Wednesday, June 04, 2008

Barack Obama, Candidato Democrata às Eleições Presidenciais de 2008

O inevitável milagre inevitou-se, e o senador por Illinois de 47 anos de idade, nativo do Hawaí, filho de um imigrante e uma professora, Barack Obama, conquistou a nomeação irrefutável de seu partido.

Ontem assisti aos noticiários ao vivo enquanto a história era feita, e pela primeira vez na humanidade moderna, um negro conquistou a nomeação de qualquer partido nos Estados Unidos, e até mesmo na Europa, e na maioria dos países “livres”. Assisti enquanto lhe faltavam 11, logo 10, logo cinco e eventualmente quatro delegados para atingir o número mágico de 2,118. Pouco depois do fechamento das urnas em South Dakota e Montana, marcando o fim da temporada pré-eleitoral do partido Democrata, Obama já retinha dois ou três delegados a mais do que o necessário.


A Lógica Democrata


Para que se candidatasse sem a interferência de super-delegados, qualquer dos candidatos precisava reter, inicialmente, uma maioria de 2,025 delegados, contando o apoio dos super-oficiais, para que a decisão não se transcedesse à Convenção em Denver, Colorado. Pela disputa escandalosa pelos estados da Flórida e Michigan, punidos pelo DNC (Diretório Nacional do Partido Democrata), o número alargou-se.

Quando escrevi no texto passado que o voto popular não é o que mais contava, referia-me ao caso exclusivo de que a decisão passasse aos super-delegados. Nesse caso, e no caso de que os votos completos de Michigan e Florida realmente importassem para um potencial virada de Clinton, negado pela realidade de sua derrota extensa, o voto popular seria realmente esculachado. Pela retenção dos delegados necessários, contudo, Clinton jamais conseguiria ultrapassar a conta final de 2,152 de seu rival, mesmo conquistando o apoio de todos os delegados ainda indecisos antes das primárias de ontem, aproximadamente 173, e mesmo que conquistasse na íntegra os votos dos dois estados excluídos por regras convencionais.

Super-delegados, como já mencionado anteriormente, são oficiais eleitos pelo povo, como prefeitos e governadores. Como cada estado tem centenas de distritos, todos os distritos carregam um número de delegados (quem retém qualquer cargo político em qualquer distrito) e super-delegados. Barack Obama levou a maioria dos estados, massacrou Clinton na Super-Terça-Feira (5 de Fevereiro), sobreviveu o 4 de Março, e segurou sua posição vencendo bem onde podia, e perdendo onde não podia, sempre dando passos inalcançáveis adiante.

Assim, o voto popular fez-se valer, mesmo que Clinton tenha uma pequena vantagem depois da contagem final dos últimos dois estados, não é suficiente para negar a vitória de Obama na maioria das primárias e assembléias populares, especialmente em primárias abertas a quem não pertence ao partido.


O que traz o futuro


John McCain já deu um discurso ontem salientando suas diferenças entre sua politica e a democrata. A disputa presidencial finalmente começa, e hoje é apenas o marco do primeiro dia, em que Hillary Clinton ainda permanece nas notícias como potencial vice-presidente do atual nomeado democrata.

Salientou a intenção do candidato rival de conversar com seus inimigos sem exigências e condições prévias, as restrições mercantis que compõem a filosofia democrata, a proliferação da intervenção governamental em áreas que, segundo republicanos, a população deveria responsabilizar-se só, e o anseio de seu rival a sair do Iraque deixando o caos para trás.

Obama, em St. Paul, Minneapolis, no sítio da convenção republicana, elogiou a senadora por New York, sua rival e ex primeira dama, e elogiou os feitos de John McCain dizendo: “Sempre reconhecerei as virtudes de meu oponente, mesmo que ele decida ignorar as minhas.” Mas também salientou que McCain votou como Bush em muitas ocasiões, e quando se opôs ao presidente pela conduta da guerra no Iraque, exigia o envio de mais tropas ao país. Além disso, as diferenças filosóficas são ímpares tanto à direita quanto à esquerda. A maioria dos argumentos são perfeitamente previsíveis.

O fato é que a disputa começou, e a largada de hoje é oficial, a presidência dos Estados Unidos, seu cargo mais alto, seu ofício mais árduo, está finalmente em jogo entre dois potenciais futuros presidentes.


Vice-Presidente?


Hillary Clinton disse ontem que estaria pronta a assumir o cargo de vice-presidente de Barack Obama, se for convidada. Esse dito acaba pressionando o campo de Barack Obama a aceitar a proposta ou ser tido como arrogante por ignorá-la. Muitos dos que apóiam Hillary Clinton ou Barack Obama não confiam no bilhete, mas há um consenso de que o mesmo seria o melhor para ambos.

