45 anos depois do histórico discurso do Pastor Martin Luther King, “Eu tive um Sonho”, Barack Obama, pela primeira vez na história das convenções, deu seu discurso de aceitação à candidatura presidencial democrata em um estádio para quase 80 mil pessoas (ou mais, dependendo da fonte).
O Invesco Field abrigou eleitores e delegados, cidadãos comuns e políticos renomados segurando bandeiras dos Estados Unidos, e não cartazes pedindo a cabeça de John McCain, ou vangloriando Obama. A idéia da noite - além de encerrar o estabelecimento da candidatura, também histórica por ser a primeira de um negro a um dos principais partidos de qualquer país ocidental - foi delinear seu plano governamental, e contra-atacar republicanos pelas últimas semanas de constantes intimidações.
O senador pelo Illinois disse que a nação é melhor do que os últimos oito anos, e que pretende trazer a independência petrolífera e energética, mais empregos, corte de impostos à classe média e aumento tributário aos mais abastados, e, é claro, disse que debateria política externa com seu adversário quando o mesmo desejasse. Se Obama tem uma qualidade irrefutável é sua capacidade de formular e elocubrar retóricas.
A convenção democrata chegou ao fim em uma semana que favorece seu candidato oficial à presidência novamente nas pesquisas. Obama vence McCain, segundo o instituto Gallup, por 48-42%.
Brooks, os Sonhos, e o Absurdo
David Brooks, do The New York Times, brinca com o discurso do candidato democrata. De acordo com formulações conservadoras, a sociedade estadunidense vive tempos tão bons quanto quaisquer. Portanto, quando Obama fala de esperanças e sonhos, torna-se alvo fácil de um partido que crê, piamente, nos bons tempos.
Questionando a maioria dos republicanos experientes, e mesmo os mais jovens, a administração de George W. Bush não está entre as melhores. Muitos entendem o fracasso da Casa Branca, mas não deixam de ser conservadores. De fato, muitos bons republicanos dizem que o governo de Bush não foi conservador. Cortou impostos em tempos de guerra, mas não economizou em outros dispêndios.
Negligenciou New Orleans e todo o estado de Louisiana, e agora gasta em sua reconstrução, além dos interesses protegidos de Dick Cheney e a família Bush com contratos inegociáveis de companhias como Enron e Halliburton para a reconstrução e infra-estrutura militar no Iraque. Sem contar nos motivos da guerra, deturpados a cada novo instante, celebrados muito antes do tempo.
A coluna de Brooks corre na veia da maioria dos conservadores, entre eles independentes e libertários, republicanos e democratas da era Reagan. Não é que não estejamos navegando uma crise, mas sim, estes pensam, é apenas uma, e não a pior das crises. Mesmo sendo a pior, acreditam muitos, o indivíduo tem a capacidade de canalizar seus esforços à obtenção de seu próprio sucesso sem precisar do governo.
Tudo se resume, segundo Brooks, ao elitismo de Obama. Sim, esse jovem negro, filho de mãe solteira, miscigenado e algemado à América, é tema de chacotas entre conservadores e libertários. Resume-se à sua inexperiência, ao mesmo tempo que culmina em sua crueldade fria e calculada, o negro comunista que deseja apenas deturpar a nação a sonhar, ao invés de confrontar a realidade.
Não discordo, porém, do cinismo de Brooks na íntegra. Para mim, como político, Obama não pode ser perfeito, nem deve como ser humano assumi-lo. Não só padece de imperfeições político-humanas, mas também tem a mão em suas próprias polêmicas, mesmo com pouco tempo de senado no currículo.
Mesmo assim, McCain representa a continuidade do sistema falido que, em oito anos, diminuiu a produção interna, aumentou a dívida externa, negligenciou áreas como a saúde universal e a educação, alienando milhares de pessoas. Sem contar na incapacidade governamental de funcionar conforme o proposto, deixando a promessa da reforma energética para o próximo candidato.
Ao contrário do que se pensa, o país está mais fragilizado, suas tropas comprometidas em um conflito infinito, sua população perdendo moradia, emprego, seguranças sociais e, voilá, a esperança e a capacidade de sonhar.
Logo, Brooks deve brincar e exercer sua liberdade de expressão, mas também poderia virar a página e ler a coluna de seu colega, Paul Krugman, que também confia em sua posição demasiadamente, mas escreve o óbvio ululante: Democratas falam o idioma que se quer ouvir falar. Republicanos encontram-se emparedados entre procurar o desvínculo dessa adminstração falida e encontrar virtudes na filosofia conservadora.
A Bola no Campo Republicano
John McCain acaba de anunciar Sarah Palin, governadora do Alaska, à vice-presidência de sua candidatura. A convenção Republicana começa, oficialmente, a partir da próxima Terça-Feira, dia 2 de Setembro, e o partido clama o holofote momentâneo.
A surpreendente escolha de Palin, 44 anos, governadora há apenas dois anos, cristã conservadora, chega em um momento que o campo de McCain procura atrair mulheres à sua plataforma. Explorando a fraqueza do partido Democrata mediante a vitória de Barack Obama sobre a derrotada Hillary Clinton, e também atentando ao jargão de “mudança” que determina o pleito de seu rival, Palin pode contribuir ao partido republicano.
A próxima semana é de John McCain e Sarah Palin.
RF
Friday, August 29, 2008
O Sonho de Obama
Essas Palavras Vos Trazem
Barack Obama,
George W. Bush,
Hillary Clinton,
Invesco Field,
John McCain,
Martin Luther King,
Sarah Palin
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3 comments:
Hi, Roy.
Empolgante a cobertura da Convenção Democrata. Estou aguardando a vez dos Republicanos, curioso acerca de perfomance de GWB.
Um abraço.
Realmenten surpreendente a escolha da vice. Mas ainda estou com a beleza do Invesco Field em noite de festa democrata!
Minha torcida é pelo novo, pelo quase inusitado e pelo sonho de Luther King. Que Obama saiba honrá-lo.
Beijocas
Considerado histórico pela mídia,... Mesmo antes de acontecer... Pode?
Querido, pena que não posso visitar teu blog mais vezes. Depois do acidente que sofri fiquei com movimentos no teclado mais limitados. Mas, estou quase boa, perfeita...
Sinto saudades!!!
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