Thursday, May 29, 2008

Another Vox Populi Proceis

“Don’t you know? They’re talking about a revolution, and it sounds like a whisper” (Tracy Chapman).
“Não soube? Eles estão falando de revolução, e soa como um sussurro.”


Pelo que tenho percebido nas comunidades do Orkut e pelas poucas vozes interessadas pela política atual das pessoas com as quais convivo em semi harmonia, a mídia apenas estimula idéias dispersas para o engajado público aprofundar-se. São esses debates populares entre cidadãos americanos, negros ou brancos, judeus ou protestantes, ou entre imigrantes locais e admiradores da controvérsia norte-americana, os debates políticos que valem a experiência, e que vencerão, em torto efeito, a candidatura do quartagésimo-quarto presidente dos Estados Unidos.

No reboque da situação econômica, às soluções ou desejos populares, no imaginário e no puro fictício de indivíduos comuns, cada qual vê-se livre para carregar o fardo de sua própria ideologia. Nem todos são jovens, e nem todos têm energia de fazer algo pelo país, nem mesmo disputar contra atitudes viciosas de um governo rejeitado. Apenas discutimos pensamentos deslocados com adversários distantes via computador. Ou, trabalhando em uma companhia traiçoeira há vinte anos sem receber um aumento, apenas reclamamos de acontecimentos que jamais aconteceram no mundo externo, intocável, e assim justificamos a presença do enorme elefante mutante no meio da sala.

São essas conversas, contudo, as que pesarão mais na hora de depositar o voto nas urnas da eleição presidencial em Novembro. Conversas como a abominação parcial do público, dividido ao meio, à legalização irrevogável do casamento entre pessoas do mesmo sexo no estado da California. Há, é claro, aqueles que festejam e regozijam a existência de um estado que ainda pede as mesmas mudanças exigidas nos anos ’60, a de direitos humanos, iguais a todos e todas as que tiverem seus sonhos e puderem cultivá-los sem lastimar ninguém.

A essa conversa, em que não existe uma clara maioria, também reúnem-se os homofóbicos. Os libertários, conservadores econômicos, mas aspirantes ao menor controle governamental também nas áreas de vazão moral, nem sempre gostam do homosexualismo, mas pedem que o governo não os recrimine, e que seus direitos sejam, no mínimo, iguais aos de todos. Há, é claro, libertários “abertamente” homosexuais, como o caso de C.M., uma das mocinhas com as quais conversei virtualmente em uma comunidade orkutiana. Mas os conservadores, e até mesmo alguns libertários, não aceitam que o país esteja sujeito ao feitio do que chamam sem pudores de “aberrações da natureza”.

Ainda apoiando-se na lógica de estatísticas manipuláveis, falam da “família” como se a instituição ainda fosse sagrada. A discussão vira transtorno, e agora até filhos de pais solteiros são sujeitos a um sistema familiar condenado à falência, ignorando, claramente, o conhecimento popular já sobreposto às estatísticas. Filhos e filhas de pais solteiros não são exceção, mas sim a própria regra.

A maioria dos homosexuais que eu conheço pagam mais impostos do que qualquer fazendeiro do centro-oeste americano. Isso não importa, pois homofóbicos fazem parte da constituição da nação. Nada disso importa, pois a hipocrisia do indivíduo é apenas meramente refletida na hipocrisia da nação, e o perfeito e utópico-bíblico núcleo familiar é tomado como regra à exclusão social.

Outros debates tomam conta do imaginário da nação, como a liberdade e o direito ao porte de armas de fogo, algo que o Brasil também debate. O ensino do Design Inteligente, ramificado pseudo-secular do Criacionismo, também é debatido entre a população: Incluir ou não incluir no currículo escolar? Eis a questão... Há também a muralha construída na fronteira entre os Estados Unidos e o México, e a não-muralha não-construída entre o Canadá e os EU, mais lenha à fogueira.

A ideologia advém de experiências pessoais, cada qual conformando-se com o que pensa, a maioria evitando as soluções do outro lado da rua pensamental.

Foi por isso que Barack Obama comentou em Virginia que a população de classe média sentia-se amargurada com a vida e acabava se apegando a temas moralistas e votando contra os próprios interesses sócio-econômicos. O que ele disse foi motivo de mais um escândalo descabido que lhe feriu a pele, mas não atingiu o osso. As campanhas pré-eleitorais do partido Democrata, afinal, demonstraram mais momentos embaraçosos de ditos mal-intencionados (ou bem intencionados, mas mal expressados) do que substância em ataques convencionais direcionados à política do adversário/a. Obama teve de, basicamente, retratar-se.