Como a maioria das previsões que leio terminam descobrindo-se completamente erradas, aqui não me arrisco a prever nada. Ainda é cedo, e Obama tecnicamente não precisa decidir quem assumirá seu primeiro posto oficial por hora.


E agora, José?


Pastor Wright, o nome engraçado, a idade de McCain, a esposa de McCain, os comentários da esposa de Obama... Esses nomes e fatos gozados ainda saltarão aos montes pelos próximos seis meses. Meu trabalho será procurar o que mais caracterizaria essas eleições ao interesse internacional, para não alienar os poucos compadres e comadres que me lêem.

Se Obama for eleito, não sei se será o melhor presidente. Melhor do que McCain? Desconfio que sim. Melhor do que Clinton? Difícil responder. Mas o povo quis mudança, e derrubou a inevitabilidade de uma ex primeira dama que concorreu com a certeza da vitória. E é um mulato, de nome estranho, há exatos duzentos anos do fim do mercado escravo nos Estados Unidos, em 1808.

RF

15 comments:

Anonymous said...

Muito bom texto, muito importante vitoria. Parabens!

Regina Ramão said...

Deus abençoe Obama!
Espero que seja ele o eleito.
Roy, conforme o próprio Obama comentou e eu endosso, ele tem "cara de brasileiro", acha não?
Tomar que seja só a cara e a parte boa da nossa índole.
Bjo
Re

Tânia said...

Com certeza será A ELEIÇÃO; Assistiremos, em tempos de internet e CNN, a mais acirrada campanha às eleições presidenciais da história americana...
Bom ter vc aí para dar sua visão pra gente...

Bjos
(pena eu não estar aí né...assim eu te ajudava a escrever esta resenha...)

Lola said...

Oi, Roy,
Obrigada pela explicação. Quanto ao Obama, soube que ele tem uma opinião contrária a nossa a respeito da Amazônia, o que você acha?
A respeito, você está nos EUA,certo? E qual seu país de origem?
Beijo.

Roy Frenkiel said...

Lilith, minha amada eterna, obrigado, e viva Obama!

Regina, espero que ele seja mesmo o presidente que o pais precise, e espero que seja o candidato que seu partido precisa.

Lola, pra ser sincero, no que diz respeito ao Amazonas e ao que Barack Obama pensa, sejamos sinceros, o Amazonas nao eh o maior problema dos americanos atualmente, e nem eh o maior interesse do pais. Ou seja, ha tantos males urgentes a se tratar, que falar sobre a discordia de Obama a assuntos brasileiros realmente nao me cabe. Precisamos de um presidente que nao siga a mesma politica de George W. Bush. O resto eh resto, ao menos por hora.

Bjx e abraxos a todos e todas,

RF

Lola said...

Por hora, concordo com você. Adoraria ver este presidente diminuindo o consumismo americano e incentivando o mesmo aos outros países!!! :)Isso ajudaria um pouquinho o nosso planeta... Será que é só um sonho meu?!
Beijão!

o refúgio said...

gostei do texto. parabéns a Obama, também acredito que ele será melhor que McCain, tô na torcida!
Beijos.

Anonymous said...

Roy, meu amor, você me inspira mais que o Obama... Mas torço por ele também. Rs. Você sabe, Obama é o cara! Hahahahaha! Ou, pelo menos, a gente espera que seja, né? Agora vem a parte deprimente de ver o McCain jogar no ventilador toda a merda que ele teve meses de frente pra juntar, né? Valei-nos, todos os santos! Lá vem a eleição do "bafão"! Beijo, lindo! Te amo!

Anonymous said...

Hj, ao ler o primeiro jornal do dia e ver o resultado, me lembrei de vc imediatamente. Dias atrás eu nem me reocuparia em ler a noticia inteira. Foi aqui que comeceia me interessar de verdade pelos meandros da politica americana, embora tenha sido pró Obama desde o primeiro dia.
Hj aprendi mais um tanto. Nao sei ainda o que faço com tudo isso (eu sou péssima com politica né? rs...) mas sei que tou interessada neste blog. cada dia um pouco mais!
viu? rs
Um beijo
ah... achei tão lindinho vc ficar vermelhinho!!!! rs

Jens said...

