Monday, June 30, 2008

A raiz do Blog: Duas Perspectivas



Não houve resumo da semana passada pela frenese que já se instala em minha vida de estudante. Porém, com as pesquisas postadas à Quinta-Feira acredito que o mais importante foi coberto. Também trouxe os dois importantes temas do acordo entre a Coréia do Norte e a administração de George W. Bush, e etanól e sua relação com os dois candidatos presidenciais, John McCain e Barack Obama.

O que não mencionei foi o encontro orquestrado entre Hillary Clinton e Obama na cidade de Unity, Illinois, que acelerou um processo já iniciado ao fim das primárias: a atração da base de Clinton ao atual nomeado democrata. Depois das desgastantes primárias, a jogada é mostrar que houve uma genuína reconciliação, e que o partido permanece unido.

Não cansarei meus leitores com contos furados de meus mortos ídolos, ainda mais gringos, nem sempre apreciados por outras nações, mas quero mencionar por quais perspectivas oscilo. Em Junho que se vai morreram dois de meus heróis, um deles mais, outro menos recente. Primeiro, Tim Russert, o bom jornalista da velha-guarda, homem de família, tradições estadunidenses e valores com os quais não me relaciono, mas que, com ele, aprendi a melhor respeitar. Depois morreu George Carlin, comediante, considerado por muitos como o ápice da comédia lógica, aquela que, segundo o colega profissional Bill Maher, “em extrair a comédia se tem um bom discurso e algumas ótimas lições morais”.

Russert acreditava nos valores americanos, acreditava na política, e esperava para o dia em que esta deixasse de ser um jogo para tornar-se a própria essência. Mesmo consciente das artimanhas, da propaganda e da sede por controle que têm governantes, também admirava o processo eleitoral e a democracia dos Estados Unidos. Uma de suas frases favoritas era “what a country!” (“Que país!”). Dizia isso porque ele mesmo cresceu da pobreza em sua cidade de Buffalo e conseguiu chegar a entrevistar Papas e Presidentes.

George Carlin tinha a mesma visão que adotei desde os anos de minha adolescência, e ainda mais quando deixei minha religião. O mundo “público”, o governo, a mídia, os valores populares, a arte popular, são todos meticulosa e caoticamente construídos e artificiais, postos à venda pela necessidade irracional de consumo que a humanidade adquiriu ao longo dos anos, uma evolução até lógica considerando posições mais primitivas. Era o paladino contra eufemismos e o politicamente correto. Não acreditava na política, na mídia, na loteria e nos heróis nacionais. Abriu seu último especial da HBO (seu décimo-quarto) dizendo “foda-se Tiger Woods, foda-se Lance Armstrong, estou cansado que me digam quem tenho de admirar nesse país!”

Uma de suas frases favoritas era: "Chama-se 'sonho-americano' porque a pessoa precisa estar dormindo para acreditar nele."

Voltando às eleições, Colin Powell deve endossar Barack Obama, sendo Powell uma das poucas referências populares de bom senso no partido republicano. McCain ainda não conquistou o explícito apoio da base que elege Bush ao primeiro mandato.

Tenham certeza, no entanto, que a realidade é Kafkiana, e em nome de interesses obscuros cada partido usará todas as possíveis armas para levar o cargo máximo ao fim do dia.

Em troca de e-mails entre vosso blogueiro e John Hemingway, neto de Ernest Hemingway, colunista do Direto da Redação, houve esse acordo ideológico. Para ele, os anos ’70 com todo seu período corrupto trouxeram o fim de Nixon e puniram parte dos responsáveis pelos crimes cometidos contra o povo americano, desde o Vietnã ao escândalo de Watergate. Hoje em dia, nem mesmo isso podemos esperar.

A realidade Kafkiana é que existe o lado esperançoso de Russert, e a crença de que envolver-se no sistema é o único modo de criticá-lo objetivamente. Ao mesmo tempo, existe o lado cínico de Carlin, e a descrença em absolutamente tudo que parte do “mainstream”. Oscilando entre os dois lados, o objetivamente comprometido e o meticulosamente cínico, cria-se a verdadeira análise dessas eleições n’A Escolha do Próximo Porteiro. Espero que seja útil.

RF

5 comments:

Regina Ramão said...

Ruim ter que se inserir para poder criticar, mas se não tem outro jeito, que seja assim.

Pessimista esta visão do Jonh Hemingway, bem que as coisas podiam ser diferentes.

E a pergunta que não cala? Quem vai ser o(a) vice do Obama?

Bjim, guri!

Re

Tânia said...

Roy, na ultima edição da Veja fomos apresentados ao seu staf, igualzinho ao staf de Lulinha Imbecil da Silva, enfim...

Obama já começou a falar diferente, pois acordos já estãosendo costurados...

Mas que o sonho americano de Hemingway na atual conjuntura não é tão estrelado como muitos esperam...ah não é mesmo.

Bjos

Roy Frenkiel said...

Respostas quick:

Re - Sei que pode ate ser uma pena, mas tambem parece algo sensato. Gostaria que nao precisasse ser assim, mas refiro-me a criticar a politica e estar a ela alienao ao mesmo tempo, criticar a advocacia e nao conhecer nenhum advogado, a medicina e nao ter contato com medicos, o exercito e ter fugido dele, etc. Eu pertenco ao ultimo exemplo, e em realidade, admiro aqueles que nao o fizeram porque achavam certo (alistar-se), mas porque sabiam que nao seriam considerados caso nao o tivessem feito.

Hemingway esta apenas sendo realista, nao acha?

Quanto ao "veep", excelente pergunta, quem sera??? :-) Bjx!

Tania - Quais acordos? O que rola eh que Obama esta se "centralizando", e sim, lembra mesmo o Lulinha. Arianna Huffington tem um excelente artigo sobre isso, e diz que eh um erro, mas de campanha, nao de ideologia, apenas.

O "sonho americano" eh de George Carlin. hehe Eh o unico que conheco.

bjx

RF

Anonymous said...

Roy, gosto pra caramba de vir aqui e ler seus textos. Meus comentários poderiam até ser mais proveitosos se eu conseguisse entender da política americana.
Minha visão de economista, embora sem exercer a profissão e estando destreinada, só consegue "captar" essa confusão quando já está diretamente inserida no contexto mundial.
Doidice, né?
Pois é.. mas me vale vir aqui e te ler, para que possa aprender um pouquinho e sair da ignorância.

Um beijo, queridão.

< na caricatura alí do lado é vc? hummm... rsrs. Beijo de novo! >

Loba said...

Vim deixar beijo. Mas fiquei curiosa: falei muita besteira no comentario q ue deixei e não tá aqui? rs...
Bom fim de semana! Beijoca