Tuesday, September 04, 2007

Não morri! (Ainda)

Depois de não receber cartas e apelos excessivamente sentimentais pela minha volta, decidi postar uma mensagem que ao menos explique a todos os meus amigos, amigas e leitores, ou seja, quase ninguém, mas todos de altíssima qualidade, o motivo de minha ausência.

Iniciei meu período escolar do Outono estadunidense e, apesar de encontrar mais tempo em mãos, neste momento de minha vida preciso concentrar minhas energias para saber melhor quem sou, e como posso contribuir à sociedade que tanto gosto de criticar. Para que eu possa ser alguma espécie de profissional algum dia, os estudos e a oficialização didática mostram-se insubstituíveis.

Eu, que ainda não sei exatamente o que farei e onde me encaixarei, começo a me preocupar por uma série de motivos. Um deles, o financeiro, dificulta meu abandono das tarefas escravizadoras que alimentam meu corpo, a alimentar apenas a mente e aproximar-me de minha futura carreira. Outro motivo é o tempo, minha graduação parcial e a necessidade da transferência a outra universidade, cuja data decisiva se aproxima.

Os sacrifícios que tenho feito são relativamente poucos, até esse semestre, em que decidi deixar de trabalhar expedientes completos, a receber também pelo meio expediente dedicado desde a semana passada. O fato de trabalhar menos – logo encontrar-me menos tempo em frente de uma máquina como a qual uso para redigir esta nota – diminui minha tendência à postagem.

Isso compromete não só minhas postagens neste espaço, mas também minha capacidade de reunir textos para o Reação Cultural, e minha facilidade de ler qualquer notícia e destacá-la no Blogoleone (um perdão especial ao editor chefe, Jean Scharlau). Ler eu leio, mas não encontro mais como postar. Pelo menos por hora, minha rotina mudada precisa se estabilizar antes de que eu possa voltar com todos os tantos compromissos amadores, como ainda sou. Pois, para deixar de ser, mais sacrifícios precisam ser feitos.

A quem me acompanha nos últimos dois anos de blogue, acredito que uma característica de minha natureza como escritor ficou bastante clara: não tenho um destino específico, um estilo específico, um ramo específico a ampliar e seguir, ou pelo menos não me guiei, ainda, por uma linha reta em direção a algum objetivo concreto. Meus blogues não são considerados literários ou poéticos, nem políticos, nem exatamente militantes. Não sou especialista em cultura, em arquitetura ou em lei, nem em história, cinema ou música. Meu blogue não é de direita nem de esquerda, pois eu mesmo não sei se o significado atribuído a ambos lados é válido ainda, se é que algum dia foi. Não é um blogue jornalístico nem humorístico. Não conta com nenhuma espécie de visão profissional, nem mesmo marginal.

Minha casa é e sempre foi um misto, uma fluência de pensamentos nem sempre conectados, destinados a expressar sentimentos e conclusões inconclusas de uma mente que não por jovem ou inexperiente se enche de dúvidas, mas por pura falta de conhecimento. Algo que eu até considero natural, mas que precisa ser combatido se almejo algo mais sério, e eu sei que almejo, apesar de não ter certeza do quê.

Sobre “O Segredo de Minha Irmã”

No ano passado, Os Intensos carregava várias crônicas, algumas de meu gosto, outras nem tanto, todas, na minha pessoal opinião, faltando algo para serem completas ou ao menos mais sérias. Uma delas foi “Surrealidade,” sobre uma caótica destruição do Brasil com a revolta massiva da população, e suas consequências a todos, mesmo aqueles que não se revoltaram. Comecei sabendo o fim que quis dar, mas não conseguindo resumi-lo em duas ou três páginas. O resultado foi um conto extenso, que repercutiu no blogue por dois ou três meses, dividido em diversas partes. Pela primeira vez escrevi uma crônica maior, um conto curto mais complexo, e pude publicá-lo sem comprometer minha criação.

