Thursday, August 14, 2008

Fraco


Estou ficando fraco, a cada dia que se passa. Sei que o contrário deveria ser obrigatório, colecionar mais poderes, afinar os talentos, a lingua, a mente, os dedos, crescer e cantar (e cantar e cantar), mas não se faz.

Fraco comigo mesmo, com minha própria vida, consciente de ser apenas como qualquer, nem pior, nem melhor, nem vítima do absurdo mundano, nem algoz guerrilheiro das malditas trevas, somente eu, comigo mesmo, fraco. Os músculos atrofiados dóem. Os nervos acelerados machucam. As células neuronais vão-se aos tragos da fumaça do cigarro.

Vejo o mundo com melhores olhos. A imagem é a que piorou. Severa, a mentira reina no planeta dos covardes. Ninguém se isenta. Esta raiva não é a de um espirito revoltado com os demais, mas consigo próprio. Em desilusão, a fraqueza ultrapassa minha própria capacidade de consolar-me com as poucas medalhas de ouro.

Perdemos como civilização, e perdemos como indivíduos. “Dar o melhor de si” é justamente o desafio que a maioria de nós não consegue desafiar. Entenderia o resultado caso o pedido fosse dar o melhor do próximo. Sequer logramos esforçar-nos o suficiente para esbarrar menos contra nossos egos.

Seria ridículo que dissesse de minha fraqueza sem criticar o meio ambiente poluído. Pura hipocrisia dizer que o defeito é só meu. Pois, não o é. Quanto mais fraco me sinto, mais perdido vejo o mundo todo. Sufocado entre armas e anseios tanáticos, entre a miséria e a ignorância, e mesmo nas regiões mais ricas, mais informadas, ainda reina a crença crédula e energúnema de que seres superiores controlam a Terra enquanto nós, cocôs do cavalo do bandido, nada temos a fazer por nós.

Cansei de viver entre o muro e a faca, acorrentado, embasbacado por perseguir sonhos e, anátema risível, sonhados por outrém. Cansei de desejar mudanças quando sei, pio e rígido, que nada realmente muda, e nada realmente se transforma. A serpente troca pele, mas não deixa de ser serpente.

Estou fraco pelas olimpíadas, pela China, pelos Estados Unidos, por Israel, e estou fraco, invejoso dos que não se preocupam no que comer, em como se transportar, no que fazer aos seguintes dias de suas correntes vidas. Já cansei de testemunhar o sucesso dos bem sucedidos, cansei de contemplá-lo, de querê-lo, de querer crescer.

Envelheci, acho. Talvez tenha apenas ganho idade emocional. Não maturidade, apenas o peso dos anos não passados, como se meus sentimentos sentissem que precisam acelerar o próprio processo, como se soubessem que meu corpo não resistirá por muito tempo.

Descanso no sorriso de minha amada, e no abraço de meu sangue. Perdão se não serve de consolo, mas eu tampouco nisso me consolo quando vejo que eles, também, sofrem demais. E nem sofrem a metade do que sofrem os verdadeiros sofredores.

A manhã pode ser outra. Hoje, suspiro, respiro o profundo, esqueço o esporte e a política e os estudos, os anseios e as ambições. Visto pijama em minha alma, e vou dormir.

Até o próximo despertar.

RF

14 comments:

Anonymous said...

Beijo.

Anonymous said...

Eu espero, de verdade, que o despertar de hoje tenha se feito com outras luzes.
Sem dúvida, vc tocou em pontos que são deveras críticos. Mas não apenas sob o ponto de vista do brasileiro. O homem está se tornando um ser cada vez mais individualista - isso num contexto geral.
Mas permita te lembrar: para cada ponto negativo há outros positivos. Nenhum deles devem ser esquecidos na hora do balanço geral.
Eu acredito na vida, acredito no ser humano e acredito que cada um de nós é capaz de se superar - se quisermos. Já vivi de ideais, já quis mudar o mundo. Hoje, mudo a mim mesma o dia inteiro. Descobri que assim consigo mudar um pouco à minha volta. Não é muito, mas se replicado fará diferença, né?
Agora, sob o ponto de vista da escrita: parabéns! Seu texto está excelente. O que nem é novidade pq vc escreve muito bem! rs
Um beijo! Que o fim de semana nos traga medalhas - mas se não touxer, que nós possamos continuar sonhando e agindo para a virada nos jogos da vida!

o refúgio said...

também tou fraca, menino! ou você pensa que eu só sou alegria? minha pseudo-felicidade é meu esforço, munha luta pra sobreviver apesar de tudo o que você listou.

um beijo grande
e fica forte!
PS: pode ter certeza que eu sou/estou mais fraca que você.

Tânia said...

