Thursday, April 10, 2008

XXY XY



Barack Obama bem parece ter tentado mostrar o contrário, mas a relevância de sua raça e do sexo de Hillary Clinton mostrou-se evidentemente inevitável. Enquanto o senador por Illinois viu-se obrigado a defender seu patriotismo como ex-atendente da igreja do ex-pastor Jeremiah Wright com seus comentários anti-Americanos, Clinton salientou sua feminidade a cada passo da campanha, algumas vezes tendo se beneficiado pelo apoio do público feminino/feminista, outras sendo prejudicada e super-analisada pela imprensa.

No embate mais diversificado à candidatura presidencial, dois grupos sociais prejudicados pela história ocidental vêem-se representados por duas pessoas que nem tanto se enquadram a seus representantes medianos. Obama é formado em uma universidade de prestígio mundial, e Clinton foi, afinal de contas, a primeira dama, que recriou sua carreira política no senado estadunidense e até hoje é geralmente vista como uma candidata forte, rigorosa e sem o menor receio à luta.

Mesmo assim, o psicológico de um país, sua cultura, permitem que ambos candidatos sejam vistos apenas pela cor da pele ou o gênero, e muitos não conseguem deixar essas características de lado ao decidir em quem votariam.

No início da semana uma de minhas colegas de trabalho, uma senhora, mãe da vice-presidente da companhia, disse que “as mulheres precisam se unir, os homens não entendem a importância desse exemplo para todas nós, como as mulheres mudarão de atitude ao ver uma de nós chegando à presidência.” Somo isso ao que ouvi de Elton John em uma gravação desta manhã no Morning Joe, da MSNBC:

“Sempre apoiei a Hillary Clinton, e sou crítico da misogenia desse país.”

Problema: Antes de conhecer Obama e até mesmo saber de sua candidatura, a tendência democrata era apoiar a senadora de New York. Eu, por exemplo, seria Clinton de carteirinha caso não tivesse acompanhado a campanha da senadora de perto, e caso não surgisse Obama. Sinceramente, depois de testemunhar algumas de suas falas, algumas de suas reações e algumas de suas opiniões condizentes ao seu caráter – não apenas, necessariamente, à sua política – não me arrependeria de escolher John Edwards no lugar de Clinton se ausente estivesse seu atual rival pela nomeação democrata.

Confio que votar em Obama seja melhor para a nação, mas como já disse aqui antes, menos por Obama e mais pela nação. Já Clinton parece ter usado sua imagem como mulher acima de tudo, e os erros cometidos por seus campanhistas, suas gafes, a história de suas votações no senado e a falta de capacidade de auto-refletir e admitir seu erro ao permitir que George W. Bush iniciasse a guerra no Iraque, soam-me imperdoáveis.

Confiaria mais em Clinton do que em John McCain, é certo. Não por duvidar que, em questão de caráter, nenhum deles é melhor do que eu ou você com nossos defeitos e conhecimento parcial da história da humanidade, mas porque jamais aceitaria um republicano na Casa Branca. Porém, votar por Hillary Clinton pelo simples fato de ser mulher é, ao meu ver, um absurdo inaceitável.

O mesmo diria de quem, ignorando a grande incógnita que ronda sobre Barack Obama, votaria no senador pela cor de sua pele exclusivamente. Seria e é um absurdo inaceitável.

Ainda assim, discordando do posicionamento de mulheres que não acompanham a política de Clinton mas a elegeriam pela semelhança genética identificada, sei que não só os Estados Unidos, mas todo o mundo é misógeno. Mais contra mulheres do que contra negros ou judeus. Isso é algo que todos precisamos mudar na realidade que nos doma. Precisamos reconfigurar esse detalhe mórbido de nossa história, e deixar o racismo e a misogenia de lado.

Então, nesse caso, apoiaria um bilhete conjunto entre Hillary Clinton e Barack Obama. Então sim, o gênero de uma e a raça do outro favoreceriam a política, ao invés de substituí-la.