Decidi fazer o mesmo esse ano, com uma idéia que varou a mente certa noite de tédio, e que terminou mais de seis meses depois, com a construção lenta, mas certa, d’O Segredo de Minha Irmã. O conto, novamente, ficou faltando. No entanto, mesmo criticando as faltas, até mesmo aquelas que eu ainda não saberia, exatamente, melhorar, ainda me orgulho pela produção de algo que, por primeira vez, posso chamar de um mini-romance, uma estória com começo, meio e fim. Como não sou mestre em literatura, apenas posso dizer que meu último conto me serve como catalizador de novas idéias. Uma nova obra surgirá d’O Segredo de Minha Irmã, e ao menos uma nova estória já está no forno, e pode finalmente sair dos meus sonhos e tatuar-se no papel. Espero poder melhorar o estilo, e usarei do blogue justamente para isto, se nada mais.

Portanto, acredito que deixar de escrever ou editar o R.C. eu não vá por pura incapacidade, por amor leal e sincero às brincadeiras que sei jogar junto às poucas letras que aprendi ao longo de minha vida. Mesmo diminuindo, não pretendo fechar a casa, porque quero escrever mais crônicas, mais séries, e mais idéias, esperançosamente aprimorando minhas técnicas tanto em Português, e eventualmente em Inglês.

O recado está dado. Não morri! (Ainda).

Abraxão,

RF

7 comments:

Anonymous said...

O texto sugere mais um renascimento que a probabilidade da morte.Parabéns.
Deixo aquí um pouco de Miguel Torga , que lembra você :

"...Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão! "

Boa sorte e boas escolhas. Bj!

Cris / doutroladodomar

Anonymous said...

No que se refere ao conteúdo, à 'linha', tens mantido vivo o mito do "judeu errante". Ainda bem, e vida longa.
Quanto à periodicidade, riléquis: aqui, nesse meio independente, o que conta, sempre, não é a quantidade, mas algo que ajudas a preservar, que é a qualidade.
A gente só faz o que quer - e quando pode.
Baita abraço meu

Anonymous said...

Ainda bem que não morreste! Eu "pulei" partes d'O segredo de minha irmã; por isso não posso opinar. Lembra quando eu qualifiquei o seu blog de "mistureba" (no melhor sentido), quando comecei a lê-lo no ano passado? Isso é um aspecto positivo, a ausência de uma "linha", como observou o Pirata. Bola pra frente! Um abraço.

Roy Frenkiel said...

Obrigado pelas mensagens, pessoais! Nao sei, Halem e Pirata, eu gosto muito de vcs, mas nao acredito nao. Nao acredito que vcs gostem do que eu escrevo, nem acredito que seja positivo essa mistureba rsss. Mas estao tentando me encucar ideias mais positivos, quem sabe eu nao melhore? Na boa, Halem, Pirata, o blogue eh inutil, eu so faco pq gosto mesmo da coisa. Mas, nao me levem tao a serio. Sou bipolar hehe

abrax

RF

Santa said...

Roy querido,

Digitando mal ainda devido a cirurgia, mas hoje amanheci animada... Menos dor dor pela primeira vez. Saudades! Quero agradecer as visitas carinhosas que recebo lá no blog. Bjs

Anonymous said...

Roy, bom saber de ti. Te cuida, rapá! Vc sabe q quando for fazer o RC voltar com tudo, é só dá um toque q a gente vai q vai!
Do seu parceiro de RC!
Vinícius

Jens said...

Pra cima com a viga, Big Roy. Defina tuas prioridades, só não desapareça. No mais, o caos emocional, profissional e artístico faz parte da existência dos espíritos jovens e inquietos como o teu.
Continua mandando balas (metafóricas) contra as falanges do mal.
***
Depois de ler, me lembrei de um título de Joyce: O retrato do artista quando jovem (acho que é por aí).
***
Aqui em POA, prenúncio de primavera. Sol temperatura amena e lindas e adoráveis deusas desfilando sua nudez incipiente pelas ruas da cidade. A vida pulsa.