Monday, March 31, 2008

Respondendo

Olá Roy,
'Sempre fui da opinião que endossar candidatos não é o mesmo que endossar causas.'

Isto que você escreveu é bem interessante, em alguns casos poderia, deveria e alguns conseguem, ser mais diferentes, pela trajetória de vida e luta de alguns que se elegem, governos menos contraditórios, menos rendidos, não é fácil, e penso que é aí que entra a força dos movimentos, e quando esta força é ignorada, eles vão pra rua, assim mesmo.

'As causas deveriam repercutir mais do que seu apoio a um candidato.'

Vejo que de certa forma é o que acontece, pois muitas mudanças ocorreram, ocorrem através de grandes pressionamentos vindos dos movimentos organizados que trabalharam, trabalham formação, e independente dos governos, não há volta e muita gente não está aguentando mais e elas estão indo pras ruas.
Escutei hoje no rádio sobre o lance com a Hillary, dizem que mentira tem perna curta, lembrei foi da música do Biquine Cavadão, Múmias,

'Errar não é humano
Depende de quem erra
Esperamos pela vida
Vivendo só de guerra...'

Até.

Vais, você já deve saber que qualquer comentário instigante faz parte da Resposta periódica postada aqui em casa, então espero que não se incomode.

Ontem tive uma profunda conversa com mi’a amada Lilica na qual comecei e terminei discutindo, sempre um quanto querendo que meu interlocutor se anule, impondo meus pontos de vista sentimentais (mais do que pensamentais). Isso me fez viajar internamente, a chamada “ego-trip” que psicólogos e psiquiatras tanto gostam de mencionar.

Atualmente tento escrever em meu blog o que vejo da grande e pequena mídia sobre as eleições nos Estados Unidos. Não converso nem com senadores, representantes do congresso, prefeitos ou governadores, e nem com qualquer coronolzeninho dos distritos que me circundam, sem querer diminuir a importância do trabalho de ninguém.

Obviamente que não estou em Washington, e não converso com os jornalistas que vão a Washington, ou que conversem com outros jornalistas que vão a Washington.

Mas calma-lá que ainda dou nó nesse texto. Minha intenção é demonstrar que mesmo para opinar, devo admitir ainda sofrer dos “achismos”,não por culpa de ninguém que não minha única e própria responsabilidade. Pior do que isso, enquanto outros blogs se movimentam em organizações coletivas, o meu agora se preocupa nem mesmo em divulgá-las. Fala de um tema que posso até curtir, mas que ainda não tenho o nível necessário para tanto.

Novamente peço um calma-lá. De meu papo com Lilica de Freitas, editora de um bom jornal popular de Belo Horizonte, saquei algumas coisas que antes não havia imaginado. Uma de minhas maiores reclamações, a premissa para o debate, foi o fato de que sinto que sou obrigado a ouvir de âncoras, repórteres e apresentadores de programas de auditório o que eles quiserem dizer, e não posso responder porque minhas palavras jamais ressoariam em seus ouvidos.

Todos sabemos que a mídia massifica, mas Lilica me disse que se minha reclamação também se massificasse, teria grandes chances de ser ouvida e quaisquer sugestões acatadas. Ela usou a mesma palavra que você: “Organização.” “Se o povo se organizasse em vez de reclamar entre si nos bares dos Manés das grandes e miúdas cidades, suas reclamações teriam mais valor.”

Na hora não admiti, mas essas palavras não só fazem sentido, como fazem mais sentido do que minhas íntimas reclamações sentimentais. Enfurecido, disse que não era justo que precisássemos de organização para uma transmissão mais justa e objetiva dos fatos, não essas tele-novelas da vida real que tanto testemunhamos, especialmente no Brasil. Que nos organizássemos para dar comida a quem não tem, por direitos de excluídos, pela paz, pelas “causas”...

Mas Liliane tem razão: No geral, quando enche o saco, quando esgota-se a paciência, as pessoas realmente vão às ruas. Ok, não às ruas atualmente tanto quanto antigamente não existia a Internet. Mesmo assim, Liliane tem razão, e você tem razão, e talvez eu esteja vivendo um pessimismo crônico pela própria falta de vergonha na cara, porque não sáio às ruas, e o que aqui escrevo não ajuda ninguém.

Outras de suas palavras diziam que há muitos que apenas reclamam por reclamar, para mostrar a própria erudição. Ainda assim deveriam ouvir os indivíduos, não deveria tudo estar baseado no capital massificado, mas “welcome to the world”, disse Lilica, “bem vindo ao planeta Terra”.

Minha melhor conclusão é de que sim, a organização não pode faltar, e isso significa que menos pessoas procurarão o título da liderança, e mais pessoas seguirão o caminho da união, e sim, da própria massificação contrária.

O funcionamento caótico de nosso mundo muitas vezes sufoca nossas palavras. As blogagens coletivas, as manifestações, a vontade de fazer acontecer ao lado de irmãos e irmãs humanas, esses sim são úteis, esses sim são dignos de elogio e reconhecimento.

O que isso ainda pode mudar em meu blog não tenho boa idéia, mas garanto que me fez pensar. As causas valem mais, mesmo, do que minha escrita. As causas valem mais do que reportagens profissionais e até amadoras. As causas valem muito, mas muito mais do que o capital midiático parece conseguir perceber.

RF

3 comments:

Vais said...

