Monday, February 04, 2008

Democratas




O debate dos democratas apresentado pela CNN no Kodak Studios, em Los Angeles, na semana passada, foi a cópia paradoxal do que ocorreu nas semanas anteriores. Se dessa vez os republicanos “tiraram as luvas”, como dizem por aqui, os democratas procuraram uma estratégia mais amigável, e trataram-se todos com muito respeito e total admiração. Digo, todos?

O ponto essencial da campanha, desde o retiro de John Edwards, é conquistar a confiança e o endossamento dos eleitores do advogado. Nas primeiras palavras de Barack Obama isso já tornou-se mais do que evidente. Falando sobre as causas do sulenho de South Carolina, como a pobreza e a luta pela classe média conforme pedido do mesmo, Obama já tentava conquistar os indecisos. Hillary Clinton atrasou-se em meros 90 segundos, mas logo disputou a causa nobre.

“Hillary e Obama só se saíram bem nas campanhas pela fama de uma e o estrelismo do segundo, porque ambos souberam apenas copiar o plano de John Edwards em relação à economia, especialmente em relação à saúde,” diria Paul Krugman, colunista do New York Times, saudoso pela despedida de seu candidato.

A retórica do debate demonstrou inclusive a possibilidade – remota, segundo a maioria dos especialistas – de Obama e Clinton em um mesmo bilhete. Segundo analistas variados, Clinton convidaria Obama, caso eleita, para assumir a vice-presidência, mas em ambos os casos as chances seriam ínfimas, e Obama não parece sequer poder aceitar a parceria porque classificou Clinton como polarizante em sua campanha. Diz que republicanos teriam enorme dificuldade de aceitá-la, e não mente.

Clinton persiste em estar “pronta no primeiro dia”. Obama contra-ataca dizendo que estará “certo” no primeiro dia, uma referência indireta ao voto de confiança que Clinton deu a Bush antes da guerra no Iraque. Um dos votos mais importantes para o então “popular” presidente republicano, que inevitavelmente permitiu o governo dos Estados Unidos a entrar em uma guerra sem uma declaração constitucional e contra a vontade das Nações Unidas.

Krugman também diz, porém, que o plano de Obama para assegurar a saúde de todo o país não seria tão eficiente quanto o plano de Clinton. Ambos estimulam o crescimento do mercado de seguradoras, o mercado da saúde. Apenas o plano de Clinton obrigaria o cidadão comum a ter um seguro de saúde, mas se suas contas funcionarem, todos serão realmente capazes de pagar pelo seguro de sua opção, e ainda ter a escolha de frequentar instituições governamentais. Em realidade, a diferença é mínima, já que ambos pretendem justamente dar o direito de escolha ao cidadão entre planos privados competitivos e seguradoras federais, financiadas através de maiores impostos aos mais abastados, mantendo os cortes tributários do governo de Bush à classe-média.

Atualmente, sem o endossamento de Edwards, nas primárias e “caucuses” da Super-Terça-Feira que amanhece amanhã Obama e Clinton encontram-se virtualmente empatados, com porcentagens suficientes de indecisos para causar uma reviravolta. Na última “Pesquisa das Pesquisas” apresentada pela CNN, Clinton lidera por apenas três pontos, enquanto a margem de erro é de mais ou menos três por cento.

Obama venceria em mais estados, mas Clinton vence mais delegados. A disputa parece realmente ter apenas começado. A verdade, no entanto, saberemos apenas na noite desta Super Tuesday, dia 5 de Fevereiro.

RF

2 comments:

Jens said...

A Super Terça-feira, enfim.
O velho Mailer fez um puta livro nos anos 60, tratando apenas das primárias dos democratas. Eu li (claro, li tudo que o velho safado escreveu. Bukowiski chegou atrasado). Buenas, puta artigo do Gaspari hoje no Correio do Povo sobre o assunto.(Importantes, porém, são o Estadão, a Folha, o Globo. Antes que me esqueça. F...-se!
Mari Timm manda lembranças.
Arriba!

Jens said...

Ao lado de Vinicius de Moraes, digo o óbvio:
- Oi, Luiz Fernando!
- Prazer em te conhecer, Lúcia!
- Você já viu um cara, na cabeça uma porção de trancinhas...
- Ele é o tal, que nunca me deixa sozinha...