Wednesday, April 23, 2008

Deu Clinton, e de knock-out

Uma vitória de 10 pontos percentuais manteria Hillary Clinton viva, e seus argumentos de seguir concorrendo à nomeação de seu partido ainda mais lógicos. Uma vitória de 10 pontos exatos percentuais foi a que a manteve viva, de fato, na primária de Pennsylvania.

Halém Souza bem lembrou em um comentário do texto anterior que, segundo pesquisas recentes, a credibilidade de Clinton sofreu grande abalo pelas patetadas de sua campanha. Há pouco mais de mês, a senadora de New York era tida como confiável por aproximadamente 54% da população democrata. Nas recentes pesquisas, esse número decaiu para aproximadamente 34-36%.

Perdão, mas esse ”spin” não ousarei fazer, nem gostaria que alguém acreditasse que há algo de ruim em sua vitória local. Claro que campanhistas de Barack Obama dirão que o estado é um dos mais “velhos”, de demografia de idosos, cristãos e classe operária elevada, um dos terrenos que sua rival vencia a mais de 20 pontos na virada do ano passado, e que o senador conseguiu diminuir dramaticamente.

Ainda assim a vitória de Clinton é inegável. Obama gastou três vezes mais do que sua concorrente, e o tempo dedicado a discursos e campanhas em palanques de todo o estado foi igualmente dividido. Nas últimas pesquisas diversas, perdia por apenas 4-6%, mas os indecisos sempre contam, além de que o “Poll of Polls” (Enquete das Enquetes) já ditava uma margem de 9% de diferença.

Caso a margem fosse realmente de 9%, Obama dificultaria ainda mais a vida da senadora. Esse 1% representa aproximadamente 30-50 mil votos, o que cortaria a disparidade de 200 mil contados a favor de Clinton para 150 mil.

Em seu discurso, a senadora disse o que todos já estão cansados de saber, alguns até fastidiados. Ela não irá a lugar algum sem perder entre os super-delegados, e seu maior argumento é o de conquistar em bom peso o voto de estados-chave nas próximas eleições gerais, os grandes estados, como Pennsylvania.

Esse “momento” vencido gera o impulso necessário para que não só siga no páreo, mas também continue atacando Obama e procurando ressalvar seus defeitos e suas inseguranças, fraquezas e inexperiência para mostrar-se mais viável do que o candidato pop. O senador de Illinois ainda vence em pesquisas nacionais, ontem fechado em 50% a 40% contra Clinton.


200,000 Léguas


Como dito no texto anterior, o voto popular é o único fator que ainda pode favorecer Hillary Clinton. Antes de Pennsylvania, perdia por aproximadamente 500 mil votos. Assim, adquirindo 200 mil votos atualmente, precisa de aproximadamente mais 300 mil para ao menos igualar-se a Obama nesse quesito.

Bem como a primária que ocorreu ontem, as próximas também têm grande previsibilidade. Seguindo a lógica das pesquisas atuais, 100 mil votos estão garantidos nas próximas primárias para a senadora, e outros 200 mil podem pesar para qualquer lado.

Grande exemplo disso é Puerto Rico, o país que pertence aos Estados Unidos, o “estado” estrangeiro desta nação. Geralmente, a alienada população de Puerto Rico elege de acordo com o endossamento do governador. Nesse caso, a nação deveria votar por Barack Obama, mas o governador, Anibal Acevedo Vila, vê-se investigado com 12 de seus associados por corrupção na arrecadação de verbas por sua campanha. As primárias regionais outorgam aos candidatos 63 delegados, e a margem da vitória de Clinton pode ser limitada aos 20 mil votos, ou estrapolada aos 80 mil.

Para vencer, Barack Obama apenas precisa vencer as primárias que parecem pesar a seu lado. North Carolina e Indiana, no dia 6 de Maio, podem trazer seu momento avassalador de volta, e mesmo perdendo em Indiana, estado bem disputado, vencendo a previsível North Carolina ainda estaria no curso certo.