RF

9 comments:

o refúgio said...

Uma mulher mulher negra seria perfeito então. Ainda bem que os republicanos não pensaram em Condoleeza Rice...

Besos, chico.

Roy Frenkiel said...

Condoleeza Rice eh uma boa e ainda nao descartada posicao a vice-presidencia de John McCain :S

bjx

RF

o refúgio said...

Que péssimo, hein, menino?

Quanto ao seu comentário lá no refúgio: eu me acaricio sim mas às vezes bem que mereço uns puxões de orelha, rsrsrs.

Beijos
e bom fim de semana pra ti.

Anonymous said...

Acho que o sonho de toda mulher e de todo negro que, concorrendo a qualquer coisa, merece meu respeito é ser escolhido em função de suas idéias, sua competência, seu brilhantismo e suas ações - realizadas ou propostas. Assim, a questão do gênero e da raça numa disputa teria sua importância reduzida ao patamar que merece: nehuma. No entanto, é impossível dizer que não sofremos preconceito, todo dia, toda hora. Menos possível ainda dizer que não há quem sinta, na oportunidade de votar num semelhante, um doce-amargo gosto de vingança. Fala-se muito que mulheres recebem salários menores, têm menos oportunidades de trabalho e menos projeção política. Mas essa discussão, na verdade, me leva à mesa de um bar, à festa de família, à reunião de trabalho ou mesmo ao balcão da padaria. A maioria dos homens jamais saberá o que é tentar colocar a um grupo exaltado - ou animado, que seja - uma opinião emoldurada por uma voz hormonalmente aguda... o que é saber a resposta a uma charada e falar, repetir e gritar, sem ser ouvida... ter uma sugestão brilhante e não conseguir apresentá-la por força dos graves acordes vocais com que concorre. Sem falar no ímpeto da testosterona e na necessidade de auto-afirmação, cada vez mais violenta desde que nós, mulheres, percebemos valor acima do gênero. Importante seria que cada homem e cada mulher, ao pensar nas questões de gênero envolvidas na política norte-americana, levassem esse questionamento a suas próprias vidas, às mesas de bares, reuiões de trabalho, às festas de família e aos balcões de padaria... Isso, sim, seria revolucionário... E jamais teríamos que, como dizem, "engrossar a voz" para sermos ouvidas, né?
Te amo, lindo. Ótimo texto.

Michele said...

Kracas rapaz, qto tempo... resolvi passar para dar um 'oi' e informar que estou com novo endereço de blog, qdo der... sinta-se em casa.
Beijo!

Michele said...

Ops, esqueci de atualizar o endereço... agr esta como:
www.emalgumlugardotempo.zip.net

Bjoooo!

Tânia said...

A entrevista das páginas amarelas da revista Veja desta semana é com a Sra Madeleine Albright...E posso dizer que pela mente aguçada esquecemos até o sexo dela...
É lamentável que ainda existam julgamentos por credo, cor, raça e sexo...

Beijos.

Jens said...

Big Roy, voltei. Pra ficar, espero (tóc, tóc, tóc).
Tudo ok por aí? Aqui tudo bem, finalmente (executuando-se o fato de que ainda não consegui elaborar um plano genial para dar um golpe definitivo no mercado e viver como um nababo numa ilhazinha paradisíaca das Bahamas).
***
Alienei-me do noticiário em geral nos últimos dias, mas tenho a impressão de que a campanha dos democratas deu uma parada estratégica, em termos de divulgação midiática. Seja como for, logo o show recomeça.
***
Meu candidato ideal:
Nem homem nem mulher, mas um híbrido: um homem ou mulher que tenha mudado de sexo. De preferência, cafuzo.
***
Um abraço.

Jens said...

PS:
É bom não esquecer, apesar da aparência, M. Thacter era mulher, assim como a Condy.
(Sim, sim, sou um porco vil e chovinista).