Foram seis dias de sofrimento, isso posso garantir. Acorrentado à minha cama pelo cordão invisível do vírus da influenza, passei os dias precedentes ao natal em estado febril. A ceia natalina, uma tradição que minha irmã adotou honrando a tradição do marido, meu cunhado, passei recostado em um sofá espaçoso, enjoado e com dores no estômago. O bendito virus ainda traz complicações intestinais consigo e com sua prole.
Ontem pela primeira vez revisei meu correio eletrônico desde quarta feira passada. Estava soterrado de mensagens, a maioria inúteis, mas uns poucos e bons desejos de pessoas queridas. Já que falava ao telefone com minha futura esposa, seus votos de recuperação imediata e boas festas recebi via voz viva. Pessoas queridas deixaram mensagens similares nos comentários deste blogue, algumas pessoas mais próximas, outras mais distantes, e até visitas esporádicas de queridos ex-leitores.
Revendo o contexto do blogue nos últimos meses, desde que o Reação Cultural saiu do ar, percebo uma aura depressiva pairando no ambiente. Antes eu me deliciava postando opiniões e, confesso, sempre quis chocar ou demonstrar eloquência, sapiência e cultura. Mas a verdade é que nos últimos tempos, umas quebras de minha vida e a pressão que se amontoa me impedem de trazer à tona o mesmo ímpeto. Quase como minha doença temporária, uma gripe desproporcional, está minha mente.
Estou preparando a retrospectiva de 2007. Talvez 2007 tenha sido um dos piores anos de minha vida adulta. Os infortúnios, principalmente na parte financeira, me atrapalharam de curtir a evolução dos meus passos. Não só, mas também me desanimam. Aqui encontro espaço para desabafar, tantas vezes, em versos e prosas, mas a inspiração para fazê-lo criativamente está escassa, quase seca.
O blogue continua, no entanto, e os versos raros ainda existem, e as idéias ainda fazem algum sentido, bem como as opiniões não são, de todo, estúpidas.
Em 2007 graduei-me com a mesma média que comecei o termo escolar, algo miraculoso contando todas as dificuldades. Em 2007, tornei-me escritor-repórter do jornal de minha escola, e fiz minhas primeiras duas matérias. Mas perdi meu carro, perdi minha casa (duas vezes, conto complicado, aguardem a retrospectiva), e perdi sessenta por cento do tesão inocente que eu ainda sentia quando pegava a mochilinha e ia à faculdade. Meus professores me elogiam, uma horna que jamais pensei ser capaz de ter. Meu professor de jornalismo me recomenda, mas por motivos financeiros, não poderei cursar a consequente classe com o mesmo. Por motivos financeiros, não sei como completarei meus estudos, ou onde morarei a partir de Março de 2008. Apesar de ter comprado um carrinho em conjunto com minha família, não tenho idéia como faremos com itinerários tão, mas tão opostos.
O que será de nós? O que será de nós? O que será de mim?
Não sei. Mas sei que não somos sós, mesmo sendo. Vejo que todos passam apertos, depressões, complicações, problemas de saúde. Vejo que todos passam por sérios problemas financeiros. Sei que não fui o único a perder o carro e moradia(s), e sei que não fui o único a me reerguer mesmo com as costas redobradas. Ao mesmo tempo, sei que não fui o único que amei e fui amado, e sei que não fui o único a receber o carinho da família quando mais precisei. Logo, também sei que não fui o único a me descabelar por causa de parentes, próximos ou distantes como quem comenta neste blogue.
Há uma mensagem em todos os meus problemas, no furúnculo de meu pé e no suor mal influenciado que escorre de minha testa, nesta época de festividades, de luzes e mensagens pacíficas. A mensagem é de união. E não é uma mensagem tosca, desses slogans imbecís que atrapalham o pensamento original. É uma idéia esperta, filosófica, culta e cultural: Não somos sós. Podemos até fingir, mas não somos sós.
Obrigado,
Roy Frenkiel
2 comments:
Que o «vírus» da ironia e da genialidade vos fulmine e condene a um perene estado de embriaguês intelectual. E que a pandemia se propague "urbi et orbi"!!!
Lendo seu post, me veio a mente que seu depoimento transparece algo que eu vivi tempos atrás, também... você fala de um ano de certo sofrimento até a descoberta antes improvável e agora até mesmo óbvia de que estamos no mundo de mãos dadas com quem gosta de nós e nós também gostamos. As pessoas que de quem gostamos podem até voar para longe, mas sempre voltam ao ninho onde foram bem recebidas, isso aprendi em 2007!
Boa sorte
Camila
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