Olá Roy,
rapaz, incomodar não incomodo não, só fiquei surpresa e sinceramente, com um certo acanhamento, mas tudo bem.
Olha que depois de ler, me veio os quatro anos que passei envolvida diretamente com militância aqui em BH, Rádio comunitária Santê e a luta pela democratização e socialização dos meios de comunicação, movimento sindical, juventude negra e favelada, MST, Consulta Popular.
Há cinco anos, pelo fato da maternidade e por uma questão de prioridades e de fazer bem feito me afastei das ruas, trabalho e militância direta, para cuidar, e agora são duas, gracinhas, uma de cinco e outra de três anos. Bem, só este ano, com as meninas na escolinha é que decidi retomar com algumas atividades, inclusive uma remunerada. Os re(cantos)foram criados para aliviar um pouco desta 'angústia' de estar fora deste mundo, o da militância.
Recentemente foi instituido aqui em BH um núcleo do MTD (movimento dos trabalhadores desempregados), um trabalho que começou no Rio Grande do Sul através de militantes da Consulta Popular, e aqui o pessoal já conseguiu montar uma feirinha, de onde estão tirando um pouco para o sustento, quer dizer isto é informalidade, são todos desempregados, mas através de outra organização eles conseguiram se organizar e estão conseguindo fazer algo, e a Consulta trabalha com formação, não é só, a grana tá resolvida, o resto é resto. Como se não bastasse as dificuldades, eu resolvi me envolver com este assunto de reciclagem, coleta seletiva de lixos, isto tô fazendo individualmente, fazendo contato com a SLU, com catadores de papel, e tem gente que não tá nem aí, uma ação individual é muito pouco para surtir efeito, então tem que procurar envolver associação de bairro, e tal e tal, mas acredito em sua validade.
Sabe Roy, tenho ouvido coisas deprimentes, tipo as oportunidades estão aí, só não tá bem quem não quer, outras tipo, que não existe movimento dos bem empregados indo para as ruas reclamar, e que tudo não passa mesmo de uns reclamões, uns 'à toas' na vida, isto é terrível, pois não se analisa as circunstâncias.
Sobre seu blogue e a cobertura que você vem fazendo, pois ultimamente só assisto desenhos e programas infantis na televisão (risos), ouço mais rádio, então tenho acompanhdo o mundo através dele, e que coisa, a cbn, a bandnews, a itatiaia, chegam a dar nojo, então isto que você vem fazendo e quando o assunto surge, logo vou dizendo, olha tem um rapaz que tá fazendo um ótimo trabalho, super bacana, sobre as eleições no estados unidos.
Chega, não vai publicar este não, viu? (risos).
Abração

Roy Frenkiel said...

Sabe, Vais, sobre esses ultimos trechos do seu comentario escrevi o texto Admiravel Forte Mundo no BRTV Online (link ao lado). Aqui nos EUA vi isso com maior clareza: A midia de opiniao de direita diz exatamente isso da esquerda: "Sao um bando de bebes-choroes." Eles nao suportam uma mulher reclamando de machismo, um negro reclamando de racismo... Um pobre reclamando de desemprego, um hispano reclamando de discriminacao nas escolas, o imigrante reclamando por qualquer motivo... Simplesmente nao suportam, mas por exemplo, anti semitismo sim, existe e eh serio e eh real para essas pessoas, ao mesmo tempo que eles se sentem "injusticados" se nao puderem portar armas no trabalho, em parques nacionais e ate mesmo em BARES... Nao entendo muito bem a mentalidade de alguem que simplesmente pretende jamais ajudar ninguem porque prefere um mundo de "fortes."

abraxao

RF

Vais said...

Olá Roy,
o papo tá bom e o outro texto, tem tudo a ver.
vou por partes, ainda tô neste. Quando você escreve: "Minha melhor conclusão é de que sim, a organização não pode faltar, e isso significa que menos pessoas procurarão o título da liderança, ...", penso que é por aí, das coisas que aprendi na Consulta, tem uma interessantíssima, nos encontros ou assembléias, sempre são lembrados os lutadores, as lutadoras do povo, e aí vai, Che, Rosa Luxemburgo, Paulo Freire, Marx, e outros e outras mais ou menos conhecidos.
Eu quase não leio os jornais impressos da grande mídia e por vários motivos, bem, já escuto o rádio e já tá de bom tamanho, e também por causa da internet, pois eles também estão aqui, mas o mais ineressante é o que vem acontecendo, que tem acesso a internet sabe muito bem tudo que é suprimido, o que é invertido, o que é manipulado pela grande mídia, televisão, jornal e rádio, agora, os interesses rolam, e uma grande parte da população ainda não tem acesso, mesmo com as lan house.

Tem uma expressão, fulano não venceu na vida, na boa, é uma bosta! Como que o fulano é fraco, hoje mesmo, parei um catador, um rapaz alto, uma aparência que poderia dizer com saúde, mas tava com um pano na mão fechada que chegou no nariz e mudou de mão, eu fiquei com raiva, conversei com ele o que precisava e não disse nada sobre o paninho, é o que você colocou no texto, que qualquer dia eles exigirão e usando de violência, não importa quem, e mais e mais crianças estão nesta, pra uma menina de 10 anos com um caco de vidro me tomando dois vales-transporte, que valor tem a vida? a dela e a minha?, e se eu não desse?
O negócio tá ficando insustentável, e não adianta grades, manicomios, cercas elétricas, armas, a via tem que ser outra.
Abraço