PUTAQUIUSPARIU, Roy.
Estamos diante de um dos fatos mais significativos da História Contemporânea: um negro tem reais chances de ser o presidente dos EUA. O que fez esta nação dominada por brancos racistas mudar a este ponto? (Aliás, uma pergunta que cabe: os wasps ainda têm o controle do país?).
Considere-se um privilegiado: um jornalista que está no lugar e na hora certos (J. Reed deve estar sorrindo). Conte tudo, tudo. A verdade factual e o que se oculta por trás dela.
***
Mailer e Baldwin devem estar vibrando e de porre até agora, lá no Village do Outro Lado. Martin deve estar junto. Malcon seguramente está embasbacado. O Império se recicla para não sucumbir. De repente dão mais um exemplo para o mundo, como nos primórdios da organização democrática do país.
***
Não sabes se Gore Vidal escreveu alguma coisa sobre o processo? É um dos últimos gigantes que ainda vive. (Está vivo, né?).
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Abraço. Vou comemorar com o velho safado do Tenesse Jack Daniel's (noventa paus a garrafa!).
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Ave, Barack!
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(Putz, já estou vendo. Com a exposição do Obama e a mania da patuléia tupiniquim de dar nomes famosos aos filhos, em breve teremos uma geração de garotinhos ranhentos e barrigudinhos batizados com o nome do Candidato Negro (assim, com maiúscula): "Passa já pra dentro, Barack!" ou "Obama, já te avisei pra não jogar pedra no gatinho. Tu vai apanhar, guri!").
Bosta, não consigo ser um cara sério.
***
Marisinha, a coxoduzulda, cada vez mais gostoduzulda, manda um beijo nas breubas.
Jorjão e sua amásia de quatro patas Mansinha estão em dúvida sobre como batizar o fruto do seu amor - o centaurinho em gestação - Barack O. ou Roy F. Votei no segundo. Você merece.
Caloca, o intelectual orgânico, radical e desempregado, disse que Obama vai f... com os branquelos (em off pediu a tua interferência para conseguir um emprego junto ao staff do candidato democrata).
***
No mais, entramos no sexto mês do ano e eu ainda não comi ninguém. Vou fazer uma revolução.
***
Se o encontrares, diz pro Jiló que mandei um abraço.
***
FUI!

Roy Frenkiel said...

Ah! Essas palavras me arrepiam, Jens, porque de muitos modos nao importa o que ainda ha de ocorrer, o que ja ocorreu eh historico, fatidica e fatalmente.

Vou repetir o que ja disse antes em outras palavras: Nacao racista eh aquela que existe. A nao racista eh aquela que nunca nasceu. Um dia, quem sabe. Os wasps dominam o pais como os coreneis dominam Tupiniquim-Land. Infelizmente, sim, e sim e sim e sim, mas quem domina, Jens, sempre, quem realmente domina, eh quem quer dominar, seja como for, na marra ou na boa, na porrada ou na pena, amanhecera e veremos.


Em termos de leitura: Vergonha na minha cara esta em falta, ando lendo muito, mas muito pouco. Jornais e blogs e assistindo noticiarios, e nem consigo acompanhar as principais colunas opinativas do pais, quanto menos participar de muitas dicussoes blogais. Mas assim que der, o primeiro que lerei sera Mailer. Baldwin eu ja venero, e nao eh de hoje, uma das cronicas mais lindas que ja li sairam de suas maos e mente. Realmente... Tem gente viva e morta que renasceu essa semana.

A HILLARY JA ANUNCIOU QUE "DESISTIRA" DA CAMPANHA AO FIM DESTA SEMANA.

Adorei essa dos nomes brasileiros. Se for merecido, merecido eh.

Quer me comer, Jens, eu nem cobro, sabe como eh, amigos tem de se ajudarnos (Lilica, minha pupa, nao se preocupe, o Jens nao conta!)?

Abraxao!

PS: Para de me puxar o saco, so! :P

Anonymous said...

Roy, sobre as diferenças de discurso entre McCain e os democratas, você escreveu que o republicano vem falando de uma intenção do candidato rival de conversar com seus inimigos sem exigências e condições prévias. McCain está fazendo o jogo político tradicional; da parte dele, naté aí nada de novo. E é lógico que Obama precisa viabilizar-se como candidato de toda a nação, e não de alguns segmentos.
Mas não deixei de ficar espantado com a última declaração intimidatória do democrata sobre o Irã.
Espero que Obama seja realmente menos belicista.
Um abraço.

Roy Frenkiel said...

Presidente dos EUA nao belico eh produto de apenas esperanca, caro Halem. Muito, mas muito mesmo, bom te ver por aqui.

abraxao

RF

Marcelo F. Carvalho said...

Superação total! Texto excelente!
Sempre achei difícil entender essa matemática americana na hora de escolher os candidatos, mas o texto é muito claro.

Parabéns ao Obama!

Prof Toni said...

Será que não dá pra apostar na Clinton? Vejo que com ela Obama se contradiz, pois não será renovação ter uma ex-primeira dama ao seu lado, mas em contrapartida fortalece-se com o eleitorado democrata mais conservador, você não acha? Abração.