Tuesday, August 26, 2008

Convenção Conveniente

Para Luma e Jens, necessariamente nessa ordem:

Se a Época roubou meus textos e publicou sem minha permissão, mas ainda me fez a gentileza de manter as iniciais ao fim dos textos, eu sou o RF da Época. Se não, eu sou o verdadeiro RF, o da Época, não sei por que cargas d’água, roubou só as iniciais.


Sobre a Convenção:

“Kick Off” deve ser traduzido, no caso da primeira noite da convenção democrata em Denver, como “chute no saco”. Para quem o tem, sabe a dor que o perfidioso e avassalador ato causa, e para quem não tem, quero dizer o saco, que se contente em imaginar o sacrifício. Para meus coterrâneos, “kick off” significa “dar a largada” ao evento astronômico, que culmina à nomeação final do candidato democrata, Barack Obama.

Entre os discursos agendados para ontem, dois chamaram a atenção maior da mídia, o de Michelle Obama e o do senador Ted Kennedy, que interrompeu seu tratamento contra o diagnosticado câncer no cérebro para acender a chama da convenção.

Quando ouvi o requebrado epitáfio de Nancy Pelosi, lider do Congresso, só não adormeci porque é engraçado, às vezes, testemunhar os gaguejos políticos em público. Pelosi comoveu o público somente quando narrou, em idéias abstratas, como Obama está certo e McCain errado. A maioria do público apóia Barack Obama. Não foi difícil comovê-los.

Kennedy foi introduzido com um vídeo a homenageá-lo, seus anos de serviço político, o fato de ser parente de John F. Kennedy e de Robert Kennedy, e porque sua vida vê-se concretamente ameaçada. Foi ovacionado em pé, e urrou em nome do partido e de seu candidato. O tema da noite foi fixar o patriotismo do casal Obama, e suas raízes originalmente norte-americanas.

Michelle Obama, por exemplo, explicou “porque ama a América”. Em menos de uma hora, viu-se obrigada a refutar as absurdas acusações (que, mesmo verdadeiras, não dizem nada sobre os assuntos mais importantes à população) contra seu sentimento nacionalista. Se há alguns meses disse que “pela primeira vez” ela está “realmente orgulhosa dos Estados Unidos” (pela candidatura de seu marido), ontem apenas precisou salientar que sua vida representa a vida do estadunidense mediano, e que sua escalada política baseia-se nas possibilidades que o país lhe deu e dá.

Até na escolha de Joe Biden para vice presidente, o campo democrata trouxe as eleições a uma nota menos “celebridade” e mais concreta, monótona, em outras palavras.

Não deixo o cinismo de lado, contudo, porque o palanque montado ontem e as intenções dos presentes mais me pareceu adequado a uma torcida de futebol do que a eleições presidenciais. Bill Maher, apresentador do programa Real Time, na HBO, lembrou Chris Mathews e Keith Olbermann da MSNBC que o partido dedicou a primeira noite da convenção para defender Obama de acusações risíveis. “De repente, o filho de mãe solteira nascido no Hawaí é o elitista”, disse Maher, também lembrando que o partido dos milionários não é o democrata.

O fato é que tanto McCain quanto Obama pertencem à elite. Caso não pertencessem, não estariam concorrendo à presidência. Independentes, mesmo os mais populares Libertários, concorrem em outro planeta, outras eleições. São todos um bando de “Enéas”.

Nas últimas semanas, o campo de McCain usou Clinton, Biden, a viagem de Obama à Europa e a paranóia da guerra contra o terror para abalar o candidato democrata, não sem sucesso. Mesmo assim, e ainda assim, o ano é democrata, e o partido, consciente disso, não pretende concluir a campanha pacificamente.

No campo de batalha, há dois partidos com filosofias opostas, mas preocupações similares pelas concretas preocupações populares. Porém, em suas campanhas, parecem concorrer a dois países diferentes. O primeiro, vive a constante ameaça de ser atacado por palestinos. O segundo, vive a constante ameaça econômica.

Ambos procuram atingir a paranóia popular. Conclusão: Não importa o que cada candidato seja, pense, ou faça no futuro. Enquanto ainda não eleito, todos os discursos, todos os planos, todos os esquemas estão necessariamente voltados ao espetáculo. Como, pergunto-me, escrever sobre o processo sem sentir-me um palhaço? Pois, quiçá hei de descobri-lo.

Hoje à noite tem mais, a saga clintoniana entra em cena... Tcham-tcham!

RF

4 comments:

Anonymous said...

Roy, dá pra esclarecer melhor essa história da revista Época porque eu fiquei boiando (além de curioso, é claro)?

Um abraço.

Anonymous said...

E já existe o medo de que ela, a clinton, roube a cena! rs...
Tb quero saber desta história. Que tal alguns parágrafos sobre?
Beijoconas

Roy Frenkiel said...

Hehehe, Halem, eh que a Luma, e depois o Jens, perguntaram se eu sou o RF que escreve (escreveu, sei la) na revista Epoca. Hmmmm... Nao sou! abraxao, Halem!

RF

Loba,

Deixo por aqui, porque a real mesmo so veremos hoje a noite.

O que ocorre eh que o clan dos Clinton, como voce ja deve saber, nao ficou contente com uma Convencao direcionado a outro candidato. Alem disso, Bill Clinton e Obama se desgastaram ainda mais nas primarias, com troca de ofensas e ate insinuacoes do campo de Obama sobre um ficticio racismo clintoniano.

Ha pouco tempo, Hillary ja disse a alguns de seus eleitores que tera seu nome incluido na Convencao, mas que sabe que o nomeado eh Obama, e jura fazer de tudo para que ele seja nomeado. Recusa dar entrevistas nestes dias, porque sabemos que alguma especie de encenacao ocorrera. Possivelmente, quando se der a chamada dos estados e delegados, Clinton pedira ao seu estado, NY, que a decisao seja unanime (ja que pode ser parcial, mas mesmo assim, depois da nomeacao, na Quinta Feira, todos os democratas, mesmo os vencidos, apoiariam Obama).

Ate mesmo os estados da Florida e Michigan terao a metade de seus delegados na Convencao, mas ninguem duvida que Obama seja o nomeado, e fontes de ambos campos, tanto o de Clinton quanto o de Obama, desmentem a hostilidade.

HIllary disse que seu marido nao eh uma pessoa complexa. Tudo que Obama precisa fazer eh considerar suas conquistas sociais e raciais em seu mandato como presidente. Mas que ha ofensa, ha, e todos sabem. Ha pouco tempo, Bill nao conseguiu demonstrar seu apoio intrinseco ao candidato democrata, dizendo que nenhum candidato eh experiente ate a hora de chegar na Casa Branca.

Um anuncio recente de McCain, o qual Hillary ja contra-atacou, usa todas as frases da ex postulante a Barack Obama... A saga continua, mas somente hoje a noite saberemos mais.

bjx

RF

Anonymous said...

Então, Roy, existe um certo suspense em relação às atitudes dos Clintons. Até pq, me parece que apesar de todas as falas de Hillary, a atitude de Clinton só será conhecida hj à noite. Será apoio irrestrito? Quem viver verá! rs... Aguardemos pois!
Obrigada por responder, viu?
kisses mineiros! rs