Ironicamente, não só o que Obama disse é verdadeiro, como a população desatenta não parece se importar. Um exemplo disso é o que Arianna Huffington descreve em seu blog a respeito das mulheres democratas que não votariam no senador por Illinois caso fosse nomeado, mas sim, em seu rival Republicano, John McCain.

A maioria dessas mulheres, segundo pesquisas recentes, tem como prioridade ideológica o direito de escolha da mulher (famigerado ‘pró-escolha’ em tema de aborto). Ao contrário do que querem conservadores tanto da esquerda quanto da direita estadunidense, essas cidadãs acreditam que o dever do estado é fornecer à sua população a liberdade de lidar com os próprios problemas. Nem todas acreditam que o estado deva financiar o procedimento, mas ilegalizá-lo seria um retrocesso tremendo.

John McCain apenas discorda radicalmente de George Bush em temas meio-ambientais. Ele se posicionou favorável a restrições industriais à redução de emissões do CO2, algo que republicanos são contrários em sua base. No entanto, sua história em relação ao aborto é assustadora a quem acredita na liberdade de escolha feminina. McCain quer anular a vitória clássica de Roe versus Wade (2 de Janeiro de 1973) que legalizou o aborto a nível federal. Para tanto, convocaria à Suprema Corte ao menos um juíz a substituir quem está se aposentando, que tentaria reverter a legislação.

No auge do rancôr que a base de Hillary Clinton possa ter de Barack Obama, eleitores debatem com fervôr temas que mais ou menos importam individualmente. Ninguém distribui camisetas, cestas básicas, chaveiros e panfletos pelas ruas. Não há sujeira grossa nas calçadas, fotos de candidatos que falam engraçado, rápido, ou devagar demais. O único comum entre meu país latino e o país dos anglo-saxões, é que não existe uma verdadeira consideração massiva pelo bem comum, e isso é letal a qualquer democracia, seja ela brasileira ou estadunidense.

E para comprovar, não há melhor exemplo do que essas mulheres, capazes de votar em John McCain contra seus próprios interesses políticos, econômicos e sociais, porque torcem fervorosamente pela adversária do praticamente-nomeado senador democrata. Show-Business, num disse?

RF

4 comments:

Jens said...
This comment has been removed by the author.
Jens said...

O acadêmico José Sarney pontificou na Folha de S. Paulo:
"A América profunda não aceitará facilmente as idéias do provável candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama."
O jornalista Luiz Weis retrucou no OI:
"Idéias?
O que a América profunda não aceita é a idéia de um presidente negro."
***
Acho que os dois estão certos. A América profunda é f...
Os texanos já devem estar limpando as Winchesters.
Um abraço.

Roy Frenkiel said...

Concordo, Jens, mas como sempre, tem aquele tiquinho meu que nao vai com o resto. Aqui ja preciso falar de um desses debates orkutianos que tive ontem com um grupinho la da comunida American Politics. Um dos rapazes, de nome perfeito, Amor, diz que "havera sempre um brasileiro com par de oculos escuros e roupinha de designer para meter pau na conduta das liberdades civis dos Estados Unidos, enquanto eles mataram praticamente todos seus indios, ainda ha escravidao e proporcional ao numero de negros, tambem ha racismo." E ha mesmo como discordar dele? Meu contra-argumento nao nega essa realidade, mas ao menos diz algo da influencia - e assim, do ressentimento internacional - dos Estados Unidos no resto do mundo. Enquanto aqui eles sempre tiveram uma Constituicao que deveria garantir os direitos iguais de todos os habitantes da nacao, e ainda assim conseguiram desrespeitar o direito civil de negros, indios, mulheres e mexicanos (indios e mexicanos ainda roubados de suas terras), e que ainda hoje batalha para incluir homosexuais como cidadaos de classe A, no Brasil jamais houve esse tipo de Constituicao sagrada a desrespeitar. Ao contrario, o Brasil sempre foi regido pelo que vinha de fora, e quando veio de dentro havia ajuda de fora, e sempre foi o pinto alheio a sodomizar o cuzinho da nacao. E isso que falavam do Brasil. Mas nao defendo os EU, nao, nao eh essa a questao, se eh que assim pensaste, caro Jens. Apenas quero apontar ao que ha de comum em nossa humanidade. Nao adianta o Sarney, nordestino racista, falar o que ele mesmo ve refletido de seus amagos nos cidadaos americanos que ja elegeram um negro a candidato democrata contra todas as mas chances de sua historica racista. Nao adianta, Jens, nao adianta. E a Hillary que esses dias chegou a insinuar - e o fez friamente calculado - que ainda concorria porque "algo de ruim pode acontecer com ele, lembremos de Bob Kennedy."

Chega, ne? Acho que o ponto ta feito. :P

Anonymous said...

barack obama já disse que a amazônia é universal.Para nós , portanto, é bom que ele perca.Espero.