Este seu texto nos cala fundo, nos toca fundo e nos faz pensar o qual sozinhos estamos neste vasto universo.
Enfim...
Vamos em frente, e sim acredito que de alguma forma encontramos força na fraqueza.

Beijo Roy

Vais said...

Olá Roy,
parabéns pelo texto
não é bem um conselho, mas mais um desejo
fica firme e força pra ti seguir em frente
abraço

Unknown said...

tem um jeito aqui na bahia que cura isso tudo, ou ao menos vale como superstição: "tomara que sua vida se encha de mar, pra que tenha sempre brisa, que faz com que o tempo afague, não bata." - coisas de pessoas como dorival, vinícius e por aí vai. boa sorte aí. curti ler seu blog. (cheguei aqui pelo blog da cris)

Roy Frenkiel said...

Ontem fiquei sabendo que Dorival se foi, amigo Rico. Obrigado pela visita e pelo desejo, um dos mais lindos que ja li.

Dorival teve preguica de nascer e preguica de morrer. "O mar," eh lindo. Amado, Jobim e Sinatra o esperam de vozes afinadas e bracos abertos.

Hoje, depois depois de um final de semana emocionante, depois de comecar a me focar nas coisas pequenas dessa vida e ve-las grandes, e por-me em meu proprio espaco, nao cantarei Dorival, apesar de ja ter chorado sua vagarosa morte. Cantarei Tijuana, conhecem os Gnomos?

O mais bacana dessa cancao na performance ao vivo eh a comedia da banda atras do som:

"Gnomos eu vi la em Marte
Gnomos por todas as partes
Na relva da selva crescente
Gnomos em torno da gente,

Eles querem nos ajudar
E nos nao devemos temer
Gnomos ensinam a amar
Gnomos nos fazem viver,"

E atras, o rapaz da banda

"To passando mal, to passando mal... Nao, to legal, to legal."

;-)

pseudo-autor said...

Grande Roy,

Estou começando a montar meu TCC da faculdade sobre o tema "A influência dos blogs na crítica cinematográfica" e gostaria do seu depoimento a respeito no meu trabalho. Você vive em Miami, acredito que frequente bastante cinema, acompanhe os festivais, deve ter uma opinião interessante sobre o assunto. Tenho sentido, aqui no Brasil, que a crítica de cinema dos jornais impressos e revistas especializadas mudou muito sua postura com a popularização dos blogs e o surgimento da liga dos blogues cinematográficos (que contém, entre seus membros, muitos críticos de revistas sobre cinema). Como você percebe isso no mercado internacional? A internet interferiu na maneira da crítica jornalística se posicionar sobre o mercado?

Desde já agradeço a força (se possível).

Cotidiano (meu outro blog):
http://robertoqueiroz.wordpress.com

Anonymous said...

Um gnomo me falou
Que você é meu amor!

Hahahahahahaha!

Osa, osa, osa, nosso forte é a rima!
Beijoooo!

PS - E, pedindo permissão ao dono do blog, beijo também pra todo mundo que mandou um beijo, um sopro, uma brisa, um afago, um abraço pro Roy... Como se diz na minha terra, "amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito"... rs. E quem ama quem eu amo tem também o meu amor.

Anonymous said...

opa
adorei o blog
a maneira clara, simples de falar de política, além da linguagem poética
com certeza estarei vindo sempre aqui pra me inspirar...

abraço e
sucesso!

Homenzinho de Barba Mal feita said...

Muito bom o texto, sem palavras...

Parabéns!!!

Jens said...

Crise nas infinitas terras? É f.., meu amigo, é f.. Sei como é.
Dizer o quê?
a) Toma um porre e dá um pontapé no traseiro de velha senhora indesejável.
b) Pede colo pra Lilith, dona dos teus quereres.
c) Fica embaixo das cobertas e espera passar (acredite, vai passar).
d) Vem pra terrinha, mais especificamente para a capital do pampa gaúcho ("quando eu fico assim meio down vou pra Porto e bha, trilegal. Deu pra ti, baixo astral").
e) Todas as respostas anteriores.
***
Um abraço. Se a dor ficar muito forte e se recusar a ir embora, prende o berro através de email.
***
Marisinha manda beijinho pra sarar.

Lola said...

Olá, Roy,
Passei por aqui rapidinho, li este post, não teria como não comentar...

Todo mundo fica assim às vezes, entendo você!
Mas, conversa com a Lilith, suga dela bastante amor, vê que tens razões maravilhosas para acordar e brigar novamente com este Roy cansado.
Tens o sopro da vida, tens um amor lindo e pessoas que te amam ao seu redor. Dê valor a tudo isso e viva, feliz, se amando sempre... Agradeça a Deus por tudo isso e levanta essa cabeça rapaz!!!
Beijão!

Tais Luso de Carvalho said...

Um desabafo comovente, Roy!
Abraços
Tais