Isso se deve ao número proporcionalmente superior do senador de Illinois em delegados, apesar de ter perdido virtualmente 1 super-delegado a mais na primária de Pennsylvania. Clinton não tem, praticamente, nenhuma chance de superar Obama nessa contagem, e a decisão dos super-delegados tende a avaliar esse número com o mesmo rigor que observa o voto popular.

O resultado, sem nenhum “spin”, ainda é a grande frase que mamãe sempre disse e ainda diz: Amanhacerá e veremos. Nada é definido. Nem em duas semanas, nem em dois meses, saberemos exatamente quem será o nomeado democrata. E John McCain? Amanhecerá e veremos.

RF



6 comments:

Jens said...

Oi Roy.
Só espero que os democratas não cheguem estropiados para a luta principal. McCain está lá inteirinho, esperando...

Roy Frenkiel said...

Bem, Jens, nao eh exatamente por ai, veja bem... John McCain discursara hoje em New Orleans, uma das cidades devastadas pelo furacao Katrina. O que o anus tem a ver com os pantaloes?

O Rev. Hages, primo racista do Rev. Wright, endossou McCain ainda no inicio de sua campanha. Esse disse, repetidas vezes, incluindo nessa mesma semana em um programa de talk-show conservador, que New Orleans era punida pelo divino pela quantidade de "pecados" nela cometidos. Por "pecados", entenda-se homossexualismo, sexo indiscriminado, festas juvenis, uso de drogas, e eh claro, a quantidade dos negros e de seus costumes demonizados pelo reverendo que ja chamou de Puta a igreja catolica (afinal, ele eh protestante).

Hoje, conforme diz Rachel Maddows, comentarista tambem na MSNBC, McCain pode vir a enfrentar a primeira cruzada midiatica a esse tema. Ao mesmo tempo, uma propaganda politica do partido Republicano de North Carolina, independente da cede nacional do partido, diz que Barack Obama, por seus vinculos com o Rev. Wright, eh extremista demais para a nacao. O proprio anuncio diz, mentirosamente (algo que republicanos parecem ter mestrado nessas ultimas decadas), que Obama esteve presente na igreja quando Wright dizia "Deus amaldicoe a America" apos o 11 de Setembro. McCain automaticamente procurou se distanciar do anuncio, dizendo que se dependesse dele, ja o teriam retirado do ar. Obama contra-atacou dizendo que, como candidato do partido, McCain precisa demonstrar que pode pelo menos controlar sua base. Mas isso eh pedir demais dos republicanos, quebrados e requebrando-se diariamente. O desastre, ainda, vem em dupla mao, caro Jens.

abraxao

RF

Anonymous said...

"Sobrinho", me diz: já vistes uma cara - e, claro, uma interpretação - mais canastra do que essa da Clinton abrindo sorrisão, estatelando os ói e apontando para alguém da multidinha, como se dizendo: "you win. oh, yeah, you win!!!".
cruz credo. política me enoja - daí só crescer minha admiração por ti, com essa cobertura tão completa. o fígado vai bem?
baita abraço meu

Roy Frenkiel said...

Grande "tio" Pirata, estou contigo. O figado ate vai bem, mas as crises de choro histerico ao caminho do trabalho sao cada dia mais frequentes. Basta escutar o forro do Gonzaguinha ou a Bossa Sambatica do Chico que eu comeco a solucar: "Eu quero eh ir embora, eu quero eh dar o fora!"

abraxao!

RF

Anonymous said...

Roy:

Tenho um amigo que quando me v~e preocupada porque amanhã deverei resolver algo, me diz: " Amanhã? mas tem uma VIDA até lá".Tua mãe tem razão.

beijo e forçá aí.

Jens said...

Roy.
Um presentinho pra ti na Toca nesta segunda-feira. Pega lá.