? Me poupe!!

Sobre isso, postei um trecho da coluna do jornalista José Inácio Werneck, do Direto da Redação, que melhor explica quais são seus únicos “pecados” ao meu ver. Sei que há quem compre as intrigas sobre sua filha com síndrome de down, ou sobre a gravidez de sua outra filha, de 17 anos, solteira, mas isso é normal, politicamente, um risco que McCain sabia correr quando a escolheu e, certamente, não afeta a decisão de quem tem a menor base racional. Não poder atacá-la seria protecionista, e atacá-la, como eu, não parte de meu machismo, mas, novamente, da diferença entre nossos valores.
Eis o trecho de Werneck:

"Sarah Palin é contra a defesa do meio-ambiente, é contra o direito de escolher o aborto, é contra os ensinamentos de Charles Darwin, é contra as pesquisas em células-tronco, contra a educação sexual nas escolas, quer tirar o urso polar das espécies protegidas, defendeu uma iniciativa para separar o Alaska dos Estados Unidos, é integrante da National Rifle Association, quer procurar petróleo nas reservas ecológicas do litoral ártico. Até dois anos atrás nem tinha passaporte, mas Cindy McCain, mulher de John McCain, diz que Sarah Palin entende muito de política internacional “pois o Alaska está pertinho da Sibéria”.Sarah Palin é uma evangélica fundamentalista (John Mccain raramente dá as caras num templo), que prega a abstinência sexual antes do casamento – o que não impediu sua filha de 17 anos, Bristol, de engravidar. O fato só se tornou conhecido depois do lançamento de sua candidatura, com grande estardalhaço, por John McCain." (Nota do Blogueiro: Discordo desse último trecho, mas é genuíno o argumento de que haja hipocrisia nos valores utópicos e na realidade indiferente mesmo aos conservadores mais ferrenhos).


Fabiana disse...
Peraí!!!

A mídia manipula sim. Antes mesmo de acontecer a convenção de Obama já estavam chamando de "histórica".


A mídia manipula sim, e também é manipulada, mas não nesse sentido.

Já respondi à Santa no texto do início da semana, mas respondo novamente. O contexto histórico dado à convenção democrata foi a NOMEAÇÃO oficial de um candidato negro a um PRINCIPAL partido nacional, a primeira vez que tal fato ocorre em qualquer país ocidental. Jesse Jackson e Al Sharpton, entre outros afro-descendentes, já foram nomeados ou se auto-nomearam por partidos independentes, mas essa é a primeira vez que mais da metade da nação quer e aceita a mera possibilidade de ter um negro na Casa Branca.

Democratas fizeram o mesmo com as mulheres. A primeira vice-presidente nomeada foi Geraldine Ferraro, que disputou no bilhete de Walter Mondale em 1984, contra Ronald Reagan. A primeira séria postulante presidencial dos tempos modernos foi Hillary Clinton, também democrata. O primeiro candidato negro nomeado oficialmente por um partido principal nos Estados Unidos à presidência é Barack Obama, democrata. Isso é, de fato, histórico.


Anônimo disse...
Sarah Palin, Huckabee, Giuliani e Romney foram excelentes. Os Republicanos impressionaram na Convenção, e teriam tudo para a vitória de novembro, não fosse a mídia pró-propaganda-Obama.

Anônimo, talvez você não esteja familiarizado com nosso presidente nos últimos oito anos. Seu nome é Bush, e tem a menor aprovação popular da história do Instituto Gallup de pesquisas. Obama tornou-se peça importante nesse jogo apenas em Janeiro de 2008. A matemática não bate. A excelência acima mencionada é subjetiva, e não tiro seu direito de tê-los visto assim.

That’s all, folks.

Abráx, beijúx,

RF

5 comments:

Anonymous said...

Embora eu nunca comente, estou sempre lendo a Santa - desde que a conheci num blog conjunto. E concordo com vc, o blog dela é excelente - ainda que eu discorde de muitas das posições lá assumidas.
Qto às opiniões aqui colocadas, gostei das suas réplicas. Inteligentes.
Enfim, sou Obama!
Beijocas

Jens said...

Hi, Roy.
Admiro a tua paciência em discutir com a turma da direita. Eu não tenho mais saco.
Sobre a Sarah "Pitbull" Palin, segundo definição própria, a feminista Glória Stein publicou um artigo arrasador. O Azenha republicou no seu blog. Pra mim, basta.
Como a Loba, sou Obama. E quero que a direita se ferre. Lá e aqui.
***
Um abraço.

Jens said...

A direita raivosa, especialmente. Estilo GrrReinaldão.

Roy Frenkiel said...

Hehe Jens, hoje li a coluna de Paul Krugman do NY Times sobre a direita raivosa. Republicanos, geralmente, usam exatamente as mesmas atribuicoes que usam contra eles. Tipo, Obama eh elitista (quando todos sabem q republicanos sao elitistas), etc.

Quanto a discutir com a direita... Nao sou de esquerda e discuto com a esquerda. Odeio fanatismo. Odeio esse papo fechado de odiar ou amar o Lula. Discuto sempre, fazer o q.

abraxao!

RF

Luma Rosa said...

Gostei da argumentação. Política não se discute, conversa. Palin veio para desviar o foco do que realmente interessa e não gosto quando colocam Deus nas conversas.
Bom fim de semana! Beijus