Wednesday, May 21, 2008

Apostas a Quem Valha

O Estudante de Jornalismo

Kentucky para Hillary Clinton por 35 pontos, Oregon para Barack Obama, por enquanto com uma margem de aproximadamente 16 pontos percentuais. Ao ar, o senso de que ambas bases se asseguram, a compreensão de que a base da vencedora em Kentucky aposta em sua vice-presidência mais do que a base do vencedor em Oregon.

Obama coleciona a maioria dos delegados declarados, 1,993 a 1,770 de Clinton, e ainda vence em super-delegados, com 305 a 277. Clinton ainda diz que venceu pelo voto popular, e pode estar certa. Em um estado republicano como Kentucky, em que Obama não apareceu tanto quanto poderia, mas que gastou mais do que sua adversária, a senadora por NY pode competir em Novembro com maior facilidade do que o senador por Illinois.

A disputa chega a seu ápice anti-clímax: Faltam apenas três primárias, contando a de Porto Rico que não pesa tanto quanto as de Montana e South Dakota, que votarão no dia 3 de Junho, mas são todos pequenos, de futuros colégios eleitorais mais leves. O número de delegados disponíveis pode deixar Obama a alguns curtos passos de obter seus 2,025 delegados fatais, mas o jovem senador já passa a declarar vitória a gestos soturnos.

Em Iowa, gabou-se da maioria, elogiou sua rival, deu mais um de seus populares discursos, e a noite passou, o dia amanheceu, todos sabemos que falta pouco e, para muitos, dado está o que tinha de estar.


O Iludido


De um lado, trabalhadores, operários, funcionários de uma indústria pérfida e ardilosa, em um mundo globalizado onde as máquinas desaparecem daqui e surgem ali, mas os operários, os trabalhadores, os funcionários não possúem a mesma habilidade do transporte metafísico, e são apenas substituídos. Estes observam a senadora, e a admiram como admiravam seu marido.

Do outro lado, descendentes afro-americanos e indivíduos com diplomas universitários observam juntos em Obama uma chance ainda maior de voltear o gigante país e guiá-lo a melhores direções.

Por que os ignorados da nação agora se únem aos seus educados? Talvez os funcionários sejam menos educados, mas são também mais realistas, vivem a própria pele, vivem a própria situação. Talvez o mundo dê voltas, mas sempre chegue ao mesmo lugar.


O Cínico


Não existe “mais educado” ou “menos educado”, nem uma classe “operária” que se distingua tanto de quem apenas trabalha como faxineiro ou vendedor de uma rede de lanchonetes porque lhe falta opção, ou lhe faltaram oportunidades que a outros sobram. Aqui estão todos no mesmo barco, e apenas aqueles que sabem navegar o sistema têm um bom PhD.

Penso que vemos em candidatos políticos, não os heróis que quiçá algum dia víamos, mas os personagens de reality shows como o próprio Big Brother, pessoas que amamos odiar, das quais adoramos falar mal, por quem torcemos que um vença o outro ou outra, às vezes pelos motivos mais banais. Bem como eles são nossos macacos de circo, nós somos a platéia, e compramos o ingresso sem reclamar de mal-tempo ou agouros quaisquer, desde que possamos de algum modo observar o que ocorre.

Quando alguém deixa de se interessar pelo espetáculo é automaticamente julgado por alienado. O alienado que não se envolve na “política” do país. O alienado que não se importa com o que ocorre com sua nação. E sim, há dos alienados que não sabem, nem querem saber e têm raiva de quem sabe. Mas há também, sempre há, os que simplesmente desistiram de fazer parte da platéia circense, os “radicais”, os “iludidos”, os que não se conformam com o que aprendem nas faculdades de jornalismo, onde qualquer pergunta é válida, e qualquer tema vende.

Sim, os “cínicos” tentam fazer parte dos dois lados.

Professor Toni pergunta, justamente, quanto aposto em Barack Obama. Respondi que não aposto, nada, em ninguém que não em mim.

Quero dizer com isso que quem estiver na Casa Branca importa, de fato, e há um movimento popular crescente que passa a importar-se pela primeira vez na história moderna dos Estados Unidos. Esse interesse, cultivado, abre as portas, espero, a idéias novas, a modos novos de participar do desenvolvimento positivo de qualquer sociedade. Caso vença Obama, essa base não se perderá com tanta facilidade, cobrará de seu eleito, se envergonhará caso os desaponte, e participará, também espero, mais do processo para perceber que não podem mais seguir na platéia.

O cínico sabe que “vai dar cagada”. O cínico sabe que “do povo” só é quem do povo é. Mas comenta, atenta e espera que o nome do próximo presidente seja menos importante do que esse movimento crescente, no qual me vejo incluído, no qual posso apostar todas as minhas moedas de cobre e papelão.

RF

3 comments:

Loba said...

concordo, ipsy litteris com o "cínico"! que o próximo presidente, ainda que não seja um agente de mudança, possa fazer parte dela.
beijo
ps. vc escreve bem pra caramba!

Jens said...

Ora, ora, então o barbudo estava certo: a resposta, a saída, está na classe trabalhadora.
Trabalhadores do mundo, uni-vos. Nada tendes a perder a não ser vossos grilhões.
Abração.

Regina Ramão said...

Melhores dias para nós todos. Que vença quem mais traduz a expectativa popular. Para mim importa que não faça tanta besteira quanto o arbusto.

Abreijo
Bom findi!

Re